quarta-feira, 18 de maio de 2016

12. A Contracultura e o Comportamento Politicamente Correto: filhos pródigos de um mesmo pai desnaturado**

Jober Rocha*


A contracultura, como todos sabem, consistiu em um movimento que se destacou na década de 1960, tendo por base a mobilização da juventude e a implantação, no seio desta, de um comportamento anti-social (supostamente de caráter libertário) de cunho contestatório. Sob o pano de fundo das condições políticas, sociais e econômicas da época, seus adeptos e idealizadores buscavam a transformação da sociedade, mediante uma mudança na atitude dos jovens e em seus próprios valores (mudança esta, por vezes, realizada através de ações bastante radicais), para, através do questionamento dos conceitos e ensinamentos da civilização ocidental, chegar a uma transformação social e política dos países onde a contracultura havia encontrado campo fértil e se instalado, junto à juventude e ao meio estudantil.
A contracultura, a partir do pós-guerra, acostumou-se a reaparecer de tempos em tempos e o seu papel na crítica social, tendo em vista a dialética das relações sociais e da evolução, não deixou de ser positivo: na década de 40 ela surgiu com o Existencialismo, de Jean Paul Sartre; na de 50 reapareceu na denominada Beat Generation; na de 60 retornou através do Movimento Hippie e, na de 70, mostrou sua presença no Movimento Punk. Cada uma destas correntes caracterizou-se por comportamentos, costumes e valores distintos, roupas diferentes e músicas diversas; embora seus objetivos fossem sempre o mesmo, isto é, a contestação dos valores ocidentais vigentes.
O Comportamento Politicamente Correto, por sua vez, muito falado em todo o mundo e adotado em nosso país, na atualidade, está relacionado a uma nova abordagem política que busca estabelecer linguagem e comportamento (aparentemente neutros), de modo a evitar que possam ser ou que venham a ser ofensivos ou preconceituosos com relação a pessoas de determinados grupos sociais, principalmente, em razão de raça, sexo ou religião. Neste contexto, sem que muitos se apercebam, está sendo estabelecida uma nova moral, desvinculada daquela de genealogia religiosa vigente no ocidente até então, sob a ótica eufemística do ‘Comportamento Politicamente Correto’. A expressão ‘Politicamente Incorreto’, por seu turno, trata de nomear formas de expressão e de comportamento, que procuram externar supostos preconceitos sociais sem receios de nenhuma espécie. Este conceito é entendido, por alguns acadêmicos ditos de esquerda, como uma forma de se expressar e um comportamento, considerados incorretos e utilizados por grupos conservadores de direita; enquanto o termo contrário seria aquele correto de que se utilizariam os liberais de esquerda. Os conceitos sobre aquilo que é ou não politicamente correto, entretanto, são estabelecidos pelos senhores no poder e pela ideologia dominante, sendo expressos através da Mídia para absorção pelas inocentes, despolitizadas e ignorantes massas populacionais.
      Os críticos do ‘Politicamente Incorreto’ o consideram fascista, enquanto os críticos do ‘Politicamente Correto’ o acusam de patrulhamento ideológico de tendência marxista. Ambos os lados buscam denegrir um ao outro, em busca de um lugar nas mentes e nos corações dos nossos inocentes, incultos e pacatos cidadãos.
         Dentre os poucos filósofos que se ocuparam do estudo acerca da Genealogia da Moral, Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão do século XIX, foi um dos que apresentou as idéias mais revolucionárias sobre o tema. Em sua obra ‘Genealogia da Moral’, o filósofo faz uma crítica à moral vigente em sua época, buscando responder a perguntas tais como: - Sob quais condições o homem inventou os juízos de valor contidos nas palavras bem e mal? Que valores possuem tais juízos? Eles estimularam ou impediram o desenvolvimento da Humanidade até os dias atuais? São eles sinais de indigência, de empobrecimento ou de degeneração da vida humana?
Os argumentos de Nietzsche, para tais respostas, foram utilizados pelos nazistas na época da Segunda Guerra Mundial, para defender as teses de supremacia racial alemã, o que fez com que alguns leitores, com pouca leitura, considerassem erroneamente Nietzsche como um precursor do nazismo.
          Voltando, agora, ao Comportamento Politicamente Correto mencionado, vemos, na atualidade, que em tempos de comunismo ateu ou simplesmente de ateísmo puro e simples, uma nova moral está sendo aos poucos estabelecida, não mais por critérios de ordem religiosa, mas por critérios de ordem política; até porque, o grande poder de que sempre dispuseram as religiões tem sido substancialmente reduzido, principalmente naqueles países, como o nosso, onde a governos de tendência marxista assumiram o comando, já há algum tempo, e o Estado se diz laico. Por detrás da criação desta nova moral do Politicamente Correto, como também da Contracultura, está, acreditem ou não, o Comunismo, que, como pai desnaturado, utilizando-se das técnicas desenvolvidas por Antonio Gramsci (fundador e secretário-geral do Partido Comunista Italiano) e fazendo uso da inversão do senso comum, busca promover uma transvaloração dos valores morais vigentes na nossa cultura, valores estes originários das culturas grega, romana e semita, que deram identidade ao ocidente.
Por intermédio da transvaloração dos valores vigentes (conforme mencionado por Nietzsche em sua obra citada; ou seja, fazendo com que o indivíduo passe a acreditar que o mal é um bem, que o vício é uma virtude e que esta é uma coisa viciosa); o que, sem dúvida alguma, através de técnicas Gramscistas já vem ocorrendo desde algum tempo (proporcionado pelas Mídias nativa e internacional), através da Contracultura e do incentivo e da divulgação do denominado ‘Comportamento Politicamente Correto’, comportamento este que tenderia a substituir a moral ocidental tradicional por uma nova moral, estabelecida esta, agora, não mais pela Cultura e pela Religião, mas, sim, pela Política.
           Assim, a mesma transvaloração de valores apontada por Nietzsche, com respeito à substituição da moral natural primitiva das classes dominantes pela moral religiosa que beneficiaria os dominados, sem dúvida, estaria ocorrendo com respeito a propagação daquilo que está sendo considerado como Comportamento Politicamente Correto, em tempos de uma nova ordem moral sendo implantada pelo Comunismo Ateu. Como exemplo, vemos que a Mídia, sustentada por verbas públicas e comprometida com os detentores do poder, nacional e internacional, não cansa de destacar e incentivar comportamentos considerados imorais (contrários aos bons costumes tradicionais) e amorais (afastados de quaisquer preocupações de ordem moral), vis a vis aqueles estabelecidos com base na moral tradicional estabelecida pela religião. No presente, muitos vícios já são considerados virtudes e muitas virtudes consideradas vícios. Leis são feitas para proteger ou acobertar comportamentos viciosos ou, até mesmo, criminosos. Muitos comportamentos imorais, antiéticos, delituosos ou criminosos já são tolerados ou aceitos pelas pessoas comuns, pouco faltando para que sejam considerados comportamentos normais. No caso brasileiro, muitos intelectuais, empresários e militares, membros estes de uma elite patriótica e voltada para o nosso desenvolvimento sócio-econômico em bases democráticas e capitalistas, já começam a ter receio de se expressar ou de proceder de maneira considerada politicamente incorreta, temerosos de alguma represália ou, até mesmo, por acreditarem, já influenciados pela Mídia, que esta maneira de se expressar ou de proceder é realmente errada (igualmente como chegaram a acreditar os senhores da antiguidade, quando da substituição de sua moral, natural e primitiva, pela moral religiosa, segundo afirmava Nietzsche). Como bem destacou aquele filósofo, através da transvaloração dos valores morais, o bem pode passar a ser considerado como um mal e este passar a ser considerado como um bem, por aqueles que conseguem ver os seus novos conceitos de moral vitoriosos, implantados e aceitos.
Finalmente, em razão de termos mencionado, no título deste ensaio, que a Contracultura e o Comportamento Politicamente Correto eram filhos pródigos, cumpre destacar o motivo desta afirmação. O vocábulo pródigo significa extravagante, desperdiçador e foi utilizado por Lucas (15:11-32), em seu evangelho, para relatar uma parábola de Jesus na qual o filho mais novo de um casal, após haver perdido a sua fortuna, voltava para casa e se arrependia de seu procedimento.  Isto, com certeza, é o que aconteceu com a maioria daqueles jovens que participaram dos movimentos de Contracultura das últimas décadas e, certamente, acontecerá também com aqueles adeptos do atual Comportamento Politicamente Correto. Afinal, como já disse alguém: - “Por trás de todo jovem comunista, que não mora em país comunista, tem sempre um pai burguês, capitalista, que paga pontualmente as suas contas...”


_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Publicado na Revista da Aeronáutica nº 293. Rio de Janeiro, RJ.

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