4. Afinal, de onde vêm as nossas idéias?
Jober Rocha*
Desde os tempos de Arquimedes (filósofo e cientista grego – 287 a.C/212 a.C) a palavra grega Eureka (encontrei, descobri) está associada ao fato de haver surgido uma ideia na mente de um ser humano; já que, tal palavra passou a fazer parte da História ao ser pronunciada pelo referido filósofo quando encontrou, durante o banho, a solução para uma de suas formulações científicas.
Ao longo da História Humana, diversos filósofos ocuparam-se em tentar explicar como surgiam as idéias nas mentes dos indivíduos. Platão, talvez, tenha sido o primeiro deles, ao afirmar na sua ‘Teoria das Idéias’ que o mundo dos sentidos (real) era apenas uma cópia do mundo das idéias (ideal). A existência do mundo das idéias, segundo ele, era baseada em uma prova de ordem lógica e outra de ordem ontológica. A prova lógica surgia da necessidade da Ciência encontrar seu objeto; isto é, o mundo inteligível das idéias. A prova ontológica surgia do fato de que o mundo dos sentidos pedia a existência do mundo ideal, como sombra da realidade.
Inúmeros outros filósofos analisaram o assunto, como: Tomás de Aquino, Thomas Hobbes, René Descartes, John Locke, George Berkeley, David Hume, Wilhelm Wundt, Immanuel Kant, Friedrich Hegel, George Frederick Stout e James Mark Baldwin; entretanto não entraremos nas particularidades do posicionamento de cada um deles. Muitos deles divergiam apenas em detalhes, uns dos outros. A definição de Stout e Baldwin, dois destes filósofos, em ‘Dictionary of Philosophy and Psychology’ é a de que a ideia consiste na reprodução, através de uma imagem mais ou menos adequada, de um objeto que na realidade não está presente nos sentidos.
Para James Webb Young, em sua obra recente ‘A Technique for Producing Ideas’, a produção de idéias é um processo similar ao de uma linha de montagem em qualquer processo produtivo e segue regras que podem ser aprendidas e aperfeiçoadas pela prática diária. Segundo ele, existiriam dois princípios para se ter uma ideia: a combinação de elementos pré-existentes em nossas mentes (memórias, imagens, sons, aromas e odores, sensações, gostos, etc.) e a habilidade de perceber relações entre estes elementos já existentes, seja entre eles mesmos seja com novos elementos.
Assim, a procura de conexões entre fatos, presentes e passados, torna-se um hábito relevante para a produção de idéias. James Young apresenta seis passos, fundamentais, para que se produza uma ideia que possa ser desenvolvida com êxito: a formulação do desafio; a obtenção de matéria prima sobre esta formulação (coleta de dados e informações sobre o assunto); o processamento desta matéria prima (leitura, análise e comparações); a incubação (trabalho da mente, quase sempre inconsciente e demorado, objetivando uma síntese de tudo aquilo já assimilado); o nascimento da ideia, propriamente dito, quando, em razão das etapas anteriores e como que em um passe de mágica, a idéia se cristalizaria; o desenvolvimento da ideia (quando se avaliaria a ideia cristalizada segundo critérios de viabilidade, praticidade, utilidade, economicidade, legalidade, etc.). A partir de então, esta idéia poderia ser trabalhada de forma prática e objetiva, visando torná-la real.
Steven Johnson, em seu recente livro ‘De onde vêm as boas idéias’, destaca que: para surgirem boas idéias o nosso cérebro precisa estar em razoáveis condições físicas e de atenção; precisamos estimular a associação de idéias com o mesmo empenho com que as protegemos; e, também, que o acaso favorece as mentes conectadas; isto é, atentas.
Vê-se, assim, que existiriam condições básicas para que as idéias fossem geradas e algumas dessas condições deveriam ser providenciadas por nós mesmos, independentemente do acaso que as favoreceria.
Nota-se, daquilo até agora visto, que existiriam padrões recorrentes, relativamente à criatividade e à inovação. As idéias, quase sempre, levam tempo para se cristalizarem, ficando hibernadas ou incubadas até despontarem em nossas mentes. Muitas vezes, o elo que nos faltava para combinar e misturar com os elementos pré-existentes, na mente, é fornecido por algum palpite ou comentário de terceiros. Em outras ocasiões a solução para determinado problema que nos aflige (ou a peça que faltava naquele quebra-cabeça) se apresenta enquanto caminhamos pelo campo os pelas ruas da cidade ou, mesmo, durante algum sonho.
Por outro lado, teorias modernas, como a parapsicologia, afirmam que a telepatia (definida como a habilidade de adquirir informação acerca dos pensamentos, sentimentos ou atividades de outro ser consciente) é uma realidade e, portanto, idéias alheias poderiam ser eventualmente captadas inconscientemente e consideradas como idéias próprias. Da mesma forma, novas teorias informam que existe uma memória genética, transmitida através do DNA dos indivíduos. Assim, todos nós contaríamos, em nosso ser, com memórias de ocorrências que não foram por nós mesmos vivenciadas, mas, sim, vivenciadas por nossos antepassados. A ideia que nos ocorre hoje, também, pode se constituir em um plágio de algo, por nós, visto no passado e esquecido nas profundezas da mente, para somente acordar após haverem transcorridos vários anos, como uma idéia nova gestada em nossa própria mente. Modernas teorias, que falam em programação genética, argumentam que a origem dos seres humanos foi fruto de modificações genéticas e de cruzamentos de espécies animais, surgidas no planeta, com espécies alienígenas inteligentes. Estes cruzamentos e estas modificações teriam dado origem ao homem. A programação genética, embutida em seu DNA e em suas células, preveria a evolução física e mental do mesmo e, portanto, algumas idéias importantes que em determinadas épocas surgiram já fariam parte desta programação e teriam ocorrido em razão dela.
Embora a intuição seja uma forma de conhecimento que se encontra no íntimo de todos nós e que nos faz acreditar com determinação em alguma coisa, o seu funcionamento e a sua existência ainda constituem enigmas para a Ciência. Algumas religiões, seitas ou crenças destacam esta como sendo uma ligação existente entre os seres humanos e suas próprias almas ou com outros seres espirituais de dimensões diferentes da nossa. Através da intuição, segundo estas crenças, receberíamos mensagens oriundas do nosso próprio espírito encarnado ou destes seres espirituais, mensagens estas indicativas ou sugestivas de escolhas que deveríamos fazer na vida diária, de acordo com um Determinismo Divino, pré-programado antes de encarnarmos e, por nós, aceito quando ainda estávamos sob a forma espiritual. Estas intuições, consideradas muitas vezes como idéias que nos ocorreriam, seriam, assim, mensagens de alerta (de nosso próprio espírito encarnado ou de outros espíritos oriundos de diferentes dimensões) percebidas por nós e que se refeririam aos rumos que deveríamos tomar com respeito a importantes decisões. Alguns consideram que determinadas idéias, científicas, filosóficas, religiosas ou artísticas, por serem de tamanha importância e magnitude para o gênero humano (chegando mesmo, muitas vezes, até a influenciar os rumos da vida na face do planeta), só puderam ter sido inculcadas na mente dos indivíduos pelo Criador de Todas as Coisas. Teríamos assim, como exemplo, as teorias desenvolvidas por Einstein; as sinfonias de Chopin, de Beethoven e de Mozart, as filosofias de Platão, de Espinosa e de Nietzsche e os ensinamentos de Buda e de Jesus Cristo; em suma, todas as grandes obras humanas teriam sido edificadas sob a inspiração divina.
Como já percebido pelos leitores, a denominada Teoria das Idéias ainda não está totalmente concluída, faltando muito para que entendamos, realmente, a razão e o processo que faz com que estas cheguem até as nossas mentes. O poeta Mario Quintana, se não me falha a memória, teria expressado nestes filosóficos versos, o seu ponto de vista a respeito deste assunto:
Por isto mesmo... é tua!
O autor, só vestiu aquela verdade,
Que estava inteiramente nua!
_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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