328. A República dos Especialistas
Jober Rocha*
Segundo os dicionários um especialista ou perito ou 'expert' é alguém que se ocupa, exclusivamente, de um ramo particular de uma Ciência, de uma Arte, etc. O título é dado, também, aos profissionais que concluem algum curso de pós-graduação ‘lato sensu’ em qualquer área do conhecimento. Também pode ser chamado de especialista aquele profissional liberal que se empenha em estudar, conhecer e trabalhar em determinado campo do saber ou especialidade.
O nosso país, segundo a mídia tenta nos fazer crer, seria, pois, uma terra de especialistas, tanto são aqueles que emitem seus palpites e pareceres sobre os mais variados assuntos.
Qualquer evento de natureza climática, qualquer acontecimento político, qualquer declaração de autoridade governamental, qualquer crime cometido ou qualquer competição esportiva, por exemplo, são analisadas por ‘especialistas’ contratados, às vezes à peso de ouro pela mídia, visando desinformar ou criar contrainformação que neutralize a verdade dos fatos, conhecida, apenas, de poucos brasileiros.
As hipóteses e as teorias que inúmeros destes especialistas difundem são, em sua maioria, totalmente estapafúrdias; principalmente, por se tratarem, grande parte de seus difusores, de pessoas totalmente desqualificadas e despreparadas para aquelas tarefas a que se propõem.
Comparo estes especialistas àqueles torcedores que, antigamente na maioria das capitais do país, costumavam fazer ponto em torno das bancas de jornais, logo nas segundas-feiras, para comentar o jogo do domingo anterior e fazer previsões sobre os resultados finais dos campeonatos estaduais e nacionais.
A mídia trata todos os seus palpiteiros por especialistas, de modo a valorizar suas opiniões e justificar os elevados valores por eles cobrados para emitir simples opiniões pessoais, proferidas com ares doutorais de que constituem verdades incontestáveis e baseadas, segundo dizem, em informações privilegiadas que afirmam possuir e em supostos estudos, desconhecidos de todos aqueles que os ouvem.
Assim é que, diariamente, vemos especialistas falando sobre a contaminação das praias do Nordeste pelo petróleo; sobre as queimadas na Amazônia; sobre o impacto, no aumento da criminalidade, da morte de algum chefão local do narcotráfico; acerca dos desdobramentos de diversas ações parlamentares; sobre o real significado oculto das últimas palavras ditas por algum dos filhos do presidente, etc.
Tais especialistas, como ocorre com muitos videntes e profetas, ao não verem realizar-se as suas previsões alegam a existência de mudanças conjunturais externas, de última hora, que, ao cambiarem o cenário nacional, invalidaram as últimas análises e projeções por eles efetuadas. Tornam, pois, logo em seguida, a fazer novas análises para as futuras realidades que anteveem, perpetuando, desta forma, suas imagens de especialistas perante um público ignorante que segue acreditando naquilo que ‘os especialistas’ dizem.
O fato é que nosso país está cheio destes analistas sem cursos, sem mestrados, sem doutorados, sem experiências práticas; em suma, sem ‘Currícula Vitarum’. São especialistas exclusivamente descobertos pela mídia, que lhes assegura o notório saber que propalam e lhes atribui o título de especialistas que ostentam, mesmo que digam, apenas, sandices, asneiras, estultices, parvoíces, necedades e mentiras em seus pronunciamentos sobre determinados temas.
Ao mesmo tempo em que promove estes ‘especialistas’, a mídia tenta descaracterizar profissionais sérios, comprometidos, de uma maneira geral, com a honestidade de princípios em tudo aquilo que fazem, com o patriotismo e com o senso de justiça de que são dotados. Os leitores mais sagazes já perceberam quais são esses profissionais sérios a que me refiro, diariamente maltratados e vilipendiados pela grande mídia e por políticos oportunistas envolvidos em falcatruas, que tais profissionais investigam.
A grande mídia brasileira, transforma-se, assim, frequentemente, em um instrumento a serviço de interesses políticos e econômicos nefastos, trabalhando, quase sempre, contra os interesses da nossa população; razão pela qual, poderia ser deixada de lado pelo público, cuja fonte de informações deveria se ater às redes sociais e a WEB, onde são encontradas informações verdadeiras com maior frequência e a autocensura praticamente inexiste.
Especialistas, evidentemente, existem em todos os países. Todavia, nos países desenvolvidos os analistas, peritos, 'experts', etc., costumam possuir títulos acadêmicos que os credenciam e, nestes lugares, realmente, a especialidade é um fato corriqueiro e o referido profissional preza muito o seu nome no meio em que trabalha. Mesmo assim, muitos analistas ainda fazem previsões erradas. Por outro lado, o público que os ouve é muito mais intelectualizado, politizado e crítico. Ademais, aquilo que tais especialistas afirmam lhes costuma trazer consequências, profissionais, cíveis, criminais, etc.; razão pela qual tomam cuidado com tudo aquilo que afiançam.
Outro aspecto em que nós, os brasileiros, somos pródigos, refere-se aos assuntos tratados pelos políticos nos parlamentos. Sem medo de errar, eu diria que um grande percentual daquilo que é discutido diariamente nos parlamentos brasileiros trata de assuntos de somenos importância para os eleitores, em particular, e para povo, em geral. Trata, sim, de assuntos importantes para os próprios políticos, para os seus partidos e para determinadas elites nacionais e internacionais a que servem.
Ainda sem medo de errar, eu diria que um grande percentual do tempo dos magistrados das mais altas cortes é despendido analisando e julgando processos de réus da elite; réus estes que possuem bancas de advogados especializadas e caras trabalhando para defende-los.
Novamente, sem medo de errar, eu diria que um grande percentual das concorrências públicas para aquisição de obras, bens e serviços, possui algum tipo de vício de origem, que beneficia determinados contratados e alguns poucos contratantes.
Sem medo de errar, eu diria, ainda, que um grande contingente de servidores públicos, a sobrecarregar os orçamentos da união, dos estados e dos municípios, em razão de nepotismo ou de sinecuras proporcionadas por seus padrinhos políticos, nada faz de produtivo ou vive, apenas, maquinando alguma forma de enriquecimento, com recursos públicos, em sua maioria de forma ilícita ou, no mínimo, escusa ou imoral.
Quase ia me esquecendo das obras desnecessárias e supérfluas, como os estádios de futebol superfaturados, ociosos e sem nenhum uso alternativo após as copas e os campeonatos; das pontes e viadutos que ligam o nada a lugar nenhum; das casas populares que esfarelam meses após serem entregues aos seus moradores; das estradas esburacadas pouco tempo depois de serem inauguradas; das frotas de veículos novos, abandonadas ao tempo em algum terreno baldio distante, logo após terem sido recebidos da fábrica; dos remédios comprados através de concorrência pública e que já são entregues com os prazos de validade vencidos. E por aí vai...
Assim, meus caros leitores, por mais impostos que paguemos dificilmente conseguiremos ter tudo aquilo de que necessitamos, em termos de Saúde, Segurança, Habitação, Saneamento e Transportes, por exemplo. Damos um passo adiante, como país sério de gente trabalhadora e honesta, e dois ou mais passos para trás como uma republiqueta de bananas, com políticos e autoridades venais e corruptas.
Isto, no entanto, já vem ocorrendo há algumas décadas, nas quais a ideologia marxista tem dominado o cenário nacional e continental. Por incrível que pareça, muitos brasileiros ainda não se deram conta do que vem ocorrendo e defendem aqueles que têm sido, eles mesmos, os responsáveis por este verdadeiro caos na economia, na política, no ordenamento legal e na segurança jurídica. Alguns deles já estavam, inclusive, presos no âmbito da Operação Lava a Jato, condenados que foram em duas instâncias anteriores e, infelizmente, acabaram soltos por decisão bastante dividida (6 favoráveis x 5 contrários) no âmbito da mais alta corte do país.
Se nós, brasileiros, temos alguma pretensão de tornar o nosso país uma potência mundial, que proporcione emprego e renda capaz de sustentar uma população da ordem de 210 milhões de pessoas ou mais, as coisas aqui precisam mudar de forma drástica e rápida. Temos que ser mais conscientes em nossas escolhas políticas, mais honestos em nossas atitudes diárias, mais corajosos em nossas reivindicações e exigências e mais patriotas em nossas posturas. Em suma, devemos tentar proceder como muitos patriotas que nos antecederam com seus exemplos dignos, tendo sempre em mente o progresso das gerações que nos sucederão e o alcance dos nossos objetivos nacionais permanentes.
_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de defesa – ABD e do Centro de Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.
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