sexta-feira, 27 de maio de 2016


17. Psicologia: Ciência Divina ou Diabólica?**

Jober Rocha*


Como todos sabem, a Psicologia consiste na Ciência que estuda o comportamento dos indivíduos e as suas funções mentais. Seu objetivo final seria o benefício geral da Sociedade Humana.
          Inicialmente vinculada à Filosofia e à Religião, sendo estudada por pensadores do Ocidente e do Oriente, ela apenas se firmou como uma ciência no século XIX e, como tal, buscou direcionar a sua atenção para os aspectos clínicos da matéria; isto é, para as razões que levavam os seres humanos à depressão, às fobias, às neuroses e às psicoses, preocupando-se mais com a doença mental do que com a própria saúde mental (talvez porque esta lhe fugisse ao controle, ao depender de fatores alheios ou supervenientes). Dividiu-se a Psicologia, em seu início, em três correntes: Funcionalismo (William James, 1842-1910), Estruturalismo (Edward Titchener, 1867-1927) e Associacionismo (Edward Thorndike, 1874-1949).
          Na atualidade, devido à complexidade do ser humano, a Psicologia é estudada sobre diversas perspectivas: biológica, médica, psicodinâmica, analítica, comportamentalista, humanista, cognitiva, evolucionista, sociocultural, biopsicossocial e multidisciplinar. Possui diversas especializações como: Psicologia Escolar e Educacional, Organizacional e do Trabalho, de Trânsito, Jurídica, Psicomotricidade, do Esporte, Clínica, Hospitalar, Psicopedagógica, Social e Neuropsicologia.
         A Psicoterapia, no meu modo de ver, pode ser entendida como sendo o lado divino da Psicologia (no sentido de que visaria apenas o bem, com respeito à saúde física e mental dos indivíduos), possuindo algumas linhas teóricas em que se destacam, como principais: Psicanálise, Psicologia Analítica de Jung ou Análise Junguiana, Behaviorismo Comportamental, Humanismo, Psicoterapia Corporal – Reich, Terapia Cognitivo – Comportamental, Transpessoal e Mindfulness Psychology (Atenção Plena). Outras linhas existentes seriam as seguintes: Fenomenológica, Gestalt-Terapia e a Psicologia Positiva. Nem todos os tipos citados funcionam, sempre, para todos os casos em que são utilizados, em virtude de alguma inadequação entre o método e o paciente; mas, o objetivo de todos eles é o mesmo, isto é, entender, diagnosticar e tratar a patologia apresentada por aqueles que procuram o auxílio do profissional habilitado.
         O lado que poderia ser considerado como diabólico (no sentido de que visaria o mal, com relação à saúde física e mental dos indivíduos, bem como ao seu patrimônio e à sua situação financeira), seria aquele em que alguns profissionais, desta e de outras áreas da Ciência, fariam uso dos conhecimentos disponíveis da Psicologia, a respeito do comportamento das pessoas, bem como se utilizariam do resultado de novas pesquisas sobre o assunto, visando ao aproveitamento de tais conhecimentos para a obtenção de benefícios financeiros ou de qualquer outra ordem, de poder, de dominação, de persuasão e de influencia sobre os seres humanos, sem que estes se apercebessem da manipulação a que estavam sendo submetidos ou, mesmo, sendo forçados, compulsoriamente, a participarem de experiências cuja finalidade e extensão desconheceriam. 
           Dentre as técnicas que se utilizariam de conhecimentos sobre o comportamento psicológico dos indivíduos, para extrair-lhes informações ou para direcionar suas ações para determinado fim que se deseje, destacam-se nas áreas policial e militar: A técnica de interrogatório reverso; a lavagem cerebral maciça; os experimentos de privação sensorial; o Gaslighting; o interrogatório através da indução de culpa; as falsas memórias implantadas por hipnose e o excesso de estimulação sensorial.
Não entraremos no mérito de cada uma destas técnicas, já que aqueles interessados em conhecer mais sobre o assunto poderão obter outras informações através da WEB. Com respeito à técnica de interrogatório reverso, segundo aqueles que a aplicam, diremos apenas que funcionaria bem com qualquer pessoa cujo comportamento se caracterizasse por possuir um Ego muito sensível; ou seja, alguém rebelde, como crianças principalmente. Essencialmente, esta técnica seria utilizada para conseguir que o oponente fizesse aquilo que se deseja ao mandá-lo fazer, justamente, o oposto daquilo que se quer ver realizado.
            Nos campos da Propaganda e do Marketing, muitas vezes, existe a intenção deliberada de usar conhecimentos psicológicos sobre o comportamento dos consumidores e dos eleitores, para divulgar informações falsas, que objetivam influenciar decisões individuais e de grupos, como fazem, com freqüência, alguns institutos de pesquisas e os chamados ‘marqueteiros’, cujo nome vem de suas empresas de marketing, que são contratados para assessorar partidos políticos e candidatos em vésperas de eleição.
        Estes institutos e estas empresas de marketing, usualmente, buscam os profissionais mais experientes em várias áreas do conhecimento, notadamente no campo da Psicologia, para, utilizando-se do conhecimento científico mais atual disponível, tentar influenciar a massa de eleitores a oferecer seu voto para aqueles clientes que os contrataram durante as campanhas eleitorais (partidos políticos e candidatos) ou, fora destas, para empresas públicas ou privadas, interessadas em uma boa imagem perante o público ou na venda de produtos e serviços.
        A prática das virtudes passa muito longe dos procedimentos quase sempre utilizados nas campanhas publicitárias; onde vale tudo, desde a mentira, pura e simples, ao falseamento de dados, às falácias, aos subterfúgios sutis e às técnicas psicológicas subliminares, já que o compromisso destas empresas é, exclusivamente, com aqueles que as pagam e não com a verdade daquilo que divulgam e apregoam. Isto vale para a propaganda política e para qualquer tipo de propaganda e marketing, objetivando influenciar a escolha dos indivíduos e das massas populacionais.
No Campo Militar, desde o tempo do filósofo e general chinês Sun Tzu, cuja obra A Arte da Guerra (escrita entre 400 e 320 a.C) trata dos assuntos básicos para a preparação e a condução das guerras, os conhecimentos de natureza psicológica dos militares são analisados, de modo a fornecer subsídios para a ação dos soberanos, visando a que estes vencessem sempre as suas guerras, não importando a ele que fossem justas ou não. O mesmo ocorreu mais tarde na Europa, com a obra O Príncipe, de Niccolò Machiavelli (1469 - 1527 d.C.), na qual o autor se utilizou de conhecimentos psicológicos acerca dos indivíduos (súditos), para apresentar regras de comportamento que deveriam ser seguidas pelos soberanos, mesmo que estes se tratassem de tiranos, para poderem reinar e expandir seus reinos.
            Mais recentemente, o Projeto Mkultra (iniciado no princípio da década de 1950), nome código para um programa de experiências de caráter psicológico com seres humanos (objetivando o controle de suas mentes durante interrogatórios e sessões de tortura, para extrair informações importantes ou, até mesmo, vitais para determinados governos – não importa qual a forma ou a ideologia que seguisse), originou um manual chamado Kubark. O psiquiatra Harvey Weinstein estabeleceu o relacionamento direto das pesquisas em controle da mente, feitas na Inglaterra pelo psiquiatra britânico William Sargant (envolvido nas pesquisas do Mkultra), com a aplicação de drogas alucinógenas e privações do sono em prisioneiros. As drogas utilizadas visavam alterar as funções do cérebro e manipular o estado mental dos seres humanos. 
          Por sua vez, a Programação Neuro Lingüística – PNL, criada na década de 1970 por Richard Bander e John Grinder, nos USA, conseguiu demonstrar que para tudo aquilo que fazemos, possuímos um Programa (em uma analogia entre o cérebro humano e um computador), e que estes programas podem ser ensinados e aprendidos por qualquer pessoa. A PNL pode ser utilizada para a cura de fobias (medos intensos e desproporcionais às suas causas); porém, por outro lado, pode ser utilizada para que pessoas medíocres, com propostas medíocres, se mostrem como pessoas superiores, com propostas superiores, através de processos verbais e extra-verbais responsáveis por desencadear reações psicológicas nos indivíduos que os contemplam e ouvem. Tratar-se-ia, no caso, da conhecida “venda de gato por lebre”, conforme se costuma dizer. Tais processos são muito utilizados por políticos e religiosos, que necessitam convencer aqueles que os vêem e ouvem, já que, segundo a PNL: “A eficiência da sua comunicação depende mais de como ela será recebida, através do mapa mental do ouvinte e interpretada, do que daquilo que, na realidade, você está dizendo”.
         Como já exposto até aqui (em que pese, ainda, a importância não mencionada da nanotecnologia, no que se refere aos implantes de ‘chips’ cerebrais; implantes estes que, eventualmente, poderiam vir a nortear o comportamento psicológico dos seres humanos no futuro próximo), a Ciência da Psicologia têm oscilado entre uma aplicação que poderíamos chamar de divina e uma aplicação considerada demoníaca. Qual delas irá prevalecer no futuro da espécie humana eu não saberia responder; mas, posso imaginar, conhecendo as formas de dominação e de poder historicamente estabelecidas e a matéria prima da qual somos todos feitos...


_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Publicado no Jornal A Palavra nº 175, de 07. 06. 2016. Rio de Janeiro, RJ.







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