quarta-feira, 6 de novembro de 2019

321. As Conspirações do Silêncio e do Ruído


Jober Rocha*



                             Ouvi falar pela primeira vez em conspiração do silêncio ao assistir ao filme ‘Bad Day at Black Rock’, de 1954, do diretor norte-americano John Sturges, que tinha Spencer Tracy no papel principal e cujo título, no Brasil, foi ‘A Conspiração do Silêncio’. Foi este o primeiro filme em Cinemascope, produzido pela MGM e também o último filme de Spencer Tracy para a referida empresa cinematográfica e com a peculiaridade de que o roteiro do filme foi considerado subversivo pelo então presidente da MGM, Nicholas Schenck.
                                       A magistral interpretação de Tracy, no entanto, foi premiada no Festival de Cannes de 1955.
                                           A história do filme se passa em 1945, dois meses após o fim da 2ª Guerra Mundial. No vilarejo de Black Rock chega um idoso desconhecido, John MacReedy (Spencer Tracy), que tem só um braço. Apesar da sua idade e deficiência física, sua presença incomoda cada vez mais os moradores do local, em parte por ser o primeiro visitante que ali aportava em 4 anos (literalmente o trem nunca parava naquela estação) e, também, por ficar cada vez mais claro que todos os habitantes estavam escondendo algo do visitante. Quando ele diz que está procurando Komoko, um japonês residente no local e que está desaparecido, a tensão aumenta e parece que todos obedecem a Reno Smith (Robert Ryan), o "dono" de Black Rock.
                                          O filme em questão tratava da má consciência de uma comunidade de indivíduos que, por medo, covardia, ignorância e maldade, havia feito um pacto de silêncio sobre determinado crime desprezível por eles cometido.
                                   Os espectadores do filme, segundo pesquisas feitas durante e após o lançamento da película, torciam o tempo todo pelo sucesso do visitante e personagem principal, John MacReedy.
                                         Qualquer leitor mais perspicaz já terá percebido aonde desejo chegar. A semelhança desta história com a do atual presidente Jair Bolsonaro é bastante significativa. A história recente, em que Bolsonaro é o personagem principal, se passa alguns meses após o impeachment de Dilma Roussef, com o nosso país destruído como se tivesse participado em uma verdadeira guerra e perdido. 
                                              Por ser o primeiro presidente liberal de direita, após anos de governos de esquerda (em que a máquina pública dos três poderes da república fora, efetivamente, aparelhada com muitos militantes e ativistas dos partidos de esquerda, partidos estes formadores das bases parlamentares dos governos petistas), ficou cada vez mais claro para o novo presidente que inúmeros de seus subordinados e colaboradores forçados (sim, pois, embora funcionalmente subordinados ao atual presidente, tinham sido nomeados pelos presidentes anteriores – um deles já preso por crime de corrupção – de quem eram eleitores e a quem deviam favores) lhe escondiam algo e, até mesmo, sabotavam as suas decisões. Não é necessário ser presidente da MGM, como   Nicholas Schenck, para perceber que essa atual conspiração do silêncio contra o presidente, como aquela do velho filme, possui um caráter nitidamente subversivo. 
                                             Quando Bolsonaro mencionava na mídia estar procurando por alguém honesto e patriota para ajudá-lo na tarefa que tinha pela frente, como no filme mencionado, a tensão aumentava; ficando claro que muitos servidores escondiam a verdade e não obedeciam ao presidente, mas, sim, a alguns outros personagens, que dividiam com ele o comando dos denominados ‘três poderes da república’.
                                                 Paralelamente a isto, desenvolvia-se uma outra sedição, que denomino a Conspiração do Ruído, promovida pela grande mídia nacional e estrangeira, por membros do setor artístico e estudantil e por alguns governadores de Estado, vinculados a partidos de esquerda e insatisfeitos com a eleição majoritária de um governo liberal de direita, que passaria, dali em diante, a fiscalizar com rigor a concessão de verbas públicas.
                                                       Diariamente, desde que o presidente tomou posse e fechou as torneiras por onde escoava, descontroladamente, o dinheiro público, os principais grandes meios de comunicação deram início a uma campanha de críticas, de acusações e de difamação, contra ele e a sua equipe, visando desestabilizar aquele governo que se iniciava e usando, para tanto, o ruído das críticas traiçoeiras e inverídicas, produzidas e veiculadas através de milhares de mídias menores, de entrevistas, de filmes, etc., realizados no país e no exterior por grandes grupos midiáticos prejudicados pelo atual governo, como já dito, em seus interesses espúrios.
                                                A conspiração do silêncio que hoje se observa existir nos três poderes da república é dirigida contra o presidente e sua equipe e consiste, portanto, em um processo de ocultação de informações verdadeiras e de distorção de fatos e de dados, de modo a tumultuar e confundir a nova administração, buscando, assim, um mau desempenho desta que a incompatibilize com os anseios da população. 
                                                  A conspiração do ruído, por seu turno, é que tem como público alvo toda a população brasileira e objetiva, também, através da sonegação de informações verdadeiras e mediante a divulgação maciça das chamadas ‘Fake News’, desinformar e produzir contrainformação, de modo a que os brasileiros jamais saibam o que se passa, na realidade, nos campos político, econômico, militar e psicossocial brasileiros.
                                               O nosso povo de bem, que pagou muito caro para ver o novo espetáculo do Brasil sendo alçado ao Primeiro Mundo e livre do comunismo de uma vez por todas, torce pelo sucesso do protagonista principal, Jair Bolsonaro, da mesma forma como os espectadores do antigo filme torciam para John MacReedy.
                                              Entendo que a construção de uma relação de verdade, com a destruição das conspirações de silêncios e de ruídos, embora conduza à angustias e sofrimentos iniciais, torna-se absolutamente necessária para o sucesso da administração Bolsonaro e para o desenvolvimento econômico e social do nosso país. Para este objetivo, minha opinião é a de que a participação popular é indispensável e fundamental.
                                               Em primeiro lugar, deixando o povo de acompanhar as notícias da grande mídia e de acreditar nas informações por ela divulgadas. Em segundo, os cidadãos participando ativamente dos movimentos de massa promovidos pelos apoiadores do atual governo. Em terceiro, todos denunciando as ações e as informações, sobre as quais tiverem conhecimento ou ciência, promovidas pelas esquerdas e seus aliados criminosos, de colarinho branco, de colarinho sujo, de camisa sem colarinho ou, até mesmo, descamisados, que sejam contrárias aos interesses dos cidadãos de bem, à preservação da moral e dos bons costumes.
                                                  A participação popular é fundamental por que, por definição, os seres humanos são considerados racionais e as únicas situações em que podem perder a racionalidade são aquelas em que se vêm dominados pelas paixões ou pulsões (impulsos funcionando sob o Princípio do Prazer, isto é, buscando, sempre, aquilo que produza prazer e evitando o que cause dor), coisa comum em seres humanos ambiciosos pelo poder e pela riqueza, como costuma ocorrer com os políticos e com aqueles que têm como meta galgar os mais altos postos nos três poderes da república e na vida privada.
                                                  Neste sentido, as paixões (ambição, antipatia, ciúme, egoísmo, fanatismo, frieza, interesse, inveja, mágoa, medo, orgulho, raiva, soberba, etc.) podem ser entendidas como vícios, que debilitam a mente do indivíduo; pois este se foca, apenas, no objeto de seus pensamentos, sendo todos os demais momentâneos e irrelevantes. 
                                               Creio ser esta uma característica intrínseca dos atuais conspiradores do silêncio e do ruído, que, ademais de ideologicamente doutrinados de forma nefasta, sempre se moveram pelas paixões espúrias e já torciam para o novo governo dar errado, desde antes de ter começado; ainda que o seu objetivo fosse o de buscar consertar todo o mal deixado pelos governos anteriores.
                                               Seria uma ilusão imaginar que estes tradicionais conspiradores, eventualmente tocados por um sopro divino nesta nova gestão, abandonassem suas paixões e mudassem as maneiras malignas de agir, se transformando, de uma hora para outra, em anjos do bem interessados em construir, com seus trabalhos, o nosso futuro como potência; deixando de lado seus interesses particulares mesquinhos de construir os próprios futuros e os de suas famílias com o dinheiro público.
                                                  Tendo em vista esta constatação, urge que o novo governo tenha pessoas da sua mais absoluta confiança nos três poderes, cujas vidas pregressas sejam limpas, transparentes e suas lealdades comprovadas. É mandatório o rápido desaparelhamento das instituições públicas, livrando-as dos sabotadores e dos quintas colunas, remanescentes ideologicamente contaminados das passadas administrações de esquerda. 
                                                   É imprescindível ao novo governo contar com o apoio de algumas grandes mídias, já existentes ou a serem criadas, ademais do apoio que já recebe de seus eleitores através das redes sociais. É fundamental ao novo presidente possuir uma assessoria pessoal de inteligência, de alto nível e bem treinada no que respeita às modernas técnicas de segurança das comunicações eletrônicas e computacionais.

_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.

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