quarta-feira, 11 de abril de 2018


188. Nós e Eles



Jober Rocha*



                                           A ideologia que tem exercido a sua influência nos governos brasileiros desde o início dos anos 2.000, sempre procurou incentivar a polarização e a divisão da nossa gente entre categorias ou classes: os ricos e os pobres; os negros e os brancos; os comunistas e os capitalistas; os liberais e os conservadores; os democratas e os ditatoriais; os civis e os militares; os nordestinos e os sulistas; os heterossexuais e os homossexuais; os religiosos e os ateus. 
                                                              A ênfase acentuada no estabelecimento de todas estas diversidades (que existem de fato em qualquer sociedade) teria por objetivo, em nosso país, separar os brasileiros ao invés de uni-los e, também, de dar um fim aos sentimentos de coesão nacional, de nacionalidade e de patriotismo; notadamente por se tratar de uma ideologia internacionalista que objetiva alcançar o poder em todos os países do mundo. 
                                                             Quanto mais fraca a coesão nacional, quanto menos orgulho de sua nacionalidade, quanto menos patriotismo os indivíduos tenham, mais fácil se torna a penetração desta ideologia em suas mentes. Muitas situações são artificialmente criadas para que os brasileiros envergonhem-se de sua nacionalidade e sejam menos patriotas. Com isto desnacionalizam-se setores da economia, vendem-se terras e patrimônios nacionais à empresas e países estrangeiros, sem nenhuma contestação por parte dos cidadãos brasileiros.
                                                     Considerando que nos países capitalistas desenvolvidos, em que o povo possui alto grau de escolaridade e elevado nível de renda, esta ideologia a que me refiro não encontrava mais respaldo popular, seus ideólogos voltaram-se para os países subdesenvolvidos da África, da América e da Ásia, onde populações pobres e com baixo nível de escolaridade seriam, sem dúvida, suscetíveis a falsa propaganda da Utopia terrestre; isto é, de uma sociedade ideal, igualitária, onde todos seriam felizes e prósperos.
                                                             Com isto, deu-se o início, no nosso país, tanto a aplicação do chamado 'comportamento politicamente correto' (quando se produziu uma transvaloração de valores, fazendo com que a moral, tradicionalmente, ditada por valores religiosos, passasse a ser ditada por considerações de ordem política), quanto ao surgimento do sentimento do Eu e do Eles; isto é, do ‘salve-se quem puder’, primeiro eu e depois os demais. Talvez por isso mesmo, uma grande parte dos militantes do partido no governo dedicou-se a apropriação indevida dos recursos públicos; pois, ao confrontarem-se entre as suas próprias carências e a dos demais brasileiros, optaram por satisfazer as suas em primeiro lugar.
                                                            Ocorre que depois de transcorridos vários anos destes governos, o povo brasileiro honesto, cumpridor de suas obrigações e pagador de impostos, deu-se conta de que havia sido enganado com falsas promessas. A Utopia continuava, para o povo, sendo uma utopia; embora para os militantes do partido no poder já fosse uma realidade. Muitos destes já tinham adquirido mansões, vários carros, aviões, fazendas, empresas, gordos salários, contas no exterior, etc.; em suma, já estavam vivendo na chamada Utopia, enquanto o povo continuava com as mesmas deficiências de sempre: baixos salários, carências de transporte, de saúde, de saneamento, de segurança, de educação, etc.
                                                     A maioria da população brasileira, finalmente, percebeu que as diferenças principais não eram aquelas que vinham sendo incentivadas pela ideologia no poder; mas, sim, que as diferenças importantes eram aquelas que separavam os cidadãos honestos das pessoas desonestas. 
                                                        Os primeiros cumpriam seus papéis de cidadãos em todo o território nacional, acordando cedo, trabalhando duro, pagando seus impostos, cumprindo as leis e as suas obrigações cívicas. Os segundos, muitos deles pendurados em empregos no governo, acordavam tarde, pois dispunham de alguma sinecura ou nepotismo que abonava suas faltas ou atrasos. Ao invés de trabalharem duro, transformavam seus locais de trabalho em balcões de negócio, onde vendiam de tudo, desde advocacia administrativa e empréstimos governamentais, à fundo perdido, até concessões públicas, portarias e decretos. 
                                                          Muitos deles jamais pagaram impostos, beneficiando-se de anistias, de perdões de dívidas e de renúncias fiscais do governo. Outros tantos, jamais se guiaram pelas leis ou por obrigações cívicas. A grande maioria, ainda no poder depois de uma pequena enxugada na máquina pública, beneficia-se das chamadas mordomias (casa oficial, carro com motorista, plano de saúde no país e no exterior, passagens aéreas e diárias, auxílio moradia, auxílio creche, verbas de gabinete, gratificações periódicas, etc. etc. etc.), mordomias estas que depois de implantadas jamais são retiradas, nem nas crises mais sérias como a que ora atravessamos.
                                                              Incontáveis brasileiros honestos trabalham nos hospitais do país, cumprindo plantões  que variam de 12  a  24 horas, onde auxiliam, como podem e com aquilo de que dispõem, o nosso povo enfermo e vítima do descaso das autoridades, que quando não desviam os recursos da saúde para os seus próprios bolsos o desviam para outras atividades  de menor importância ou supérfluas, como os estádios de futebol, por exemplo.
                                                              Quantos policiais não desanimam ao verem nas ruas, no dia seguinte, aqueles marginais que haviam prendido no dia anterior? E o que dizer das delegacias policiais sem material de consumo para o desempenho das atividades quotidianas e rotineiras, sem armas e munições, sem viaturas, sem um ambiente de trabalho condigno?
                                                              Quantos professores não desanimam e desistem da profissão, em razão dos baixos salários, das escolas dominadas por facções criminosas, onde a venda e o consumo de drogas corre solta e a vida dos mestres é ameaçada diariamente?
                                                                Quantos empresários trabalham duro, desde a madrugada, para conduzir seus negócios, pagando impostos escorchantes, sendo achacados por fiscais corruptos e acionados na justiça do trabalho por empregados litigantes de má fé, que só pensam em tirar-lhes o pouco que ainda resta? Ao final do mês quase nada sobra para si mesmo, depois de pagar a todos aqueles que vivem em razão do seu negócio ou da sua empresa. Muitos são obrigados a encerrar as suas atividades, em razão de tudo isto que foi dito e da crise econômica em que o país se encontra, por políticas erradas e temerárias que conduziram à falência do Estado.
                                                      Quantos militares dedicam-se, diuturnamente, ao treinamento e aprimoramento de suas atividades profissionais, infelizmente criticados e menosprezados pelos governos ideologicamente comprometidos que reduzem, anualmente, os orçamentos das forças armadas de modo intencional e objetivando enfraquecê-las para que se tornem impotentes frente a esta nova ideologia apátrida, que desejam ver implantada no país.
                                                               As nossas dificuldades e os nossos obstáculos a uma vida melhor são devidas a esta verdadeira polaridade, jamais levantada pelos governos ideologicamente comprometidos que temos tido, qual seja: os brasileiros honestos e os brasileiros desonestos. Tanto na plebe quanto nas elites existem de ambos, faltando-nos uma justiça que atue de forma idêntica nos dois casos. O que se nota é que as elites, em razão de seus privilégios e dos bons advogados com que conta, acaba, quase sempre, por escapar aos rigores das leis, que só se tornam rigorosas para a plebe.
                                                              Nada mais de brancos e negros, de ricos e pobres, de heterossexuais e de homossexuais, de direita e de esquerda, de religiosos e de ateus. Estas distinções são artificialmente criadas para esconder a principal diferença entre nós, os brasileiros; isto é, entre aqueles cidadãos trabalhadores honestos e os marginais desonestos, sejam de colarinho branco, de colarinho sujo ou mesmo descamisados. As diferenças sempre existiram e sempre irão existir em qualquer agrupamento humano, sem que devam se constituir em foco de desavenças, de conflitos e de segregações. O que, sim, deve ser objeto de segregação são os honestos dos desonestos, os virtuosos dos viciosos. O país, suas instituições, seus recursos pertencem, de direito, aos cidadãos honestos; embora possam, conjunturalmente, encontrar-se, de fato, na posse dos desonestos.
                                                             Nossas carências e dificuldades resultam de possuirmos uma classe política descompromissada com os interesses do povo e preocupada, apenas, com os seus interesses pessoais e dos grupos econômicos e políticos a que estão vinculados. Ao desviarem recursos públicos para seus próprios bolsos, grupos e partidos políticos, propiciam o surgimento de legiões de marginalizados, que acabam engrossando as fileiras do crime por absoluta falta de oportunidades de trabalho honesto, propiciado pelo desenvolvimento econômico saudável.
                                                             O nós e o eles, mencionado no título do presente texto, tem por objetivo destacar que o Brasil, pelo qual os nossos antepassados lutaram e deram as suas vidas, pertence aos cidadãos de bem e honestos e não aos marginais e foras da lei, que tem se aboletado do poder e usufruído das nossas riquezas em seus próprios benefícios.
                                                            Que sejamos iluminados nas próximas eleições deste ano e que consigamos varre-los para o lixo da História, definitivamente, de uma vez por todas.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


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