107. A Evolução
Jober Rocha*
Recentemente o papa Francisco (o 266º papa da Igreja Católica) fez uma declaração pública que deu origem a grande celeuma, tanto no meio científico quanto no religioso. Discursando na Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, ele afirmou que as Teorias do Big Bang e da Evolução não contradizem a Bíblia.
A Teoria da Evolução, proposta por Charles Darwin, menciona que os seres vivos são passíveis de mutações e se moldam, conforme sua melhor adaptação, ao meio ambiente através da seleção natural.
Segundo o papa, a evolução da Natureza não é incompatível com a noção de criação, pois esta exige a criação de seres que evoluem.
Por sua vez, o tema do I Congresso Brasileiro de Design Inteligente foi justamente sobre este assunto. Os defensores da Teoria do Design Inteligente – TDI argumentam que os seres vivos são muito complexos para terem surgido, apenas, a partir de matéria inerte submetida à ação de leis da Natureza. Tal teoria, desta forma, caminha em sentido oposto ao do pensamento científico dominante na atualidade. Os adeptos da TDI afirmam que as mais simples moléculas são tão complicadas que não poderiam ter sido criadas por meios naturais, sendo necessário algum tipo de inteligência para projetar o DNA e as primeiras células vivas.
A Ciência, ao contrário, afirma que de substâncias não vivas e de forma espontânea, poderiam surgir organismos vivos.
Por outro lado, as Religiões de origem Cristã, antes destas declarações recentes do papa, sempre professaram a tese do Criacionismo; isto é, um Deus criou diretamente a vida.
Entretanto, a complexidade da vida, segundo a TDI, seria a indicação da existência de um ‘design’ dos seres vivos, indicando uma avançada inteligência por detrás de todo o processo da vida.
Os profissionais da Ciência Química, ademais, em apoio a TDI, afirmam que a probabilidade de reações químicas naturais possibilitarem a formação de células primitivas é praticamente nula.
Por seu lado, Ufólogos, reunidos em congressos de Ufologia e de Exopolítica, ao redor do mundo, apresentam informações baseadas, segundo eles, em fatos reais comprováveis, de que algumas das espécies alienígenas que visitam a Terra - notadamente os Grises ou Cinzas - se tratam, na realidade, de Entidades Biológicas Extraterrestres. Tais entidades consistiriam em clones biológicos com dispositivos internos eletrônicos, a base de silício; isto é, semelhantes a verdadeiros robôs vivos. Tais entidades, afirmam os ufólogos, certamente, foram criadas por alguma raça alienígena que nós ainda desconhecemos. Em que pese alguns governos no planeta, já terem realizado diversos contatos com estas criaturas denominadas de cinza (contatos estes relatados em livros e em palestras de ufólogos), oficialmente tais governos desconhecem quem são os criadores de tais entidades.
Assim, de acordo com a TDI, o mesmo poderia estar ocorrendo com os seres humanos; isto é, sermos também entidades criadas por alguma inteligência - que não Divina - que teria escolhido o planeta Terra, desabitado na ocasião, para suas experiências de povoamento e colonização. Esta terceira e nova teoria seria uma conjugação de parte da Teoria Criacionista e parte da Teoria Evolucionista, e satisfaria tanto aos religiosos quanto aos ateus.
No campo da Medicina, o Bioantropólogo Dan Lieberman, em seu livro ‘The Story of the Human Body’, afirma que muitos problemas de saúde dos seres humanos estão ligados à história evolutiva da nossa espécie, como por exemplo: pressão alta, colesterol alto, diabetes, gripes e miopia. Tais moléstias, ou enfermidades, não existiriam no homem primitivo em razão de suas dietas alimentares e de seu modo de vida, e são frutos da evolução – que privilegiou o consumo de sal, açúcar, carnes gordurosas, sedentarismo e, com a descoberta da escrita, hábitos de leitura.
Com respeito à evolução espiritual, por outro lado, a nossa Ciência, a nossa Filosofia e as nossas Religiões vêm se ocupando do tema há milênios, sem chegarem a uma conclusão aceita uniformemente por todas.
No referente à religião, as culturas mais antigas, orientais, sob a influência do budismo e do hinduísmo, optaram por uma visão determinística da existência humana, que beneficiaria a evolução da alma (o espírito quando encarnado).
As culturas ocidentais, sob a influência do judaísmo/ catolicismo/protestantismo, optaram por uma visão de livre-arbítrio, que beneficiaria a satisfação dos desejos do ego. Estas duas visões parecem justificar o estagio de desenvolvimento econômico e científico mais elevado no ocidente que no oriente.
No próprio ocidente cristão, os países de religião protestante (que consideram, ademais, a importância do sucesso material para a entrada no reino dos céus) desenvolveram-se mais, econômica e cientificamente, que aqueles de religião católica; para os quais a riqueza importa menos, quando se trata de fazer parte deste reino. Em Mateus, 19,16 a 22, Jesus diz: “... um rico dificilmente entrará no reino dos céus... é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus”.
Em que pesem possíveis erros de tradução e de interpretação daquilo que Jesus, supostamente, disse, pode-se notar, no entanto, a importância crucial que a escolha de um dentre estes dois tipos de visão (determinística ou de livre-arbítrio), teve, até agora, na história do desenvolvimento econômico e científico da civilização humana, sem falar na evolução espiritual.
Segundo a religião cristã, nenhuma programação determinística objetivando a evolução da alma, conduziria o ser humano para a prática do mal. Esta seria fruto de suas próprias decisões (ou livre-arbítrio), de acordo com a noção de pecado por ela criada.
Meu ponto de vista particular, com relação à prática do bem, entretanto, propõe um enfoque diferente; isto é, que esta prática já faria parte da programação determinística do indivíduo, na qualidade de filho do Criador – fonte de todo o bem. Agir bem não seria, pois, fruto de escolha individual; posto que, todo ser humano estaria programado para assim o fazer, da mesma forma como ocorre com os animais. Estes, embora por vezes ferozes e violentos, não possuem o mal em sua natureza, mas, tão somente, o instinto de sobrevivência. O Livre-Arbítrio do ser humano, em última análise, conforme vemos esta questão, seria apenas para a prática do mal; isto é, das más ações, pois, apenas estas seriam contrárias a sua consciência.
Toda vez que o individuo praticasse uma determinada ação, consciente de que deveria praticá-la (ou, em outras palavras, ouvindo a sua consciência), esta seria uma boa ação e ele estaria seguindo o Determinismo, e não utilizando o Livre-Arbítrio. Toda vez que praticasse uma ação, consciente de que não deveria praticá-la, mas não evitando fazê-lo, estaria usando o Livre-Arbítrio para contrariar a voz da sua consciência ou o Determinismo. Os atos individuais seriam em si mesmos neutros.
O que caracterizaria um ato como bom ou mal, como Determinístico ou como de Livre-Arbítrio, seria, portanto, a intenção deliberada de sua prática, violando (no caso do Livre-Arbítrio) ou não (no caso do Determinismo) a voz da consciência do indivíduo. O argumento de que a consciência de cada um poderá se manifestar de modo diferente da dos demais, fazendo com que o certo para uns fosse o errado para outros, pode ser desfeito ao atentarmos que existem valores que são comuns para toda a raça humana. As religiões destacam, e todos nós intimamente sentimos, que não devemos fazer ao próximo, aquilo que não desejamos que nos façam.
Ora, se fizermos a alguém aquilo que não desejamos para nós, saberemos, previamente, que estamos agindo de modo errado e, portanto, fazendo uso do Livre-Arbítrio para contrariar nossa consciência.
O pensamento científico, de uma maneira geral, vê o universo de maneira Determinística, e alguns pensadores científicos creem que para predizer o futuro é preciso, simplesmente, dispor de informações sobre o passado e o presente. A crença atual, entretanto, consiste em uma mescla de teorias Determinísticas e Probabilísticas.
Albert Einstein, Determinista, acreditava na Teoria da Variável Oculta, isto é, de que no âmago das probabilidades quânticas existiriam variáveis determinadas.
Do mesmo modo que os físicos, os biólogos também tratam da questão do Livre-Arbítrio, através da Natureza e da Nutrição. Questionam, assim, a importância da Genética e da Biologia, na influencia do comportamento humano, quando comparadas com a Cultura e o Ambiente.
Em que pesem os avanços obtidos pela ciência, de um modo geral, nós ainda estamos bem longe de poder encontrar explicações para os fenômenos metafísicos que, há milênios, ocupam constantemente o pensamento daqueles que se interessam pelo assunto. As teorias religiosas, filosóficas e cientificas têm-se sucedido, umas as outras, em um perpétuo embate ideológico pela primazia da posse sobre a verdade metafísica. A maior parte destas teorias, tenta esconder seu total desconhecimento sobre como as coisas ocorrem naquela realidade, através de textos muitas vezes rebuscados, ininteligíveis ou herméticos.
Alguns físicos modernos, entretanto, afirmam que somos apenas energia, em conformidade com a Física Quântica que estabelece ser o núcleo do átomo apenas energia condensada, ou vibração, e não matéria.
A Física Quântica, também chamada da Física das Possibilidades, indica que tudo aquilo que imaginamos já se encontra disponível como uma das possibilidades da nossa vida, e que podemos atrair aquela possibilidade que desejamos por intermédio do nosso pensamento.
Neste contexto, as orações e os mantras (quando seguidos ou precedidos de nossos desejos, verbalizados ou em pensamento) deixariam de ser o ‘caminho para se obter algo por intermédio do Criador’, para tornar-se um ‘caminho através do qual acessaríamos uma possibilidade que já existe potencialmente’. Através da oração ou do mantra, sintonizaríamos aquela ‘possibilidade’ que desejamos e ela ocorreria, em virtude do nosso firme desejo e da existência de Leis que regem a Matéria Quântica.
Hugh Everett III, físico, no ano de 1954, propôs a existência de Universos Paralelos, que derivariam do nosso, que, por sua vez, seria derivado de outros. Nestes universos, as ações humanas poderiam ter efeitos diferentes daqueles conhecidos por nós. A explicação para este fato envolve o motivo pelo qual a matéria quântica se comporta irregularmente.
A Física Quântica, cujo conceito foi apresentado, em 1900, pelo físico Max Planck, sugere que existam outras leis operando no universo, de forma mais profunda do que aquelas que atualmente conhecemos.
O físico Werner Heisemberg sugeriu que, apenas com a observação da matéria quântica, nós afetamos o seu comportamento.
O físico Niels Bohr, afirmou que as partículas quânticas existem em todos os estados possíveis, de uma só vez. Segundo Bohr, quando observamos um objeto quântico, afetamos seu comportamento.
Segundo a teoria de Hugh Everett, se uma ação tem mais de um resultado possível, o universo se quebra quando qualquer uma das possíveis ações é tomada, o que continua sendo verdade mesmo que nenhuma ação seja executada. Isto significa que se, por exemplo, você se defrontar com uma situação onde a morte era uma das alternativas possíveis, então, em um universo paralelo, você estará morto.
Em busca de uma ‘Teoria do Todo’ ou ‘Teoria Final’, que explicaria tudo em nossa existência, o físico Michio Kaku desenvolveu a Teoria das Cordas, segundo a qual, a explicação para o comportamento da matéria e das forças físicas do universo, seria encontrada em um nível Sub-Quântico. A Teoria das Cordas demonstra que existem universos paralelos e que estes universos podem, teoricamente, se comunicar entre si.
As correntes filosóficas e os principais filósofos que estudaram o assunto, alternam-se, pois, aceitando ou não o determinismo, reconhecendo ou não o livre-arbítrio do ser humano.
Quando imaginamos a possibilidade da existência de universos paralelos e de vida extraterrestre em outros planetas do nosso sistema solar, ou de outros sistemas solares, percebemos quão grande ainda é a nossa ignorância com respeito aos fenômenos Físicos e Metafísicos do universo.
Neste particular, ao nos depararmos com as teorias científicas e filosóficas existentes na atualidade, e com as interpretações religiosas divulgadas como sagradas ou divinas (que se apresentam como explicações concretas para os fenômenos anteriormente mencionados), deveríamos pensar em quão distante todas estas teorias e interpretações deverão estar da Verdadeira Verdade. Por mais que avancemos em conhecimento cientifico e filosófico, apenas poderemos constatar o quão distante estaremos, ainda, de uma explicação total para os fenômenos em questão.
O Criador e a criação do Universo são mistérios que ainda não podem ser desvendados; pois, na atualidade, estão além da compreensão dos seres encarnados. Tudo aquilo até agora escrito nos campos da Filosofia, da Ciência e da Religião, constituem, infelizmente, no meu modo de ver a questão, apenas opiniões de filósofos, de cientistas e de religiosos.
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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