190. Sobre a importância das redes sociais**
Jober Rocha*
As redes sociais são tão importantes no mundo moderno, que um conhecido jornalista brasileiro teria declarado publicamente: - “As redes sociais são perigosas, pois os conservadores crescem com elas. O Facebook retirou parte do poder da maior rede de comunicações do país e deu esta parte a qualquer direitista que mexa em um teclado”.
Embora tendencioso e indicativo de qual seja a ideologia do declarante, o pensamento é pertinente. Realmente, as redes sociais são perigosas para ditadores de quaisquer matizes, para os pseudo-democratas envolvidos em golpes e em malversações do dinheiro público e para os governantes de regimes totalitários.
Calmamente sentado em casa ou no local do seu trabalho, em qualquer ponto do território nacional, qualquer indivíduo pode abalar os alicerces do sistema dominante com alguma notícia bombástica, algum segredo jamais revelado ou um mistério resolvido com a divulgação de fotos, filmes e reportagens investigativas acerca de ocorrências e fatos não noticiados pela grande mídia.
São razões mais do que suficientes para despertar o receio das autoridades e o pavor de elites corruptas, cujas maquinações podem vir à tona, de uma hora para a outra, através de pequena nota redigida por algum internauta ou de uma foto ou filme executados de forma não notada pelos envolvidos, sem que os suspeitos tenham conseguido sustá-las, impedindo-as de irem parar nas redes sociais e se tornarem conhecidas por milhares ou até milhões de seres humanos.
Por outro lado, até que sejam descobertos mecanismos de controle que evitem a divulgação e a conseqüente propagação de notícias inverídicas (os chamados fakes), as redes sociais continuarão mais perigosas ainda, pois reputações podem ser manchadas de forma indelével, ademais de mentiras, crendices e superstições, propaladas sem nenhuma restrição ou controle, atingirem grandes massas humanas quase que instantaneamente.
É, pois, no Facebook, no WhatsApp, no Instagram, no You Tube, no Twiter, no Printest, etc., que são travadas as atuais batalhas político-partidárias pela posse dos corações e das mentes, tentando influenciar eleitores em época de eleições. Nestas redes são lançados novos produtos, que ainda não chegaram às lojas comerciais dos bairros. Nelas, religiões e igrejas buscam atrair adeptos, com promessas de riquezas e de sucessos na vida profissional, familiar e amorosa.
Governos buscam fazer contra-informação, muitas vezes, divulgando notícias sobre um poderio militar maior do que aquele que na realidade possuem; sobre safras agrícolas maiores ou menores do que as verdadeiras, para especular com seus preços. Indústrias do setor fármaco-químico apregoam medicamentos milagrosos para a cura de várias enfermidades, medicamentos estes que, na realidade, não possuem os efeitos anunciados. Informações totalmente falsas são divulgadas por pessoas e organizações públicas e privadas, com as finalidades escusas de influenciar decisões do público ou de acobertar a verdade.
As redes sociais, que operam por intermédio da WEB e da Internet, proporcionam, sem dúvida alguma, acesso a novos conhecimentos científicos e filosóficos, ademais de fornecer informações importantes e preciosas sobre Literatura, Esportes, História, Culinária, Cultura Geral, Entretenimento, Lazer, etc. etc. etc. Permite, além disto, expandir as relações de amizade e as afetivas pelos quatro cantos do planeta. Facilita e abrevia o envio de documentos, fotos e filmes entre todos os seres humanos; permite a localização e o contato com velhos amigos e parentes distantes, cujos paradeiros eram incertos ou não sabidos.
A cada dia que passa um, sempre, crescente número de minutos diários (ou de horas) são destinados, pelos usuários das redes sociais, às consultas, às conversas amigáveis, às trocas de informações; mesmo que o acesso seja feito através de programas como o WhatsApp, operados a partir dos telefones celulares.
O nível de informação das populações, tanto para o bem quanto para o mal, foi multiplicado consideravelmente, após o surgimento das redes sociais e a massificação das notícias. Quaisquer dados ou informações obtidos podem ser imediatamente repassados para o mundo todo, através dos grupos e dos amigos individuais das redes. Ninguém e nenhum fato, passado ou presente, consegue mais se esconder, facilmente, neste pequeno planeta chamado Terra e perdido na vastidão do universo, depois da criação da WEB, da Internet e das redes sociais.
Entretanto, todas as informações postadas pelos internautas, ou que sobre eles se relacionem, são armazenadas em gigantescos bancos de dados e podem ser acessados por determinadas empresas e governos. Através das matérias postadas, e pelas mensagens e comentários por eles feitos, são elaborados perfis econômicos, educacionais, políticos e ideológicos dos usuários. Muitos países já utilizam estes perfis para conceder ou não vistos de entrada em seus territórios para os estrangeiros.
Denuncia recentemente divulgada na mídia, sobre o Facebook, indicam que os dados de 87 milhões de usuários foram compartilhados com a empresa de consultoria Cambridge Analytica. O CEO do Facebook teve que prestar declarações ao congresso norte-americano pela falha da rede social em proteger os dados privados de seus usuários. No Brasil os dados de 443 mil usuários com seus perfis foram violados.
De acordo com reportagens publicadas em jornais norte-americanos, a consultora Cambridge Analytica, que coletou e reteve estas informações, poderia usá-las para agir em eleições na Índia e no Brasil, ainda este ano.
Em razão desta denúncia iniciou-se, mundialmente, uma campanha em favor de boicote ao Facebook, incentivando os usuários a encerrarem as suas contas. As ações da empresa perderam valor nas bolsas de valores, chegando a mesma a perder cerca de US$ 60 bilhões em valor de mercado. O CEO do Facebook declarou aos congressistas que tomaria medidas adicionais para dar aos usuários um controle maior de seus dados privados. Alguns senadores norte-americanos consideram que o Facebook não age de maneira neutra, mas que exerce algum tipo de censura sobre as publicações de seus membros.
Na verdade, quase nenhum membro já parou para ler detalhadamente (com uma lente de aumento e na presença de um advogado amigo) os Termos de Uso e a Política de Privacidade, ao filiar-se a uma rede social.
Em que pese estes efeitos perversos que ocorrem nas redes, o contato diário com pessoas do mundo todo e com realidades diferentes, tende a equalizar, em todos os países e no longo prazo, costumes, modos de vida, procedimentos, direitos, deveres, exigências sociais, etc., consistindo em um efeito positivo propiciado pelas redes.
Lembro-me que a Glasnost (transparência) e a Perestroika (reestruturação), que foram medidas políticas e econômicas adotadas na ex-União Soviética, em meados da década de 1980, durante o governo de Mikhail Gorbachev, foram devidas, em grande parte, ao trabalho de aproximação entre o povo russo e o norte-americano, via satélite, levado a efeito pelos governos de ambos os países, como forma de desarmar os espíritos durante a vigência da Guerra Fria.
Pessoas se reuniam em suas comunidades, em ambos os países e, via satélite e com o auxílio de interpretes, conversavam sobre suas vidas, seus empregos, suas cidades e seus costumes.
Em pouco tempo, os russos viram que o caminho do comunismo não se podia comparar com o do capitalismo e as mudanças ocorreram céleres na antiga União Soviética. Com a utilização crescente das redes sociais deverá ocorrer o mesmo, futuramente, em todos os países.
Eu acredito que, durante a existência da espécie humana, bons costumes e virtudes, sempre, irão prevalecer sobre maus costumes e vícios (se assim não fosse, a raça humana já se teria extinguido há muito, pois vícios e virtudes acompanham o gênero humano desde a sua criação) e que os habitantes dos países mais atrasados, ao conhecerem a vida, os costumes e os direitos civis e sociais daqueles habitantes dos países mais desenvolvidos, aumentarão seus níveis de exigência e de cobrança das autoridades de seus respectivos países; a menos que estas autoridades venham a impor, futuramente, dificuldades, limitações e controles rígidos sobre a WEB e as redes sociais.
Todavia, o fato é que as empresas necessitam vender e faturar, o progresso é um acontecimento inexorável e para cada medida restritiva tomada existirá, sempre, uma contra-medida tendente a anulá-la (vejam , por exemplo, o caso da Deep Web), razão pela qual, não creio que consigam inviabilizar as redes sociais; até porque, são através delas que os organismos de informação e segurança, dos Estados onde se localizam as empresas fornecedoras destes serviços, se abastecem de parte da matéria prima que utilizam em suas análises de conjuntura sobre as pessoas e os países onde atuam.
Inúmeros algoritmos e procedimentos de coleta, processamento e análise de informações têm sido desenvolvidos por empresas de segurança e organismos de inteligência, a grande maioria deles totalmente desconhecida pelos usuários das redes sociais, buscando prever e adiantar-se a eventuais ações de cunho terrorista ou criminosas, de um modo geral.
No Brasil recente, foi através das redes sociais que a população tomou conhecimento acerca dos desmandos e atos de corrupção, ativa e passiva, realizados por políticos, empresários e membros do executivo e de empresas estatais. A grande imprensa, de início, silenciou sobre o assunto.
A divulgação das ações policiais, das providências do Ministério Público e dmedidas tomadas pelo Juiz Sérgio Moro, através das redes sociais, mantiveram o povo informado e não deixaram o assunto cair no esquecimento. Da mesma forma, através das redes sociais políticos continuam a ser denunciados por desmandos e atos lesivos aos interesses nacionais. Através delas juristas, militares, cientistas, comentaristas políticos, filósofos e gente do povo dão as suas opiniões sobre os principais assuntos em pauta. Por intermédio delas são marcadas passeatas de protesto, greves, panelaços e eventos cívicos.
O fato é que não saberíamos mais passar sem a consulta diária às redes sociais. O único óbice a lamentar é que elas estabeleçam um número máximo de amigos que cada perfil pode ter e que, no Facebook, é da ordem de cinco mil.
Entre os prós e os contras, fico com os prós. Os integrantes das redes podem usufruir de todas as vantagens de a elas pertencerem, minimizando as desvantagens. Basta, para tanto, que tenham cuidado com as informações que divulgam, evitando publicar noticias e fazer comentários falsos ou ofensivos, que possam, eventualmente, gerar processos cíveis e criminais aos seus autores. Que evitem divulgar publicamente informações sobre suas vidas pessoais (endereços, telefones, locais de trabalho, nomes de familiares, etc.). Que sejam sempre desconfiados com relação a usuários desconhecidos, que solicitam amizade e cujos perfis, quando pesquisados, não mencionem amigos e nem matérias postadas anteriormente.
Finalizando, se você leitor é uma pessoa do bem, que não está envolvida com ações criminosas ou sediciosas; se ama a vida, busca a amizade e sente amor pelo próximo; se tem sede de conhecimentos e se deseja contribuir para o aperfeiçoamento humano e o progresso individual e coletivo do seu povo, só terá a ganhar filiando-se e acessando com frequência uma rede social.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Ensaio.
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