37. Ensinar ou aprender? Eis a questão.
Jober Rocha*
Quando eu era jovem e pouco sabia, gostava de ensinar aos demais aquele pouco que tinha em meu estoque de conhecimentos, pensando que fosse muito. Não havia discussão, entre amigos, conhecidos ou mesmo desconhecidos, da qual eu não participasse defendendo com ênfase (e, às vezes, até mesmo com certa raiva daqueles que nada sabiam) meus pontos de vista, frutos de muita convicção; porém, de pouco saber e de menor ainda amadurecimento.
Lembro-me de inúmeras destas conversas que descambaram para acaloradas discussões em que, embora conseguisse fazer prevalecer meu ponto de vista ou entendimento sobre o assunto em foco (por força dos argumentos que apresentara, na ocasião), eu acabei, após todo aquele mal estar criado, constatando, anos depois, que meus argumentos eram falsos e que não correspondiam à realidade, embora na ocasião eu os considerasse verdadeiros.
Durante a juventude, simples mortais como nós, quase nada sabemos da maioria dos assuntos; exceção feita aos sábios jovens que surgem de vez em quando e em determinadas épocas. A sabedoria, que não pode ser confundida com a inteligência, carece do estudo, do amadurecimento e do tempo; razão pela qual só costuma aparecer na maturidade.
Muitos seres humanos, enquanto jovens, julgando-se grandes conhecedores do que quer que seja, fazem questão de ensinar, para qualquer um que se disponha a ouvi-lo, aquele pouco que sabem; achando que aquilo se constitui na coisa mais importante já descoberta e cujo conhecimento deve ser partilhado com o maior número possível de ouvintes.
Com a chegada da idade, por intermédio do estudo e em razão do amadurecimento, descobre-se quão vasto é o Universo do Conhecimento por ser ainda descoberto, face ao tão pouco que já descobrimos. Tal descoberta motivou o filósofo grego Sócrates a pronunciar sua célebre frase: - Só sei que nada sei!
Constata-se, também, que muito daquilo já descoberto e que é tido como verdadeiro (no campo das Ciências, da Filosofia, da Religião, da Política, etc.), não passa de uma verdade relativa, válida, quando muito, sob certas circunstâncias ou condicionantes. Compreende-se, ademais, que Ciência, Filosofia, Religião e Política, são utilizadas como instrumentos de dominação da raça humana e, em vista disto, devem ser vistos com certas reservas.
Muito daquilo que, ao longo do tempo, escreveram cientistas, filósofos, religiosos e políticos, acabou sendo depositado na lixeira da História e ridicularizado pelas gerações que se seguiram. Basta ver as explicações de médicos da Idade Média sobre as causas das doenças que acometiam os indivíduos. Basta contemplar as explicações religiosas sobre a origem da vida e sobre a criação do Universo; bem como, a Cosmogonia dos povos primitivos.
Basta observar as ideologias políticas, criadas para justificar a dominação dos opressores sobre os oprimidos. Mesmo os filósofos, tradicionalmente comprometidos com a busca da verdade através do conhecimento, têm esposado, muitas vezes, teorias que não correspondem à verdade que tão incansavelmente procuram. Muito do que estes próprios filósofos ou pensadores nos legaram no passado, na atualidade tem apenas interesse histórico e ilustrativo, tendo servido, em determinadas épocas, para justificar pontos de vista das elites dominantes (supremacias de raças; formas de governo mais adequadas para países; ideologias e sistemas econômicos melhores do que outros; etc.).
Atualmente, com o advento da moderna tecnologia da Informática, o conhecimento deixou de ser um estoque (que o indivíduo deveria carregar sempre consigo, em sua memória), para transformar-se em um fluxo (que o indivíduo pode obter através da WEB, desde que saiba onde procurar).
O ser humano, nos dias atuais, precisa apenas saber qual a informação que deseja e ter noção de como fazer para obtê-la através da Internet, o grande banco de dados e de informações mundiais. Assim, as discussões de caráter técnico-científica, ou mesmo históricas e geográficas, podem ser dirimidas rapidamente através de uma consulta ao computador de mão ou de mesa. As controvérsias de caráter filosófico, religioso e político, estas sim, continuarão necessitando de leitura prévia de vários autores, já que dependem do entendimento e da interpretação das várias correntes de pensamento sobre o assunto.
Constitui frase antiga e conhecida, o velho mote: - “Quem sabe faz, quem não sabe ensina!”. Sem querer desmerecer a classe dos professores, pagos que são para ensinar determinado assunto que aprenderam anteriormente, creio que esta frase deveria referir-se mais às discussões de caráter geral que travamos todos os dias e por meio das quais, ao invés de tentarmos mudar o mundo, tentamos fazer com que os outros o mudem por (e para) nós.
Na medida em que percebi ser muito difícil mudar o mundo, tentando mudar as pessoas com as quais convivia e interagia, conclui ser mais fácil mudar a mim mesmo e ao meu próprio mundo. De que me adiantaria querer mudar o mundo para todos, caso isto fosse possível? Muitos, com certeza, estão satisfeitos da forma como ele se encontra no momento e os demais, insatisfeitos, podem desejar mudá-lo de suas próprias maneiras, que podem não coincidir com a minha.
Todos nós temos nosso próprio mundo físico e mental e, todavia, você pode mudar a aparência do seu corpo e o conteúdo da sua mente. No primeiro caso, necessitará de exercícios físicos e, no segundo, de exercícios mentais traduzidos pela leitura, pelo aprendizado, pela observação e pelo amadurecimento das questões.
As principais teorias filosóficas e religiosas deixam claro que o objetivo do ser humano é o da busca pela verdade, traduzida esta como o conhecimento, que lhe proporcionaria a tão desejada evolução espiritual. Esta evolução é cumulativa, fruto da deposição de uma camada sobre as demais. Ninguém pode evoluir pelo outro; já que, esta é uma tarefa individual e processada dialeticamente. Por esta razão, o Criador não nos criou já totalmente evoluídos, mas, antes, nos proporcionou as virtudes e os vícios que agiriam como a tese e a antítese que sintetizariam a nossa evolução espiritual.
Tudo aquilo até agora dito, entretanto, é diferente do fato de você responder a uma indagação de quem tem dúvidas, ou de esclarecer alguém que, como nós, busca ao conhecimento. Neste caso, podemos discorrer sobre o que pensamos, tendo, porém, sempre em mente que o nosso ouvinte tem o direito de acreditar ou não naquilo que dizemos. Por nossa vez, se ele acreditar ou não no que dizemos o problema e as suas conseqüências serão exclusivamente dele.
Com base no até aqui exposto, enuncio cinco regras de ouro para aqueles que não desejam indispor-se com os demais ou, até mesmo, vir a perder amigos de longa data, durante eventuais encontros familiares, reuniões festivas, convenções de trabalho, etc.:
1. Procure conversar com pessoas que tenham os mesmos interesses que você e posições semelhantes; pois, assim, a conversa fluirá amena, com ambos complementando seus conhecimentos com os conhecimentos expostos pelo outro;
2. Caso a conversa se torne acalorada, pare imediatamente o que está dizendo, saia para tomar um copo d’água e não volte mais. Não perca amigos, desnecessariamente, apenas para ver prevalecer seus pontos de vista;
3. Procure desejar aprender, mais do que querer ensinar. Você certamente deseja aprender; mas, os outros podem não estar interessados nisso. Não julgue os demais por você e não queira ensinar a todo mundo;
4. Somente exponha seus pontos de vista sobre determinado assunto, se for questionado e, mesmo assim, diga só o essencial. Não queira bancar o sábio que conhece de tudo e para tudo possui uma resposta. Fique na defensiva e procure aprender com os outros. Mesmo que já conheça o assunto, sempre uma nuance sobre o mesmo poderá ter-lhe escapado e, às vezes, ouvindo alguém falar sobre aquele tema que você acha que domina, poderá se surpreender ao inteirar-se de algo novo;
5. Se tiver a sorte de possuir um discípulo que acredite em tudo aquilo que você disser, transmita para ele seus conhecimentos sem nenhuma pressa. Não queira passar-lhe tudo de uma única vez. Dê-lhe tempo para amadurecer aquilo que está aprendendo de você e que foi fruto do aprendizado de toda a sua vida. Também, não lhe ensine tudo o que sabe, pois uma parcela do conhecimento de que ele necessita, caberá a ele mesmo pesquisar e descobrir.
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