43. Sobre o prolongamento da vida humana e as consequentes mudanças que poderão ocorrer na Metafísica da Existência**
Jober Rocha*
Recentemente uma empresa de biotecnologia norte-americana obteve licenças éticas dos governos daquele país e da Índia, visando à realização de um projeto para a reanimação de pacientes clinicamente mortos do Hospital Anupam, na cidade indiana de Radrapur. Vinte pacientes seriam objeto de ações médicas tendentes a fazê-los reviver. Estes pacientes seriam escolhidos entre pessoas com morte cerebral, vítimas de acidentes graves e que permaneciam vivas, apenas, em razão dos avanços tecnológicos; embora já declaradas clinicamente mortas.
Os pacientes selecionados seriam tratados com o uso de células tronco e de peptídeos, além de estímulos neuronais de lasers; bem como diversos outros métodos já utilizados, destinados a reviver partes afetadas do Sistema Nervoso Central. O objetivo dos cientistas seria o de trazer à vida áreas danificadas do cérebro daqueles corpos clinicamente mortos; mas que continuavam vivos mediante dispositivos mecânicos, elétricos e eletrônicos, substitutos da respiração, das funções cardíacas, etc.
Esta decisão dará margem a inúmeras questões de ordem filosófica e religiosa (posto que, o Criador poderia haver feito os seres humanos imortais, se assim o desejasse, mas não os fez) ,que trarão conseqüências fuuras para a Metafísica da Existência Humana, algumas das quais trataremos neste texto.
Inicialmente, constatamos que muito já se escreveu sobre o desejo humano de rejuvenescer e de prolongar a vida. As tradições dão conta que os Sumérios já falavam em um pó branco (composto, basicamente, por ouro monoatômico), utilizado pelos Deuses Sumérios para prolongar a existência deles mesmos, por milhares de anos. Tratar-se-ia de uma destilação de ouro a um nível subatômico, que regeneraria as funções do corpo multiplicando a sua energia. Nenhuma enfermidade poderia atacar aqueles que faziam uso do referido pó e teria este sido distribuído aos sumérios pelo Deus Ningishzidda, filho do Deus Enki, conhecido como ‘Senhor da Árvore da Vida’ e cujo símbolo consistia em duas serpentes entrelaçadas em um cajado; ou seja, o conhecido caduceu, que é o atual símbolo da Medicina. Por outro lado, os indianos já mencionavam um poço da juventude, por volta do ano 7oo a.C.
Um antigo conto judeu, por sua vez, mencionava determinada fonte da juventude e, com base neste conto, a mesma teria sido buscada por Alexandre, o grande. A própria mitologia grega mencionava uma fonte da juventude que, sob a forma de um rio, nasceria no Monte Olimpo e desceria até a Terra. Vindo do local onde nasciam os Deuses, as águas deste rio teriam a propriedade de rejuvenescer aqueles que dela bebessem. O historiador grego Pausânias, no século II d.C. mencionou uma fonte chamada Calatus, no Peloponeso, e aqueles que nela se banhassem ficariam sempre jovens. Textos medievais afirmavam que a fonte da juventude se encontraria na entrada do paraíso e aqueles que dela bebessem, por três vezes e em jejum, se veriam livres de doenças e seriam eternamente jovens.
Dizem os historiadores que, em 1513, o navegador e explorador Ponce de León teria encontrado a fonte da juventude em uma ilha chamada Bimini, ao norte de Cuba; outros afirmam que a fonte teria sido encontrada por ele na Flórida e, em sua homenagem, criaram o Parque Nacional da Fonte da Juventude, em Saint Augustine (cidade situada na primeira costa colonizada pelos europeus na América do Norte).
Com a possibilidade, já existente na atualidade, de os médicos poderem manter o corpo humano artificialmente vivo (ligado à máquinas,) por bastante tempo ou, talvez, até indefinidamente; aliada a esta nova possibilidade, a ser testada pelos cientistas norte-americanos, de regenerar áreas danificadas ou mortas do cérebro, de modo a restaurar, com isto, além das funções cerebrais, também funções vitais, estaríamos muito próximos de poder manter a vida humana indeterminadamente; isto é, de havermos, finalmente, encontrado a fonte da juventude.
Quais as principais implicações de ordem filosófica e religiosa, trazidas á discussão, frente a esta possibilidade?
Quais as principais implicações de ordem filosófica e religiosa, trazidas á discussão, frente a esta possibilidade?
Em primeiro lugar, todas as religiões (as quais, em sua totalidade, acreditam na existência de espíritos que, ao encarnarem, se constituiriam nas almas existentes em todos os seres humanos) afirmam que os objetivos das encarnações dos espíritos seriam os de suas evoluções, proporcionadas estas pelas experiências dialéticas que ocorreriam durante as suas existências encarnadas. Tais espíritos trariam, pois, determinadas missões a serem cumpridas no prazo de suas vidas; prazos estes, também, determinados em função de características intrínsecas aos corpos em que encarnaram, isto é, características genéticas hereditárias. Assim a evolução do espírito, nesta vida, seria compatível com a duração do seu corpo físico e programada, previamente, para ocorrer (ou não) naquele espaço de tempo.
Em conformidade com as religiões que acreditam em múltiplas encarnações, a evolução espiritual não teria prazo para acontecer, podendo ocorrer ao longo de várias encarnações. Em oposição a isto, as religiões de origem cristãs creem que esta evolução deveria ocorrer em apenas uma existência. A Ciência Médica, pois, ao prorrogar a vida humana, seja por alguns meses, anos ou, até mesmo, indefinidamente, estaria, segundo estas considerações expostas, interferindo em uma metafísica para ela totalmente desconhecida. Alguns poderão argumentar: - Mas a Ciência não possui religião e, portanto, age unicamente em prol do conhecimento humano; a revelia de considerações de ordem religiosa e metafísica!
Concordo que a Ciência deva ser independente destas considerações; mas, lembremo-nos que ela sempre existiu e que suas leis foram instituídas por Aquele que tudo criou, sendo tais leis e os conhecimentos científicos delas resultantes, apenas, descobertos, passo a passo, por nós seres humanos ao longo da nossa História. Ao tentarmos alterar leis que não fomos nós que as criamos, estamos, certamente, interferindo nos desígnios Daquele que tudo criou. O mesmo se passaria com relação aos experimentos acerca da criação de seres híbridos, modificados geneticamente ou, também, com a produção de clones.
Filosoficamente, no entanto, poderíamos argumentar que os espíritos também possuiriam (a par do determinismo com que teriam sido formuladas, no plano etéreo, as suas evoluções espirituais quando encarnados) o chamado livre-arbítrio, que os possibilitariam fazer modificações ou alterações no determinismo das suas evoluções espirituais, programadas para quando encarnados.
Este fato, a princípio, constituir-se-ia em um paradoxo da existência humana, ainda não solucionado por cientistas, filósofos e religiosos. No entanto, o livre arbítrio poderia ser também encarado como um mecanismo de adaptação ou de correção de rumos, quando, por alguma razão, o espírito encarnado resolvesse alterar a programação divina previamente estipulada para a sua evolução. Como já dito anteriormente, a evolução não teria prazo para ocorrer, podendo ser alcançada em uma ou em mais de uma existência.
O prolongamento da vida por um prazo bastante mais longo do que aquele previsto para o corpo humano, a ser proporcionado pela Ciência Médica, com toda a certeza interferiria no aprendizado espiritual, seja prolongando este aprendizado na Terra e evitando, com isso, novas e futuras encarnações dos espíritos; seja interferindo em toda a programação traçada, previamente, para todos os espíritos, pelas entidades do plano etéreo.
Explico-me melhor: Como tudo na vida (física e espiritual) é interdependente e regido por leis, muitas das quais desconhecemos ainda, qualquer eventual modificação nestas leis, efetuadas pelas criaturas (que muitos religiosos consideram que são possuidoras, em si mesmas, da centelha divina, como filhas do Criador, centelha esta que lhes permitiria intervir, também, nas leis da criação), interferirão na programação de evolução dos demais espíritos, pré-elaborada no plano divino, em razão da considerada interdependência de tudo aquilo que existe no Universo, seja físico seja espiritual.
Como podem os leitores ver, são inúmeras as conseqüências e as possibilidades, tanto para a Filosofia quanto para a Religião, que advirão da interferência humana no ‘projeto da vida’ instituído pelo Criador de todas as coisas, notadamente naquilo que diz respeito a prolongar ou a evitar a morte dos seres humanos. Em outro texto, a continuação deste, nós prometemos analisar em maior profundidade tais conseqüências e possibilidades.
_**/ Publicado no Jornal A Palavra, Edição 176, de 05.07.2016. Rio de Janeiro, RJ.
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