48. O Custo Brasil
Jober Rocha*
Tendo acordado tarde naquele dia, tinha mil coisas a fazer antes de ir ao estádio assistir aquela partida entre o Brasil e o México, na Copa do Mundo de 2014. Teria de passar na Receita Federal, no Plano de Saúde, no Departamento de Trânsito e em uma instituição médica, onde me inscreveria como doador de órgãos e de tecidos para transplantes.
O primeiro problema começou logo na Receita, quando indaguei sobre a restituição do Imposto de renda. Ao consultarem meu número do CPF, informaram: - CPF inexistente!
O funcionário perguntou: - O senhor se recadastrou no ano passado? Trouxe atestado de vida? Cópia das certidões de nascimento e casamento de ambos os avós, maternos e paternos?
Sai dali fulo da vida. Pensava comigo: - Este é o tal do Custo Brasil. Aqui tudo dá errado e nada funciona!
Da Receita passei na sede do Plano de Saúde para pegar a autorização da pequena cirurgia, que solicitara há mais de quinze dias. Lá chegando, ouvi do funcionário: - Não deu entrada nenhum pedido com este nome. Sua matrícula também não confere!
Indignado, dirigi-me à sede do Departamento de Trânsito - DETRAN, pensando em cancelar meu plano de saúde e mudar-me do país. Em lá chegando, pretendia pagar uma multa cujas duas notificações diferentes que eu recebera – estavam com o mesmo número, mas com valores diferentes e, ademais, referiam-se a uma mesma ocorrência, porém, em logradouros diferentes. Ao consultar pelo número do Registro Nacional de Veículos - RENAVAM apareceu na tela: RENAVAM Inexistente.
Olhando o relógio vi que já estava atrasado, pois a partida de futebol começaria às 16 horas e me restavam, apenas, quinze minutos para chegar ao estádio. Peguei um táxi para ir mais rápido e, infelizmente, tive de ouvir através do rádio do veículo a partida inteira, sentado dentro daquele veículo parado em um congestionamento monumental, que seguia na direção do estádio. Ali, na companhia do motorista e ao lado de centenas de torcedores que iam para o mesmo destino que eu, nós todos choramos o inconcebível zero a zero.
Desanimado, desiludido, com raiva do mundo, retornei para casa. Pensava, durante a volta: - Perdi o dia todo e não resolvi nada! Ó meu Deus, porque fui nascer logo aqui? – exclamei em voz alta.
Chegando ao apartamento toquei a campainha duas vezes, pois havia esquecido a chave em casa. Minha mulher, ao abrir a porta, olhando-me acintosamente nos olhos, disse: - Meu marido não está! O que o senhor deseja?
Saindo de trás dela, com uma mamadeira na mão, meu filho pequeno me olhou e, virando-se para a mãe, perguntou: - Mamãe, o que este homem mau está querendo com a gente?
-*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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