125. O Retorno das Cruzadas**
Jober Rocha*
As Cruzadas consistiram em episódios militares da Idade Média, de inspiração cristã, que, partindo da Europa Ocidental em direção à Terra Santa (Palestina) e à cidade de Jerusalém, objetivavam a conquista e o domínio daquela região em benefício do Cristianismo.
Terminada a última delas em 1272, mediante um acordo entre o príncipe Eduardo, da Inglaterra, e o sultão Barbars, do Egito, a região permaneceu em um equilíbrio instável e frágil até o ano de 1291, quando a última fortaleza cristã na cidade de São João de Acre foi tomada pelos árabes, e os remanescentes cristãos fugiram para a Europa, para a Grécia e para as ilhas de Chipre, de Malta e de Rodes. Ao todo, foram cerca de duzentos anos de conquistas e de recuos, de ambas as partes, após o Papa Urbano II ter iniciado a pregação da primeira delas, em 1095.
As Cruzadas, que aprofundaram as hostilidades entre o Cristianismo e o Islã, se caracterizaram pela cobiça européia de terras e de riquezas, e pela grande brutalidade por parte de ambos os contendores. A Jihad, guerra religiosa travada pelos muçulmanos contra os hereges e os inimigos do Islã (todos aqueles não muçulmanos), praticamente esquecida no início do século XII, foi reativada em decorrência do início das cruzadas.
Novecentos e vinte anos depois, em 2015, cristãos e muçulmanos ainda se enfrentam pelos quatro cantos do planeta, sejam em combates de tropas regulares, sejam em episódios de guerrilhas nos campos e nas cidades, ou em atos de terrorismo.
Na atualidade em alguns países da Europa, como na Holanda e na Bélgica, cinqüenta por cento dos recém nascidos já são filhos de famílias muçulmanas. Estudos recentes dão conta de que em 2025, um terço dos recém nascidos na Europa será de origem muçulmana.
As taxas de fertilidade de trinta e um dos países da União Européia encontram-se, em média, em torno de 1,38; taxa esta considerada muito baixa, frente aos 8,1 dos muçulmanos que vivem na Europa. Desde 1990, no entanto, o crescimento da população européia tem sido devido, quase que exclusivamente, à imigração islâmica. Atualmente, na França, trinta por cento dos jovens com menos de vinte anos é de origem islâmica. Em algumas regiões deste país esta percentagem chega a quarenta e cinco por cento.
A recente onda migratória originária da Síria e de outros países, em direção aos países da União Européia, certamente, fará com que estes dados mencionados se alterem consideravelmente para mais, em alguns poucos anos. Muitos destes emigrantes, que têm sido absorvidos pelos diversos países da Europa, possuem vínculos com organizações terroristas como o Exército Islâmico, Al Qaeda, Boko Haran, Al Shabab, Talibã, etc., trazendo problemas adicionais aos países europeus que acolhem refugiados muçulmanos.
Constata-se, nos dias atuais, que, em sentido contrário ao das Cruzadas da Idade Média, existe uma nova Cruzada (melhor seria chamá-la de Crescente, pois a iniciativa tem partido dos islamitas cujo símbolo é a Lua Crescente), pacífica, em andamento, através do crescimento da população muçulmana na Europa e outra, violenta, representada pela prática de atos terroristas que ceifam vidas e produzem feridos entre cristãos, judeus e muçulmanos, nos países europeus.
O recente atentado em Paris, onde morreram cerca de 130 pessoas e perto de 300 ficaram feridas, é um exemplo destes problemas adicionais mencionados. É de se supor que estes atentados continuarão ocorrendo, em diversas cidades e capitais da Europa.
Como a toda ação corresponde uma reação em sentido contrário, é de se esperar o acirramento da luta entre cristãos, judeus e islamitas; principalmente, em razão dos interesses econômicos e geoestratégicos envolvidos com a produção e a comercialização do petróleo, como também do radicalismo religioso destes últimos que, ademais de considerarem os dois primeiros como inimigos de Alá, almejam fazer do Islã a religião mundial e impõem a Sharia (Lei islâmica que constitui a base religiosa, política e cultural de todos os muçulmanos) entre as comunidades islâmicas do ocidente, impedindo-as de adotarem os costumes dos países ocidentais para onde emigraram.
Diferentemente das cruzadas da Idade Média, quando o estágio de desenvolvimento tecnológico das armas e das táticas de guerra era ainda muito primitivo, uma Cruzada atual em direção a Europa, com origem na Síria, na Palestina, no Iraque e no Afeganistão, entre cristãos, judeus e islamitas, pode conduzir o mundo para uma Terceira Guerra Mundial, com conseqüências devastadoras para toda a humanidade; já que, as principais potências envolvidas por detrás destes acontecimentos (USA, Inglaterra, França, Rússia, China, Israel e Irã) são todas elas potencias nucleares.
Esperemos que o bom senso prevaleça entre as elites que detém o poder no mundo e que, em futuro próximo, o radicalismo religioso ceda lugar ao ecumenismo respeitoso ou, até mesmo, a adoção de uma única religião universal, já idealizada pelos Cavaleiros Templários, de Jerusalém, pouco antes de serem presos e de terem a sua ordem extinta, em 22 de março do ano 1312, e nos dias de hoje já proposta pelo atual papa Francisco.
_*/ Economista; MS pela Universidade de Viçosa, MG; Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Publicado na Revista Ideias em Destaque nº 46, jul/dez 2015. Instituto Histórico e Cultural da Aeronáutica – INCAER. Rio de Janeiro, RJ.
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