quinta-feira, 31 de maio de 2018


223. Atualizando Parábolas Antigas



Jober Rocha*





                                Parábolas, de acordo com os dicionários, são pequenas narrativas que usam alegorias para transmitir uma lição moral.
                                                As parábolas são muito comuns na literatura oriental e tratam de assuntos que pretendem trazer algum ensinamento de vida. Possuem simbolismo, onde cada elemento da história tem um significado específico.
                                          Considerando que, historicamente, as parábolas têm sido usadas com frequência para transmitir ensinamentos a populações incultas e ignorantes, creio que muitas delas poderiam ser atualizadas, de modo a adequá-las a realidade presente de países como o nosso. O povo brasileiro, em geral, pouco lê, pouco se instrui, é crédulo, inocente e gosta de se passar por muito esperto, não o sendo.
                                                 Pensei, então, em aproveitar velhas parábolas que já foram úteis no passado, adaptá-las para a vida atual e esperar que continuem ainda sendo úteis. Seguem, portanto, algumas destas parábolas:

Parábola do Administrador Desonesto 

O administrador de uma estatal foi acusado de estar dilapidando os bens da empresa. Então, um juiz da Lava à Jato o chamou e perguntou: - Que é isso que estou ouvindo a seu respeito? Preste contas da sua administração, porque, caso contrário, você não poderá continuar sendo o administrador e responderá na justiça.
O administrador disse a si mesmo: - Este juiz acabará me prendendo. Que farei? Para trabalhar, como qualquer um, não tenho forças e tenho vergonha de mendigar...
Já sei o que vou fazer para que, se chegar a perder o meu bom emprego aqui nesta estatal, as pessoas me recebam bem em suas casas, como se nada houvesse acontecido.
 Então, chamou cada um dos fornecedores da empresa e perguntou ao primeiro que se apresentou: - Quanto você deve à empresa em mercadorias, cujo valor, a ser dividido comigo, já recebeu antecipadamente, mas cuja mercadoria ainda não nos entregou? Cem mil reais, respondeu o fornecedor.
O administrador lhe disse em seguida: Tome este papel, sente-se depressa e escreva que recebeu só vinte mil reais.
A seguir ele perguntou ao segundo fornecedor: E você, quanto já recebeu antecipadamente? Duzentos mil reais, respondeu ele.
O administrador, então, lhe disse: Tome esta folha e escreva quarenta mil reais.
Assim fez o administrador desonesto com todos os demais fornecedores.
O juiz, a partir de então, vendo os recibos falsos, elogiou o administrador desonesto e retirou-o do processo. Isto só ocorreu porque este agiu astutamente, pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato, uns com os outros, do que os filhos da luz...

Parábola da Porta Estreita

Em um banquete em homenagem aos integrantes da Operação Lava à Jato, em Curitiba, alguém disse para o público que se acotovelava do lado de fora: - Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu digo a vocês que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 
Esse mesmo personagem, a continuação, lhes disse:
 Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: - Senhor, abre-nos a porta.
 Ele, porém, responderá: - Não os conheço, nem sei de onde são vocês.
 Então vocês dirão: - Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas e avenidas.
 Mas ele responderá: - Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam o mal!
 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando vocês virem os integrantes da Lava à Jato (juízes, promotores e todos os integrantes das equipes do bem) aqui dentro, mas vocês, empreiteiros e políticos do mal serão excluídos. Pessoas virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, para saudá-los, agradecer e ocupar os seus lugares à mesa no banquete.
 De fato, há últimos que serão os primeiros e primeiros que serão os últimos.

Parábola da Teta que Secou

Ele lhes contou esta parábola:
- Observem a figueira e todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem as verbas públicas escasseando, salários não sendo pagos em dia e outras coisas mais acontecendo, saibam que o fim do governo está próximo.

Parábola dos Políticos Inúteis

Qual de vocês, políticos, que vendo um policial que esteja de serviço nas ruas ou cuidando da segurança dos quartéis, lhe dirá, quando ele chegar cansado e com fome: - Venha, agora, e sente-se para comer?
 Ao contrário, não dirá: - Prepare a minha segurança, apronte-se e vigie-me enquanto eu como e bebo; só depois disso você poderá comer e beber?
Será que o político agradecerá ao policial por ter feito o que lhe foi ordenado?
Assim, também, vocês políticos, quando tiverem feito tudo o que for ordenado pelos eleitores, ao invés de se vangloriarem, devem dizer: - Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever.

Parábola do Bom Policial

 Um homem descia de seu barraco na favela, para o asfalto, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram embora, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma viela um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também fez um pastor; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um policial, estando de retorno ao quartel, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou as suas feridas, derramando nelas vinho (ou Coca-Cola) e óleo. Depois, colocou-o sobre seus próprios ombros, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu vinte reais ao hospedeiro e lhe disse: - Cuide dele. Quando eu voltar, pagarei todas as despesas que você tiver.
Qual destes três você acha que foi o próximo, do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?
- Aquele que teve misericórdia dele-  respondeu o perito na lei.
O autor da parábola, então, lhe disse: - Vá e faça o mesmo!

Parábola do Rico e do Pobre

 Dois homens subiram ao templo na conturbada Cidade do Rio de Janeiro, para orar; um deles era rico e o outro pobre. O rico, em pé, orava no íntimo: - Deus, eu te agradeço porque sou rico e não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este pobre do meu lado. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
Mas o pobre ficou a distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas, batendo no peito, dizia: - Deus, tem misericórdia de mim, que sou pobre e pecador.
Eu digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.

Parábola do Empreiteiro Insensato

Certo empreiteiro rico, aliado a políticos venais, ganhou muito dinheiro. Ele pensou consigo mesmo: - O que vou fazer com tanto dinheiro? Não tenho onde guardar tanta fortuna.
Então disse para si mesmo: - Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus prédios e construir outros maiores, e ali guardarei em malas de dinheiro toda a minha fortuna e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: - Você tem grande quantidade de dinheiro e de bens, armazenados, para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se, passeando pelas capitais europeias.
Contudo, Deus lhe disse: - Insensato! Esta mesma noite a Polícia Federal irá à sua casa e te conduzirá preso para Curitiba. Então, quem ficará com o que você roubou e guardou?
Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus.
 

Parábola da Viúva e do Juiz Iníquo 

      Então o senhor contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar. 
Ele disse: - No Brasil havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens, soltando todos os réus que lhe caiam nas mãos. E havia naquele país uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe para que mantivesse preso um determinado criminoso, já condenado em várias instâncias:  Faz-me justiça - pedia a viúva. 
Por algum tempo o juiz se recusou; mas, finalmente, disse a si mesmo: - Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha mais me importunar. 
E o Senhor continuou: - Ouçam o que disse o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça ao seu escolhido povo brasileiro, que clama a Ele dia e noite? Continuará fazendo-o esperar? 
Eu digo a vocês: Ele lhe fará justiça e depressa. Contudo, quando o  Filho do homem vier ao planeta, encontrará fé na terra brasileira? 

 
Parábola do Banquete para os Pobres e Honestos 
 
       Aquela reunião de empresários e políticos na sede da Polícia Federal podia ser comparada com um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho. Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir. 
De novo enviou outros servos e disse: - Digam aos que foram convidados, que preparei meu banquete: meus bois e meus novilhos gordos foram abatidos, e tudo está preparado. Venham para o banquete de casamento da Honestidade com o Trabalho!
Mas eles não lhes deram atenção e saíram, um para a sua fazenda, outro para os seus negócios, outros para suas bases parlamentares. Os restantes, agarrando os servos, maltrataram-nos e os mataram. 
O rei ficou irado e, enviando os seus soldados, destruiu aqueles assassinos e queimou as casas deles. 
Então disse a seus servos: - O banquete de casamento está pronto, mas os meus convidados não eram dignos, eram quadrilheiros mancomunados entre si. Vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem de honestos. 
Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as pessoas de bem que puderam encontrar e a sala do banquete de casamento ficou cheia de convidados. 
Mas, quando o rei entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando veste nupcial. E lhe perguntou: - Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial? 
O homem emudeceu. Então o rei disse aos que serviam: - Amarrem as mãos e os pés deste espião do partido no poder e lancem-no para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes, pois muitos são chamados para o casamento da Honestidade com o Trabalho, mas poucos são os escolhidos.

Parábola dos Dois Devedores

Dois países estrangeiros deviam ao governo federal. Um devia quinhentos milhões de reais e o outro dois bilhões de reais. Nenhum dos dois tinha com que pagar a dívida e, por isso, o governo perdoou a dívida de ambos. Qual dos povos estrangeiros amará mais o nosso governo, perguntou alguém?
Algum inocente do povo, respondeu: - Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior.
- Você julgou mal - disse um esperto. Aquilo foi uma negociata onde todos saíram ganhando: quem emprestou, quem tomou o dinheiro e quem perdoou a dívida. Os povos estrangeiros nem viram a cor desse dinheiro, que está todo depositado em paraísos fiscais no Caribe.


Queridos leitores, as parábolas são tantas que eu poderia passar dias escrevendo sobre elas. Talvez, até mesmo, volte a fazê-lo em próximo texto. Todavia, não pretendo cansar os meus amigos que, com certeza, têm mais o que fazer neste feriado. Quando menos seja, descobrir um posto de combustível vazio, nas imediações da residência e que ainda tenha um resto de gasolina, diesel ou álcool...


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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