53. O ORIENTE E O OCIDENTE
Jober Rocha*
No ano de 460 d.C. um rei do Oriente encontrando-se em uma solenidade na cidade de Roma com um monarca europeu, querendo divertir-se às expensas deste, exclamou respeitoso: - “Majestade, eu invejo vossa felicidade pela possibilidade que tem de, todos os dias, poder ver surgir à luz que vem do Oriente. Não só a luz do sol como também a da sabedoria”!
O monarca europeu, apanhado de surpresa, ficou sem saber o que responder. Lembrou-se, entretanto, que desde o ano de 395 d.C. o Império Romano havia sido dividido em duas partes, uma oriental (sol nascente) e outra ocidental (sol poente). Cada parte era administrada por um Augusto e por um César.
Recordou-se também de outras peculiaridades, que distinguiam cada parte: no Ocidente a vestimenta para o luto era de cor preta, no Oriente esta era de cor branca. No Ocidente rezava-se para o exterior (Deus encontrava-se no céu) e no Oriente rezava-se para o interior (para despertar o Deus que existia em cada um). No Ocidente escrevia-se da esquerda para a direita e, em muitos países do Oriente, a escrita era da direita para a esquerda. No Ocidente a escrita formava a palavra, letra por letra, e no Oriente se escrevia palavra por palavra ou ideia por ideia. No Ocidente as bandeiras, flâmulas e estandartes eram horizontais e no Oriente eram verticais. No Ocidente a roupa utilizada era escura e opaca e no Oriente era colorida e brilhante.
As guloseimas das crianças do Ocidente eram a base de sabores doces e no Oriente os sabores eram azedos, agridoces e ácidos. A alimentação ocidental era, preferencialmente, com base salina e a oriental era doce, amarga e ácida. No Ocidente cortava-se a comida na mesa utilizando-se facas e no Oriente toda a comida já era cortada adequadamente, não se utilizando facas na mesa. A música culta do Ocidente era suave e no Oriente era estridente. No Ocidente dançava-se com os pés e o corpo de maneira harmoniosa, porém, rigidamente e no Oriente dança-se com todo o corpo, inclusive com os ombros, os olhos, a boca e batendo os pés e as mãos, como nas danças indianas e chinesas.
O calendário ocidental era solar, já o chinês era lunar. A astrologia ocidental era mais celeste que terrestre, baseando-se em um zodíaco cósmico e a oriental era, ao contrário, muito mais terrestre que celeste, baseando-se nos animais da terra (Feng Shui). No Ocidente a maior parte dos idiomas eram linguagens onde a pronúncia se apoiava com o uso da língua e no Oriente eram guturais, com o apoio da garganta e sons nasais. No Ocidente a medicina era do tipo voltado para a química, enquanto no oriente era energética do tipo acupuntura, chi kung, etc.
Assim, o monarca continuou examinando ambas as culturas e recordando costumes totalmente opostos, que faziam com que os conceitos ocidentais e orientais fossem diferentes em inúmeros aspectos.
Mergulhado nestas divagações, foi, entretanto, despertado pelo sábio da sua corte (que aquele monarca sempre levava com ele, para onde quer que fosse), segredando-lhe baixinho ao ouvido:
- “Majestade, diga ao rei oriental que, embora todos os ensinamentos oficiais, filosóficos e religiosos argumentem imperiosamente que a civilização, com todos os seus benefícios humanitários e iniciáticos, nos vem do Oriente, isto é um grande erro de principio, baseado em aparências enganosas e muito relativas”.
- “Certamente podemos dizer que nos últimos milênios o Ocidente viveu, intelectual e espiritualmente, fundamentado sobre o Oriente. E o exemplo da religião cristã é suficiente. Com efeito, o cristianismo é uma mescla de mazdeísmo, brahamanismo e budismo. A religião “católica romana” tomou emprestada ao velho budismo da Índia, a missa, o rosário, os círios, o incenso, os conventos, os monges, as adorações perpétuas, as capelas, etc”.
- “Do mazdeísmo (Zend-Avesta) tomou emprestado o inferno, o paraíso, o diabo e os anjos da guarda. O cristianismo é uma doutrina religiosa inteiramente de origem oriental. Porém, o Oriente foi, tão somente, um depositário momentâneo de ensinamentos de origem Ocidental, que lhe foram confiadas por raças brancas expulsas do solo natal, em consequência de convulsões ou cataclismos terrestres, e que se refugiaram, em parte, na direção oriental, ainda em brumas, ainda imersa na noite dos tempos”.
- “Longo tempo depois de haver despertado os povos orientais e de lhes haver sido confiado toda a tradição iniciática, os descendentes das velhas imigrações brancas se reconstituíram em grupos etnológicos chamados arianos e voltaram em direção às terras ancestrais, virgens de espírito e ignorantes, depois de haver repousado espiritualmente em um benéfico esquecimento. Assim, antes de dormir, o Ocidente transmitiu sua sabedoria ao Oriente, em vésperas de desaparecer como civilização”.
- “Isto leva, naturalmente, também, ao reconhecimento do Norte como a fonte do ensinamento iniciático positivo, objetivo, científico e ocidental, enquanto o Sul deve ser considerado como passivo e místico, além de contemplativo e oriental”.
- “Este é um principio que deve ser admitido, após longo tempo, por todos os iniciados que ignoram esta verdade histórica" - finalizou o sábio.
O rei, fitando o sábio e sem nenhum interesse naquilo que o sábio havia dito, calou-se e foi cumprimentar o imperador romano, que chegava ao recinto cercado por inúmeros bajuladores...
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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