195. É Fake!
Jober Rocha*
Segundo os dicionários, o vocábulo fake (falso) é um termo usado para denominar contas ou perfis usados na Internet, de modo a ocultar a identidade real de um usuário, para protegê-lo de Spams (um dos maiores problemas atuais da comunicação eletrônica, que é sinônimo de lixo eletrônico e designa mensagens de correio eletrônico com fins publicitários. O termo, no entanto, pode ser aplicado a mensagens enviadas por outros meios e, geralmente, os Spams têm caráter apelativo, na maioria das vezes sendo incômodos e inconvenientes) ou, simplesmente, para poder enviar matérias e fazer comentários, evitando que os demais navegantes conheçam a sua verdadeira identidade. Para isso, são usadas as identidades falsas de pessoas famosas, como cantores, personagens de cinema ou, até mesmo, os perfis de pessoas comuns.
Arquivos fake, por sua vez, são documentos, filmes, programas, etc., que o usuário baixa ou que recebe de sites específicos ou das redes sociais e cujo conteúdo, por ser mentiroso, não corresponde àquele que foi divulgado e pretendido pelo usuário.
O Fake, como a corrupção, prejudica a todos, inclusive aqueles que o praticam. Quando ninguém mais conseguir distinguir a verdade da mentira, os próprios mentirosos já não saberão no que, ou em quem, acreditar. Da mesma forma, se todos exigirem propina para fazer os seus misteres, todos acabarão pagando propina a todos, aumentando os custos de uma maneira geral e gerando inflação.
Quem se utiliza das redes sociais, na atualidade, encontra-se, praticamente, desprotegido com relação aos fakes. Diariamente são produzidas matérias inverídicas, com objetivos vários, que, divulgadas e reproduzidas, atingem milhões de internautas através da WEB.
Embora existam algumas indicações que circulam entre os usuários, acerca de quais perfis sejam divulgadores contumazes de notícias falsas, nem todos têm notícia da existência de tais perfis. Mesmo assim, nem todas as notícias divulgadas por estes perfis são falsas. Por outro lado, perfis novos e desconhecidos também podem estar divulgando falsidades, que são reproduzidas e repassadas para milhões de usuários.
Atualmente dois bilhões e quatrocentos e sessenta milhões de usuários se utilizam das redes sociais no mundo. No ano de 2021 estão previstos cerca de três bilhões. Só no Brasil, o maior usuário da América Latina, são noventa e três milhões de internautas/mês.
Governos, organizações privadas, institutos de pesquisa, organizações não governamentais, agências de inteligência, etc., frequentemente, divulgam falsidades, seja para acobertar fatos passados, seja para prevenir-se contra repercussões futuras de ações presentes, em uma atividade de planejamento estratégico, seja em atividades de contra-informação, etc.
As redes possuem alguns mecanismos de controle, voltados para matérias envolvendo pornografia, racismo e terrorismo. Porém, para evitar a divulgação e a propagação de mentiras, é muito difícil desenvolver mecanismo eficaz, que as impeça de circularem pelas redes. Creio que o único mecanismo eficaz, que impedirá a inviabilidade futura das redes (quando, então, só serão veiculadas notícias falsas), será a inclusão dos fakes no código Penal, com o estabelecimento de multas e pesadas penas para os produtores de matérias mentirosas divulgadas na WEB.
Ocorre, ainda, que matérias verdadeiras postadas nas redes, algumas vezes são taxadas de fakes por aqueles que têm seus interesses contrariados. Cria-se, assim, um circulo vicioso onde já ninguém mais sabe distinguir a verdade da mentira.
Na era digital são tantos os programas, os artifícios de montagem e os equipamentos eletrônicos disponíveis, que podem ser elaboradas fotos e filmes, totalmente, falsos, sem que possamos afirmar com segurança se são verdadeiros ou não, na ausência de perícia técnica. É o caso, por exemplo, das fotos e dos filmes sobre objetos voadores não identificados, os chamados OVNIS ou UFOS.
Da mesma forma, documentos timbrados, carimbados e assinados por autoridades, podem ser forjados eletronicamente e divulgados como sendo verdadeiros.
Ao mesmo tempo em que a era eletrônica e digital veio trazer enorme progresso nas comunicações, veio, também, aumentar as possibilidades de fraudes. A regra geral, nos dias atuais, é: não acredite em nada do que vê, do que lê ou do que ouve. Desconfie de tudo aquilo que chega até você através da Mídia e da WEB.
Talvez, uma eventual solução para o futuro seja a criação de empresas certificadoras encarregadas de analisar e de certificar, previa e obrigatoriamente, a veracidade de todas as matérias que serão veiculadas nas redes sociais; todavia, com isto, perder-se-ia a oportunidade da notícia e o ‘timing’ de quem a desejava postar.
Não imagino como as autoridades resolverão, a contento, um problema de tal magnitude, mormente ao se levar em conta a importância das redes sociais, pelo seu potencial quanto à rapidez e ao alcance da disseminação de informações.
Já ultrapassamos o ano de 1984, data prevista pelo escritor George Orwell, em 1949, para que a sociedade fosse toda controlada e onde ‘O Grande Irmão está te observando’ (The Big Brother is Watching You) era uma frase do autor, em sua obra, que conotaria, especificamente, a vigilância invasiva e freqüente a que todos nós, cidadãos do planeta, estaríamos submetidos naquela data futura.
Ocorre que, hoje em dia, toda a matéria postada na WEB, incluindo textos, fotos, vídeos e som, é gravada indelevelmente e passa a fazer parte das informações e do registro de atividades relativos ao internauta; daí que o ‘establishment’ (a ordem ideológica, econômica, política e legal, que constitui uma sociedade ou um Estado), interno e externo, também têm necessidade das redes sociais, tanto quanto os usuários, para se informar e pesquisar acerca de pessoas, famílias, grupos, raças, países e assuntos. Também o ‘establishment’ é prejudicado com a implantação de perfis falsos e a divulgação de fakes, que não sejam aqueles por ele próprio plantados.
Imagino que, muito em breve, uma solução será encontrada para resolver este assunto; solução esta que continuará permitindo que o 'Grande Irmão' nos controle a todos, sem que, em contrapartida, seja também controlado por alguns humanos, mais espertos e produtores de fakes.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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