quinta-feira, 4 de agosto de 2016

118. Interpelando conceitos e crenças

Jober Rocha*


           Caros amigos, eu resolvi iniciar este texto pelas palavras do poeta grego Eurípedes, quando afirmava que “escravo é aquele que não pode dizer o que pensa”. Eu vejo as coisas, exatamente, como o referido poeta e jamais me deixei escravizar pela autocensura naquilo que escrevo. Indo um pouco mais além da definição de Eurípedes, eu diria que escravo é também aquele a quem proíbem de ler o que outros pensaram e escreveram. 
                    Reconheço, ademais, que o nome deste blog, ‘O interpelador’, pode dar falsa ideia de que me dirijo aos meus leitores com alguma pergunta ou pedido de explicação, em tom confrontativo. 
                    A interpelação que faço quando escrevo não tem nada a ver com aqueles bons amigos que, de forma generosa, leem os textos que escrevo e é, sempre, dirigida às verdades já estabelecidas e consolidadas pelo tempo; bem como, a confrontação que busco diz respeito, somente, às crenças e às crendices que, eventualmente, possam dominar a imaginação dos leitores. 
                     Assim, como em sua apresentação inicial este blog já menciona que os textos aqui divulgados são, necessariamente, polêmicos ou então humorísticos (pois o humor é também uma forma branda de interpelar conceitos e verdades e de confrontar crenças e crendices), rogo a todos que relevem o ímpeto com que invado a privacidade das suas convicções, embora este seja o meu principal objetivo. Quanto mais todos nós duvidemos daquilo em que hoje acreditamos, maior será, certamente, o nosso crescimento cultural e espiritual futuro; muito embora, seja bem mais cômodo possuir verdades que acumular dúvidas. 
                     Mas, mudando de assunto, você, meu caro leitor, já parou para indagar por que razão Deus, que é único, está por detrás de todas as diferentes religiões com uma face distinta; religiões que, por vezes, se opõem umas as outras de forma violenta e que dizem ser, cada uma delas, portadoras da verdade e únicas representantes oficiais deste Deus, criador de todas as coisas? Todas elas, evidentemente, contam com o beneplácito dos Estados para pregarem por todo o território dos países onde têm livre curso, dispondo de facilidades e de incentivos não estendidos aos cidadãos comuns; inclusive, sendo beneficiadas com a isenção de impostos e taxas sobre aquilo que arrecadam dos seus fiéis e seguidores.
                     A explicação é simples: a religião representa o modo pelo qual as elites dominantes de cada povo entendem, e permitem que seja professada em seu próprio benefício, a ideia Metafísica daquele povo; ou seja, seus sistemas culturais e de crença, que relacionam a humanidade com a espiritualidade transformando-a em moralidade, em ética e em estilo de vida. 
                   Nada tem a ver, portanto, com os desejos ou os ensinamentos do Criador, que nunca se manifestou a respeito dos seus reais objetivos para com as suas criaturas, de forma a não deixar restarem dúvidas de que realmente o fez. Tudo aquilo que as religiões dizem lhes haver sido revelado pelo Criador, fica, sempre, no campo da especulação e dos dogmas. 
                    Por sua vez, jamais se viu, sendo livremente processada, uma religião que fosse contrária aos interesses das elites dominantes.   A falta de religião (ou o Ateísmo), por ser contrária aos interesses das elites, é uma das razões pelas quais o Comunismo tem sido combatido, historicamente, ao redor do mundo. Todos os monarcas e imperadores que a história registra, sempre permitiram, em seus reinos e impérios, a prática de todas as religiões que não fossem contra os seus interesses, proibindo aquelas que os contrariavam ou que incitassem as massas a questionarem as suas decisões. Não que o fizessem por serem bondosos ou religiosos, mas, faziam isto, tão somente, tendo em vista seus interesses de longo prazo e os de suas dinastias. 
                   As religiões, em troca, afirmavam que os reis, monarcas e imperadores eram indivíduos que chegavam aquelas altas posições pela vontade de Deus e, ainda, que eram representantes daquela divindade, tão importantes quanto os seus próprios sacerdotes. Isto não impedia, no entanto, que em diversas ocasiões estas majestades entrassem em conflito com os sacerdotes pela disputa dos bens terrenos.
                    Pela análise dos mandamentos, conforme a lenda, escritos por Deus em placas de pedra entregues ao profeta Moisés e, posteriormente, adotados pelos católicos, luteranos, adventistas, anglicanos, presbiterianos, ortodoxos e outros protestantes, podemos constatar que nenhum deles é contrário ou faz criticas as elites dominantes. Podemos ver que os mandamentos, apresentados no quadro a seguir, vieram de encontro aos desejos das elites (e também do povo, na medida em que tornavam pecados proibidos os atos de matar, adulterar, furtar, cobiçar a mulher e os bens do próximo, prestar falso testemunho, mentir, etc.). Na realidade, eles tratavam de proibir um conjunto de ações que, lesivas a todos, eram recriminadas pelos próprios indivíduos ao organizarem-se em comunidades. 
                    A seguir, apresentamos a relação dos mandamentos para aquelas religiões que os adotam, obtida em   http://super.abril.com.br/historia/quais-os-10-mandamentos-para-cada-religiao

Judaísmo - século 10 a.C.
1. Eu sou o Senhor teu Deus
2. Não ter outros deuses. Não adorar ídolos
3. Não usar o nome de Deus em vão
4. Manter sagrado o dia do senhor
5. Honrar pai e mãe
6. Não assassinar
7. Não cometer adultério
8. Não roubar
9. Não prestar falso testemunho
10. Não cobiçar a casa do próximo. Não cobiçar a mulher do próximo

Ortodoxos - século 11 d.C.
1. Eu sou o Senhor teu Deus. Não ter outros deuses
2. Não adorar ídolos
3. Não usar o nome de Deus em vão
4. Manter sagrado o dia do senhor
5. Honrar pai e mãe
6. Não assassinar
7. Não cometer adultério
8. Não roubar
9. Não prestar falso testemunho
10. Não cobiçar a casa do próximo. Não cobiçar a mulher do próximo

Católicos - século 4 d.C.
1. Eu sou o Senhor teu Deus. Não ter outros deuses. Não adorar ídolos
2. Não usar o nome de Deus em vão
3. Manter sagrado o dia do senhor
4. Honrar pai e mãe
5. Não assassinar
6. Não cometer adultério
7. Não roubar
8. Não prestar falso testemunho
9. Não cobiçar a casa do próximo
10. Não cobiçar a mulher do próximo

Protestantes - século 16 d.C.
Introdução - Eu sou o Senhor teu Deus
1. Não ter outros deuses
2. Não adorar ídolos
3. Não usar o nome de Deus em vão
4. Manter sagrado o dia do senhor
5. Honrar pai e mãe
6. Não assassinar
7. Não cometer adultério
8. Não roubar
9. Não prestar falso testemunho
10. Não cobiçar a casa do próximo. Não cobiçar a mulher do próximo
               Nota-se pela comparação, que as principais religiões ocidentais adotam cerca de dez mandamentos, supostamente comunicados às criaturas pelo Criador. Pode-se perceber, todavia, que algumas trocam a ordem deles entre si e que os três primeiros mandamentos, em todas elas, apresentam um Deus, aparentemente, vaidoso de Sua unicidade (ou então uma religião que não desejava a concorrência das demais). Os outros mandamentos destacam coisas muito terrenas e machistas; isto é, interesses egoístas dos seres humanos, em geral, e dos homens, em particular (ou seja, a proibição da cobiça dos bens alheios e da mulher do próximo, do furto, do assassinato, etc.).                          Naquela oportunidade, única segundo a lenda, de comunicação por escrito entre o Criador e suas criaturas (posto que, até hoje, não houve outra oportunidade igual), é, no mínimo, estranho que o Criador não tenha aproveitado a ocasião para falar de importantes coisas espirituais e tenha gasto seu tempo falando sobre a proibição de furtar, de dar falso testemunho, de cobiçar a mulher do próximo (e não de cobiçar o cônjuge do próximo, indicando, assim, que o Criador, da mesma forma que ocorria com os homens, tratava a mulher como um ser inferior). 
                     Vê-se, portanto, que os mandamentos, ao invés de Divinos, possuem uma origem humana e machista, que, se no passado satisfizeram aos nossos antepassados, que acreditaram terem eles sido proferidos pelo próprio Criador; cada vez mais, se torna evidente à geração atual, possuírem eles uma origem humana (demasiadamente humana, para copiar a frase do filósofo alemão F. Nietzsche).
                       Entretanto, na medida em que a ciência progredia, a população aumentava e as barreiras caiam, o nosso planeta se transformou em uma única comunidade globalizada, na qual os seres humanos passaram a ter maiores oportunidades de adquirir conhecimento e de se informar. Paradoxalmente, aquilo que foi, inicialmente, planejado pelas elites com o objetivo de proporcionar maiores lucros para poucos (ou seja, a globalização das economias), em razão de um efeito perverso (aumento da informação em decorrência do surgimento da informática e da WEB), pode gerar maior libertação para muitos; desde que estes entendam como as coisas se passaram e ainda se passam, aprendam a filtrar as informações que recebem e usem seus direitos e prerrogativas de cidadãos, de consumidores, de eleitores, de telespectadores, de fiéis, de contribuintes, etc., para mudar a sociedade em que vivem. 
                     Não se trata de derrubar governos nem sistemas econômicos, mas, apenas, de demonstrar às elites dominantes que somos seres humanos como eles, e que as relações entre dominadores e dominados podem se pautar por maiores e melhores padrões de convivência e de justiça social, sem a necessidade da mentira entremeando estas relações, como até então têm vigorado. Queremos ser sócios, embora minoritários, nos destinos do nosso planeta, e não escravos para sempre de elites dominantes, que usam e abusam dos sentimentos teístas e místicos dos indivíduos para dominá-los; já que, tais sentimentos são intrínsecos a todos os seres humanos.
                       Finalizando, reconheço que muitos leitores poderão considerar tudo aquilo que aqui tem sido dito, como uma afronta ou mesmo como uma heresia, pois penetra nos domínios da religião, com uma versão diferente para fatos que durante milhares de anos foram apresentados como verdadeiros, mas que não resistem ao transcorrer do tempo e ao avanço do conhecimento humano. 
                       Da mesma forma, muitos não concordarão com as hipóteses que, ao longo de todos os textos postados neste blog, têm sido apresentadas. Entretanto, estas não serão nem melhores nem piores que quaisquer outras existentes (inclusive a versão oficial dos fatos); pois, como está sobejamente demonstrado por historiadores, pensadores e estudiosos da religião, não comprometidos com nenhuma delas, a par das inúmeras contradições existentes nos evangelhos constantes do Novo Testamento, não existe nenhum fato arqueológico, ou histórico e científico, que confirme a veracidade de fatos ali narrados (morte na cruz, ressurreição e divindade de Jesus; virgindade e inseminação divina de Maria; ressuscitação de mortos, tremor de terras, queda do sol e de estrelas no momento da morte de Jesus na cruz; milagres, etc.). 
                        Os evangelhos do Novo Testamento, segundo o professor Bart D. Ehrman, em sua obra ‘Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi? (Ediouro, 2000): “foram produzidos por pessoas que não conheceram Jesus, não viram nada do que ele fez e não ouviram nada do que ele ensinou; pessoas que falavam um idioma diferente do dele e viviam em outro país. O evangelho de Marcos foi o primeiro a ser escrito, por volta do ano 70 D.C. Mateus e Lucas usaram Marcos como fonte e foram escritos por volta de 80 e 85 D.C. João foi escrito por volta de 90 a 95 D.C. e as epístolas e os Atos de Paulo por volta de 50 D.C. Isto indica que os relatos mais antigos sobre a vida de Jesus foram escritos entre 35 e 65 anos após a sua, suposta, morte na cruz".
                      Ainda, segundo Bart D. Ehrman, na obra citada, “Um grande número de livros dos primórdios da igreja foi escrito por autores que alegaram, falsamente, serem apóstolos para enganar os leitores e fazê-los aceitar seus livros e os pontos de vista que representavam. Jesus, aparentemente, não tinha qualquer intenção de criar uma nova religião. A sua religião era a dos judeus, corretamente interpretada segundo Jesus (em oposição, claro, às outras interpretações como a dos fariseus e a dos saduceus)”.
                      A história da trajetória humana sobre a face da Terra tem sido tão distorcida, manipulada e escondida, ao longo dos últimos milênios, que a verdade, talvez, nunca mais seja encontrada por aqueles que a procuram. Certamente, alguns poucos possuem o conhecimento sobre ela, mas este é mantido em total segredo por aqueles que a usam em benefício próprio. A regra geral tem sido: apagar, modificar ou re-escrever, em favor dos interesses das elites, a verdadeira história da humanidade. Acredito, no entanto, que ainda neste século conseguiremos nos sobrepor a este acobertamento e a esta dissimulação, históricos.
                     Fazemos nossas as palavras de Marcelo da Luz, quando diz em sua obra ‘Onde a religião termina?’ (Editares): “A diretriz norteadora das discussões conscienciológicas é o Princípio da Descrença: Não acredite em nada, nem mesmo naquilo que você lê aqui. Experimente. Tenha suas próprias experiências.  Este princípio derruba qualquer pretensão de dogmatismo ou de fundamentalismo”.
                        Lembremo-nos, mais uma vez, da regra número dois de Chomsky, a de criar problemas e depois oferecer a solução (encontrada na obra ‘Visões Alternativas’, de Noam Chomsky). Através deste engenhoso mecanismo, as massas têm sido conduzidas a trilhar o caminho planejado pelas elites no próprio interesse delas. Da mesma forma, a apresentação da mentira como verdade e da maldade como bondade é outro artifício que confunde os seres humanos (recordemos que durante a inquisição torturava-se, matava-se e roubava-se em nome do bem, das virtudes e da Santa Madre Igreja). Mais recentemente, durante a segunda grande Guerra, milhões de seres humanos pereceram (entre eles milhões de judeus), sob os mais variados chavões ou argumentos: espaço vital, sub-raças, liberalismo, solução final, raça-pura, mundo livre, combate a tirania, etc. Por trás destes argumentos, que objetivavam mobilizar os povos para a guerra, apenas existiam os interesses geopolíticos, geoestratégicos e econômicos das elites mundiais.
                              No que tange a apresentação do demônio como divindade, alguns autores enfatizam teorias vinculando tanto sociedades secretas quanto religiões, esotericamente, ao demônio, embora se apresentando, exotericamente, como representantes de Deus. Conforme já demonstrado no texto 56 deste blog (O Pecado e o Demônio), o demônio bem como a sua morada, o inferno, foram criados pela Religião para amedrontar seus fiéis seguidores, não passando de metáforas para representar o mal (como recentemente reconhecido pelo atual papa Francisco); todavia, certamente, milhões de seres humanos nele acreditam e, por um desvio de conduta cujas raízes profundas são de ordem psicológica ou espirituais, trabalham para vê-lo prosperar, em troca de fortuna e de glória terrenas. É fato que muitos artistas, políticos, empresários, atletas, etc., são acusados de terem feito pactos com o demônio, objetivando o sucesso e a riqueza. 
                            Não posso afirmar se tais pactos funcionam ou não para os interessados; porém, afirmo que funcionam para aqueles que trabalham de intermediários nestas operações e auferem elevadas somas para fazê-lo. O mesmo se passa também para aqueles que fazem a intermediação entre as criaturas e o Criador, e cobram regiamente pelo serviço que, supostamente, prestam. No passado vendiam-se assentos no céu e absolvição prévia de futuros pecados, óleos santos, imagens sagradas, amuletos, relíquias santificadas, etc. Em alguns lugares ainda o fazem na atualidade.
                             Enquanto C.J.A. Rosière, em sua obra ‘O Mito Jesus – A Linhagem’ (Novo Mundo, 2009), levantava dezenas de personalidades importantes ao longo da história, como sendo descendentes de Jesus por intermédio da dinastia Plantageneta e da dinastia Merovíngia, e apresentava 67 gerações, outros autores mencionam estas duas dinastias como sendo adoradoras do Demônio.
                              Alexandra Robbins em ‘The Atlantic Online’, de maio de 2000, afirma que inúmeros ex-estudantes da Universidade de Yale, pertencentes a tradicionais famílias das elites norte-americanas e mundial, fazem parte da ‘Skull & Bones - Sociedade Caveira e Ossos’, a que pertenceram inúmeros ex-presidentes daquele país. Dentre suas revelações, encontramos: prova de feitiçaria em várias famílias importantes das elites mundiais; ênfase na morte e em caveiras em toda a parte, muito típico de uma Sociedade de Irmandade da Morte; nomes secretos assumidos por certos membros, no passado; submissão espiritual ao papa, típica dos Illuminati; admissão de vínculos com os nazistas, com o CFR (Conselho das Relações Exteriores) e com a Comissão Trilateral.
                              E por aí vai.
                       Qual a conclusão que podemos tirar destes fatos? Apenas as seguintes: Ou os dois autores citados estão errados (genealogicamente falando, com respeito à descendência dos Plantagenetas e dos Merovíngios), apenas um deles está errado ou ambos estão certos.
Com respeito às hipóteses anteriores, apenas a última parece ser a verdadeira; isto é, ambos os autores estão certos, pois estas descendências podem ser comprovadas através dos estudos de genealogia.
                     A discussão se tais personagens, historicamente mencionados, são representantes de Deus ou do Demônio é que não encontra apoio na História. Entretanto, estamos certos que ambos os autores referem-se a dinastias oriundas de um mesmo tronco inicial, isto é, de Jesus e de Madalena. Considerando todos os aspectos já mencionados anteriormente, pode-se supor que o verdadeiro Criador, certamente, não endossaria, não permitiria ou mesmo não contribuiria para fraudes históricas, para a escravidão, para torturas, mortes, dominação, guerras, perseguições, etc., promovidas, em seu nome por elites gananciosas, ao longo da história humana; razão pela qual, imaginamos que aqueles personagens, mencionados por ambos os autores, não estão do lado da divindade, mas, sim, do lado do seu oposto.


_*/ Economista, M.S. e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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