terça-feira, 15 de maio de 2018


220. Filosofia, Psicologia e Religião


Jober Rocha*


                                                A palavra Filosofia recebeu, ao longo do tempo, diversas definições. Inicialmente era considerada como ‘amizade pelo conhecimento’; posto que, sendo o conhecimento um atributo exclusivo dos Deuses, aqueles que por ele se interessavam; isto é, os filósofos, só poderiam almejar ser amigos dele.
                                                            Entretanto, dentre as várias definições de Filosofia, uma que se destaca sobre as demais é a atribuída ao filósofo Platão, quando diz: Filosofia é o uso do saber em proveito do homem.
                                                       Na Ciência, por outro lado, em algumas circunstâncias, o saber tem sido utilizado em detrimento ou, até mesmo, contra o homem e seus interesses.
                                                                Segundo Platão (427 a.C - 327 a.C), de nada valeria uma Ciência que tornasse imortal a quem não soubesse utilizar a imortalidade. Assim, é necessária uma interação entre a Ciência e a Filosofia, de modo a que concorram para um mesmo objetivo, que é o de fazer e o de saber utilizar aquilo que foi feito em proveito da espécie humana.
                                                             A Psicologia, que já pertenceu a Filosofia e hoje faz parte da Ciência, por seu turno, teria por objeto a alma, a consciência ou os eventos característicos da vida animal e humana. No entanto, tantas são as interrogações no âmbito da Psicologia que ela, muitas vezes, torna-se, ainda, dependente da Filosofia. 
                                                               A chamada Psicologia Racional, fundada por Aristóteles, continua sendo uma parte da Filosofia que se inspira na Metafísica, mas, que, na atualidade, não possui mais eficácia no âmbito da Psicologia científica tradicional.
                                                             A Religião, por sua vez, consiste em uma crença na garantia sobrenatural da salvação. Todavia, a função de demonstrar a existência de uma relação do homem com a divindade, sempre foi mais atribuída à Filosofia do que à própria Religião.
                                                             A religião, segundo o filósofo David Hume (1711-1776), não surgiu da contemplação, mas do interesse do homem pelos acontecimentos da vida e, assim, das esperanças e temores que sempre o afligiram e que fazem com que atribua a causas desconhecidas, os bens e males que o acometem. 
                                                              As propostas dos filósofos, de uma maneira geral, são de que se nós, seres humanos, devemos possuir crenças e valores que, pelo menos, estes sejam defendidos e sustentados de forma crítica e refletida.
                                                            As propostas dos sacerdotes, por outro lado, são de que as nossas crenças e valores devam ser sustentados pela fé e pela obediência, sem questionamentos.
                                                                As propostas dos psicólogos são as de trabalhar nas queixas associadas aos conflitos internos das pessoas (incluindo nelas os filósofos e os sacerdotes), que, invariavelmente, geram incômodos a si mesmas ou às pessoas do seu universo de relacionamento. 
                                                             O psicólogo, portanto, deve ir à busca das origens dos incômodos, entendendo suas funções. Deve discutir a forma pela qual o individuo trata essas questões, sempre almejando tornar a vida da pessoa a mais confortável possível.
                                                        Geralmente os psicólogos se baseiam em uma determinada abordagem (e eventualmente em mais de uma), para utilizar clinicamente nas sessões de psicoterapia.
                                                           A abordagem, nesse caso, seria o uso clínico dos conhecimentos filosóficos e científicos, obtidos pela Psicologia em cada linha de estudo/raciocínio pela qual envereda.
                                                            Em algumas ocasiões, em decorrência de fatores tais como a perfeição da Natureza, a sincronia dos processos naturais e a complexidade dos organismos vivos, muitos filósofos e cientistas chegam a se transformar em pessoas religiosas ou, até mesmo, a se tornarem sacerdotes. 
                                                          Assim, alguns filósofos, em muitas ocasiões, utilizam argumentos em favor de teses religiosas - como Platão, por exemplo, com sua crença na existência de um Criador e na imortalidade do espírito. 
                                                       Por sua vez, sacerdotes não totalmente acordes com respeito a alguns dogmas de suas religiões, utilizam, com frequência, argumentos filosóficos, notadamente Aristotélicos, em defesa de suas pregações, como fizeram Agostinho de Hipo (Santo Agostinho, 354 d.C - 430 d.C) e Thomás de Aquino (1225-1274); como também fazem uso de argumentos científicos. 
                                                           Thomás de Aquino considerava que a Filosofia vinha em auxílio da Teologia, demonstrando verdades que a fé considerava como estabelecidas e esclarecendo verdades da fé, ao criar analogias com as verdades naturais. Além disto, podia ser utilizada para refutar idéias que se oponham à Doutrina Religiosa.
                                                           Nada impede, por sua vez, que os psicólogos, como todos os demais profissionais da área de Saúde, sejam religiosos; muito pelo contrário, pois quem tem contato diário com a maravilha representada pela natureza humana costuma sempre reverenciar aquele que a criou.
                                                     Tradicionalmente separados, na atualidade filósofos, psicólogos e sacerdotes têm trabalhado juntos para um mesmo fim, embora utilizando caminhos diferentes no que se refere à Terapia da Alma. 
                                                            Usando a Filosofia, a Ciência e a Religião como recursos terapêuticos - cada um a sua maneira - proporcionam tratamento para indivíduos isolados ou em grupos, seja mediante consultas, palestras, discussões em grupo, seminários ou entrevistas pessoais, naquilo que se refere à libertação de vícios, a redução de stress, ao aumento da auto-estima,  a cura de patologias psíquicas, etc. 
                                                           A Terapia Filosófica (ou Filosofia Clínica, como é denominada em nosso país esta nova forma de atuação dos filósofos), trata de questões de psicoterapia, proporcionando a diagnose e o tratamento de questões existenciais, mediante a Filosofia aplicada ao indivíduo. 
                                                       Algumas universidades em todo o mundo já formam especialistas em Filosofia Clínica; profissionais estes aptos a trabalhar em hospitais psiquiátricos, clínicas de reabilitação e consultórios psicoterapêuticos.
                                                             Os sacerdotes, da mesma forma, prestam (e sempre prestaram) apoio espiritual àqueles que acreditam na continuação da vida após a penetração do espírito no território da morte; bem como, ajudam aos desesperados e àqueles que atingiram o ‘fundo do poço’ da degradação humana a retomarem o caminho da convivência social, a abandonarem eventuais vícios e a aceitarem os valores morais propostos pelas religiões, através do despertar da fé e da crença na ajuda divina.
                                                         Os psicólogos identificam traumas, medos e receios que podem acarretar uma vida frustrada, tanto de filósofos quanto de sacerdotes ou de quaisquer outros seres humanos, ajudando a superar situações difíceis ou problemáticas.
                                                         Todos os três, conforme já visto, possuem seus próprios papéis no “show da vida”, representado pelo nascimento, pela existência e pela morte das pessoas. 
                                                      Hoje em dia separados, em razão das distintas missões a que se atribuíram, pode ser que com a evolução humana, em algum ponto do futuro, venham a se fundir, em virtude de todos aqueles que buscam a evolução, através do saber, deixarem de ser apenas ‘amigos do conhecimento’; mas passarem a ser, também, um de seus eventuais proprietários.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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