quinta-feira, 14 de julho de 2016

101. Como se tornar um escritor de sucesso

(Capítulo 3)

Jober Rocha

Capítulo 3



       Tendo ali me instalado, após tomar um banho saí para fazer o reconhecimento daquele pequeno lugarejo. Em uma antiga construção que mais parecia uma escola abandonada, deparei com uma multidão de pessoas vestindo camisas vermelhas e trazendo lenços da mesma cor em volta do pescoço. 
            Como eu também estava usando uma camisa vermelha, estava barbado e com o cabelo bastante crescido, não notaram a minha entrada no recinto e, buscando uma cadeira vazia, sentei para ouvir o que diziam. O indivíduo que estava discursando no palco improvisado, falava que eles deveriam se unir para invadir algumas propriedades agrícolas locais; mas, que, todavia, eles precisavam de um líder com coragem, determinação e que não se amedrontasse perante aqueles latifundiários, donos das terras e aproveitadores da mão de obra dos pobres campesinos do pequeno município. 
            Vendo que o assunto não me interessava nem me dizia respeito, levantei-me para ir embora, justamente na hora em que ele perguntava para os presentes se alguém se oferecia para liderar as ocupações. Todos me olharam quando levantei e, agarrando-me pelos braços e pernas, conduziram-me em triunfo pelas ruas poeirentas daquela vila, entoando uma canção de guerra cuja letra eu não entendi bem, mas onde havia um estribilho que dizia: - “Os campesinos unidos, jamais serão vencidos”!
   Em marcha compacta, comigo nos ombros, foram caminhando para uma das fazendas que pretendiam invadir. Após a invasão sem resistência, um grupo ficou ali acampado e o restante, comigo nos ombros, seguiu para outra propriedade. Ao final do dia, cinco fazendas haviam sido invadidas. Sentado na grande varanda da última delas, tendo nas mãos um charuto que me haviam dado e um copo de cachaça, recebi a visita do prefeito e dos fazendeiros locais. Muito humildes, pediam que minhas tropas abandonassem as propriedades invadidas e me ofereceram, em caráter reservado, certa quantia em dinheiro que seria entregue onde e quando eu determinasse. 
            Afirmando que iria pensar na oferta e que daria uma resposta no dia seguinte, retirei-me para um quarto isolado, onde poderia pensar no que faria, a seguir, para sair daquela situação inusitada. Vejam, mais uma vez, caríssimos leitores, como o destino me pregava uma peça atrás da outra. Aquilo só poderia significar, realmente, que alguma Entidade superior havia me escolhido para alvo de suas brincadeiras malignas ou que eu, tendo feito um mau uso do meu Livre Arbítrio, por alguma razão por mim desconhecida, caíra em desgraça junto ao Criador que, com estas armadilhas, tentava trazer-me novamente para o caminho Determinístico que havia planejado para o meu destino.
      Só, naquele quarto, cheguei à conclusão de que a minha única saída seria fugir durante a noite. Mandei esvaziar a adega da fazenda, distribuindo cachaça para todos. Pela alta madrugada, com todos dormindo bêbados, esgueirei-me para a estrada e pus-me a correr em uma direção que me pareceu segura. 
           Por volta do meio dia cheguei a uma pequena comunidade, onde havia uma igreja com as portas abertas naquela hora. Como fazia muito sol, entrei na igreja e sentei-me em um dos diversos bancos, vazios naquela oportunidade. Tendo eu corrido durante várias horas, achava-me cansado, desidratado e com fome. Recostei-me no banco suado e notei que minha boca tremia, talvez, fruto da desidratação, da tensão e do extremo cansaço. 
     Pelo canto dos olhos pude ver um padre se aproximando, que me lembrou outro de um passado distante do qual quase havia esquecido. Ele dirigiu-se a mim com uma voz suave e cândida, dizendo, da mesma forma que o outro no passado: - Meu filho! De longe pude observar a sua boca e vi que você estava orando. Vou já incluí-lo no grupo de orações das quinze e das dezoito horas. Vejo, pelo seu estado físico, que você também jejua. Vou colocá-lo no grupo de jejum da madrugada.
      Ouvindo aquilo eu nada disse e permaneci ali sentado, até me sentir recuperado. Pensei comigo mesmo: - Será que esses padres são todos iguais, dizem as mesmas coisas e buscam os mesmos tipos de fiéis?
             Tendo o padre se retirado da igreja, comecei a percorrer as suas dependências, buscando uma saída lateral para desaparecer sem ser notado. Em um pequeno quarto encontrei uma batina usada, que pretendi colocar em uma bolsa plástica para a eventualidade de ser necessário algum disfarce, de modo a poder deixar aquela região rural, onde já fora líder campesino, sem que meu exército de ‘boias frias’ percebesse. Ao experimentar a batina e olhar-me em um espelho, repentinamente, a porta do quarto foi aberta e uma senhora de cerca de quarenta anos, bem vestida, bonita e com um belo corpo, perguntou-me pelo padre Amaro. Informada por mim de que ele havia se retirado da igreja, disse-me: - Venha! Você mesmo serve, pois, quero me confessar agora!
      Totalmente sem jeito e acanhado, dirigi-me para o confessionário onde entrei, sentei e disse a ela quase sem voz: - Pois não, minha filha, pode começar!
      O que ouvi daqueles lindos lábios, a sã moral e os bons costumes me impedem de repetir, tendo (ainda que sem haver recebido qualquer ordem monástica ou eclesiástica) prometido a mim mesmo que, sobre tudo aquilo que aquela bela mulher me confessara, guardaria o mais completo segredo para sempre. 
             Absolvi-a daqueles pecados (mirando, pelos orifícios do confessionário, o movimento dos seus belos seios que ondulavam enquanto ela arfava ouvindo minhas palavras), não sem antes indicar-lhe uma branda penitência, o que a deixou satisfeita, porém um pouco desconfiada. Perguntou-me se eu era novo na paróquia e disse que, a partir de então, queria confessar-se sempre comigo, padre jovem e tão mais humano e compreensivo, com os deslizes alheios, do que o velho padre Amaro. 
           Dizendo isto, levantou-se para ir cumprir a sua penitência e pude observar seu corpo bem torneado, suas pernas grossas e seu andar bamboleante.


(Continua)

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