187. Opções Erradas**
Jober Rocha*
Durante muitos anos as elites nacionais têm sido insensíveis aos reclamos populares por uma distribuição de renda mais equitativa, segundo penso.
Os índices de Gini (consistindo estes em instrumentos para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo ou população, apontando a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos e, numericamente, variando de zero – pouca - a um - muita), calculados pelos economistas brasileiros, sempre estiveram em torno de 0,5, demonstrando uma acentuada concentração de renda. Em 1960 era de 0,535 e em 2016 de 0,549. Isso evidencia que a concentração de renda no país manteve-se, praticamente, a mesma nos últimos sessenta anos.
Estudo recente do IBGE evidenciou que 1% dos brasileiros ganham 36,1 vezes mais do que aqueles com menores salários. Este 1% ganhou R$ 27,2 mil por mês, enquanto o rendimento dos mais pobres é de R$ 754,00. Se a distribuição de renda aqui fosse igualitária, cada brasileiro receberia cerca de R$ 2,1 mil por mês.
Estudo recente do IBGE evidenciou que 1% dos brasileiros ganham 36,1 vezes mais do que aqueles com menores salários. Este 1% ganhou R$ 27,2 mil por mês, enquanto o rendimento dos mais pobres é de R$ 754,00. Se a distribuição de renda aqui fosse igualitária, cada brasileiro receberia cerca de R$ 2,1 mil por mês.
No início da década de 1970 eu me encontrava residindo na Espanha e pude constatar que todas as pessoas que conhecia naquele país, ganhavam quase a mesma quantia, mensalmente; variando esta entre 15.000 a 25.000 pesetas (1 U$ = 54 pesetas).
Professores universitários, médicos, economistas, engenheiros, guardas civis, bancários, empregados domésticos, comerciários, etc., todos eles ganhavam salários nesta faixa de renda.
Neste contexto de distribuição de renda, não se percebia, na Espanha de então, nenhuma tensão social resultante da convivência, em um mesmo lugar, de pessoas miseráveis, pobres, remediadas e ricas. Na realidade, não se percebia os extremos, pois todos pareciam possuir o mesmo padrão de vida.
Entretanto, no Brasil daquela época as favelas estavam se formando nos morros e nas periferias das cidades; enquanto determinado Ministro da Fazenda dizia que era preciso, primeiro, fazer o bolo crescer, para depois distribuí-lo com todos os brasileiros.
Ocorre que o bolo cresceu, tornaram a fazer outro e inúmeros outros, desde então, sucessivamente, sem que o povo, jamais, saboreasse um pedaço sequer destes bolos.
O ministro citado, recentemente esteve envolvido em inquérito policial que apurou desvios de verbas públicas. Talvez ele já estivesse desviando recursos desde aquele tempo; isto é, apropriando-se dos bolos que não lhe pertenciam e deixando para trás de seus inúmeros cargos na Administração Pública, uma legião de pobres e miseráveis, que hoje povoam as periferias dos grandes centros urbanos, no meio das quais existem verdadeiros exércitos que vivem do crime em suas várias modalidades: trafico de drogas, roubo de cargas, contrabando de armas e de munições, roubo de bancos, assaltos, roubo de veículos, etc. etc. etc.
Estes exércitos não invadiram as áreas onde atuam, vindo de outras regiões ou de outros países; mas, são originários das próprias áreas onde vivem (muitas destas áreas já consideradas como liberadas e onde o governo já não possui mais autoridade). Tais exércitos do crime são, em última análise, produtos do descaso dos poderes públicos e das elites nacionais, que sempre elegeram e comandaram os nossos políticos e os governantes dos Estados da Federação e jamais se preocuparam com o bem estar das populações; mas, apenas, com os seus próprios interesses pessoais.
Em todos estes anos de descaso, sem nenhuma preocupação com o planejamento das atividades destinadas a resolver de forma satisfatória o problema do êxodo rural (motivado pela concentração das terras agrícolas nas mãos de poucos proprietários, voltados para as culturas de exportação que absorvem pouca mão de obra), as autoridades governamentais permitiram que as favelas, em condições subumanas, se proliferassem ao redor das cidades e sem contar com serviços de saneamento, de abastecimento de água, de coleta de lixo, de habitações decentes, etc.
No Rio de Janeiro, a maior parte destas favelas se localizou nos morros ao redor da cidade, pontos estratégicos de difícil acesso para ações de combate ao crime. Evidentemente, em pouco tempo, favelas pacíficas foram tomadas de assalto por bandos de criminosos que estabeleceram ali seus quartéis generais. Mais tarde, tendo se politizado através de contatos nas prisões com os guerrilheiros que combateram o Movimento Militar de 1964, estes bandos se transformaram em facções criminosas.
Com o fim do Regime Militar e a transição para um governo civil, com a realização de eleições livres, muitos opositores ao regime militar, inclusive diversos guerrilheiros que haviam sido presos, foram eleitos para a câmara e para o senado, além de para outros cargos políticos, inclusive para a presidência da república. A maioria deles se elegeu por partidos de esquerda. Teve início, então, um desmantelamento do Estado e das suas instituições, com vistas a implantação de um governo comunista no país, ao mesmo tempo em que o estado era aparelhado com pessoas oriundas e filiadas a estes partidos de esquerda.
Como sempre ocorre, buscando a implantação desse novo regime comunista, a esquerda se aliou (talvez de passagem e inspirada nas Farc da Colômbia) a estas facções criminosas e tentou sufocar o desenvolvimento das forças armadas através do corte de suas verbas orçamentárias destinadas ao custeio de suas atividades e aos investimentos.
Por outro lado, para fortalecer os governos de esquerda no continente, o governo federal emprestou recursos (que hoje fazem falta ao nosso país) para obras em diversos países sul-americanos (Peru, Bolívia, Nicarágua, Venezuela, Panamá, Equador, Cuba) que adotaram o chamado bolivarianísmo ou socialismo bolivariano como forma de governo e alguns países africanos (Angola e Moçambique). Pelo menos um destes países não honrou seus compromissos e deixou de amortizar suas dívidas vencidas com o Brasil.
A denominada Operação Lava a Jato, que mobilizou a atenção do país nos últimos anos, deixou bem claro que uma parte das nossas elites e de nossos políticos selou, desde há muito, uma aliança mafiosa destinada a desviar recursos públicos, recursos estes que poderiam minorar a situação de carência dos habitantes das periferias de nossas cidades; mas, que acabam engordando as contas bancárias de executivos, de políticos e de empresários em paraísos fiscais fora do Brasil.
Os recursos públicos desviados, ao serem utilizados através do sistema de caixa dois para pagar propinas a políticos e membros do executivo, movimentam uma engrenagem que envolve também a remessa ilegal de dinheiro para fora do país; como ainda alimentando o tráfico de drogas, de armas e o contrabando. Tudo isto se acha interligado através da remessa ilegal de dinheiro para fora do país, razão pela qual é muito difícil acabar com o crime no Brasil.
O bolo sempre cresceu fruto do trabalho popular, mas quem o saboreou, desde então, foram as nossas elites venais, empresariais e políticas.
O montante que tem sido desviado daria para equacionar nossos principais problemas de segurança, de saúde, de saneamento, de educação, de transporte e de infra-estrutura, proporcionando uma vida normal e razoável para as populações periféricas e impedindo a proliferação do crime; para o qual inúmeros jovens da periferia se encaminham por total ausência de trabalho honesto e por falta de instrução, em virtude da falência do Estado, decorrente de ações criminosas de corrupção e de políticas econômicas erradas, que, praticamente, faliram o governo federal e os Estados da Federação.
O déficit orçamentário federal é da ordem de duzentos bilhões de reais, ainda não equacionado. Os Estados não pagam em dia os professores, os policiais, os médicos e demais servidores, em virtude da total carência de recursos.
Enquanto isto, nenhuma mordomia foi cortada nos três poderes da república, visando reduzir as despesas do governo: carros oficiais com motoristas, casas funcionais, auxílios creche, auxílios moradia, verbas de representação, planos de saúde no país e no exterior, passagens aéreas e diárias, verbas de gabinete, etc. etc. etc. Os únicos chamados a dar sua contribuição para a salvação nacional, como sempre, foram os trabalhadores.
Estas elites venais têm sido tão hábeis que, através do aparelhamento das instituições do Estado, criaram raízes nos poderes da república, impeditivas para que sejam investigadas, processadas, condenadas e punidas por seus crimes; crimes estes que deveriam ser imprescritíveis por possuírem caráter hediondo e por serem praticados contra a humanidade; isto é, contra populações inteiras.
Depois de anos de descaso e inércia, frente à recente escalada de violência em todas as capitais do país, notadamente no Rio de Janeiro, as autoridades ensaiaram medidas paliativas, como é bem típico dos brasileiros. Colocaram as forças armadas nas ruas do Rio, sem, antes, dar-lhes o total poder de polícia para enfrentar o inimigo com que se defrontariam, isto é, os criminosos.
Ocorre que o crime não está, apenas, nas periferias pobres das cidades. Ele está, também e principalmente, nos palácios, nos gabinetes e nas salas de reunião da capital federal e dos Estados da Federação. Nestes locais, muitas vezes, são tramados golpes e maquinadas operações de engenharia financeira, destinados a desviar milhões, senão bilhões, de reais dos cofres públicos.
Sem uma ação global que abarque todos os principais criminosos, notadamente aqueles envolvidos com a produção e o trafico de drogas e com a corrupção, nada irá mudar no nosso país.
As grandes capitais brasileiras, notadamente o Rio de Janeiro, encontram-se superpovoadas e, tendo sido mal planejadas e mal administradas, estão sempre com o trânsito engarrafado fazendo com que seus habitantes percam horas no deslocamento de suas casas para o trabalho. Diversas epidemias, cujas transmissões se dão pelo vetor mosquito, assolam estas capitais vitimando seus habitantes: dengue, chikungunya, zika, febre amarela (foram cerca de 328 mortes no país, neste ano), sarampo, gripe, denotando falta de planejamento e de recursos, com respeito ao controle de vetores e de epidemias.
Enfim, este é o Brasil de nossos dias, fruto de sucessivos governos comandados por pessoas mal preparadas e mal intencionadas que, como dizia um ex-jogador de futebol falando de si mesmo, sempre pensaram em levar vantagem em tudo o que faziam.
Enganam-se as elites que imaginam poder saquear impunemente um país, deixando a míngua a sua população. As elites dos países desenvolvidos perceberam cedo que seus futuros como potências mundiais dependiam de um povo instruído e com padrão de vida elevado. Nossas elites ainda não se deram conta disto, mantendo o mesmo comportamento dos antigos colonizadores, que vinham ao país apenas para explorá-lo economicamente e, em seguida, retornar para a metrópole, onde viviam nababescamente com aquilo que daqui espoliavam.
O estado de decadência econômica, moral e de costumes em que nos encontramos é fruto destes sucessivos governos comandados por pessoas despreparadas e despreocupadas com o nosso destino de país, a tal ponto que o estão inviabilizando. Diariamente estamos perdendo posições que já havíamos alcançado, há tempos, no Concerto das Nações. Perdemos posições em Educação, em Saúde, em Segurança, em Saneamento, no Comércio Exterior, Financeira e Economicamente.
Como solução para estas opções erradas que têm sido feitas pelas elites brasileiras (posto que, o povo trabalhador não tem nenhuma culpa sobre o que de errado aqui ocorre; já que é conduzido a pensar da forma como as elites desejam), não creio que baste a simples troca de pessoas e de partidos no poder, seja qual for a bandeira que eventualmente desfraldem.
Seria necessária uma mudança de consciência dos brasileiros, que os levasse a não mais aceitar serem governados por pessoas incompetentes e mal intencionadas; a irem para as ruas, unidos, reclamar por seus direitos violados; a boicotarem produtos, atividades e serviços que fossem lesivos aos interesses da população e que visassem, apenas, distraí-los e aliená-los dos problemas nacionais e de suas más condições de vida; em suma, que se tornassem mais politizados, mais instruídos, mais conscientes e menos crédulos e submissos. As redes sociais possuem importante papel para que se possa alcançar estes objetivos.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Ensaio.
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