73. Continuação de Diário de um ‘Maluco Beleza’ (Capitulo 11)
Jober Rocha
Capítulo 11
Sexta Feira, 14 de março
73. Continuação de Diário de um ‘Maluco Beleza’ (Capitulo 11)
Jober Rocha
Acordei decepcionado. Li até o final o ‘Tratado Lógico Filosófico’, do filósofo Wittgenstein, e não encontrei a tão falada solução final para os problemas filosóficos, mencionada por ele em sua introdução.
Sei que ele posteriormente rejeitou suas próprias conclusões, contidas neste tratado, e escreveu outro trabalho chamado ‘Investigações Filosóficas’. Se vivesse na atualidade, ele poderia ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor por propaganda enganosa, é a minha opinião.
Após um rápido café da manhã, onde comi uma banana e um pedaço de pão, liguei a TV para deixar fluir o dia com coisas amenas. Em um programa religioso que sintonizei, o padre discorria sobre o Livre Arbítrio e os Pecados. Dizia ele que todas as pessoas podem optar, em razão de seu Livre Arbítrio, entre o certo e o errado. Aqueles que optassem pelo certo iriam para o céu e aqueles que optassem pelo errado, isto é, pelo Pecado, iriam para o inferno, dizia ele.
Aquelas palavras, novamente, me trouxeram a mente coisas que eu havia lido sobre Religião e Filosofia.
As religiões usualmente adotadas no Ocidente, afirmam que todos os seres humanos possuem Livre Arbítrio; enquanto as religiões adotadas no Oriente reafirmam o Determinismo da existência humana. Da mesma forma, as correntes filosóficas e os filósofos não têm uma posição unânime sobre o assunto. Assim, existem várias correntes e posicionamentos filosóficos com relação à matéria, conforme o Criador, certamente, já terá tido ciência. Dentre as correntes filosóficas, destacam-se:
1. Determinismo Mecanicista e Teleológico, que rejeita a idéia de que os homens possuam Livre Arbítrio,
2. Libertarísmo, que aceita que os indivíduos possuem Livre Arbítrio pleno,
3. Indeterminísmo, que aceita que os indivíduos possuem Livre Arbítrio e que as ações que praticam são efeitos sem causas,
4. Compatibilísmo, que aceita que o Livre Arbítrio existe, mesmo em um universo sem incerteza metafísica; isto é, seria um Livre Arbítrio que respeitaria as ações ou pressões internas e externas,
5. Incompatibilísmo, que Entende que não há maneira de reconciliar a crença em um Universo determinístico com um Livre Arbítrio verdadeiro
Dentre os posicionamentos filosóficos destaco, como mais importantes, os de:
1. Spinoza: O filósofo Baruch Spinoza afirmou em seu livro ‘Ética’ que “Não há na mente vontade livre ou absoluta, mas a mente é determinada a querer, isto ou aquilo, por uma causa que é determinada, por sua vez, por outra causa e essa por outra, e, assim, sucessivamente até o infinito. Os homens se consideram livres porque estão cônscios das suas volições e desejos, mas são ignorantes das causas pelas quais são conduzidos a querer e desejar.”.
2. Voltaire: Voltaire em ‘O Filosofo Ignorante’ afirma: “Nada é sem causa. Um efeito sem causa é apenas uma palavra absurda. Todas as vezes que quero, isto só pode ocorrer em virtude do meu juízo, bom ou mau; este juízo é necessário, portanto, minha vontade também o é. Com efeito, seria muito singular que toda a Natureza e todos os astros, obedecessem a leis eternas, e que houvesse um animalzinho de cinco pés de altura que, menosprezando tais leis, pudesse agir sempre como lhe agradasse, ao sabor do seu capricho. Agiria ao acaso e se sabe que o acaso nada é. Nós inventamos esta palavra para exprimir o efeito, conhecido, de toda causa desconhecida. Não há intermediário entre a necessidade e o acaso, e sabeis que não há acaso; portanto, tudo o que ocorre é necessário.”.
3. Immanuel Kant: Kant em ‘Critica da Razão Prática’ afirma que a religião não pode ser baseada na Ciência nem na Teologia, mas sim na Moral. “Temos de encontrar uma ética universal e necessária; princípios ‘a priori’ de Moral, tão absolutos e certos quanto à Matemática. Temos de mostrar que a razão pura pode ser prática; isto é, pode, por si só, determinar a vontade, independentemente de qualquer coisa empírica e que o senso moral é inato, não derivado de qualquer experiência. O imperativo moral de que precisamos como base da religião, deve ser um imperativo absoluto, categórico.”
“A mais impressionante realidade em toda a nossa experiência é, precisamente, o nosso senso moral, nosso sentimento inevitável, diante da tentação, de que isto ou aquilo está errado. Podemos ceder; mas, apesar disto, o sentimento lá está”.
“E uma boa ação é boa não porque traz bons resultados, ou porque é sabia, mas porque é feita em obediência a esse senso íntimo do dever, essa lei moral que não vem de nossa experiência pessoal, mas legisla imperiosamente e ‘a priori’ para todo o nosso comportamento, passado, presente e futuro”.
4. Hegel: Hegel desenvolveu uma velha ideia, pré enunciada por Empédocles e corporificada por Aristóteles, que é a do movimento dialético. “O movimento de evolução é um continuo desenvolvimento de oposições, e a fusão e reconciliação destas. Não só os pensamentos se desenvolvem e evoluem segundo esse movimento dialético, mas também as coisas. Tese, Antítese e Síntese constituem a fórmula e o segredo de todo o desenvolvimento e de toda a realidade.”.
5. Schopenhauer: Para Schopenhauer “Cada um acredita de si mesmo ‘a priori’ que é perfeitamente livre, mesmo em suas ações individuais, e pensa que a cada momento pode começar outra maneira de viver. ‘A Posteriori’, entretanto, descobre para seu espanto, através da experiência, que não é livre, mas, sujeito a necessidade e que, apesar de todas as suas resoluções e reflexões, ele não muda sua conduta e que, do inicio ao fim da vida ele deve conduzir o mesmo caráter, o qual ele mesmo condenou.”.
6. Hobbes afirma que “O Livre Arbítrio é um poder definido pela vontade e, portanto, não é livre nem não livre. Seria, assim, um erro atribuir liberdade à vontade.”.
7. Locke, em seu ‘Ensaio acerca do Entendimento Humano’, afirma que “A questão de se a vontade humana é livre ou não, é imprópria. A liberdade, que é apenas um poder, pertence apenas aos agentes e não pode ser um atributo ou modificação da vontade, a qual também é apenas um poder.”.
8. Isaiah Berlin diz que “Para uma escolha ser livre, o agente deve ter sido capaz de agir de outra maneira.”. Este princípio, mais tarde denominado de ‘Principio das Possibilidades Alternativas’, é considerado por seus defensores como uma condição necessária para a liberdade.
9. Nietzsche, em seu “Porque Sou um Destino” afirma que “A religião inventou a noção do pecado juntamente com o seu instrumento de tortura, o Livre Arbítrio, para confundir os instintos, para fazer da desconfiança frente aos instintos uma segunda natureza!”.
10. Daniel Dennet, um Compatibilísta, apresenta o seu argumento para uma ‘Teoria Compatibilista do Livre Arbítrio’ da seguinte maneira: “Se os indivíduos não considerarem a existência de Deus, através do ‘Caos’ e da pseudo-aleatoriedade ou aleatoriedade quântica, o futuro não está definido para os seres finitos. Visto que os indivíduos teriam a capacidade de agir diferentemente do que se espera, o Livre Arbítrio existiria.”. Os Incompatibilistas alegam que a hereditariedade e o ambiente configurariam uma ‘coerção irresistível’, e todas as nossas ações seriam controladas, portanto, por forças exteriores a nós mesmos.
Com respeito ao posicionamento dos homens de Ciência sobre o tema do Livre Arbítrio versus Determinismo, o pensamento científico, de uma maneira geral, como o Criador certamente já sabe, vê o Universo de maneira determinística e alguns pensadores científicos crêem que para predizer o futuro é preciso, simplesmente, dispor de informações sobre o passado e o presente. A crença atual, entretanto, consiste em uma mescla de teorias determinísticas e probabilísticas.
Albert Einstein, determinista, acreditava na ‘Teoria da Variável Oculta’; isto é, de que no âmago das probabilidades quânticas existiriam variáveis determinadas.
Do mesmo modo que os físicos, os biólogos também tratam da questão do Livre Arbítrio através da Natureza e da Nutrição. Questionam, assim, a importância da Genética e da Biologia na influencia do comportamento humano, quando comparadas com a Cultura e o Ambiente.
Existem várias desordens relativas ao funcionamento do cérebro e que, na Medicina Neurológica, alguns chamam de ‘desordens do Livre Arbítrio’ como a Neurose Obsessivo Compulsiva, quando o indivíduo sente uma necessidade, incontrolável, de fazer algo contra a sua própria vontade. Outras síndromes, como a de ‘Tourette’ e a da ‘Mão Estranha’, levam o individuo a fazer movimentos involuntários, sem que tenha a intenção de fazê-los.
Na Ciência Cognitiva, no Emergentismo e na Psicologia Evolucionária, o Livre Arbítrio seria a geração de quase infinitos possíveis comportamentos, através da interação de conjunto finito, e determinado, de regras e parâmetros. As experiências de Livre Arbítrio surgiriam, assim, da interação de regras finitas e de parâmetros determinados, que gerariam comportamentos infinitos e imprevisíveis.
Como o Criador e como todas as pessoas de bom senso podem bem ver, o nosso conhecimento científico, filosófico e religioso ainda é muito precário com relação a este assunto, que é de fundamental importância para a nossa evolução espiritual. As opiniões se dividem e, na ausência de uma manifestação direta do Criador a respeito do tema, os seres humanos ficarão eternamente oscilando entre um e outro conceito, sem saber, ao certo, qual deles é o verdadeiro.
Entretanto, em que pese tudo aquilo que eu disse anteriormente, é possível que, em razão da moléstia que me acomete, eu tenha entendido tudo errado e, portanto, rogo aqueles que eventualmente venham ler este diário, que considerem haver sido escrito por alguém que não estava de posse de todas as suas faculdades mentais.
(Continua no dia seguinte - nota do autor)
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