quarta-feira, 6 de julho de 2016


87. Continuação de Diário de um 'Maluco Beleza' (Capítulo 27)

Jober Rocha


Capítulo 27
Domingo, 30 de março 


                    Esta semana soube de uma notícia ocorrida com o filho do meu vizinho que me deixou bastante entristecido. O fato, ocorrido poucos dias antes, ouvi na padaria da comunidade, contado entre risos e chacotas. Adolfo, este era seu nome, desde pequeno sempre fora bom de briga.   No colégio ninguém tirava satisfação com ele, sem sair com um olho roxo ou com o nariz sangrando.
                             Em sua juventude, havia frequentado todas as academias de artes marciais: jiu-jitsu, caratê, boxe, tae-kwondo, capoeira, Krav Maga, etc.
                           Atualmente, trabalhava como segurança em uma empresa corretora de câmbio, títulos e valores, localizada no quarto andar de um elegante prédio comercial no centro da cidade.
                             Na sua função de segurança já havia passado por muitas experiências difíceis; tais como, separar brigas entre clientes e funcionários, prender estelionatários, falsários, etc.
                               A triste experiência que viveu naquele dia, entretanto, marcou para sempre a sua vida.
                                  Em determinado momento do dia, entretido em olhar no terminal de computador a flutuação das cotações do Euro, não percebeu a entrada, no recinto, de vários indivíduos portando maletas e sacolas.
                           Quando deu por si, ele mesmo, já estava sob a mira das armas, como também os demais seguranças, clientes e empregados. Os assaltantes, extremamente violentos, obrigaram todos os presentes a se dirigirem para um quarto nos fundos, onde ordenaram que tirassem todas as roupas e pertences, que logo em seguida passaram a vasculhar.
                              Como ele hesitasse bastante em acatar a ordem dada, alguns colegas pensaram que, tendo uma arma escondida sob as roupas, iria reagir a qualquer momento. Naquela hora de extrema tensão, um dos assaltantes apontando-lhe a metralhadora ordenou, aos berros, que tirasse logo tudo.
                              Ele, sob os olhares de todos, aos poucos, foi tirando suas roupas: primeiro a camisa, depois a calça, a meia e os sapatos; ficando vestido, apenas, com uma calcinha feminina branca com rendas pretas. Suas pernas nuas e depiladas exalavam um forte cheiro de perfume barato. As unhas dos pés estavam pintadas de esmalte vermelho vivo. Em sua nádega direita, via-se a tatuagem de um coração, onde, na parte interna, estava escrita a frase: “Amor eterno de Juvenal”.
                            Tendo a noticia, rapidamente, se espalhado por toda a comunidade onde morávamos, Adolfo teve que mudar-se para outro bairro. Não deixou o novo endereço para ninguém, pedindo, apenas, que o dono da padaria local entregasse um pequeno bilhete endereçado a alguém chamado Juvenal.

(continua no dia seguinte – nota do autor)

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