84. Continuação de Diário de um ‘Maluco Beleza’ (Capítulo 24)
Jober Rocha
Capítulo 23
Quarta Feira, 26 de março
Ocorreu-me, hoje pela manhã, um episódio que vivenciei anos antes de adquirir a enfermidade que ora me acomete. O fato ocorreu, justamente, no dia em que eu saía de férias rumo a casa de campo de um amigo, no interior de Minas Gerais.
Entrei naquela oficina mecânica do subúrbio procurando por um alicate, para apertar a porca do terminal da bateria do carro que estava um pouco frouxa, dificultando a partida do veículo ao virar a chave de ignição.
O mecânico, tipo magro, de olhar inteligente e fino bigodinho sobre o lábio, ao apanhar o alicate, abrir o capô e apertar a referida porca, disse, como quem não quer nada: - Às vezes a dificuldade em dar a partida é da bobina que está com defeito. Vou dar uma olhadinha para o senhor!
Sem esperar a minha concordância, ele começou a retirar a bobina e, logo após, levou-a lá para dentro, para teste. Eu, sem jeito, não falei nada e fiquei apenas olhando.
Pouco depois, o mecânico voltou lá do fundo com o seguinte diagnóstico: - Ela esta mesmo condenada. Essa, já era. Quando a bobina dá defeito, sobrecarrega a ignição eletrônica que acaba pifando também; vou dar uma olhadinha para o senhor, patrão!
Em seguida, foi retirando a ignição eletrônica, que também levou lá para dentro. Retornando, pouco tempo depois, o mecânico afirmou: - Esta também está condenada. Vou ver as velas e os seus cabos; pois, estes, também dificultam a partida quando estão com problemas!
Foi logo retirando os cabos das velas e as próprias, que levou lá para dentro. Ao voltar foi curto e grosso: - Não disse ao senhor, patrão? Os cabos estão cortados e as velas todas sujas. Tem que trocar tudo!
Enquanto falava, seu ajudante, tipo baixo e atarracado, com olhar suspeito, ia substituindo as peças condenadas por peças novas.
Após ter trocado as mangueiras do radiador, as pastilhas de freio, a bomba d’água, a bomba de gasolina, o cano de descarga e os amortecedores, o mecânico apresentou a conta de dez mil reais, dizendo que o material trocado era todo original e, por isso, havia ficado um pouco mais caro. Disse, ainda, que nem tinha cobrado a mão-de-obra, por haver simpatizado comigo e querer me ajudar naquele momento difícil.
Eu, acanhado, peguei o cartão de crédito e paguei o conserto.
Ao sair da oficina, sob os cumprimentos e curvaturas do mecânico e do seu ajudante, pensei comigo mesmo: - Puxa vida, ainda bem que meu carro, retirado hoje da concessionária e no qual vou viajar de férias, é zero quilômetro e só tinha esses poucos defeitos. Imagino quantos defeitos o carro poderia ter, se eu, ao invés deste veículo novo, tivesse adquirido um usado. Sou um sujeito de sorte, já que o mecânico descobriu logo aqueles problemas, pois, caso contrário, eu poderia ficar enguiçado no meio de qualquer estrada deserta e acabaria perdendo alguns dias de minhas férias!
Enquanto seguia dirigindo, pensava: - Até que não foi tão caro assim. Vou parcelar em doze vezes no cartão, economizarei nos restaurantes e, no final, nem perceberei o impacto da despesa.
Hoje, recordando-me do caso, acho que a moléstia que atualmente me acomete o cérebro já devia ter se instalado, naquela ocasião, e, sorrateiramente e sem que eu daquilo me desse conta, vinha prejudicando a minha capacidade de avaliar as situações e de julgar o meu comportamento e o dos demais. Ainda hoje, em que pese alguns amigos terem dito que eu fui enganado pelo mecânico, continuo achando que ele, realmente, queria me ajudar...
Capítulo 24
Quinta-Feira 27 de março
Em determinada ocasião da minha vida, antes de decidir tornar-me um servidor público, passei por um período de grande desilusão acerca os homens, das coisas e das instituições. Este fato quase me conduziu a abreviar o breve tempo que me restava de vida, cansado que estava de acreditar no futuro do nosso país e da nossa gente.
Certo dia, pendurado no parapeito do vão central da Ponte Rio – Niterói, tentando acabar com minha triste existência, ensaiava pular para por fim, definitivamente, ao meu insuportável tormento.
Fui, felizmente, salvo por um editor, de conceituada empresa jornalística, cujo carro havia furado os quatro pneus naquela ponte recentemente privatizada; e que me recomendou, além de consultas periódicas a um psiquiatra, que colocasse no papel o resumo das minhas adversidades e lhe enviasse, com vistas a uma possível publicação em capítulos, num folhetim de pequena tiragem da Baixada Fluminense. Foi, então, o que fiz naquela ocasião.
Tendo transcorridos vários meses, nos quais me dediquei integralmente a passar minhas vicissitudes para o papel e quando, já com toda a documentação debaixo do braço, entrava no escritório da editora, passei por uma das maiores vergonhas da minha vida. Ao entrar na ante-sala do diretor contemplei uma mãe que deixava seu filhinho, de aproximadamente quatro anos, fazer xixi na porta de um belo e raro armário de madeira trabalhada, estilo Luis XV. Olhando aquela criança urinando naquela verdadeira obra de arte, senti, nas entranhas, uma vergonha enorme. Imaginem que o pintinho dele era maior do que o meu!
Meu nome de batismo não convém mencionar, pois não vem ao caso. Desde pequeno meus pais, parentes, amigos e conhecidos chamavam-me de Coisinha. Meu comportamento sempre foi dos mais exemplares, embora alguns diretores de colégio, ao me verem chegar com meu pai, para fazer a matrícula, sempre alegassem falta de vagas para aquele ano letivo. Assim, muito do que sei aprendi por mim mesmo, como autodidata, através da leitura assídua de cartazes publicitários nas ruas, de livrinhos das Coleções Gozadores, de figurinhas das Balas Guri, de cartazes de filmes pornográficos e de diversos manuais de instalação de eletrodomésticos, que encontrava nas latas de lixo do bairro.
Embora um pouco cheio de complexos, em razão dos inúmeros traumas sofridos ao longo da existência, de uma coisa, verdadeiramente, posso me vangloriar: da minha grande esperteza.
No início da crise econômica mundial, minha mulher estava no final de uma difícil e sofrida gravidez. Certa noite, ela acordou gemendo e disse: - “Coisinha, a bolsa arrebentou!” Calmamente, respondi: - “Sossega mulher, já vendi todas as ações que tinha em carteira e com o dinheiro arrecadado comprei tudo em dólares!”. Em seguida, voltei a dormir. Horas depois, ela me acordou de novo, dizendo: - “Coisinha, está em contração!”. Com bastante calma, respondi: - “A economia é assim mesmo, em algumas horas se contrai e em outras se expande”! Em continuação, voltei novamente a dormir. Passadas algumas horas, que para mim pareceram apenas minutos, novamente ela me acordou com um solavanco, mostrou um bebê e disse: - “Coisinha, corta aqui o cordão umbilical”!
Um mês depois batizávamos Coisinha Filho, que eu só chamava de Mico Preto e a família e os amigos de Bolha Econômica. Minha mulher, depois do parto, largou o bebê comigo e passou a sair com uma amiga o dia inteiro. Às vezes dormia fora de casa, só voltando no dia seguinte. Não queria mais saber de mim, nem do Mico Preto.
Em certa ocasião, reclamei à minha sogra sobre o comportamento da filha. A sogra prometeu falar com ela. Dias depois a sogra me contou como havia sido a conversa. Ao dizer-lhe que seu marido gostaria de ter ao lado uma mulher cheirosa, gostosa e carinhosa, minha mulher, com aquela voz grossa que sempre teve, respondeu: - “Poxa vida, mãe, mas quem não gostaria!”
Passados mais alguns meses, foi embora definitivamente com a amiga. Deixei o Mico Preto com a sogra e fui à luta.
Como o processo de separação não pode ser amigável, já que ambos alegávamos ser o homem da casa, tive que recorrer à justiça. O desempate foi feito pelo juiz, no momento exato da audiência. Ele ficou cerca de uns vinte minutos olhando, ora para mim ora para ela, na dúvida. Só ganhei porque entrou na sala um médico Proctologísta, a quem já havia consultado uma vez, que, ao ver-me, exclamou de longe: - “Ô Coisinha, aquele tumor na tua próstata está me parecendo maligno, viu!”
Finalmente, terminado o processo de separação, fui à procura de uma nova companheira.
Enamorei-me de uma jovem de seus dezoito anos, virgem, que logo me levou à casa dos seus pais. Na sala sentei-me no sofá, entre ela e o irmão pequeno, tendo em frente sua mãe, seu pai e a avó. Eis que, repentinamente, a mãe, pensando em me convidar para o almoço, perguntou: - “O cavalheiro gosta de comer o que?”
Para não dar trabalho à velha, humildemente respondi: - “Eu só gosto de comer a quilo!”
O silencio que se seguiu foi constrangedor. A jovem começou logo a chorar. A avó, pegando pela mão o neto, saiu da sala dizendo baixinho: - “Mas que pouca vergonha!”
A mãe, com um lenço esfregando nos olhos úmidos, dizia: - “Nunca fui tão humilhada!”
Notando, pelo canto dos olhos, o pai, sargento da polícia aposentado, se levantando e fazendo menção de sacar algo debaixo da camisa, corri rápido em direção à porta entreaberta e, desembestando pela escada do edifício de apartamentos, só fui parar a alguns quarteirões de distancia, nunca mais passando por aquela rua.
Pensei, pouco depois, em procurar uma coroa rica e bonitona, que satisfizesse os meus mais inconfessáveis desejos.
Felizmente, encontrei uma que preenchia os requisitos. Era rica, gostosa e linda. Logo no primeiro encontro, afirmou que estava ansiosa para satisfazer todos os meus ardentes desejos. No dia seguinte fomos ao seu clube, onde almoçamos. À tarde, passeamos no iate dela e, à noite, jantamos tomando vinho francês e ouvindo música clássica.
Mais tarde, na cama, trajando um curtíssimo baby-doll preto, me disse: - “Vem, meu gostosão, que eu vou satisfazer todos os seus desejos!” Bastou dizer estas palavras para que eu, deitado ao seu lado na cama, tirasse do bolso do pijama uma lista contendo relação com perto de vinte itens, que iam desde sorvete de morango na casquinha até um trenzinho completo, com máquina, vagões, estação e trilhos, e entregasse a ela que, com um olhar que me pareceu tocado pela emoção, segurou a lista com mãos tremulas e prorrompeu em copioso choro. Virei, então, para o lado e dormi em seguida, como uma verdadeira pedra, pois estava esfalfado depois de um dia cansativo de tantos passeios.
Ocorreu-me, hoje pela manhã, um episódio que vivenciei anos antes de adquirir a enfermidade que ora me acomete. O fato ocorreu, justamente, no dia em que eu saía de férias rumo a casa de campo de um amigo, no interior de Minas Gerais.
Entrei naquela oficina mecânica do subúrbio procurando por um alicate, para apertar a porca do terminal da bateria do carro que estava um pouco frouxa, dificultando a partida do veículo ao virar a chave de ignição.
O mecânico, tipo magro, de olhar inteligente e fino bigodinho sobre o lábio, ao apanhar o alicate, abrir o capô e apertar a referida porca, disse, como quem não quer nada: - Às vezes a dificuldade em dar a partida é da bobina que está com defeito. Vou dar uma olhadinha para o senhor!
Sem esperar a minha concordância, ele começou a retirar a bobina e, logo após, levou-a lá para dentro, para teste. Eu, sem jeito, não falei nada e fiquei apenas olhando.
Pouco depois, o mecânico voltou lá do fundo com o seguinte diagnóstico: - Ela esta mesmo condenada. Essa, já era. Quando a bobina dá defeito, sobrecarrega a ignição eletrônica que acaba pifando também; vou dar uma olhadinha para o senhor, patrão!
Em seguida, foi retirando a ignição eletrônica, que também levou lá para dentro. Retornando, pouco tempo depois, o mecânico afirmou: - Esta também está condenada. Vou ver as velas e os seus cabos; pois, estes, também dificultam a partida quando estão com problemas!
Foi logo retirando os cabos das velas e as próprias, que levou lá para dentro. Ao voltar foi curto e grosso: - Não disse ao senhor, patrão? Os cabos estão cortados e as velas todas sujas. Tem que trocar tudo!
Enquanto falava, seu ajudante, tipo baixo e atarracado, com olhar suspeito, ia substituindo as peças condenadas por peças novas.
Após ter trocado as mangueiras do radiador, as pastilhas de freio, a bomba d’água, a bomba de gasolina, o cano de descarga e os amortecedores, o mecânico apresentou a conta de dez mil reais, dizendo que o material trocado era todo original e, por isso, havia ficado um pouco mais caro. Disse, ainda, que nem tinha cobrado a mão-de-obra, por haver simpatizado comigo e querer me ajudar naquele momento difícil.
Eu, acanhado, peguei o cartão de crédito e paguei o conserto.
Ao sair da oficina, sob os cumprimentos e curvaturas do mecânico e do seu ajudante, pensei comigo mesmo: - Puxa vida, ainda bem que meu carro, retirado hoje da concessionária e no qual vou viajar de férias, é zero quilômetro e só tinha esses poucos defeitos. Imagino quantos defeitos o carro poderia ter, se eu, ao invés deste veículo novo, tivesse adquirido um usado. Sou um sujeito de sorte, já que o mecânico descobriu logo aqueles problemas, pois, caso contrário, eu poderia ficar enguiçado no meio de qualquer estrada deserta e acabaria perdendo alguns dias de minhas férias!
Enquanto seguia dirigindo, pensava: - Até que não foi tão caro assim. Vou parcelar em doze vezes no cartão, economizarei nos restaurantes e, no final, nem perceberei o impacto da despesa.
Hoje, recordando-me do caso, acho que a moléstia que atualmente me acomete o cérebro já devia ter se instalado, naquela ocasião, e, sorrateiramente e sem que eu daquilo me desse conta, vinha prejudicando a minha capacidade de avaliar as situações e de julgar o meu comportamento e o dos demais. Ainda hoje, em que pese alguns amigos terem dito que eu fui enganado pelo mecânico, continuo achando que ele, realmente, queria me ajudar...
Capítulo 24
Quinta-Feira 27 de março
Certo dia, pendurado no parapeito do vão central da Ponte Rio – Niterói, tentando acabar com minha triste existência, ensaiava pular para por fim, definitivamente, ao meu insuportável tormento.
Fui, felizmente, salvo por um editor, de conceituada empresa jornalística, cujo carro havia furado os quatro pneus naquela ponte recentemente privatizada; e que me recomendou, além de consultas periódicas a um psiquiatra, que colocasse no papel o resumo das minhas adversidades e lhe enviasse, com vistas a uma possível publicação em capítulos, num folhetim de pequena tiragem da Baixada Fluminense. Foi, então, o que fiz naquela ocasião.
Tendo transcorridos vários meses, nos quais me dediquei integralmente a passar minhas vicissitudes para o papel e quando, já com toda a documentação debaixo do braço, entrava no escritório da editora, passei por uma das maiores vergonhas da minha vida. Ao entrar na ante-sala do diretor contemplei uma mãe que deixava seu filhinho, de aproximadamente quatro anos, fazer xixi na porta de um belo e raro armário de madeira trabalhada, estilo Luis XV. Olhando aquela criança urinando naquela verdadeira obra de arte, senti, nas entranhas, uma vergonha enorme. Imaginem que o pintinho dele era maior do que o meu!
Meu nome de batismo não convém mencionar, pois não vem ao caso. Desde pequeno meus pais, parentes, amigos e conhecidos chamavam-me de Coisinha. Meu comportamento sempre foi dos mais exemplares, embora alguns diretores de colégio, ao me verem chegar com meu pai, para fazer a matrícula, sempre alegassem falta de vagas para aquele ano letivo. Assim, muito do que sei aprendi por mim mesmo, como autodidata, através da leitura assídua de cartazes publicitários nas ruas, de livrinhos das Coleções Gozadores, de figurinhas das Balas Guri, de cartazes de filmes pornográficos e de diversos manuais de instalação de eletrodomésticos, que encontrava nas latas de lixo do bairro.
Embora um pouco cheio de complexos, em razão dos inúmeros traumas sofridos ao longo da existência, de uma coisa, verdadeiramente, posso me vangloriar: da minha grande esperteza.
No início da crise econômica mundial, minha mulher estava no final de uma difícil e sofrida gravidez. Certa noite, ela acordou gemendo e disse: - “Coisinha, a bolsa arrebentou!” Calmamente, respondi: - “Sossega mulher, já vendi todas as ações que tinha em carteira e com o dinheiro arrecadado comprei tudo em dólares!”. Em seguida, voltei a dormir. Horas depois, ela me acordou de novo, dizendo: - “Coisinha, está em contração!”. Com bastante calma, respondi: - “A economia é assim mesmo, em algumas horas se contrai e em outras se expande”! Em continuação, voltei novamente a dormir. Passadas algumas horas, que para mim pareceram apenas minutos, novamente ela me acordou com um solavanco, mostrou um bebê e disse: - “Coisinha, corta aqui o cordão umbilical”!
Um mês depois batizávamos Coisinha Filho, que eu só chamava de Mico Preto e a família e os amigos de Bolha Econômica. Minha mulher, depois do parto, largou o bebê comigo e passou a sair com uma amiga o dia inteiro. Às vezes dormia fora de casa, só voltando no dia seguinte. Não queria mais saber de mim, nem do Mico Preto.
Em certa ocasião, reclamei à minha sogra sobre o comportamento da filha. A sogra prometeu falar com ela. Dias depois a sogra me contou como havia sido a conversa. Ao dizer-lhe que seu marido gostaria de ter ao lado uma mulher cheirosa, gostosa e carinhosa, minha mulher, com aquela voz grossa que sempre teve, respondeu: - “Poxa vida, mãe, mas quem não gostaria!”
Passados mais alguns meses, foi embora definitivamente com a amiga. Deixei o Mico Preto com a sogra e fui à luta.
Como o processo de separação não pode ser amigável, já que ambos alegávamos ser o homem da casa, tive que recorrer à justiça. O desempate foi feito pelo juiz, no momento exato da audiência. Ele ficou cerca de uns vinte minutos olhando, ora para mim ora para ela, na dúvida. Só ganhei porque entrou na sala um médico Proctologísta, a quem já havia consultado uma vez, que, ao ver-me, exclamou de longe: - “Ô Coisinha, aquele tumor na tua próstata está me parecendo maligno, viu!”
Finalmente, terminado o processo de separação, fui à procura de uma nova companheira.
Enamorei-me de uma jovem de seus dezoito anos, virgem, que logo me levou à casa dos seus pais. Na sala sentei-me no sofá, entre ela e o irmão pequeno, tendo em frente sua mãe, seu pai e a avó. Eis que, repentinamente, a mãe, pensando em me convidar para o almoço, perguntou: - “O cavalheiro gosta de comer o que?”
Para não dar trabalho à velha, humildemente respondi: - “Eu só gosto de comer a quilo!”
O silencio que se seguiu foi constrangedor. A jovem começou logo a chorar. A avó, pegando pela mão o neto, saiu da sala dizendo baixinho: - “Mas que pouca vergonha!”
A mãe, com um lenço esfregando nos olhos úmidos, dizia: - “Nunca fui tão humilhada!”
Notando, pelo canto dos olhos, o pai, sargento da polícia aposentado, se levantando e fazendo menção de sacar algo debaixo da camisa, corri rápido em direção à porta entreaberta e, desembestando pela escada do edifício de apartamentos, só fui parar a alguns quarteirões de distancia, nunca mais passando por aquela rua.
Pensei, pouco depois, em procurar uma coroa rica e bonitona, que satisfizesse os meus mais inconfessáveis desejos.
Felizmente, encontrei uma que preenchia os requisitos. Era rica, gostosa e linda. Logo no primeiro encontro, afirmou que estava ansiosa para satisfazer todos os meus ardentes desejos. No dia seguinte fomos ao seu clube, onde almoçamos. À tarde, passeamos no iate dela e, à noite, jantamos tomando vinho francês e ouvindo música clássica.
Mais tarde, na cama, trajando um curtíssimo baby-doll preto, me disse: - “Vem, meu gostosão, que eu vou satisfazer todos os seus desejos!” Bastou dizer estas palavras para que eu, deitado ao seu lado na cama, tirasse do bolso do pijama uma lista contendo relação com perto de vinte itens, que iam desde sorvete de morango na casquinha até um trenzinho completo, com máquina, vagões, estação e trilhos, e entregasse a ela que, com um olhar que me pareceu tocado pela emoção, segurou a lista com mãos tremulas e prorrompeu em copioso choro. Virei, então, para o lado e dormi em seguida, como uma verdadeira pedra, pois estava esfalfado depois de um dia cansativo de tantos passeios.
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