32. Nostradamus e o futuro do Brasil
Jober Rocha*
Nostradamus, ou Michel de Saint-Rémy, é conhecido em todo o mundo por suas previsões futuristas, apresentadas em versos na sua mais importante obra, denominada “As Centúrias‟. Astrólogo, médico e alquimista famoso, contemporâneo de Paracelso, Nostradamus trabalhou para Catarina de Médici, ainda quando esta não era rainha; mas, tão somente, esposa sem filhos de Henrique de Orleans, segundo filho do rei Francisco I e segundo na ordem de sucessão do trono (o primogênito era seu irmão Francisco). Henrique era, assim, um príncipe quase sem nenhuma chance de reinar.
Nostradamus previu para Catarina que ela acabaria reinando, com a morte do primogênito Francisco e, também, a de seu próprio marido Henrique, alçado ao trono pela morte do irmão. Para tanto, Catarina, até então estéril, deveria possuir um filho; o que acabou ocorrendo antes da morte de Henrique (dizem que o filho era do chefe da guarda pessoal de Henrique, chamado Montgomery, que acabou por matá-lo acidentalmente em um torneio de Justa, realizado anos depois).
Nostradamus (que chamarei de mago do bem em oposição a Cosino Ruggieri, o mago do mal, que também servia a Catarina), fazia uso da Astrologia para suas previsões contemporâneas e futuras. Independente disto, dizem que durante alguns de seus ataques epiléticos ele tinha visões do futuro; visões estas das quais tomava nota em um caderno que carregava sempre com ele, para, posteriormente, poder interpretá-las.
Nostradamus tornou-se muito amigo do Marques de Saint-André, preceptor dos filhos de Francisco I, com quem gostava de discutir questões filosóficas. Saint-André, um dos homens mais inteligentes do seu tempo, embora extremamente ambicioso, acabou por trair Nostradamus em várias ocasiões. Nas amigáveis conversas filosóficas com Saint-André, no entanto, Nostradamus dizia a este que muitas das previsões que fazia sobre sua época (e que acabavam deslumbrando os cortesãos franceses), eram, apenas, fruto de 24 sua acurada e inteligente observação com respeito a alguns fatos cotidianos.
Mudando de cenário e de época, no Brasil de hoje vemos que não é necessário possuir o conhecimento esotérico e científico de Nostradamus para fazer previsões acerca do futuro de nosso país e de nossos governantes. Para tanto, basta uma observação constante e atenta da nossa realidade, como já dizia e fazia aquele velho mestre do esoterismo.
Inicialmente, devemos observar a queda de popularidade recente, da nossa governante máximo, em todo o país e, mais especificamente, no Nordeste que a elegeu.
Tal queda é devida, em grande parte, às medidas restritivas tomadas após as eleições; medidas estas que a candidata, na ocasião, afirmou que quem as tomaria, caso fosse eleito, seria o seu opositor naquela eleição.
Em segundo lugar, atentar para o descontentamento dos produtores, das cidades e dos campos, com a recessão vivida e com seus custos para o nosso país.
Em terceiro, perceber o descontentamento dos trabalhadores com as demissões e as perdas trabalhistas decorrentes da recessão, das repercussões da operação Lava Jato sobre as empreiteiras envolvidas (cujos principais dirigentes estão presos e as suas empresas já começaram um processo de demissão em massa de empregados), além do retorno de altas taxas de inflação mensal, que corroem salários e elevam o preço da cesta básica.
Em quarto devemos reparar no descontentamento dos comerciantes com a queda nas vendas. Observar o descontentamento geral, com a queda no PIB; a alta do dólar; o aumento dos impostos; a forte baixa no mercado de capitais; a escassez de água e a elevação de tarifas, por uma má gestão e por um mau planejamento hídrico; a escassez e a elevação das contas de energia elétrica (com o risco de eventual racionamento).
Em quinto, notar o descontentamento dos militares com os baixos vencimentos, com o desprestígio governamental (ao colocar como Ministro da Defesa um civil, sem vínculos com as Forças Armadas e que, segundo diz a imprensa, por elas não morre de amores. Após o afastamento da presidenta, o seu vice, que ficou no lugar dela, manteve um civil no Ministério da defesa, que continua não morrendo de amores pelos militares) e com o sucateamento de equipamentos e instalações.
Em sexto, ver o descontentamento dos aposentados com os índices de correção de suas aposentadorias, inferiores à correção do benefício Bolsa Família e, mesmo, do Auxílio Reclusão.
Acrescendo a estes itens mencionados, convém notar que o governo federal estava, totalmente, sem base parlamentar e praticamente a deriva, sendo criticado por integrantes do próprio partido, até então, no poder. Ademais, tendo em conta os depoimentos coletados pelo Ministério Público na chamada Operação Lava Jato, operação que apura desvio de recursos da Petrobrás para diretores, membros do governo, políticos e partidos políticos, a cada dia que passa as denuncias mais se aproximam da sede do governo federal, do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Luís Inácio.
Constata-se, portanto, que não é necessário possuir conhecimento esotérico e ter visões, como ocorria com Nostradamus, para adivinhar qual o rumo que as coisas tomarão daqui por diante, principalmente, quando se tem em conta que o país ficou dividido após as últimas eleições; que o ex-presidente Luis Inácio tem afirmado que estas crises fazem parte de um complô para derrubar a presidenta afastada e que o Partido dos Trabalhadores se propõe a mobilizar seus militantes, rurais e urbanos, para impedir o afastamento definitivo da ex-presidenta.
É de se prever, portanto, uma resistência (talvez, mesmo, até armada), caso seja confirmado o impeachment, resistência esta que poderá contar, eventualmente, até com o apoio de estrangeiros vivendo em nosso país ou, ainda, de militares de potências estrangeiras, que já se declararam abertamente pela intervenção no Brasil, caso a ex-governante do nosso seja deposta.
Embora eu não tenha dúvidas quanto à resposta a esta questão que formularei a seguir, a mesma, no entanto, constitui uma pergunta que para alguns leitores, talvez, seja, necessário realmente possuir uma visão esotérica de modo a antever como o nosso combalido país haverá de sair-se, ao final, desta trágica situação.
A questão é a seguinte: Esta transição terá, verdadeiramente, o poder e a infelicidade de nos conduzir à uma guerra civil e, no caso afirmativo, estarão as nossas forças armadas, como sempre, coesas ou se apresentarão divididas na ocasião?
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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