98. Benigno versus Maligno
Jober Rocha*
Um grande amigo meu, morador durante alguns anos em um conjunto residencial do subúrbio (onde ficara escondido, por algum tempo, de diversos oficiais de justiça que teimavam em querer entregar-lhe notificações e intimações judiciais), chamava-se Ariovaldo Benigno e tinha perto de 40 anos de idade.
Segundo relatou o meu amigo, enquanto tomávamos uísque e comíamos umas linguiças fritas preparadas pela sua esposa, um belo dia pela manhã, ao tomar banho e ensaboar-se, sentiu um pequeno caroço sob a pele do pescoço.
Como tinha horror a médicos e a doenças, não comunicou o achado à mulher nem aos filhos.
Com o passar dos dias, além de começar a doer e a incomodar, o caroço havia aumentado de tamanho, passando a se tornar visível por sob o colarinho da camisa.
A esposa, ao perceber o caroço durante o almoço, sugeriu-lhe a ida ao médico, o que ele fez poucos dias depois.
Examinando o caroço, o médico solicitou alguns exames complementares, antes de poder formar um diagnóstico mais preciso. Particularmente, o médico julgava ser um simples quisto de origem sebácea.
Ariovaldo, finalmente, marcou os exames para a semana seguinte.
No dia aprazado ele chegou cedo à clínica, entrando em uma grande fila. Com o avanço das horas, acabou chegando a sua vez e uma enfermeira gritou da porta: - Senhor Ariovaldo Benigno!
Levantando-se e caminhando em direção à enfermeira, Benigno adentrou a sala de exames. Finalizada a coleta do material (constituída por um exame de sangue e uma biópsia), a enfermeira pediu que ele aguardasse na sala ao lado para a entrega do resultado dos exames.
Para lá retornando, Ariovaldo constatou que a fila já havia duplicado e, agora, já não tinha mais lugares para sentar, tendo ele de permanecer em pé por quase quarenta minutos.
Subitamente, quando já não se aguentava mais de cansado, abriu-se a porta da sala e uma enfermeira chamou: - Senhor Ariovaldo Maligno!
Como nenhum dos presentes se manifestasse, ela chamou de novo: - Senhor Ariovaldo Maligno!
Ao ouvir aquele nome sendo chamado pela segunda vez, ele, timidamente, perguntou: - Senhorita, não será Ariovaldo Benigno?
A enfermeira, olhando diretamente em seus olhos, prontamente respondeu em voz alta, para que todos na sala ouvissem: - Não, senhor Ariovaldo, no seu caso é maligno mesmo!
Atualmente desenganado, Benigno aguardava feliz em sua casa, tomando uísque e comendo linguiças fritas na companhia de velhos amigos como eu, o dia em que, após ser mortalmente nocauteado por ‘Maligno’, partiria, definitivamente, para os ‘Campos Sagrados de Caça’, nome sob o qual ele se referia ao desconhecido território do além...
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário