39. Afinal, quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos?
Jober Rocha*
Contam que, em certa ocasião, caminhava Manuel Maria Barbosa du Bocage pelas ruas de Lisboa, durante a madrugada, voltando de uma noitada no Bar do Nicola. De repente, um malfeitor aponta-lhe uma arma à cabeça e pergunta: - Quem és tu? De onde vens? Para onde vais?
O poeta, sem perder a calma, respondeu, imediatamente: - Sou Bocage, venho do Nicola e irei para o outro mundo se disparas a pistola!
Caro amigo leitor, em algum momento da sua existência, certamente você também já terá se questionado: - Mas, afinal, qual a razão disto tudo? Qual o objetivo da vida? Porque nascemos, vivemos e morremos? Quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos?
Da mesma forma que você, eu também já me fiz estas mesmas perguntas. Inicialmente acreditava que elas eram irrespondíveis e que o nosso intelecto era incapaz de penetrar nos mistérios insondáveis da criação. Com o passar dos anos, e com o amadurecimento intelectual, passei a acreditar que poderíamos tentar entender tais mistérios, apenas, fazendo uso de nosso raciocínio e de uma característica tão comum dos seres humanos; isto é, a razão.
Assim, neste ensaio, utilizando-me do raciocínio e da razão, decidi tentar imaginar qual teria sido a motivação do Criador (se é que Ele realmente existe) ao iniciar obra tão monumental como esta da criação da vida e do Universo que conhecemos.
De início, reconheço que os seres humanos, desde a mais remota antiguidade, sempre possuíram interpretações particulares para estes fenômenos mencionados e, ainda hoje, os nossos contemporâneos também as possuem (eventualmente, com certeza, diferentes da minha). Estas interpretações podem ter o caráter religioso, filosófico, científico ou sociológico (ou mesmo consistir em uma mescla de alguns ou de todos eles juntos).
Dentro de cada um destes aspectos, as opiniões, as teorias e os posicionamentos ideológicos, têm se sucedido e alternado, com o passar do tempo e com a evolução da humanidade. Estou certo de que todos estes posicionamentos são, tão somente, frutos do raciocínio humano; posto que, o Principio Criador (Deus, Alá, Brama, etc.) jamais se pronunciou a respeito, seja por modéstia ou em razão do fato bem conhecido de todos os escritores, de que o conhecimento antecipado do epílogo ou do final da obra, faz com que o leitor perca o interesse pelo texto.
Se o próprio Criador mencionasse o objetivo final da história da criação, a maior parte dos seres humanos passaria, em seguida, a desinteressar-se do assunto em busca de algum outro ou a não ter mais nenhum interesse sobre esta matéria, caindo em profundo tédio.
Esta minha tentativa de buscar um sentido para algo que muitos consideram sem nenhum, deve-se ao meu reconhecimento de que a Natureza, tal como a conhecemos, não opera desnecessariamente e sem objetivos. Tudo tem a sua razão de ser, muito embora, por vezes, desconheçamos total ou parcialmente esta razão.
Em primeiro lugar, dando início ao presente texto, acho mais pertinente tecer alguns comentários sobre a possível existência ou não de um Criador, para, depois, discorrer sobre a possibilidade de não estarmos sós neste Universo e, finalmente, entrar no mérito das questões relativas ao provável objetivo da vida e a resposta às três indagações básicas de todos nós, seres humanos, mencionada no título deste ensaio.
Começando pelas espécies animais, podemos ver em todas elas, morfologicamente, um desenho objetivo, funcional e artístico, denotando uma mente ou um princípio inteligente por detrás de sua criação e posterior evolução; bem como, uma preocupação estética, com respeito às aparências físicas destas criações.
Os seres humanos, especificamente, possuem olhos para ver, nariz para cheirar, ouvidos para ouvir, pernas para se locomover, mãos para pegar, etc. Possuem um órgão respectivo para cada uma das necessidades que têm, ao longo da existência, visando sua sobrevivência em um meio, muitas vezes, inóspito. O mesmo é verdadeiro para todas as demais espécies vivas.
A existência de três Reinos (Mineral, Vegetal e Animal) demonstra, também, um planejamento prévio das condições necessárias e suficientes para a manutenção da vida animal e, dentre essas, a vida humana inteligente (que parece ser a mais importante delas e a razão maior de todo este esforço criador). O reino animal se beneficia dos outros dois reinos e tudo leva a crer que estes dois foram criados, exclusivamente, para possibilitar a sobrevivência do primeiro.
Podemos constatar que na Natureza nada surge ou é feito por acaso. Tudo tem uma função específica ou uma razão de ser demonstrando ou evidenciando, mais uma vez, um principio inteligente e criativo por detrás de toda a criação.
Ao analisarmos a evolução nós percebemos subjacente a esta, uma dialética que conduz todo o processo e sobre a qual trataremos mais adiante.
Constata-se, pois, que são várias as aproximações que buscam explicar estes questionamentos humanos mencionados no título deste texto, variando desde a aproximação psicológica, até a filosófica, à sociológica e à religiosa.
Psicologicamente, como pensam alguns autores, imagina-se que o ser humano em seus primórdios, em razão da ignorância sobre os fenômenos naturais que o cercavam, atribuiu uma característica sobrenatural a estes acontecimentos. A partir daí surgiram os deuses, responsáveis pela existência e manifestação daqueles fenômenos e por aplacá-los, caso pudessem ser diretamente contatados. Por outro lado vendo o nascimento e a morte dos seres vivos, e não compreendendo as razões para tal, o homem passou a crer na vigência de outra existência, de onde os seres humanos vinham e para onde voltavam após a morte. Surgiram, a partir daí, os intermediários entre homens e deuses, entre este mundo e o outro. Em outras palavras, foi assim que apareceram os sacerdotes e as suas explicações para o fenômeno metafísico.
Filosoficamente as qualificações que, ao longo da história, foram atribuídas primeiramente aos deuses e a seguir ao Criador, segundo vários autores, eram as de causa (pois possibilitou a existência do Universo e dos seus componentes) e de bem (pois garantia tudo o que existia de excelente no mundo). Em termos de concepção, a Filosofia passou a admitir o Criador como causa ordenadora, como causa necessária ou como causa criadora do mundo. Em termos de moralidade, a relação entre o Criador e o mundo dos valores ensejou as diversas concepções a seguir: o Criador visto como garantidor da ordem moral; como a própria ordem moral ou como o criador da ordem moral. As correntes filosóficas também se alternaram, entre aquelas que defendiam o Determinismo e as que propugnavam pela existência de um Livre Arbítrio.
Em termos de concepção religiosa passaram a existir as alternativas Politeístas, Monoteístas e Panteístas (constata-se que a quase totalidade dos seres humanos acredita na existência de um Princípio Criador do Universo e de tudo o que ele contém; portanto, a hipótese da inexistência deste Princípio foge ao senso comum da maioria dos habitantes do planeta).
A ideia religiosa básica sobre o Criador, das culturas orientais, é a de que este é imanente a nós e a todos os demais seres; enquanto a cultura ocidental o considera como um ser transcendental e distante de nós.
A ideia de um Criador imanente em todos os seres fortaleceu-se de tal modo, no Oriente, que acabou por surgir á ideia de que tudo é Deus, o que se denominou de Panteísmo. Conforme o Panteísmo, todos os seres e a existência de Deus são concebidos como um todo. O Criador seria a cabeça da totalidade e o mundo, com tudo o que nele existe, seria o seu corpo. As mais importantes religiões orientais (Hinduísmo e Budismo) são Panteístas. O Panteísmo oriental acentua o caráter intrinsecamente religioso da Natureza; isto é, toda ela está animada pelo alento divino e, por isso, é como se fosse o corpo da divindade que, como tal, deve ser respeitada e venerada.
No Ocidente os críticos do Panteísmo, segundo alguns autores, o acusam de ser uma espécie de Ateísmo que nega a personalidade do Criador como externa ao próprio Universo. O Catolicismo afirma que o Panteísmo questiona, não somente a fé católica, mas, segundo ele, o bom senso e a sã razão. Com efeito, para o Catolicismo, Deus não poderia (nem parcialmente) identificar-se com o mundo, pois, por definição, é absoluto, necessário e ilimitado; ao passo que o mundo é relativo, contingente e limitado. Além disto, afirma que não pode haver evolução ou progresso em Deus, pois toda evolução pressupõe ou aquisição ou perda de perfeição; o que, em qualquer caso, implica em imperfeição; o que é absurdo em termos do Criador.
Assim, para o Catolicismo, Deus é essencialmente distinto do homem, do mundo e da realidade, visíveis; já que, é absoluto e eterno, ao passo que as criaturas sensíveis são relativas, transitórias e temporárias. As principais religiões e doutrinas religiosas ocidentais são monoteístas (Catolicismo, Protestantismo e Espiritismo). Da mesma forma que nas correntes filosóficas, as religiões também se alternam entre o Determinismo e o Livre Arbítrio.
Com base no que dizem as religiões e a filosofia, podemos estabelecer as seguintes hipóteses: 1. A existência humana é determinística e o Criador está em toda a Natureza (conforme reza o Budismo, Hinduísmo, Sufísmo, Confucionismo, Taoísmo e Xintoísmo); 2. A existência humana é determinística e o Criador está fora da Natureza (conforme prega o Islamismo e o Espiritismo); 3. A existência humana possui total livre-arbítrio e o Criador está em toda a Natureza (nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possui total livre-arbítrio e Deus está fora da Natureza (de acordo com o Catolicismo, Judaísmo e Protestantismo).
Ainda no que se refere à concepção do Criador, devemos destacar, tanto no aspecto filosófico quanto no religioso, as vias de acesso do homem a estas várias hipóteses, que são, basicamente, o Deísmo e o Teísmo. O primeiro consistiria na manifestação do Criador como iniciativa do homem, e o segundo como iniciativa do próprio Criador.
Relativamente ao aspecto sociológico da questão, tem-se que na antiguidade as conquistas territoriais, realizadas através das guerras, produziam enormes contingentes de prisioneiros que eram transformados em escravos. Tais populações escravizadas não possuíam nenhum direito, que não fosse aqueles típicos das condições de servidão e vassalagem, buscando, sempre, a sua liberdade. Os povos mais fortes dominavam, assim, os mais fracos em busca de riquezas e os escravizavam, sendo esta a regra geral.
Em determinado momento histórico, surgiu Jesus com uma nova proposição: - “Os bens terrestres não são importantes; já que, a verdadeira riqueza pertence a outro reino, o reino dos céus”!
Esta simples proposição mudou radicalmente a vida daqueles que, até então, viviam excluídos da posse de bens materiais. Para eles, a partir daquele momento, felizmente, ainda restava uma oportunidade, caso não se revoltassem ou rebelassem contra o ‘Status-Quo’ dominante (neste caso, o Império Romano) e pautassem suas vidas por comportamentos virtuosos, dali por diante.
Em uma nova vida, após a morte, iriam desfrutar de tudo aquilo que, nesta, lhes havia sido negado. Esta simples maneira de encarar a vida e a sua Metafísica, despertaram, ainda mais, o sentimento religioso das populações oprimidas e escravizadas, carentes de bens materiais e de liberdade. O próprio Império Romano, em principio contra os cristãos (por julgar que faziam parte de um movimento sedicioso de libertação do Reino de Judá do Império), logo a seguir, quando suas elites entenderam a verdadeira mensagem do cristianismo e viram que aquela mensagem vinha de encontro aos seus próprios desejos e interesses (o de que as populações escravizadas não mais se revoltassem contra a dominação romana), deixou de perseguir os cristãos e, inclusive, sob comando do imperador Constantino, no Concilio realizado em Niceia, criou uma nova religião (baseada, supostamente, nas palavras e nos ensinamentos de Jesus), buscando estendê-la por todos os territórios sob o seu domínio.
Ao longo da História Humana, diversas hipóteses tentaram provar a existência de um Criador, sendo as dez mais conhecidas, citadas por Nicola Abbagnano em seu dicionário, aquelas apresentadas a seguir:
1. Os discípulos de Platão utilizaram o consenso comum como prova: “Para demonstrar a existência dos deuses, o argumento mais forte que podem aduzir, é que nenhum povo é tão bárbaro e que nenhum homem é, em absoluto, tão selvagem, a ponto de não ter em sua mente indício da crença nos deuses”; isto é, a crença nos deuses seria uma ideia inata aos seres humanos;
2. O argumento Teleológico (estudo das finalidades, das causas finais ou das transformações passíveis de ocorrerem no Universo), utilizado por Platão e Aristóteles, diz: “Que a inteligência ordena todas as coisas é afirmação digna do espetáculo que nos oferecem o mundo, a lua, os astros e todas as revoluções celestes”;
3. Outro argumento utilizado por Aristóteles é o de que “É impossível remontar ao infinito na série das causas materiais e das causas eficientes ou das causas finais ou das conseqüências, e que, deve haver em cada série um primeiro principio do qual depende a série toda”;
4. A prova do Movimento, exposta por Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino consiste, basicamente, em que “Tudo que se move é movido por outra coisa. Assim, o Criador seria o motor que originou o primeiro movimento”;
5. A prova da Gradação, exposta por vários filósofos, foi sintetizada por Anselmo, quando disse: “Se não se pode negar que algumas naturezas são melhores do que outras, a razão nos convence de que há uma tão excelente que nenhuma outra haverá que lhe seja superior. De fato, se essa distinção de graus prosseguisse ao infinito, de modo que não houvesse um grau superior a todos, a razão seria levada a admitir que o número dessas naturezas é infinito. Mas como isto é considerado absurdo por qualquer um que não seja carente de razão, deve haver, necessariamente uma natureza superior, que não possa ser subordinada a nenhuma outra como inferior”;
6. A prova Cosmológica, enunciada por vários filósofos de maneira parecida, pode ser sintetizada como “Se algo existe, deve existir um ser necessário. Mas algo existe, eu mesmo, por exemplo, logo existe o ser necessário”;
7. A prova Ontológica, formulada também por Anselmo de Aosta, consiste em: “Certamente aquilo de que não se pode pensar nada de maior não pode estar só no intelecto. Porque se estivesse só no intelecto, poder-se-ia pensar que estivesse também na realidade, ou seja, que fosse maior. Se, portanto, aquilo de que não se pode pensar nada de maior está só no intelecto, aquilo de que não se pode pensar nada de maior, é, ao contrário, aquilo de que se pode pensar algo de maior. Mas, certamente, isto é impossível. Portanto, não há dúvida de que aquilo de que não se pode pensar nada de maior, existe tanto no intelecto quanto na realidade”;
8. O argumento da simples presença da “idéia do Criador no homem”; isto é, seria impossível explicar esta presença, de outra maneira que não pela existência de um Criador;
9. A prova Moral consiste em mostrar que “a existência do Criador é uma exigência da vida moral, no sentido de que é conveniente ou necessário ao homem acreditar em um Criador”;
10. Esta última prova, segundo o filósofo Filon, afirma: “Mas há uma inteligência mais perfeita e mais purificada, iniciada nos grandes mistérios que conhece a Causa, não a partir dos seus efeitos, assim como se conhece o objeto imóvel a partir de sua sombra, mas que transcendeu o efeito e recebe a aparição clara do ser não gerado, de tal modo que o compreende, em si mesmo e por si mesmo e não em sua sombra, que é a razão do mundo”. Segundo Pascal, “É prova da existência do Criador, não só o desvelo dos que o procuram, como também a cegueira dos que não o procuram”.
Em nossa modesta opinião, a principal prova da existência de um Criador tem passado, talvez, despercebida da maioria dos filósofos, cientistas e religiosos, que tradicionalmente se ocupam de tentar provar, de maneira insofismável e lógica, a realidade do Criador de todas as coisas. Causa até estranheza que a prova, apresentada a seguir, não tenha sido percebida e, caso tenha sido, não seja mencionada nos compêndios sobre o assunto.
Esta prova, no meu modo de ver, consistiria na maneira pela qual os seres humanos se reproduzem.
Uma hipótese para a ausência de qualquer menção a respeito deste assunto, no que tange a eventual prova da existência de um Criador, pode estar vinculada ao aspecto da conotação de pecado e a correspondente repressão sexual advinda com o surgimento e a expansão do Cristianismo. É conhecido que, no Oriente, os filósofos e religiosos encaravam a sexualidade como uma iluminação espiritual; como, também, no Ocidente antigo, os gregos e os romanos aceitavam a sexualidade sem nenhuma impressão moralista, impressão esta apenas surgida com o nascimento do cristianismo. As culturas e as religiões orientais baseiam-se no equilíbrio e na complementaridade entre o masculino (Yang) e o feminino (Yin). Para tais culturas, o sexo buscava, principalmente, a transcendência da mortalidade. Segundo vários autores, no próprio Ocidente antigo, o sexo era natural, divino e sempre realizado como forma de adoração, não sendo descriminado e sem senso de pudor; já que tudo era divino e natural, na sexualidade grega e romana.
O cristianismo, surgido de tradições judaicas, criando a noção de pecado, regulou o comportamento moral do Império Romano e, a partir de então, de todo o Ocidente. A visão cristã, impregnada de valores éticos que transcendem o mundo material, acabou por colocar a sexualidade, situada no plano material, como fonte de pecado e cujas tentações deveriam ser mantidas afastadas. A própria mãe de Jesus foi considerada como virgem, de modo a reiterar ser ele filho do Criador; mas, também, para torná-la livre do pecado da carne.
Surgiu, assim, uma contradição entre a sexualidade divina e a sexualidade pecado. O cristianismo ficou com a segunda, para justificar a sua origem.
Voltando à prova da existência de um Criador que queremos demonstrar, vale lembrar uma máxima do Direito que afirma: “quem pode o mais, pode o menos”; isto é, quem pode fazer as coisas mais difíceis, também pode fazer as coisas mais fáceis. Mais adiante os leitores entenderão a razão da menção desta proposição neste momento.
Os métodos conhecidos de reprodução podem agrupar-se, genericamente, em dois tipos: reprodução assexuada e reprodução sexuada. No primeiro caso, um indivíduo reproduz-se sem que exista a necessidade de qualquer partilha de material genético entre organismos. A divisão de uma célula em duas é um exemplo comum, ainda que o processo não se limite a organismos unicelulares. A maior parte das plantas tem a capacidade de se reproduzir assexuadamente, tal como alguns animais (ainda que seja menos comum). A reprodução sexuada, por sua vez, implica a partilha de material genético, geralmente providenciado por organismos da mesma espécie classificados, geralmente, de macho e de fêmea, como no caso dos seres humanos.
A reprodução sexuada está, portanto, relacionada com processos que envolvem troca e mistura de material genético entre indivíduos de uma mesma espécie. Esse modo de reprodução, apesar de mais complexo e energicamente mais custoso do que a reprodução assexuada, traz grandes vantagens aos seres vivos e é o mais amplamente empregado pelos diferentes grupos. Mesmo organismos que apresentam reprodução assexuada podem, também, se reproduzir sexuadamente, embora existam algumas espécies em que a reprodução sexuada não ocorre.
Do ponto de vista estritamente biológico a reprodução assexuada seria muito mais vantajosa, pois preservaria, sem modificações, as características dos organismos, dada certa condição ecológica. Essa, entretanto, nem sempre é a realidade. O meio ambiente pode apresentar alterações. Sobreviver a elas depende, em grande parte, de o patrimônio genético conter soluções as mais variadas possíveis. Entretanto, muitas espécies de animais, incluindo invertebrados e vertebrados (como alguns répteis, peixes e, muito raramente, aves e tubarões), capazes de reprodução sexual, também têm a capacidade de se reproduzir assexuadamente, nomeadamente através da partenogénese (do Grego parthenos, virgem, genesis, criação), que consiste na formação e desenvolvimento de um embrião sem necessidade de fertilização dos óvulos por parte do macho. Algumas espermatófitas, em que a norma é a reprodução sexuada, podem igualmente produzir sementes sem que haja fertilização dos óvulos, através de um processo conhecido por apomixia. Nos organismos unicelulares, como as bactérias e as leveduras, a norma é a reprodução assexuada, através da fissão binária das células. Outras formas de reprodução assexuada incluem a esporogênese, no caso da formação de mitoesporos (esporos resultantes da mitose) e a fragmentação clonal. A reprodução dos vírus também pode ser considerada como assexuada.
Nos hermafroditas pode ocorrer autofecundação; ou seja, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide do mesmo indivíduo. Ocorre em algumas espécies vegetais. Entretanto, geralmente existem mecanismos que impedem a autofecundação. Nesses casos, os óvulos de um indivíduo são fecundados pelos espermatozoides de outro indivíduo da mesma espécie. Fala-se, então, em fecundação cruzada. A fecundação pode ser externa, quando ocorre fora do corpo, no meio ambiente, ou interna, quando, ocorre no corpo do indivíduo que produz os óvulos. Algumas espécies de anfíbios possuem a fecundação externa. O macho estimula a fêmea a liberar os óvulos no ambiente e o macho libera os espermatozoides em cima deles.
A maior parte dos animais (incluindo o ser humano) e das plantas reproduz-se sexuadamente.
Caso a vida fosse fruto, simplesmente, do acaso, por ser mais vantajosa e mais simples, a reprodução dos seres vivos tenderia a ser assexuada ou mediante a autofecundação hermafrodita. Entretanto, esta não foi a maneira escolhida para a reprodução da maior parte dos animais e da totalidade dos seres humanos. Ademais de discutíveis questões de ordem ambiental (os organismos geneticamente idênticos seriam mais suscetíveis as alterações ambientais, o que poderia não ocorrer com populações formadas por indivíduos que se reproduzem sexuadamente), penso que a razão principal pela qual nos reproduzimos sexuadamente, sendo necessário um macho e uma fêmea para que tal se dê, é a prova cabal da existência de um Criador; isto é, esta maneira de reprodução visa deixar bem claro a importância do amor, do carinho e da afeição, que deve unir as criaturas. Esta forma de reprodução destaca, também, a necessidade da existência da família, núcleo de união, proteção, amor e demais virtudes necessárias à evolução espiritual. Por outro lado, ela garantiria, de maneira mais eficaz, a permanência da criação contra adversidades climáticas, que poderiam, eventualmente, extingui-la.
Como já mencionamos anteriormente, a máxima de “quem pode o mais, pode o menos” aplica-se, perfeitamente, a existência de um Criador. Quem programou a reprodução sexuada do gênero humano, poderia programar a mesma reprodução de forma assexuada, conforme o fez para algumas outras espécies, sem nenhuma dificuldade, ou como certamente teria sido feita pela própria Natureza (na ausência de um Criador), caso a vida fosse fruto apenas do acaso (pois esta forma de reprodução é mais vantajosa e menos complexa). Só que, neste caso, os seres daí resultantes, não possuiriam laços de união e de afeto entre si, necessários para a evolução espiritual e só obtidos através de uma reprodução sexuada, onde o pai e a mãe permanecem junto aos filhos, constituindo uma família na qual seus integrantes se ajudam, se protegem e se amam.
Esta maneira pela qual nos reproduzimos, por si só, demonstra, também, a necessidade de evolução espiritual, alcançada apenas desta forma; pois, propicia o surgimento dos sentimentos virtuosos de amor, generosidade, compaixão, coragem, dedicação, altruísmo, bondade, caridade, etc. etc. etc.
Alguns leitores, mais perspicazes, dirão: -“Mas, também, propicia o surgimento dos vícios”!
Concordo, plenamente, com os meus leitores e explico a razão de ser assim. O motivo, por detrás de tudo isto, é o fato de que a evolução humana ocorre mediante um processo dialético, já mencionado no início deste texto, no qual são necessárias a Tese e a Antítese, para que, finalmente, ocorra uma Síntese. Assim, oscilando entre a virtude e o vício, os seres humanos, e a humanidade como um todo, sintetizam, em cada período de tempo, a sua necessária evolução. Alguns denominam esse processo de Principio do Contraditório, que vigora na Natureza e na vida social dos indivíduos: a Verdade aparece sempre por intermédio das contradições humanas e tudo na Natureza, que necessita de evolução, evolui dialeticamente. Logo, se não existissem contradições, a humanidade não evoluiria, material e espiritualmente, e a Verdade não seria conhecida. Esta é a razão pela qual o Criador, ou o Grande Arquiteto do Universo (cuja existência eu considero, neste caso, provada), que não necessita evoluir, pode ser considerado a fonte de todas as virtudes e a ausência de todos os vícios.
Voltando as questões iniciais deste texto, considerando que nada na Natureza é feito por acaso, a existência de um Universo contendo incontáveis Nebulosas com incontáveis Galáxias, com incontáveis Sistemas Solares, deixa evidente que a vida não é privilégio do nosso planeta. Assim, inúmeras espécies inteligentes deverão existir por este vasto Universo e muitas delas, certamente mais desenvolvidas que a nossa, já estão nos visitando desde algum tempo (conforme os milhares de relatos de observação visual e de constatações feitas através de equipamentos como radares, filmadoras, etc.).
Tais seres podem ou não possuir características antropomórficas. De nenhuma das raças que nos visitam, segundo material divulgado por entidades públicas, privadas e pesquisadores individuais, se conhece, oficialmente, o que pensam sobre Religião e Filosofia; aspectos estes que devem de um modo ou de outro fazer parte da vida de qualquer ser vivo racional, existente em qualquer parte do Universo. Entretanto, acredito que algumas considerações possam ser feitas sobre tais aspectos, utilizando, tão somente, o raciocínio e a razão.
Em primeiro lugar, em sua maioria, tais seres (observados em diversas ocasiões e contatados algumas vezes, segundo relatos divulgados na Mídia) possuem características antropomórficas, indicando que esta parece ser a forma que predomina no Universo (outras formas de vida, porventura existentes e contempladas em menor escala pelas observações visuais, podem se tratar de robôs e, sendo assim, não necessitariam possuir a característica antropomórfica). O antropomorfismo, evidentemente, tendo uma razão de ser, indicaria um desenho básico do Principio Criador, cujos objetivos seriam aqueles já mencionados: poder sobreviver em um meio inóspito e evoluir material e espiritualmente. O cérebro, menos ou mais desenvolvido em tamanho, poderia indicar o estado de evolução científica e tecnológica da espécie ou da raça.
Informações esparsas, até então obtidas sobre as raças extraterrestres que nos visitam, destacam que a maneira como se estruturaram socialmente difere da nossa: cada civilização seria formada por uma única raça que habitaria um ou mais planetas, sem a existência de países nestes planetas. Suas estruturações política, administrativa e organizacional não adotariam a forma piramidal, como a nossa; isto é, uma elite no topo da pirâmide, detendo todo o conhecimento e o poder, e o povo na base, sem conhecimento e sem poder. A forma por eles adotada, segundo relatos, seria a holográfica; isto é, não existiriam segredos nem elites predominantes. Todos os seres saberiam de tudo (talvez uma explicação para as grandes cabeças que possuem, relatadas por vários observadores) e estariam aptos a desempenharem qualquer função, em qualquer lugar.
Entretanto, por mais desenvolvidos que sejam, cientifica e tecnologicamente (o que implicaria em serem também desenvolvidos econômica e socialmente), com certeza, saberão que não foram os criadores do Universo, embora possam constituir civilizações bem mais antigas que a nossa. Saberão, também, que não foram os criadores das Ciências e de suas leis; pois estas sempre existiram e eles, da mesma forma como nós, apenas as descobriram e utilizaram em benefício próprio. Sendo assim, poderão ou não prestar alguma forma de homenagem ao Criador, mesmo que não venham a adorá-lo ou venerá-lo como fazem os adeptos das nossas religiões. No entanto, é mais razoável supor que acreditem em um Criador, como seres evoluídos e de boa índole (conforme são descritos por muitos daqueles que com eles mantiveram alguma forma de contato), embora algumas destas raças não demonstrem possuir emoções, como alegria, tristeza, raiva, etc.
Considerando o estágio de evolução que apresentam, se seus objetivos, para conosco, fossem o da dominação para nos escravizar, com certeza, já o teriam feito. É fato que colhem material biológico de seres humanos e de animais, mas isto pode se tratar, apenas, da obtenção de informações científicas sobre o nosso planeta e acerca de suas formas de vida. Quanto ao se darem ou não a conhecer, perante as populações do nosso planeta, parece ser desejo deles o de serem conhecidos (tantas são as suas aparições e os contatos que já mantiveram), mas não o das elites globais e regionais que comandam o mundo e o nosso país. Tanto é assim, que o assunto OVNI é, ainda, mantido em completo sigilo pelas autoridades da maioria dos países, que trocam informações entre si, mas não as divulgam para suas populações.
Apenas o bom senso, no entanto, seria suficiente para crer que não estamos sós. Considerando a vastidão do Universo, consistiria um enorme desperdício de tempo, de espaço e de recursos, a existência de vida inteligente e racional apenas em nosso pequeno planeta, perdido no espaço infinito. O Criador de incontáveis mundos, também foi o Criador de incontáveis raças de seres inteligentes e racionais, espalhados pelo Universo da Criação.
Os adeptos das igrejas cristãs, do islamismo e do judaísmo (religiões que situaram o Criador como existindo fora do nosso planeta), sempre afirmaram que os Seres Humanos, feitos a imagem e semelhança do Criador, constituíam a única espécie racional existente na imensa vastidão do Universo, e que este havia sido criado apenas para o eterno usufruto de tais seres. Os praticantes do Budismo, do Hinduísmo, do Bramanismo e de outras religiões orientais, por possuírem uma visão Panteísta do Criador (este estaria em todas as coisas vivas e inanimadas existentes), sempre acreditaram que não estavam sozinhos no Universo. Muitos pesquisadores da Ufologia utilizam-se, na atualidade e segundo relatos dos próprios, da meditação budista para contatar alguns destes seres extraterrestres.
Vários pesquisadores informam, em congressos realizados por todo o mundo, que diversos governos já mantiveram contatos com tais seres, deles já tendo extraído conhecimentos tecnológicos sobre micro-ondas, laser, ligas metálicas, circuitos eletrônicos, fibras óticas, sensores de visão noturna, desenho de aeronaves, invisibilidade aos radares, etc. Podemos imaginar que nossas atuais elites desejam obter os fantásticos conhecimentos dos alienígenas, sem perder o domínio sobre as populações do planeta; razão pela qual, não divulgam oficialmente as suas presenças. Evidentemente, ao tomarmos ciência de que eles existem e que já estão aqui, os eventuais novos conceitos religiosos e filosóficos que poderíamos vir a absorver destes seres, fariam, certamente, mudar para sempre as relações entre os dominadores (elites) e os dominados (povo) em nosso planeta.
Segundo o meu modo de ver, no referente à Filosofia (ao igual que na religião), algumas características seriam comuns a todas as civilizações inteligentes e racionais, porventura existentes no Universo.
A Filosofia (literalmente «amor ou amizade à sabedoria»; posto que, tratando-se de um atributo que pertenceria aos deuses, por ela apenas poderíamos ter amor ou amizade), sendo o estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem, com toda certeza, fará parte da vida de todos os seres vivos inteligentes e racionais.
Os nossos filósofos empenham-se em responder, racionalmente, questões acerca da realidade última das coisas, das origens e características do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais, da existência e natureza de Deus (ou dos deuses). Muitas das questões levantadas pelos primeiros pensadores terrestres são, ainda, temas importantes da nossa Filosofia contemporânea (e suas ramificações, como a epistemologia, a ontologia, a ética, a metafísica, a filosofia social, a filosofia política, a estética e a lógica); e, certamente, também farão parte da existência de civilizações extraterrestres, que, com toda certeza, possuirão atitudes filosóficas perante o Universo e perante elas mesmas. Tais atitudes poderão, eventualmente, divergir das nossas; porém, se tudo houver partido de um mesmo Criador, amoroso para com as suas criaturas, a possibilidade de que haja um sentimento comum que permeie a todas as civilizações é, sem dúvida, bastante provável e razoável.
As Virtudes (embora muitos de nós não as pratiquemos com freqüência), da forma como as conhecemos, são formadas por todos os hábitos, constantes, que levam o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente. Por sua vez, os Vícios constituem aqueles hábitos repetitivos, que degeneram ou causam algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Assim, os conceitos de Vícios e Virtudes são universais, embora possam diferir em épocas e locais.
Por outro lado, considerando o lado espiritual dos seres inteligentes e racionais, que necessitariam desta evolução espiritual (além da evolução material), para desenvolverem-se, aperfeiçoarem-se e atingirem patamares cada vez mais elevados na escala de evolução edificada pelo Criador, concluímos ser esta a única razão pela qual encarnam para viver uma existência material, aonde quer que seja neste vasto Universo. A evolução espiritual dar-se-ia pelo processo dialético (comum a toda evolução). É através do contraditório que se atinge a verdade e se galga um novo patamar na escala da evolução. A síntese, originária do confronto entre a tese e a antítese, representa uma evolução em face destas duas proposições. A vida material possibilita, assim, a evolução espiritual; logo, todo ser vivo inteligente e racional encarnou para evoluir espiritualmente.
Concluindo, podemos imaginar que, embora o surgimento da vida racional possa haver se dado em épocas muito distintas nas diversas constelações com planetas habitados (e algumas civilizações serem milhares de vezes mais desenvolvidas, científica e tecnologicamente, do que outras), esta evolução não deverá ser muito diferente no que respeita aos aspectos filosóficos. Poderá, todavia, se diferenciar quanto aos aspectos religiosos; já que, embora podendo acreditar possuir um ou vários Criadores, podem não prestar reverência a nenhum deles. Podem também não acreditar na existência deste, o que denotaria, com certeza, uma espiritualidade inferior a nossa.
Um exemplo prático nós temos em nosso próprio planeta. Embora por muitos milênios, diversas raças, povos e nações vivessem em isolamento e sem o conhecimento da existência uns dos outros, todos eles possuíam uma interpretação para a criação do Universo, que coincidia com o fato de nenhum deles aventar-se como sendo o seu criador. O Criador podia ser um ou mais deuses, que viviam em altas montanhas ou fora do planeta. Por outro lado, o assassinato sempre foi considerado como algo errado, bem assim o roubo e o furto.
Leis muito antigas, como o Código de Hamurábi, escrito aproximadamente em 1.700 A.C., já estabeleciam penalidades para certas ações contra o indivíduo e contra a tribo. O referido código estabelecia a lei de Talião (olho por olho e dente por dente), além de punir o falso testemunho, o roubo e a receptação, o estupro, a ajuda a fugitivos e o assassinato. Isto certamente é Universal. “Não faça aos demais aquilo que não deseja que lhe façam”: esta parece ser uma regra de ouro para toda a vida inteligente e racional, onde quer que se encontre.
Evidentemente, os alienígenas (em que pese à boa índole que deverão ter aqueles espiritualmente evoluídos que nos visitam), caso se defrontem em seus planetas com cataclismos ou com a escassez de água ou de alimentos, em primeiro lugar colocarão a sobrevivência da sua espécie e raça sobre quaisquer outros sentimentos que possam ter. Quanto a isto, precisamos estar atentos para evitar surpresas.
O termo Exopolítica, muito empregado atualmente pelos pesquisadores da Ufologia, trata do estabelecimento de um arcabouço jurídico que venha a estabelecer regras sobre a ocupação do nosso Sistema Solar; bem como, acerca do nosso contato com civilizações extraterrestres. Evidentemente, para tanto, deveremos antes efetuar contatos com estas raças; já que, tudo terá que ser fruto de um acordo entre nós e eles. Com seus incomensuráveis avanços tecnológicos, podem respeitar ou não a nossa posição sobre o assunto. Astronautas americanos que visitaram a Lua, bem como sondas e robôs que estiveram naquele satélite da Terra e em Marte, reportaram, filmaram e fotografaram instalações, bases e veículos extraterrestres em ambos (entrevistas, filmes e congressos, relativos a estes fatos, podem ser obtidos no You Tube); contatos estes que são mantidos sob sigilo oficial. Embora pensemos que o nosso Sistema Solar nos pertence, na realidade, ele poderá já ter outros donos há muito tempo.
Voltando ao questionamento do início deste ensaio: “Quem somos nós, de onde viemos e para onde vamos?”, creio que já podemos afirmar que nós somos uma das inúmeras manifestações de vida, criadas e espalhadas pelo Universo. Viemos de um Principio Criador, que criou a nós e a tudo o mais existente no Universo. Vamos em direção à evolução, quer seja ela material ou espiritual.
Quanto ao porque disto tudo, a única explicação lógica que me ocorre é a seguinte: O Principio Criador, certamente, já existia antes da Criação do Universo. Que motivo o terá levado a criar um Universo, com várias espécies diferentes, em vários locais da sua criação? A única resposta que encontro é a da solidão e do tédio que, em determinada ocasião, pode ter passado a dominar este principio criador. De que valeria tudo poder, sem a presença de seres inteligentes que admirassem e compartilhassem parte deste poder de criação? De que valeria tudo poder, sem ter o que fazer em um Universo inexistente. Veja o leitor que solidão e tédio não são virtudes nem vícios, são, apenas, estados da alma ou condições espirituais. Da mesma forma que a solidão e o tédio podem ocorrer com a Criação, com certeza, também deverão poder ocorrer com o Criador de todas as coisas e que tudo pode. Qualquer criatura inteligente ao criar alguma coisa, coloca nesta criação parte de si; isto é, as suas emoções, o seu estado de espírito no momento, as suas preocupações e temores, os seus anseios e esperanças; em suma, o seu próprio Eu interior. O Criador, da mesma forma, possuiria em seu íntimo estes estados da alma (a solidão e o tédio) que inseriu em todas as suas criaturas; até porque, como entender as criaturas sem possuir a capacidade de entender suas decisões, seus sentimentos e seus valores? Não devemos confundir solidão com o simples fato de estarmos sós; posto que, aquela é um estado da alma (espírito enquanto encarnado) ou uma condição espiritual (dos espíritos enquanto desencarnados) e este é uma realidade concreta.
O Criador de todas as coisas, não sendo uma Entidade material, mas, sim, espiritual, embora não possua vícios e possua todas as virtudes, também poderá possuir estas condições espirituais de solidão e tédio, comuns às almas e aos espíritos.
Creio, assim, terem sido estes os sentimentos que motivaram o Princípio Criador a encetar esta monumental obra de criação do Universo conhecido, pois, se o Principio Criador já existia antes e existia só, alguma razão lógica deve ter havido para que desejasse deixar de ser só, ao encetar a magnífica obra da Sua criação. Se Ele estivesse totalmente feliz com Sua condição de ser só, não teria a necessidade de criar aquilo que não existia (e se não existia, era porque não havia sido necessário, até então).
A razão última desta magnífica e monumental criação, portanto, em meu ponto de vista, foi, simplesmente, a solidão do Criador. Por outro lado, como em um jogo que nunca terminará a possibilidade e a necessidade de evolução material e espiritual da criação forneceria o meio de minorar, ou eliminar, o tédio do Criador (e também das suas próprias criaturas); posto que, a cada dia, estas condições materiais e espirituais estariam se modificando e tornando o Universo sempre diferente daquilo que fora anteriormente. Podemos imaginar como seriam tediosas as nossas existências, se não houvesse a possibilidade de evolução material e espiritual.
Estas são, portanto, caríssimos leitores, as minhas opiniões sobre as três grandes questões que, desde os primórdios do homem sobre a superfície do planeta, têm atormentado a mente de todas as criaturas inteligentes e racionais (inclusive a do suposto assaltante de Manuel Maria Barbosa Du Bocage), onde quer que elas estejam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário