44. Sobre as mazelas humanas
Jober Rocha*
Caros amigos leitores, eu creio que para escrever sobre as mazelas humanas não é necessário ser escritor; pois todos nós, em maior ou menor grau, as vislumbramos em nossos dia a dia, ao contemplarmos a Mídia diária em suas diversas modalidades de expressão e de divulgação dos fatos locais e das notícias mundiais.
Entretanto, cada um de nós as perceberá de forma diferente, pois a magnitude e a importância das mazelas na vida social de todos (e de cada um), dependerá de aspectos culturais, filosóficos, religiosos e ideológicos, referentes à existência pregressa dos observadores. O que é mazela para uns poderá não o ser para outros. Explico-me melhor: para quem professa a ideologia comunista, observar os movimentos campesinos invadindo fazendas pelo interior do país, por exemplo, é um magnífico sinal de progresso na estrutura política do país; porém, para os capitalistas, latifundiários e produtores rurais é um nítido sinal de retrocesso.
Para aqueles que acreditam em suas religiões, os atos de comprar, por altos preços, água ungida pelo sacerdote; perfumes com o odor de Jesus Cristo; vassouras, para varrer o mal para fora de suas casas; óleos santos; imagens e amuletos milagrosos; pagar dois dízimos de uma só vez, para receber duas vezes mais bênçãos e favores divinos, etc., constituem demonstrações de fé e de ardor religioso, reconhecidos pelo Criador de Todas as Coisas; porém, para muitos daqueles versados na Ciência e na Arte do Direito, isto tudo nada mais é do que uma infração ao artigo 171 do Código Penal.
Para aqueles adeptos da preservação dos direitos humanos a qualquer custo, a reação, por vezes violenta, de cidadãos e de policiais contra a ação de criminosos comuns, é algo inaceitável. Para os que já foram vítimas, por inúmeras vezes, da ação de marginais, quase sempre drogados e violentos, a aplicação da pena de morte sumária é de pouca monta, face aos crimes praticados; já que, para tais vítimas, os criminosos antes de morrerem deveriam padecer em inúmeras seções de tortura, tal o ódio que nutrem, após serem por eles violentados.
Para os anti-belicistas, a manutenção de Forças Armadas é um gasto supérfluo e desnecessário, face às carências existentes nos setores de Saúde, de Educação, dos Transportes e da Segurança Pública; porém, para a parcela da população que almeja ver o seu país despontar como potência mundial, a influenciar os destinos do mundo, a falta delas significa transformar a todos os habitantes em servos dos países mais fortes militarmente, que teriam o poder de nos impor as suas vontades.
Para os radicais, políticos e ideológicos, tudo aquilo que seja feito para fortalecer os seus partidos e as suas posições ideológicas, é valido. Assim, eles aceitam e enaltecem o roubo e a pratica de atentados terroristas, as mentiras públicas, as fraudes nas eleições, etc., tudo isto em defesa de seus objetivos políticos e ideológicos; enquanto que para aqueles outros com formação democrática, o direito de expressão, de crítica e de ação política, deve ser estendido a todos os cidadãos, até mesmo aos radicais que lhes cerceariam este direito, caso estivessem no poder. Para os políticos com vocação totalitária, como já visto, a primeira providência a tomar, tão logo no poder, é a da extinção dos partidos democráticos.
Como podem ver, meus amigos, as causas e as soluções para as mazelas que nos assolam, dependem de diversos fatores prévios, intrínsecos àqueles que as observam ou que sofrem os seus efeitos (fatores estes já mencionados anteriormente, como a formação cultural, os conhecimentos técnicos e profissionais, os conhecimentos filosóficos, a maturidade, a idade cronológica, a religião ou a crença professada, etc.).
Entretanto, algumas mazelas por afetarem a todos são, por todos, consideradas como tal e, assim, reconhecidas pela totalidade da população, como, por exemplo: as deficiências médico-hospitalares; a insegurança pública; a carência de meios de transporte; o desemprego; a falta de água e a contaminação de rios, lagos e lagoas; os baixos salários e a desigual distribuição de renda; o custo de vida elevado; o déficit de moradias; etc. Todos os países, em maior ou menor grau, sofrem destas deficiências. Muitos deles trabalham para se verem livres logo delas; outros países, como o nosso, acostumam-se a conviver com elas e, ao utilizarem os seus recursos escassos com fins alternativos, elegem obras suntuosas e desnecessárias como sendo prioritárias (como, por exemplo, estádios de futebol, estádios olímpicos, cidades do samba e da música, etc.), em detrimento de suas carências crônicas (hospitais, escolas, transportes e segurança).
A ideologia, o posicionamento político e o nível sociocultural, certamente, influem no julgamento das pessoas acerca daquilo que se constitui em uma mazela e da forma como deve ser encarada e solucionada, se for o caso. No entanto, ao estudarmos a História dos povos e das nações, podemos constatar que todas estas mazelas do presente já ocorriam no passado. Milhares de anos se passaram e elas continuam ocorrendo na atualidade. As populações cresceram e a magnitude dos problemas cresceu com elas; no entanto, da mesma forma, os recursos físicos e financeiros também cresceram e, portanto, a falta de recursos (ou de tecnologia) não é desculpa aceitável para justificar a permanência delas no presente.
O ser humano busca como seu objetivo principal, na vida, a felicidade; porém, este mesmo ser humano é a causa da infelicidade dos irmãos da sua espécie e, por conseqüência, da sua própria. Isto poderia, talvez, significar uma falha no projeto divino da criação? O criador teria ‘errado na mão’ ao colocar mais vícios do que virtudes no âmago das suas criaturas? Como nós percebemos mais viciosos do que virtuosos, no seio das nossas populações, somos levados a acreditar que sim. O próprio Poder Judiciário e o arcabouço legal que sustenta a Justiça, em muitos países, são os responsáveis pela existência e pela permanência da injustiça. Leis dúbias ou propositadamente falhas e omissas; juízes venais ou indecisos; processos que se arrastam pelos anos afora, mediante embargos sem fim, demonstram descaso ou má fé, para com o direito de uma ou de ambas as partes.
Se fosse reunido um conselho mundial de sábios, objetivando acabar com as mazelas do mundo, este conselho, com certeza, se dissolveria automaticamente, logo após ter sido criado, por impossibilidade de cumprir a sua missão; ou então, as medidas que tomaria seriam todas de natureza extremamente radical. O egoísmo humano e o espírito de auto-preservação superam quaisquer virtudes que tais seres possam ter. Se em alguma época da História e em algum local do planeta, os seres humanos já foram colaboracionistas, hoje em dia eles são exclusivamente competidores e concorrentes. Por esta razão, cada um trata de si em primeiro lugar e, ao fazer isto, nascem às mazelas que afetam as vidas dos demais e, por via de conseqüência, a vida dele mesmo.
Notícias recentes, na Mídia, falam na tentativa do estabelecimento de um governo mundial, cujo objetivo seria, em teoria, atacar globalmente as deficiências do planeta. Se fôssemos abelhas ou formigas (que se sacrificam pela preservação da espécie e que trabalham, todas, em benefício da colmeia ou do formigueiro ao qual pertencem), eu creio que a ideia acabaria dando certo e vingando. Tratando-se de gente (caso a participação neste governo mundial seja voluntária), acredito no insucesso desta ideia. Quem abriria mão de sua religião para adotar outra? Quem deixaria sua ideologia e adotaria a do vizinho? Quem cederia seus recursos para aumentar os recursos dos demais? Quem, de livre e espontânea vontade, colocaria um chip sob a pele, para, como cidadão do mundo, poder ser rastreado em qualquer lugar do planeta, como pretende esta Nova Ordem com o seu governo mundial?
Caso a participação neste governo mundial seja compulsória, creio que antes de ela ser efetivada, os governos de todos os países deverão se transformar, primeiro, em ditaduras totalitárias; pois a criação de um governo mundial seria inviável em se tratando de unir países com governos democráticos. A única hipótese viável para a implantação de um governo mundial, em minha modesta opinião, seria uma ameaça alienígena vinda do espaço, ameaça esta que teria o poder de unir, de maneira rápida, a todos os países e povos da Terra.
A recente criação de uma agência norte-americana para a defesa planetária, as inúmeras aparições de objetos voadores não identificados em todos os lugares do mundo (que muitos afirmam serem artefatos de origem terrestre e não extraterrestre), as recentes divulgações de arquivos governamentais sobre a existência de objetos e seres desconhecidos visitando o nosso planeta, os círculos que aparecem nas plantações do mundo todo (conhecidos como crop circles ou agroglífos); em suma, tudo isto, pode indicar que esta ameaça esteja se delineando e que, mais dia menos dia, a notícia de uma possível invasão fará com que todos os humanos se unam sob um governo mundial, governo este que providenciará uma possível defesa contra esta possibilidade.
Seguindo a vida humana da forma como até aqui tem seguido, muito em breve os recursos ambientais e naturais haverão se esgotado e/ou estarão todos poluídos; bem como, a superpopulação e a desigualdade terão transformado o planeta em uma grande favela, onde viverão seres humanos miseráveis, doentes e infelizes.
Os próximos anos serão, sem dúvida alguma, aqueles que definirão o futuro da nossa raça: acabaremos com as desigualdades e trabalharemos todos para o bem comum ou seremos, eternamente, escravos de uma minoria (em uma servidão consentida) que, ao querer monopolizar a riqueza, o bem estar e a felicidade, inviabilizará, talvez para sempre, o nosso futuro como espécie a almejar participar, com liberdade, da comunidade cósmica.
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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