segunda-feira, 30 de abril de 2018




198. Um  autor a procura de um personagem**


Jober Rocha*


                                        De tanto elaborar manuais técnicos para a repartição onde sofri e penei por mais de trinta anos, acabei desenvolvendo certo gosto por escrever. Tanto é assim que antes de me aposentar, nas horas passadas em casa, longe da Seção na qual dava expediente, minha única distração era rascunhar pequenos contos ou estórias em que a imaginação, vagando por lugares distantes e inter-relacionando épocas, locais e personagens, permitia manter meu pensamento alheio aos assuntos maçantes daquele local em que trabalhava.
                                                        Naquela bela manhã de sol, meses depois de haver me aposentado, resolvi dar um passeio de ônibus pela cidade do Rio de Janeiro. Buscava inspiração para um romance envolvendo amor, sexo e violência, que havia começado a escrever na véspera.
                                                     Na noite anterior tinha trabalhado até altas horas, esquematizando o roteiro do romance; porém, faltava-me inspiração para vários personagens, dentre eles o principal. Por mais que tentasse não conseguia visualizar alguém adequado em quem me inspirar, nem desenvolver seu papel ao longo de toda a trama da estória. Ao contrario do escritor Luigi Pirandello, que escreveu a obra “Seis Personagens a Procura de um Autor”, eu era um autor a procura de personagens, dentre eles o principal que era o que me fazia mais falta naquela ocasião.
                                                Segundo minha concepção este personagem principal deveria ser um tipo violento e belicoso, capaz de amar e odiar com a mesma intensidade. Sua principal fonte de interesse seria o sexo, podendo até, eventualmente, vir a demonstrar amor por alguém ou chegar a se apaixonar.
                                                   Assim, sai naquele dia com o único objetivo de descansar a mente da estafante noite anterior. Após o café da manhã me dirigi, caminhando despreocupadamente, ao ponto de ônibus situado na rua em frente à minha residência. Embarcando no coletivo, sentei-me em um banco próximo à janela e pus-me a apreciar a vista do bairro. Após percorrer várias ruas secundárias o ônibus entrou na via principal, toda ela dedicada ao comércio varejista.
                                                Varias lojas de artigos diversos alternavam-se em ambos os lados da via. Em multidão, as pessoas esbarravam-se pelas calçadas. Pensei, na ocasião, como a sociedade humana assemelhava-se a um verdadeiro formigueiro; cada qual desempenhando seu correspondente papel de formiga. A única diferença que via, entre as duas sociedades, era que as formigas trabalhavam para o bem estar do formigueiro e o ser humano trabalhava, apenas, para o seu próprio bem estar.
                                              Seguia divagando quando a minha atenção foi despertada por um tipo alto e forte, com uma grande cicatriz no rosto, andando pela calçada como se procurasse algo ou alguém.
                                             Na mesma hora soube que havia encontrado o meu personagem principal. Precisando estudá-lo com detalhes, desci do ônibus e passei a segui-lo, disfarçadamente.
                                                   O tipo pareceu se aperceber de alguma coisa estranha, pois, continuamente, voltava o rosto para ver se estava sendo seguido.
                                                    Sutilmente, permaneci andando em seu encalço; porém, por vezes, atravessando a rua e continuando a persegui-lo na calçada oposta.
                                               Enquanto eu o seguia, imaginava a sua idade e profissão, onde morava e qual o motivo que o levava a estar naquele local àquela hora.
                                                         Repentinamente, parando em frente a uma casa que vendia armas e munições, olhou por alguns minutos à vitrine onde eram expostas dezenas de pistolas e revolveres. A continuação ele entrou na loja, abrindo vagarosamente a porta de vidro.
                                                      Cheio de curiosidade atravessei a rua e mirei, por algum tempo, disfarçadamente, a vitrine e o interior da loja. Pelo canto dos olhos pude vê-lo experimentando, junto ao balcão, vários tipos de pistolas.
                                                   Pouco depois, fixando-se em uma delas, comprou-a. Pagou no caixa, apanhou-a na seção de embrulhos e preparou-se para sair da loja.   
                                                      Minha mente fervilhava: Ele iria cometer um assassinato por vingança? Seria um assaltante de bancos preparando-se para mais um assalto? Aquela arma estaria destinada a por um fim na vida da amante e, logo em seguida, na dele próprio?
                                                      Mentalmente eu desenvolvia assuntos, suposições e episódios do romance, para escrever mais tarde em casa.
                                                   Saindo da loja com o embrulho, ele continuou pela mesma calçada em que viera.
- Aonde iria agora? - eu perguntava a mim mesmo.
- Não posso perdê-lo de vista, pois meu romance depende dele! – pensava eu naquele instante.
                                                Continuando em seu encalço, tive a atenção voltada para uma jovem que caminhava em sentido contrario ao meu. Imaginei, logo, que aquela jovem poderia ser o meu segundo personagem. Era morena e possuía lindos olhos verdes. Seu vestido, colante, deixava antever um lindo par de coxas. A blusa, ligeiramente aberta, deixava à mostra dois volumosos seios que meus olhos negavam-se a abandonar.
                                                       Ao passar por mim deu um ligeiro sorriso, que me pareceu um velado convite.
                                                 Olhando para trás, após sua passagem, vislumbrei as nádegas mais lindas que já havia contemplado, até então. Aqueles glúteos eram redondinhos e balançavam em gracioso movimento de sobe e desce, conforme ela caminhava. Fiquei alguns momentos pensando se o vocábulo, glúteos, não teria sido uma homenagem da Ciência da Anatomia a nós, os glutões.
                                                        Voltando em seguida ao meu personagem, parei estarrecido. Ele havia simplesmente desaparecido. Apressei o passo, chegando mesmo a correr por alguns minutos. Nada, não o via em parte alguma. Parecia haver se evaporado em questão de segundos.
                                                  Percorri de volta o caminho que fizera, olhando dentro das lojas, atrás das árvores e no interior dos carros. Nada.
                                               Caminhei, durante aproximadamente meia hora, pelas ruas adjacentes, paralelas e perpendiculares, vasculhando tudo; porém, meu personagem já havia mesmo desaparecido e, com o sumiço dele, a minha estória perdera a sua razão de ser.
                                          Retornei para casa, desanimado e cabisbaixo. Sentado junto ao corredor do ônibus, pensava em como a fortuna é volúvel, pois ora nos sorri, querendo uma aproximação maior, e ora nos repele, desejando jamais voltar a ver-nos.
                                             Repentinamente, ouvi uma voz alta e vibrante que gritou: - Todo mundo quieto que isso é um assalto!
                                           Olhando para trás, de onde a voz partira, vejo ele, o meu personagem, em pé no fundo do ônibus e com uma pistola na mão.
                                             Imediatamente, pensei comigo: - Que sorte a minha, finalmente ganhei o dia! Agora é só descer junto com ele e passar a segui-lo outra vez, disfarçadamente. Enquanto entregava a ele a minha carteira, o celular e o relógio, eu sorria por dentro de satisfação, já imaginando quais seriam os nossos próximos capítulos neste meu romance de costumes, ambientado na cidade do Rio de Janeiro...


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


_**/ Conto.



sexta-feira, 27 de abril de 2018

197. Paradoxos religiosos-filosóficos**



Jober Rocha*


                                                                  Paradoxo é definido, pelos dicionários, como a proposição ou o argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano ou que desafia a opinião de conhecimento público e a crença ordinária compartilhada pela maioria. Também pode ser entendido como a aparente falta de nexo ou de lógica; contradição.
                                                                      O presente texto possui este título em razão da percepção que tive, recentemente, da existência de alguns paradoxos religiosos-filosóficos, até então, pouco mencionados ou não percebidos por filósofos e religiosos.
                                                                    Trata-se do seguinte: Segundo a religião cristã, dominante no ocidente, mas, também, em conformidade com as demais religiões ocidentais e orientais, nós, seres humanos, encarnamos com a missão de evoluir espiritualmente. 
                                                              Para ajudar nesta evolução, que todas as religiões confirmam, o Criador teria enviado, em épocas distintas, alguns representantes seus para esclarecer o gênero humano sobre como fazer para obter a tão desejada evolução espiritual. Alguns destes representantes deram origem a religiões, que ainda são professadas nos dias atuais.
                                                                   Assim é que, cronologicamente, foram enviados ao nosso planeta os seguintes personagens históricos principais, posto que todas as religiões, segundo elas próprias, teriam sido fruto da revelação divina:

Krishna – 3.228 a.C/ 3.102 a.C           (viveu 66 anos)
     Moisés  - 1.592 a.C/ 1.472 a.C           (viveu 120 anos)
Zaratustra – 660 a.C/ 593 a.C             (viveu 77 anos)
Sidarta Gautama – 563 a.C/ 483 a.C   (viveu 80 anos)
Confúcio – 551 a.C/ 479 a.C                (viveu 72 anos)
Jesus Cristo – 07 a.C/ 33 d.C               (viveu 40 anos)
Maomé – 571 d.C/ 632 d.C                   (viveu 61 anos)
Alan Kardec – 1804 d.C/ 1869 d.C       (viveu 65 anos)

                                                            Observem os leitores que, a exceção de Moisés e de Sidarta Gautama, que conseguiuram chegar aos cento e vinte e aos oitenta anos de idade, todos os demais mensageiros divinos viveram relativamente poucos anos, quando comparados com Moisés, por exemplo, que teria vivido 120 anos, segundo relatos bíblicos contidos em Deuteronômio. Não mencionamos Lutero (que viveu 63 anos), nem Calvino (que viveu 55 anos), por serem teólogos, criadores de seitas dentro do próprio Cristianismo.
                                                                    Por outro lado, a Bíblia, em Gênesis, também menciona o tempo de vida de alguns outros personagens famosos, como, por exemplo, Adão que teria vivido 930 anos, Sete que viveu 912 anos e Matusalém que contou 969 anos de existência. Em que pesem diferenças, porventura existentes, em razão do eventual uso de calendários distintos no estabelecimento das idades destes personagens, mesmo assim, estes três últimos teriam vivido muitos anos mais do que todos os demais.   
                                                                 O que menos viveu foi Jesus, que, supostamente, era o único deles filho de Deus e tinha por missão, especificamente, alertar os seres humanos para a existência de outra vida após a morte e instruí-los acerca de como proceder para evoluir espiritualmente.
                                                           Vejam que no tempo de Jesus a população mundial era de cerca de trezentos milhões de indivíduos (segundo a Enciclopédia Britânica), número muito maior do que o existente no tempo de Adão, Sete, Matusalém e Moisés, tempos aqueles em que se vivia durante séculos e não durante anos. Se a vida durava tanto, era porque o Criador assim desejava ou permitia.
                                                                     Não seria mais óbvio e racional que estes personagens enviados por Deus (que tinham importantes missões em suas vidas, missões estas impostas pelo próprio Criador de todas as coisas, Criador este que tudo pode e, inclusive, é quem determina a idade com que deixaremos as nossas existências corpóreas) vivessem vidas longas, nas quais pudessem atingir um numero muito maior de indivíduos com as mensagens evolutivas ditadas por Deus posteriormente? Por que teriam vivido tão pouco, dada a importância da missão terrena que possuíam?
                                                                       Posso supor duas coisas: ou que, na realidade, eles sempre falaram em nome deles próprios, e não do Criador (e viveram o tempo normal de uma vida humana na época), ou que, paradoxalmente, a presença desses emissários sob a forma corpórea, encarnados no planeta, fosse menos importante que a presença deles sob a forma espiritual, desencarnados; razão pela qual, foram logo chamados de volta pelo Criador que os enviara (e que, assim, viveram também o tempo normal de uma vida humana na época; no caso de Jesus abreviada pelos seus próprios contemporâneos). 
                                                                      Ocorre que o Criador poderia tê-los feito viver muito mais do que viveram, notadamente por que isto já ocorrera anteriormente, como nos casos de Adão, Sete e Matusalém, segundo relatos bíblicos.
                                                                             Isto me faz lembrar um livro que li há muitos anos, segundo o qual um daqueles judeus que observavam Jesus caminhando com a cruz nas costas, teria repreendido a sua lentidão. Jesus voltando-se para ele teria dito: - Eu vou, mas você ficará me esperando até que eu retorne pela segunda vez. O referido judeu, desde então, ainda continuava vivo; tendo passado por diversos episódios da História sem conseguir morrer. Saia sempre incólume dos maiores perigos, pois aguardava a volta de Jesus para poder partir.
                                                                 Voltando ao assunto anterior, mesmo neste último caso suposto, ainda permanece a dúvida: tendo deixado de inocular em suas criaturas, talvez por esquecimento, as noções acerca do Reino dos Céus (também conhecido como Orun no Candomblé; Tian no Confucionismo; Moksha, Svarga, no Hinduísmo; Samsara no Budismo; Sheol/Cassiel no Judaísmo; Céu no Cristianismo; Colonias espirituais no Espiritismo e Jardim do Eden para os Islamitas) e tendo a necessidade de enviar, posteriormente, emissários seus que mencionassem a existência destes locais e ensinassem aos humanos como chegar a eles após a morte; isto não evidenciaria a imperfeição da criação de um Ser Perfeito, que tudo pode? E, ainda mais, podendo deixá-los viver muitos séculos, como parece que ocorreu com Adão, Sete e Matusalém, o fato de levar os demais de volta tão cedo, em épocas onde a informação caminhava a passos de tartaruga, os povos viviam isolados, os meios de transporte eram precários e a maioria não sabia ler nem escrever, não lhes parece, caros leitores, medida tempestiva e prejudicial aos desígnios do próprio Criador?
                                                                Ademais, cada um destes enviados transmitiu mensagens diferentes aos seres humanos. Todas elas positivas, mas ensinando caminhos distintos para alcançarem a evolução espiritual e o Reino dos Céus. Qual teria sido o motivo para tamanha discrepância? Mais uma vez volto a questionar: falavam tais personagens em nome deles próprios ou o Criador (como o velho guerreiro Abelardo Barbosa, o Chacrinha) queria apenas confundir-nos e não explicar.
                                                               Por outro lado, segundo a Bíblia, Deus teria escrito dez mandamentos em tábuas de pedra e entregue a Moisés (a descrição deste fato pode ser encontrada na própria Bíblia, em Êxodo e em Deuteronômio). 
                                                           Sendo esta uma oportunidade única de comunicação, entre o Deus Criador e as suas criaturas, parece-me que Ele ficou muito apegado às coisas mundanas, pois, em Êxodo 20:1-17, encontramos, dentre outros, os seguintes mandamentos:

- Não terás outros Deuses diante de mim (então, parece que existiriam outros Deuses, já que foram mencionados pelo próprio Deus?);
- Não farás para ti ídolo de escultura (será que isto era tão importante assim, para constituir um mandamento? De qualquer forma, a religião católica, que adotou estes dez mandamentos, parece não haver seguido este, pois faz uso de imagens em suas igrejas);
- Sou Deus zeloso que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam (pelo que entendi Ele perseguiria até a quarta geração daqueles que O odiavam. Se Ele era um Deus tão bom e amoroso, não o odiariam e, caso o fizessem, Ele não perseguiria ninguém. Vejo aí uma contradição evidente entre o que dizem Dele e o que Ele mesmo diz sobre si);
- Eu faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardem os meus mandamentos ( e aos demais, que não o amavam e não guardavam seus mandamentos, mas eram seus filhos, suas criaturas? E aqueles que não o conheciam por nunca terem ouvido nele falar? E aqueles que não conheciam os seus mandamentos, que foram entregues, especificamente a Moisés, que vivia isolado em um pequeno local do planeta na ocasião?);
- Não cobiçaras a mulher do teu próximo, o seu escravo, nem o seu boi, nem coisa alguma do teu próximo (estas me parecem preocupações mais humanas que divinas, vigentes naquela época, não preocupações de um Deus que deveria aproveitar esta oportunidade única de enviar uma mensagem para as suas criaturas, mensagem que vencesse os anos, as gerações e as épocas. Quem cobiça boi ou escravo do próximo, na atualidade?). Chego a pensar que, na realidade, estes mandamentos, tidos como divinos, foram escritos por mãos humanas, preocupadas com os problemas comuns da época em que o texto foi escrito.

                                                                  Outros paradoxos já foram mencionados por filósofos antigos. Voltaire, por exemplo, em sua obra Dicionário Filosófico, alerta que no livro do Gênesis (primeiro livro tanto da Bíblia Hebraica quanto da Bíblia Cristã e cuja tradição judaico-cristã atribui a sua autoria a Moisés, inspirado este por Deus com quem dialogava com frequência) destaca-se a seguinte contradição:

                                                                   “Deus disse: Faça-se a luz, e a luz foi feita e Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas; e a luz chamou dia e às trevas noite; e a tarde e a manhã foram o primeiro dia”. 
                                                                 O sol e a Lua, segundo o livro sagrado, foram criados, apenas, quatro dias depois da criação da luz por Deus. Os antigos, que escreveram o Gênesis, não sabiam que a luz vinha do sol e achavam que ela possuía vida própria; razão pela qual, na referida obra divina, a luz veio primeiro que o sol, que só foi criado dias depois; deixando claro que aquele se tratava de um livro humano e não divino.  
                                                                  Em outro capítulo do Gênesis, encontra-se: “Deus criou o macho e a fêmea”. Mais a frente, em capítulo seguinte, diz-se: “Logo que Adão adormeceu Deus tomou-lhe uma das costelas e pôs carne em seu lugar. Da costela que tirara de Adão formou uma mulher e trouxe-a a Adão”.
                                                                 Ocorre que um capítulo antes Deus já havia criado o macho e a fêmea, portanto, por que subtrair uma costela do homem para daí fazer uma mulher? – questiona o filósofo.
                                                              Outra contradição existente no Gênesis: “Quando Deus começou criando o firmamento e a Terra, tudo era de início um Caos e como uma massa amorfa, com o Espírito de Deus planando sobre os vapores que enchiam as trevas”.
                                                                  Segundo a concepção do filósofo, o Universo sempre existiu. Por que razão? Porque o Caos e Deus não poderiam coexistir juntos. Um excluiria o outro; posto que, são conjuntos mutuamente excludentes. Deus representa a perfeição e está em todos os lugares, sendo infinito, eterno e autor das leis universais e imutáveis que regem a natureza, segundo a Bíblia; enquanto o Caos representa a imperfeição, a falta de ordem e de leis universais. A existência de um implica, evidentemente, na não existência do outro.
                                                                       Ainda, segundo o filósofo, das duas uma: ou o Deus sempre existiu e o Caos não passa de uma invenção humana ou alguém criou Deus depois da existência do Caos.  Se Deus já existia durante o caos, porque deixou que o caos existisse? Se não existia e alguém o criou depois do caos, ele não é o Deus Criador, mas uma criatura de algum outro Deus maior e mais poderoso. Logo, a única explicação racional é a de que Deus sempre existiu. Se Deus não existisse e o caos sempre houvesse existido, continuaria existindo o Caos até hoje e o universo não teria sido criado, pois nada pode surgir do nada, na ausência de Deus.
                                                                        Por que Deus criou o Universo? A resposta agora é minha e não do filósofo: Por que ninguém é Deus para si mesmo. Para que algo (ou alguém) seja um Deus Criador, tornam-se necessários a existência da criação e das criaturas. Deus, portanto, se existe realmente, criou o Universo por absoluta solidão.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


_*/ Ensaio.


quinta-feira, 26 de abril de 2018



196. Não adianta que não vou sair do sério!**



Jober Rocha*



                                       Não sou adepto da Teoria da Conspiração, mas, ultimamente, tenho percebido alguma coisa no ar além dos aviões de carreira, como gostava de dizer o Barão de Itararé, que parece ser dirigida especificamente a minha pessoa, tentando me tirar do sério; ou seja, querendo que eu adote algumas atitudes radicais pelas quais venha a me arrepender, futuramente, seja chamado às barras dos tribunais e, eventualmente, fique por alguns anos retirado do convívio público, padecendo em uma cela isolada em algum lugar remoto no interior do país.
                                                         Explico-me melhor: sou um brasileiro honesto, pagador de impostos, preocupado com a prevalência da justiça nas relações humanas, até certo ponto caridoso, compreensivo, pacífico; em suma, ficha limpa por qualquer critério que os leitores queiram estabelecer.
                                                      Ocorre, entretanto, que ao acompanhar diariamente as redes sociais e a mídia, tenho percebido inúmeras notícias ali plantadas certamente com a única finalidade de me tirar do sério, fazer com que a minha pressão suba, a taxa de glicose aumente, que o colesterol vá aos píncaros e leve junto com ele o ácido úrico. Com isso, esperam que eu tenha um ataque apoplético e que, em seguida, pegue algum tipo de arma e vá para um ponto alto, de onde possa descarregar a minha raiva sobre pacíficos transeuntes.
                                                              As notícias que vejo, diariamente, dão conta de que os salários do funcionalismo continuarão atrasados e sem prazo para serem pagos; que a justiça soltou diversos criminosos presos, por absoluta falta de espaço nas prisões; que grande parte dos processos criminais, envolvendo autoridades, prescrevem sem ter ido à julgamento e são arquivados; que os impostos irão aumentar em razão do tesouro nacional estar quebrado, face aos gastos com mordomias nos três poderes da república; que, esgotados todos os recursos legais nos processos envolvendo autoridades, sempre existem outros recursos adicionais, que podem ser invocados em uma sequência sem fim, que deixaria estupefatos os matemáticos (inclusive Fibonacci, descobridor da sequência que leva o seu nome).
                                                          E as notícias seguem diariamente, martelando o meu coração e a minha mente e, de passagem, desregulando o sistema imunológico: os planos de saúde passarão a cobrar franquia, em caso de doenças; as placas de todos os veículos automotores terão de mudar, pelas novas placas do Mercosul; novo aumento do preço da gasolina fraudada; políticos presos freqüentam a câmara de manhã, dormem na cadeia e recebem seus salários em dia, inclusive o auxílio moradia.
                                                         Termino de ler as notícias e meço a pressão: 18/11 mmHg. Tomo um Captopril e um Rivotril e deito-me para esperar a pressão baixar. Acabo dormindo e, ao acordar pouco depois, nada tendo para fazer, sento-me ao computador para acessar o Facebook.
                                                             De imediato sou atingido em cheio pelas notícias: até abril de 2018 cento e dezesseis policiais foram baleados no Rio de Janeiro, sendo que destes quarenta morreram; comerciante assaltado cinqüenta vezes, vende tudo e se muda do país; foram vinte e cinco mil os casos de dengue no ano de 2016 no Rio de Janeiro, cento e noventa de febre amarela em 2018 com sessenta mortos. Minha mente, logo a seguir, começou a martelar incessantemente para o meu corpo: Se acalme e não saia do sério! Se acalme e não saia do sério! Se acalme e...
                                                             A continuação, eu me vi procurando na tela por sites e links de casas de armas. Ocorre que nos poucos endereços que encontrei, os preços eram tão altos e a burocracia tanta, que desisti de continuar buscando pelas ofertas disponíveis.
                                                       Desligo o PC e vou para a sala. No bar, encho um copo com gelo e adiciono duas doses de uísque Jack Daniel. Em seguida sento-me em uma poltrona, pego o controle da TV e ligo. Antes mesmo de dar o primeiro gole, vejo a manchete na tela: Brasil tem 14,9 milhões de pessoas na extrema pobreza. Um pouco mais abaixo desta notícia, vem outra dizendo que ex-presidentes, já aposentados, possuem quarenta assessores ao custo anual de cinco milhões e meio de reais.
                                                          Desligo a TV, pois percebo que escolhi a mídia errada para tentar me distrair. Ali só encontrarei baixarias nas novelas, notícias sobre crimes, fofocas sobre artistas, religiosos pedindo dinheiro, elogios aos políticos e partidos no poder e algumas outras notícias, como aquela que eu via, que possuíam o objetivo velado de provocar o surgimento de doenças auto-imunes em pessoas com perfil igual ao meu.
                                                               Resolvo dar um passeio pelas ruas. Não sei por que, mas, caminhando pelas artérias movimentadas, o meu olhar buscava, freneticamente, os pontos estratégicos mais altos do centro da cidade. De repente, não sei como, me vi na estação rodoviária comprando passagens de ida e volta para Foz do Iguaçu e fazendo reserva em um pequeno hotel, no Paraguai, bem ao lado de uma casa de armas especializada em fuzis com miras telescópicas e silenciosos.
                                                              De volta a casa naquela manhã, ao preparar algo de comer na cozinha, pensava comigo mesmo: Será que esta raiva incontida com as notícias atuais só acontece comigo? Será que todos os brasileiros estão satisfeitos com o quadro econômico, político e social que se desenrola perante seus olhos? Será que todos assistem impassíveis as coisas acontecendo e conformam-se, achando que são inevitáveis e imodificáveis? Será que tais notícias não são, maquiavelicamente, inseridas na mídia objetivando tão somente atingir a minha pessoa, sabendo que sou suscetível a elas?
                                                   Sem respostas para meus questionamentos, liguei outra vez o computador e acessei meu site de busca predileto. A seguir, digitei a palavra Sniper.
                                                         Passei o resto daquele dia a ler sobre a vida de Chris Kyle e de suas ações de franco atirador na Guerra do Iraque. A noite sonhei com munições traçantes, perfurantes, incendiárias e explosivas...



_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.


_**/ Conto.

quarta-feira, 25 de abril de 2018


195. É Fake!


Jober Rocha*


                                                  Segundo os dicionários, o vocábulo fake (falso) é um termo usado para denominar contas ou perfis usados na Internet, de modo a ocultar a identidade real de um usuário, para protegê-lo de Spams (um dos maiores problemas atuais da comunicação eletrônica, que é sinônimo de lixo eletrônico e designa mensagens de correio eletrônico com fins publicitários. O termo, no entanto, pode ser aplicado a mensagens enviadas por outros meios e, geralmente, os Spams têm caráter apelativo, na maioria das vezes sendo incômodos e inconvenientes) ou, simplesmente, para poder enviar matérias e fazer comentários, evitando que os demais navegantes conheçam a sua verdadeira identidade. Para isso, são usadas as identidades falsas de pessoas famosas, como cantores, personagens de cinema ou, até mesmo, os perfis de pessoas comuns.
                                                            Arquivos fake, por sua vez, são documentos, filmes, programas, etc., que o usuário baixa ou que recebe de sites específicos ou das redes sociais e cujo conteúdo, por ser mentiroso, não corresponde àquele que foi divulgado e pretendido pelo usuário.
                                                                 O Fake, como a corrupção, prejudica a todos, inclusive aqueles que o praticam. Quando ninguém mais conseguir distinguir a verdade da mentira, os próprios mentirosos já não saberão no que, ou em quem, acreditar. Da mesma forma, se todos exigirem propina para fazer os seus misteres, todos acabarão pagando propina a todos, aumentando os custos de uma maneira geral e gerando inflação.
                                                                    Quem se utiliza das redes sociais, na atualidade, encontra-se, praticamente, desprotegido com relação aos fakes. Diariamente são produzidas matérias inverídicas, com objetivos vários, que, divulgadas e reproduzidas, atingem milhões de internautas através da WEB.
                                                                    Embora existam algumas indicações que circulam entre os usuários, acerca de quais perfis sejam divulgadores contumazes de notícias falsas, nem todos têm notícia da existência de tais perfis. Mesmo assim, nem todas as notícias divulgadas por estes perfis são falsas. Por outro lado, perfis novos e desconhecidos também podem estar divulgando falsidades, que são reproduzidas e repassadas para milhões de usuários.
                                                             Atualmente dois bilhões e quatrocentos e sessenta milhões de usuários se utilizam das redes sociais no mundo. No ano de 2021 estão previstos cerca de três bilhões. Só no Brasil, o maior usuário da América Latina, são noventa e três milhões de internautas/mês. 
                                                          Governos, organizações privadas, institutos de pesquisa, organizações não governamentais, agências de inteligência, etc., frequentemente, divulgam falsidades, seja para acobertar fatos passados, seja para prevenir-se contra repercussões futuras de ações presentes, em uma atividade de planejamento estratégico, seja em atividades de contra-informação, etc.
                                                             As redes possuem alguns mecanismos de controle, voltados para matérias envolvendo pornografia, racismo e terrorismo. Porém, para evitar a divulgação e a propagação de mentiras, é muito difícil desenvolver mecanismo eficaz, que as impeça de circularem pelas redes. Creio que o único mecanismo eficaz, que impedirá a inviabilidade futura das redes (quando, então, só serão veiculadas notícias falsas), será a inclusão dos fakes no código Penal, com o estabelecimento de multas e pesadas penas para os produtores de matérias mentirosas divulgadas na WEB.
                                                               Ocorre, ainda, que matérias verdadeiras postadas nas redes, algumas vezes são taxadas de fakes por aqueles que têm seus interesses contrariados. Cria-se, assim, um circulo vicioso onde já ninguém mais sabe distinguir a verdade da mentira.
                                                                  Na era digital são tantos os programas, os artifícios de montagem e os equipamentos eletrônicos disponíveis, que podem ser elaboradas fotos e filmes, totalmente, falsos, sem que possamos afirmar com segurança se são verdadeiros ou não, na ausência de perícia técnica. É o caso, por exemplo, das fotos e dos filmes sobre objetos voadores não identificados, os chamados OVNIS ou UFOS.
                                                                     Da mesma forma, documentos timbrados, carimbados e assinados por autoridades, podem ser forjados eletronicamente e divulgados como sendo verdadeiros.
                                                                     Ao mesmo tempo em que a era eletrônica e digital veio trazer enorme progresso nas comunicações, veio, também, aumentar as possibilidades de fraudes. A regra geral, nos dias atuais, é: não acredite em nada do que vê, do que lê ou do que ouve. Desconfie de tudo aquilo que chega até você através da Mídia e da WEB.
                                                                   Talvez, uma eventual solução para o futuro seja a criação de empresas certificadoras encarregadas de analisar e de certificar, previa e obrigatoriamente, a veracidade de todas as matérias que serão veiculadas nas redes sociais; todavia, com isto, perder-se-ia a oportunidade da notícia e o ‘timing’ de quem a desejava postar.
                                                               Não imagino como as autoridades resolverão, a contento, um problema de tal magnitude, mormente ao se levar em conta a importância das redes sociais, pelo seu potencial quanto à rapidez e ao alcance da disseminação de informações.

                                                              Já ultrapassamos o ano de 1984, data prevista pelo escritor George Orwell, em 1949, para que a sociedade fosse toda controlada e onde ‘O Grande Irmão está te observando’ (The Big Brother is Watching You) era uma frase do autor, em sua obra, que conotaria, especificamente, a vigilância invasiva e freqüente a que todos nós, cidadãos do planeta, estaríamos submetidos naquela data futura.
                                                                 Ocorre que, hoje em dia, toda a matéria postada na WEB, incluindo textos, fotos, vídeos e som, é gravada indelevelmente e passa a fazer parte das informações e do registro de atividades relativos ao internauta; daí que o ‘establishment’ (a ordem ideológica, econômica, política e legal, que constitui uma sociedade ou um Estado), interno e externo, também têm necessidade das redes sociais, tanto quanto os usuários, para se informar e pesquisar acerca de pessoas, famílias, grupos, raças, países e assuntos. Também o ‘establishment’ é prejudicado com a implantação de perfis falsos e a divulgação de fakes, que não sejam aqueles por ele próprio plantados.
                                                                      Imagino que, muito em breve, uma solução será encontrada para resolver este assunto; solução esta que continuará permitindo que o 'Grande Irmão' nos controle a todos, sem que, em contrapartida, seja também controlado por alguns humanos, mais espertos e produtores de fakes.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.







terça-feira, 24 de abril de 2018



194. A Encruzilhada


Jober Rocha*



                                              Encruzilhada possui algumas interpretações, como, por exemplo, o lugar onde se cruzam ruas, estradas, caminhos e, também, em sentido figurado, o ponto crítico em que uma decisão necessita ser tomada.  Uma encruzilhada, sob o ponto de vista metafísico, existirá todas às vezes em que houver o cruzamento vibratório de uma realidade com outra.
                                                               Os brasileiros se depararão com uma encruzilhada no dia sete de outubro de 2018. A escolha que farão, na ocasião selará, definitivamente, o seu destino como povo e como país. A decisão a ser tomada na oportunidade significará uma escolha, que fará com que continuem sendo um país capitalista ou que se tornem um país comunista, ao estilo bolivariano (comunismo adaptado as idiossincrasias latino-americanas), como foram às escolhas feitas pelos venezuelanos e pelos bolivianos, por exemplo, há tempos atrás.
                                                                     O regime comunista na Rússia (o núcleo da extinta União Soviética) durou, exatamente, 74 anos e marcou a história do século XX. Ele começou com a Revolução de Outubro de 1917, sob o comando de Lenin, o maior líder dos bolcheviques, como eram chamados os comunistas russos na época. Terminou de forma patética, com a renúncia de Mikhail Gorbatchev, o último líder da União Soviética, por meio de um discurso na televisão, em 25 de dezembro de 1991.
                                                            Comparando-se os estágios de desenvolvimento econômico e social, dos principais países mais desenvolvidos do planeta, que são representantes do capitalismo e do comunismo, constata-se a primazia dos primeiros com relação aos segundos.
                                                                A Rússia, desde o fim do comunismo, consiste em uma economia de mercado, ocupando, em 2016, o 11º lugar na Economia Mundial.
                                                                  Nos primeiros 30 anos de regime comunista da República Popular da China, o governo aplicou o sistema de economia planificada, em que a produção industrial, a produção agrícola, bem como, o armazenamento e venda de mercadorias eram controladas pelo Estado. 
                                                                     Em 1992, depois de cerca de 10 anos de reforma, com o intuito claro de estabelecer uma economia socialista de mercado, o governo definiu os seguintes princípios fundamentais para a reestruturação da economia: incentivo ao desenvolvimento de elementos econômicos diversificados; criação de um moderno sistema empresarial para que se pudesse ir de encontro às exigências da economia de mercado; unificação e abertura do sistema de mercado em toda a China, ligando os mercados domésticos e internacionais.  De acordo com o plano macro econômico chinês prevê-se chegar a uma economia socialista de mercado relativamente completa e que a sua fase de maturação seja alcançada em 2020.
                                                                   Informações do ano de 2016 indicam que as quinze maiores economias mundiais são, em ordem decrescente de PIB - Produto Interno Bruto: USA, China, Japão, Reino Unido, França, Índia, Itália, Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Rússia, Austrália, Espanha e México.
                                                                      Vejam que dentre as quinze maiores economias, não existe nenhuma verdadeiramente comunista. Enquanto isto, ideólogos subdesenvolvidos, com uma visão distorcida da problemática latino-americana, tentam implantar aqui o chamado bolivarianísmo. 
                                                                   O proselitismo político utilizado nas campanhas da esquerda, em prol da implantação de regimes comunistas do tipo bolivariano, na América Latina, culpa o Sistema Capitalista, acentuando a exploração dos trabalhadores, a desigual distribuição de renda, a miséria dos excluídos que habitam cortiços nas favelas, o desemprego, a concentração fundiária, a posse dos meios de produção por parte das elites, etc. Todavia, não mencionam a existência aqui de uma classe política e de partidos venais, que, tradicionalmente, se locupletam dos recursos públicos desviando-os para suas contas no exterior, se vendem por dinheiro para potências estrangeiras, alienam patrimônio nacional, são incompetentes e despreparados para administrar um país, antipatriotas e internacionalistas, etc. etc. etc.
                                                                      Dizem, estes ideólogos de esquerda, que o sistema capitalista é errado, voraz e deve ser eliminado, para ser substituído pelo comunismo, libertador e protetor das classes trabalhadoras. 
                                                                     Ocorre, entretanto, que este mesmo Sistema Capitalista, (por eles criticado aqui e existente em países onde o povo é sério e os políticos honestos) permite que, em muitos outros lugares, os salários dos trabalhadores sejam elevados, a renda bem distribuída, o nível de vida e de bem estar dos empregados bastante alto e permite, ademais, que os trabalhadores participem da posse dos bens de produção através do mercado acionário nas bolsas de valores. Tanto é assim, que existe um fluxo constante de habitantes (trabalhadores e aposentados) da América Latina desejando transferir-se definitivamente para os USA e para a Europa, notadamente gente oriunda de países comunistas.
                                                                    A grande verdade, pelos ideólogos de esquerda escondida ou não percebida, é que se os países latinos da América já são o que são, sob um sistema que privilegia a livre iniciativa, o empreendedorismo, a concorrência e o lucro; o que não se tornariam sob um sistema que combatesse tais características, nivelando todos os trabalhadores por baixo, acabando com a propriedade privada e socializando a pobreza? Uma grande favela é o que seriam.
                                                                     O que há muito tempo anda errado, por aqui pelos trópicos, não é o Sistema Econômico, vigente até então; mas, a qualidade dos homens públicos que nos governam e que legislam (chegando, por vezes, a cometer crimes de lesa-pátria e contra a humanidade, que, infelizmente, não são punidos e passam incólumes) e a passividade, inocência, despolitização, conformismo e permissividade do nosso povo. 
                                                                  Aqui, na realidade, vigora o chamado capitalismo selvagem, quase sem regras, onde as concorrências são fraudadas; os produtos não contém os pesos e os ingredientes que as embalagens afirmam conter; onde os remédios são falsificados; os combustíveis adulterados com solventes; o contrabando corre solto; onde a propina é generalizada; a mídia divulga propaganda enganosa e aliena as populações com novelas, esporte e religião; onde as agências oficiais  reguladoras trabalham, quase sempre, para defender interesses dos produtores e dos prestadores de serviços e não para defender os interesses dos consumidores e usuários. 
                                                           O errado não é o Sistema Capitalista, em si, mas a forma como as autoridades deixam que ele funcione por aqui, onde leis e decretos beneficiando empresas são, muitas vezes, negociados a troco de dinheiro entre empresários e autoridades governamentais.
                                                                    Os próprios países comunistas, tradicionais, só começaram a se desenvolver quando adotaram economias de mercado, deixando de lado a estatização e a Economia Planificada. 
                                                                      O que os ideólogos de esquerda querem não é a melhoria das condições de vida do povo; o que eles querem é o poder e tudo aquilo mais que vêm com ele: boas mansões, comida farta e vinhos caros, dinheiro, privilégios, regalias, nepotismo, viagens ao redor do mundo, lazer, etc. Tem sido assim nos países comunistas do leste Europeu  e da Ásia e não seria diferente na América Latina. Uma pequena amostra do que são os governos de esquerda aqui na América do Sul, tiveram os brasileiros com as delações premiadas de empresários e de executivos, do governo e de estatais, no âmbito da Operação Lava a Jato. E olha que os ideólogos de esquerda ainda não haviam conseguido implantar, definitivamente, o comunismo no país, como fizeram na Venezuela. Imaginem se alguns juízes, promotores e policiais não tivessem tido a coragem de levar a frente as investigações da Operação Lava a Jato e descobrir todo o esquema de desvio de recursos da Organização Criminosa que dominava o país na ocasião, tendo refreado o seu ímpeto.
                                                                     Na ânsia de ver implantado os seus sonhos de poder, geralmente, para se fortificarem e prepararem a implantação do comunismo, reduzem as forças armadas à míngua (visando enfraquecê-las frente as forças comunistas internas e externas) e aliam-se ao crime organizado em facções e em máfias, para disporem, quando necessário, de um exército clandestino forte o suficiente para dar o golpe mortal na Democracia e no Capitalismo.
                                                                        Vejam que os verdadeiros países capitalistas, sérios, são democracias, onde existe alternância dos partidos e dos políticos no poder. Nos países comunistas existe apenas um partido e as lideranças permanecem de forma quase vitalícia no poder. Nos países capitalistas não sérios, como os da maioria dos latino-americanos, a fraude eleitoral e os acordos espúrios fazem com que partidos e políticos permaneçam no poder eternamente, da mesma forma como ocorre nos países comunistas.
                                                                        Por isso, os brasileiros encontram-se, hoje, em uma encruzilhada que selará o seu destino: tentar reverter esta situação atual ou enveredar, para sempre talvez, em um sistema bolivariano de governo, com medidas socialistas e comunistas que afastarão, de vez e destas paragens tropicais, os empreendedores capitalistas, como já ocorreu na Venezuela, cujos habitantes, na atualidade, procuram em hordas as nossas fronteiras norte do país, para pedir comida, emprego, refúgio e asilo político. 
                                                                         Qual será a nossa escolha?


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.






domingo, 22 de abril de 2018


193. Se vocês soubessem o que eu sei, não dormiriam mais...

Jober Rocha*



                                          A frase que dá título ao texto é constantemente pronunciada por personalidades do mundo inteiro, sejam do esporte, da política, da indústria, das ciências, da vida militar, da diplomacia, etc. 
                                                               A presidente da mais alta corte de justiça do país, teria afirmado, publicamente, em outubro de 2017, que o brasileiro não dormiria se conhecesse tudo o que ela sabia. 
                                                              Um famoso jogador de futebol teria dito, também publicamente: - “Se as pessoas soubessem o que aconteceu na Copa do Mundo de 2014, ficariam enojadas!”.
                                                               Um lutador de UFC brasileiro teria, também, repetido a frase: - "Se as pessoas soubessem o que aconteceu na derrota do Anderson Silva para Chris Weidman, ficariam enojadas!".
                                                           O CEO de uma importante empresa do setor aeroespacial norte-americano, teria, há alguns anos, declarado com relação a vida extraterrestre: - “Se vocês soubessem o que eu sei não dormiriam mais!”.
                                                           Alguns políticos brasileiros ao serem ameaçados de prisão, no âmbito da Operação Lava à Jato, teriam declarado na Mídia: -“Se me prenderem vou denunciar, dizer o que eu sei e levar comigo muitas autoridades dos três poderes da república!”  
                                                            Com isto, aqueles políticos tentavam amedrontar outras autoridades com poder para prende-los e medo de se verem delatadas, por compartilharem daqueles ou de outros ilícitos do conhecimento dos políticos acusados.
                                                                    Frequentemente esta frase, ou algumas de suas variantes, é atribuída a pessoas ocupantes de altos cargos públicos ou a expoentes da vida privada que se destacaram em suas atividades, sejam empresários, cientistas, filósofos, religiosos, etc. Muitos falam assim em tom de brincadeira ou se jactando das posições que ocupam; mas, outros tantos estão falando sério. 
                                                                 A pergunta que logo nos ocorre é a seguinte: - Será que vivemos em um mundo de mentiras, em que somos constantemente enganados pelos que detém o poder de decisão e por aqueles que sabendo da verdade, por detrás dos fatos, não a divulgam publicamente? 
                                                                    
                                                              Entretanto, o que impediria a divulgação da verdade por aqueles que a conhecem? Medo de serem eliminados fisicamente? Temor das conseqüências que adviriam? Fazer parte da conspiração do segredo, como beneficiários deste? Considerar as populações como infantilizadas e sem a maturidade necessária para conhecer a verdade e entender as suas implicações? 
                                                             Inúmeras são as razões e as possibilidades, conforme podemos supor, e acredito que muitos dos que fazem afirmações deste tipo, também eles, não consigam dormir.
                                                           Creio que o Direito Penal poderia incluir um capítulo especial sobre este tipo de ação ou omissão, se ainda não o faz, qual seja: o de alguém conhecer um segredo importante, que ameace a paz, a saúde, a segurança e o bem estar das populações e não divulgá-lo, publicamente, para que as autoridades dele tomassem ciência. Ocorre que, muitas vezes, as próprias autoridades são as detentoras destes segredos ameaçadores, que não são tornados públicos. Como alguns destes procedimentos envolvem violações, explicitas ou implícitas, das leis, razão pela qual são guardados como segredos, não sendo tornados públicos, podem ser comparados, em alguns casos, a ocultação de crimes.
                                                           Em razão da importância que determinadas informações têm, para a vida, a saúde e a segurança dos seres humanos, elas não podem ser mantidas ocultas, como segredos, por aqueles que as possuem, sob pena de praticarem, em certos casos, crimes contra a humanidade.
                                                           Reconheço a necessidade do segredo acerca de determinados assuntos e informações, por parte das autoridades de um país, quando estes beneficiam a sua população e os seus interesses econômicos, políticos, militares e geoestratégicos; mas, quando estes os prejudicam, é um crime não divulgá-los.
                                                         Todavia, o que se vê, frequentemente, são pessoas com destaque importante na mídia afirmarem que detém segredos que, caso fossem revelados, tirariam o sono dos eleitores, dos fiéis, dos consumidores, dos contribuintes; em suma, de populações inteiras. As autoridades teriam,  no meu ponto de vista, sob pena de incúria, o dever de chamar tais pessoas para, em juízo, revelarem tudo aquilo que sabem sobre o assunto que mencionaram.
                                                                  Reconheço, também, que, ao longo da História Humana, muitos daqueles que revelaram publicamente o que sabiam, sobre determinados assuntos, foram alvo de perseguições, de torturas e de morte, por parte daqueles que, na ocasião, detinham o poder. São os casos, dentre outros, de Sócrates, Miguel Servet, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Maimônides, etc. 
                                                               Em que pese tudo aquilo que estas pessoas sofreram, o espírito de solidariedade e de amor aos seres humanos fez com que, como benfeitores da humanidade, se transformassem em mártires da verdade; ao contrário daqueles que historicamente a esconderam e que, eventualmente, vieram a se transformar em sicofantas (biltres, mentirosos, patifes, velhacos) bem sucedidos da mentira. 
                                                                Conforme alguém já disse, quando o povo acordar, quem não conseguirá dormir são esses mesmos que conspiram contra os interesses da maioria; que vivem maquinando em seus gabinetes operações lesivas às populações; que escondem sob o mais alto sigilo informações que, se tornadas públicas, libertariam os seres humanos de crendices, de superstições e de uma servidão consentida pelo desconhecimento da verdade.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.