223. Atualizando Parábolas Antigas
Jober Rocha*
Parábolas, de acordo com os
dicionários, são pequenas narrativas que usam alegorias para transmitir uma
lição moral.
As parábolas são muito
comuns na literatura oriental e tratam de assuntos que pretendem trazer algum
ensinamento de vida. Possuem simbolismo, onde cada elemento da história tem um
significado específico.
Considerando que,
historicamente, as parábolas têm sido usadas com frequência para transmitir
ensinamentos a populações incultas e ignorantes, creio que muitas delas
poderiam ser atualizadas, de modo a adequá-las a realidade presente de países
como o nosso. O povo brasileiro, em geral, pouco lê, pouco se instrui, é
crédulo, inocente e gosta de se passar por muito esperto, não o sendo.
Pensei, então, em aproveitar
velhas parábolas que já foram úteis no passado, adaptá-las para a vida atual e
esperar que continuem ainda sendo úteis. Seguem, portanto, algumas destas
parábolas:
Parábola do Administrador Desonesto
O administrador de uma
estatal foi acusado de estar dilapidando os bens da empresa. Então, um juiz da
Lava à Jato o chamou e perguntou: - Que é isso que estou ouvindo a seu
respeito? Preste contas da sua administração, porque, caso contrário, você não
poderá continuar sendo o administrador e responderá na justiça.
O administrador disse a si
mesmo: - Este juiz acabará me prendendo. Que farei? Para trabalhar, como
qualquer um, não tenho forças e tenho vergonha de mendigar...
Já sei o que vou fazer para
que, se chegar a perder o meu bom emprego aqui nesta estatal, as pessoas me recebam bem
em suas casas, como se nada houvesse acontecido.
Então, chamou cada um dos fornecedores da
empresa e perguntou ao primeiro que se apresentou: - Quanto você deve à empresa
em mercadorias, cujo valor, a ser dividido comigo, já recebeu antecipadamente, mas cuja mercadoria ainda não
nos entregou? Cem mil reais, respondeu o fornecedor.
O administrador lhe disse em
seguida: Tome este papel, sente-se depressa e escreva que recebeu só vinte mil
reais.
A seguir ele perguntou ao
segundo fornecedor: E você, quanto já recebeu antecipadamente? Duzentos mil
reais, respondeu ele.
O administrador, então, lhe
disse: Tome esta folha e escreva quarenta mil reais.
Assim fez o administrador
desonesto com todos os demais fornecedores.
O juiz, a partir de então,
vendo os recibos falsos, elogiou o administrador desonesto e retirou-o do
processo. Isto só ocorreu porque este agiu astutamente, pois os filhos deste
mundo são mais astutos no trato, uns com os outros, do que os filhos da luz...
Parábola da Porta Estreita
Em um banquete em homenagem
aos integrantes da Operação Lava à Jato, em Curitiba, alguém disse para o
público que se acotovelava do lado de fora: - Esforcem-se para entrar pela
porta estreita, porque eu digo a vocês que muitos tentarão entrar e não
conseguirão.
Esse mesmo personagem, a continuação, lhes disse:
Esse mesmo personagem, a continuação, lhes disse:
Quando o dono da casa se
levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: -
Senhor, abre-nos a porta.
Ele, porém, responderá: - Não
os conheço, nem sei de onde são vocês.
Então vocês dirão: - Comemos
e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas e avenidas.
Mas ele responderá: - Não
os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que
praticam o mal!
Ali haverá choro e ranger
de dentes, quando vocês virem os integrantes da Lava à Jato (juízes, promotores
e todos os integrantes das equipes do bem) aqui dentro, mas vocês, empreiteiros
e políticos do mal serão excluídos. Pessoas virão do Oriente e do Ocidente, do
Norte e do Sul, para saudá-los, agradecer e ocupar os seus lugares à mesa no
banquete.
De fato, há últimos que
serão os primeiros e primeiros que serão os últimos.
Parábola da Teta que Secou
Ele lhes contou esta
parábola:
- Observem a figueira e
todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão
está próximo. Assim também, quando virem as verbas públicas escasseando, salários
não sendo pagos em dia e outras coisas mais acontecendo, saibam que o fim do
governo está próximo.
Parábola dos Políticos Inúteis
Qual de vocês, políticos,
que vendo um policial que esteja de serviço nas ruas ou cuidando da segurança
dos quartéis, lhe dirá, quando ele chegar cansado e com fome: - Venha, agora, e
sente-se para comer?
Ao contrário, não dirá: - Prepare a minha
segurança, apronte-se e vigie-me enquanto eu como e bebo; só depois disso você poderá
comer e beber?
Será que o político
agradecerá ao policial por ter feito o que lhe foi ordenado?
Assim, também, vocês políticos,
quando tiverem feito tudo o que for ordenado pelos eleitores, ao invés de se
vangloriarem, devem dizer: - Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso
dever.
Parábola do Bom Policial
Um homem descia de seu barraco na favela, para
o asfalto, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas,
espancaram-no e se foram embora, deixando-o quase morto. Aconteceu estar
descendo pela mesma viela um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro
lado. E assim também fez um pastor; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo
outro lado. Mas um policial, estando de retorno ao quartel, chegou onde se
encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou
as suas feridas, derramando nelas vinho (ou Coca-Cola) e óleo. Depois, colocou-o
sobre seus próprios ombros, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia
seguinte, deu vinte reais ao hospedeiro e lhe disse: - Cuide dele. Quando eu
voltar, pagarei todas as despesas que você tiver.
Qual destes três você acha
que foi o próximo, do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?
- Aquele que teve
misericórdia dele- respondeu o perito na
lei.
O autor da parábola, então,
lhe disse: - Vá e faça o mesmo!
Parábola do Rico e do Pobre
Dois homens subiram ao templo na conturbada Cidade
do Rio de Janeiro, para orar; um deles era rico e o outro pobre. O rico, em pé,
orava no íntimo: - Deus, eu te agradeço porque sou rico e não sou como os
outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este pobre do meu
lado. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
Mas o pobre ficou a
distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas, batendo no peito, dizia: - Deus,
tem misericórdia de mim, que sou pobre e pecador.
Eu digo que este homem, e
não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será
humilhado, e quem se humilha será exaltado.
Parábola do Empreiteiro Insensato
Certo empreiteiro rico,
aliado a políticos venais, ganhou muito dinheiro. Ele pensou consigo mesmo: - O
que vou fazer com tanto dinheiro? Não tenho onde guardar tanta fortuna.
Então disse para si mesmo: -
Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus prédios e construir outros
maiores, e ali guardarei em malas de dinheiro toda a minha fortuna e todos os
meus bens. E direi a mim mesmo: - Você tem grande quantidade de dinheiro e de
bens, armazenados, para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se,
passeando pelas capitais europeias.
Contudo, Deus lhe disse: - Insensato!
Esta mesma noite a Polícia Federal irá à sua casa e te conduzirá preso para Curitiba.
Então, quem ficará com o que você roubou e guardou?
Assim acontece com quem
guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus.
Parábola da Viúva e do Juiz Iníquo
Então o senhor contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar.
Parábola da Viúva e do Juiz Iníquo
Então o senhor contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar.
Ele disse: - No Brasil
havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens, soltando todos os réus que lhe caiam nas mãos. E
havia naquele país uma viúva que se dirigia continuamente a ele,
suplicando-lhe para que mantivesse preso um determinado criminoso, já condenado em várias instâncias: Faz-me justiça - pedia a viúva.
Por algum
tempo o juiz se recusou; mas, finalmente, disse a si mesmo: - Embora eu não
tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me
aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha mais me
importunar.
E o Senhor continuou: - Ouçam o que disse o juiz injusto.
Acaso Deus não fará justiça ao seu escolhido povo brasileiro, que clama a Ele dia e
noite? Continuará fazendo-o esperar?
Eu digo a vocês: Ele lhe fará
justiça e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier ao planeta, encontrará fé na terra brasileira?
Parábola do Banquete para os Pobres e Honestos
Aquela reunião de empresários e políticos na sede da Polícia Federal podia ser comparada com um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho. Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir.
Parábola do Banquete para os Pobres e Honestos
Aquela reunião de empresários e políticos na sede da Polícia Federal podia ser comparada com um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho. Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir.
De novo
enviou outros servos e disse: - Digam aos que foram convidados, que
preparei meu banquete: meus bois e meus novilhos gordos foram abatidos, e
tudo está preparado. Venham para o banquete de casamento da Honestidade com o Trabalho!
Mas eles
não lhes deram atenção e saíram, um para a sua fazenda, outro para os seus
negócios, outros para suas bases parlamentares. Os restantes, agarrando os servos, maltrataram-nos e os
mataram.
O rei ficou irado e, enviando os seus soldados, destruiu aqueles
assassinos e queimou as casas deles.
Então disse a seus servos: - O
banquete de casamento está pronto, mas os meus convidados não eram
dignos, eram quadrilheiros mancomunados entre si. Vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês
encontrarem de honestos.
Então os servos saíram para as ruas e reuniram todas as
pessoas de bem que puderam encontrar e a sala do
banquete de casamento ficou cheia de convidados.
Mas, quando o rei
entrou para ver os convidados, notou ali um homem que não estava usando
veste nupcial. E lhe perguntou: - Amigo, como você entrou aqui sem veste
nupcial?
O homem emudeceu. Então o rei disse aos que serviam: - Amarrem as mãos e os pés deste espião do partido no poder e lancem-no para fora, nas trevas; ali
haverá choro e ranger de dentes, pois muitos são chamados para o casamento da Honestidade com o Trabalho, mas poucos
são os escolhidos.
Parábola dos Dois Devedores
Dois países estrangeiros
deviam ao governo federal. Um devia quinhentos milhões de reais e o outro dois bilhões
de reais. Nenhum dos dois tinha com que pagar a dívida e, por isso, o governo
perdoou a dívida de ambos. Qual dos povos estrangeiros amará mais o nosso governo, perguntou alguém?
Algum inocente do povo,
respondeu: - Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior.
- Você julgou mal - disse um
esperto. Aquilo foi uma negociata onde todos saíram ganhando: quem emprestou,
quem tomou o dinheiro e quem perdoou a dívida. Os povos estrangeiros nem viram a cor desse dinheiro, que está todo depositado em paraísos fiscais no Caribe.
Queridos leitores, as parábolas
são tantas que eu poderia passar dias escrevendo sobre elas. Talvez, até mesmo, volte a fazê-lo em próximo texto. Todavia, não
pretendo cansar os meus amigos que, com certeza, têm mais o que fazer
neste feriado. Quando menos seja, descobrir um posto de combustível vazio, nas
imediações da residência e que ainda tenha um resto de gasolina, diesel ou álcool...
_*/ Economista e Doutor pela
Universidade de Madrid, Espanha.
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