110. A Espiritualidade dos Animais
Jober Rocha*
Dizem que o falecido presidente do Brasil, João Figueiredo, teria dito em uma determinada ocasião, logo ao final do seu governo: -“Quanto mais conheço os seres humanos, mas gosto dos animais”.
Embora a frase não seja inédita, transmite o ponto de vista de muitas pessoas ao redor do mundo, notadamente com relação aos seus animais de estimação: cães, gatos, pássaros, etc.
Tal afirmação, proferida por muitas pessoas, têm sua razão de ser no amor incondicional que recebem deles e que transmitem aos animais de estimação com elas convivendo; bem como, de eventuais desilusões que tenham tido, em contatos mantidos com outros seres humanos, ao longo da vida.
Todas as religiões admitem a existência do espírito que, ao encarnar nos seres humanos, passaria a ser denominado de alma. Algumas religiões creem em uma só encarnação do espírito, outras em múltiplas encarnações. Todas são unânimes quanto ao fato de que o espírito encarna para evoluir.
Para algumas religiões os animais não possuem alma, para outras sim. Para algumas o espírito humano, ao reencarnar, nunca o faria para um corpo animal; já que ao espírito não é permitido regredir. Para outras, o espírito humano poderia, sim, reencarnar no corpo de animais e, inclusive, no corpo de insetos.
Todos estes posicionamentos, em meu ponto de vista, constituem simples opiniões; posto que, na verdade, sabemos pouco a respeito deste assunto. Nem tudo aquilo que as religiões afirmam é suscetível de prova científica, ficando na esfera dos dogmas que só se tornam criveis através da fé. Cientificamente, ainda não foi possível provar, através da observação, se um animal possuiria sentimentos conscientes. Assim, não seria possível afirmar que teriam consciência de suas emoções. Alguns estudos classificam três tipos de emoções: emoções primárias, emoções sociais e sentimentos.
Os animais, de acordo com a ciência, possuiriam apenas as emoções primárias (ou instintivas) de medo, raiva, surpresa, repulsa, alegria e tristeza. Os neurocientístas entendem que essas ações são inatas, automáticas, e as colocam entre os mecanismos usuais de que os animais se valem para a sobrevivência. As emoções sociais também ajudariam os animais a conviverem em grupo.
Os sentimentos, que nascem da reflexão consciente, não estariam, assim, presentes nos animais.
Os neurocientístas não conseguiram provar que os animais possuem capacidade de auto-reflexão. Apenas seres humanos refletem sobre seus sentimentos, graças ao seu neocórtex altamente desenvolvido. Desta forma, apenas os humanos poderiam controlar (ou fingir) sentimentos.
Os neurocientístas não conseguiram provar que os animais possuem capacidade de auto-reflexão. Apenas seres humanos refletem sobre seus sentimentos, graças ao seu neocórtex altamente desenvolvido. Desta forma, apenas os humanos poderiam controlar (ou fingir) sentimentos.
Os animais possuiriam, portanto, um protocolo próprio de convivência e de sobrevivência, cujo manual seriam as próprias leis da Natureza; isto é, as leis divinas.
O espiritismo atual, por sua vez, não contempla a Metempsicose; isto é, não admite que o espírito possa reencarnar em animais ou vegetais.
Segundo o ‘Livro dos Espíritos’ de Alan Kardec, os animais não possuiriam alma; mas, apenas, um princípio espiritual que sobreviveria após a morte. Da mesma forma, os animais não seriam responsáveis pelos seus atos e não possuiriam carma (ou ação e reação, ou causa e efeito), pois não possuiriam livre arbítrio. Os espíritos errantes (ou que aguardam reencarnação) são seres que pensam e agem por suas próprias vontades, enquanto os princípios espirituais dos animais não teriam a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constituiria o atributo principal do espírito.
Não tendo consciência de si mesmo, não possuindo carma nem alma, nem livre arbítrio, os animais não evoluiriam dialeticamente como os seres humanos e, por isso, não possuiriam sentimentos contraditórios. Agiriam, especificamente, por seus instintos naturais, programados pelo Criador, não sendo responsáveis, portanto, pelos seus atos.
A ciência, todavia, esta sempre evoluindo e aquilo que era verdade ontem pode não ser verdade amanhã. Toda a afirmação científica deve, portanto, ser aceita com reservas.
No ano de 1909, o escritor brasileiro Lima Barreto, em sua obra ‘Recordações do Escrivão Isaías Caminha’, por intermédio do personagem Leiva, declarava: - “Não há na natureza nada que se pareça com a nossa sociedade governada pelo Estado...Observe o senhor que todas as sociedades animais se governam por leis para as quais elas não colaboraram, são como preexistentes a elas, independentes de sua vontade; e só nós inventamos esse absurdo de fazer leis para nós mesmos – leis que, em última análise, não são mais que a expressão da vontade, dos caprichos, dos interesses de uma minoria insignificante...”
Existem, contudo, tantos filmes e depoimentos de pessoas com respeito ao comportamento dos animais; bem como, observações feitas por nós mesmos, que é difícil não acreditarmos que eles possuam sentimentos conscientes e, até mesmo, alma, em que pese aquilo em contrário que dizem os cientistas e os religiosos.
Eu, por via das dúvidas, fico com o cantor e compositor brasileiro Roberto Carlos, quando, em sua canção Progresso, cantava ao violão: -“...E as baleias desaparecendo por falta de escrúpulos comerciais, eu queria ser civilizado como os animais...”
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário