quinta-feira, 19 de maio de 2016

14. Onde estão e quando irão chegar, os cavaleiros que irão nos redimir?**


Jober Rocha*




A Ordem da Cavalaria, considerada um incidente notável na História Européia, consistiu na exaltação de uma generosidade que levava seus integrantes, os cavaleiros, a respeitarem os demais; a protegerem os fracos, fossem eles quais fossem; a se mostrarem liberais e a venerarem as mulheres; tudo isto com certo caráter religioso, que determinava as suas ações e consagrava as suas façanhas.
Surgida em tempos de anarquia antes do século XI, mas desenvolvida somente após aquele século, ela supriu a ausência de leis repressivas e da justiça (bem como a fraqueza suprema das autoridades), mediante a coragem individual de alguns poucos, levada a sua mais alta expressão. A cavalaria armou, assim, o braço dos bravos para a defesa dos oprimidos e fez ouvir a voz da razão e da humanidade, àqueles poderosos, cujos ouvidos e coração tornaram-se insensíveis aos clamores populares. Com isto, uma mocidade valorosa acudiu em socorro da fraqueza e da inocência de pessoas que, de outro modo, teriam sucumbido sem defesa.
Esta instituição, fundada sobre uma pratica de virtudes simples e austeras, por vezes até fanáticas, encerrava tudo aquilo que o valor tem de mais heróico, a moral de mais difícil, a fé de mais maravilhoso e o sacrifício de mais desinteressado, colocando-se como uma muralha de defesa entre o fraco e o opressor.
Fazendo um paralelo daquela época com a situação atual do nosso país, constatamos que a grande maioria da nossa população, honesta e trabalhadora, encontra-se sitiada nas cidades e nos municípios e assediada por criminosos comuns (organizados ou não); como também, assediada na capital federal por verdadeiras organizações criminosas de cunho político e ideológico que, mediante a prática de concussão, de desvio de verbas públicas, de corrupção (ativa e passiva) e do aparelhamento das instituições públicas dos três poderes da república, perpetram suas inconfessáveis maquinações, em benefício próprio e das organizações às quais pertencem.
Diversos episódios, relativos à ação destes indivíduos e de suas organizações criminosas, noticiados pela mídia diariamente, caminham para a impunidade, em razão do mencionado aparelhamento de nossas instituições públicas, em que pesem as ações de uns poucos delegados de polícia, promotores de justiça, procuradores e juízes.
Como na Idade Média, nossas populações encontram-se atualmente indefesas, perante o crime comum (perpetrado visando o enriquecimento ilícito e praticado em razão de ganância, pura e simples) e o crime de lesa-pátria (praticado este por elites governantes, em razão de objetivos puramente ideológicos).
Embora no início daquele período da história da humanidade os integrantes da Ordem da Cavalaria fossem recrutados entre os filhos da nobreza e as suas ações, como cavaleiros, se efetivassem pela via das armas; com o passar do tempo escritores, poetas e intelectuais foram também armados cavaleiros e, com suas penas, com suas ações e com seus intelectos, passaram a combater pelos fracos, contra aqueles que os oprimiam.
Não resta duvida de que a Ordem da Cavalaria surgiu em decorrência do momento histórico vivido pela Europa, tendo nascido de um conjunto de antigas idéias e de novas circunstâncias vigentes, em que a fraqueza das instituições e dos governantes inspirou alguns jovens heróis a usarem suas determinações e proezas para socorrer tantos infelizes que sofriam sem remédio.
Novamente, fazendo uma analogia ao Brasil de hoje, no qual, em razão da fraqueza, da inocência e da timidez dos homens de bem e da força, da esperteza e da temeridade daqueles voltados para o mal, o país e as suas instituições foram dominados por verdadeiras quadrilhas que, encasteladas no poder, buscam enriquecer a custa da malversação de recursos públicos, constata-se, já, um incipiente movimento da parte de alguns poucos policiais, delegados, promotores, procuradores, juízes, militares e políticos, objetivando proteger a população honesta e de bem, da sanha criminosa destas quadrilhas encasteladas nos municípios, nas cidades e nos poderes da república. Este movimento, contudo, ainda não se tornou forte o suficiente para virar o jogo no tabuleiro político nacional, tabuleiro este em que se joga o destino de potência do nosso país. 
        Quando e partindo de onde surgirão os novos cavaleiros que a sociedade brasileira urgentemente reclama e de que tanto necessita, para conduzir o país, de novo, ao rumo do desenvolvimento econômico e social, com honestidade, moralidade, competência e justiça?

_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Publicado em leitura Recomendada de 14.10.2015. www.reservaer.com.br

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