quarta-feira, 13 de novembro de 2019

326. Onze respostas de improviso, para autoridades brasileiras surpreendidas por jornalistas em aeroportos.



Jober Rocha*



                                     Acompanhando o desenrolar dos acontecimentos relativos ao chamado Escândalo da Operação Lava a Jato, quando diretores e um doleiro, sob o manto da delação premiada, denunciaram empreiteiros, políticos e membros do executivo em um enorme esquema de desvio de dinheiro da empresa estatal de petróleo, para comprar corações e mentes de políticos e de membros do executivo, além de enriquecer os patrimônios pessoais de todos os envolvidos, chamou-me a atenção as contestações e negativas, apresentadas pelos denunciados quando entrevistados pela imprensa. 
                                                     Todos afirmaram, gaguejando e nervosos, serem mentirosas as acusações que pesavam sobre eles, embora, dentre as regras da delação premiada os delatores devessem apresentar provas concretas daquilo que denunciavam - e, certamente, eles as haviam apresentado. Com a atual libertação de inúmeros envolvidos, já condenados e presos, após o atual voto do STF de que só poderiam ser presos após haver transitado em julgado os seus casos, sabendo-se lá quando isso se daria, resolvi redigir este texto, pois sei que muitos daqueles ex condenados andarão livremente pelo país inteiro, a partir de agora, fazendo proselitismo político e criticando o atual governo e as autoridades responsáveis por suas prisões.
                                                Lembrei-me, para tanto, daquela entrevista concedida por um ex-governador paulista, quando jornalistas lhe perguntavam sobre suas contas na Ilha Jersey (uma das ilhas do Canal da Mancha, para onde havia transferido, segundo acusação que fazia o Ministério Público, o dinheiro arrecadado em obras públicas durante a sua administração à frente do governo paulista), onde teria depositado a ‘suposta bolada’, louvando-se no tradicional sigilo bancário daquele paraíso fiscal:

                                                -“Desafio que provem que aquele dinheiro é meu! Quem conseguir provar pode ficar com ele para si”! – Teria dito o ex governador na ocasião.
                                                 Como sei que nossos políticos, tal qual o ex-governador paulista, jamais serão réus confessos, apresento, a seguir, onze desculpas que, convenientemente decoradas, poderão ajudá-los durante suas entrevistas na mídia, mormente agora que foram libertados e sabe-se lá se, algum dia, retornarão as celas de onde saíram livres, leves e soltos.
                                                    Ao serem surpreendidos por algum jornalista bisbilhoteiro em busca de uma matéria para o seu jornal, durante a espera de voo em algum aeroporto nacional, poderão, simplesmente, utilizar-se de um destes onze argumentos, fornecidos por mim gratuitamente, para desvencilhar-se de maneira rápida e elegante:

1. “Jamais recebi qualquer centavo das mãos daqueles que me acusam.  Vocês estão me confundindo com alguém. Vivi durante toda a minha vida nas montanhas do Tibete e cheguei ao Brasil apenas ontem. Não sei de nada sobre este assunto de que me acusam. Vim ao Brasil para realizar uma palestra sobre levitação, destinada a monges brasileiros. Por favor, me deem licença que estou muito cansado da viagem”!

2. “Desafio a estes que hoje me acusam, que mostrem uma única nota de real com a minha impressão digital gravada. Isto é uma mentira que assacam contra a minha pessoa e, estejam certos, vou processar aqueles que me denigrem na Corte Internacional de Haia, pois, infelizmente, não confio na justiça brasileira”!

3. “Prezados jornalistas, sou deputado há várias legislaturas e já formei, desde muito tempo atrás, o meu patrimônio pessoal. Eu não teria mais necessidade, hoje em dia, de entrar em um esquema milionário como este, que pouco acrescentaria ao meu patrimônio já bilionário”!

4. “Meus caros senhores jornalistas, são absolutamente inverídicas estas acusações que me atribuem. Minha fortuna foi conseguida tanto no setor elétrico, quanto através de advocacia administrativa junto aos bancos oficiais. Todos os projetos do interesse do governo (e das empreiteiras) que aprovei, foram feitos, apenas, com base na possibilidade de poder indicar parentes para cargos de direção na administração pública e jamais por dinheiro”!

5. “Depois destas denúncias, assacadas contra mim e a minha honra, prometo que jamais me candidatarei novamente a um cargo eletivo. Estou enojado destes promotores, delegados e juízes, que, em um simulacro de Inquisição moderna, só pensam em colocar na fogueira aqueles que pensam de maneira diferente da deles e possuem outras convicções mais maleáveis de ordem moral”!

6. “A posteridade me dará razão. Segundo os autores econômicos clássicos, se você não sabe cuidar do seu dinheiro deixe que outro que saiba se aproprie dele e o faça multiplicar em benefício da coletividade. Foi o que fiz com o dinheiro do povo, inexperiente em matéria de finanças. Isto não é um reconhecimento de culpa; mas, apenas, uma afirmação de caráter filosófico, que faço com base nos pensadores gregos os quais admiro”!

7. “Estas denúncias, que me fizeram os delatores premiados, nada mais são do que um grande complô armado contra a nossa Democracia, engendrado pelos Illuminatis, contando com o apoio da maçonaria internacional, abençoado pelo Vaticano, financiado pelos USA e contando com a ajuda de seres extraterrestres infiltrados em nossa justiça e na polícia federal”!

8. “Pensem bem, meus caros jornalistas, raciocinem comigo, simplesmente, com base na lógica formal: Se eu tivesse, realmente, ganhado esta montanha de dinheiro de que me acusam os delatores, vocês não acham que eu teria comprado todos os policiais, promotores e juízes deste caso e o meu nome nem apareceria no processo? Logo, não é verdadeira a acusação que me fazem, pois, meu nome ainda está lá e com destaque no processo”!

9. “Fazendo uma autocrítica sobre o meu mandato, encontrei um único motivo relevante para que os delatores pudessem envolver meu nome nas denúncias: votei contra o casamento de homoafetivos. Não sei não, mas aqueles que me denunciaram parecem jogar no time deles. Um deles tinha até as unhas esmaltadas de vermelho e sombra nos olhos”!

10. “Denúncias irresponsáveis como estas que me assacaram já ocorreram no pretérito e nunca foram apuradas ou tiveram qualquer corolário. Nossos suspicazes promotores e juízes não se deixarão embair ou esbulhar por qualquer rufião leviano que, intempestivamente, levante, a sorrelfa, alguma aleivosia malévola acerca da altivez, decência e apreço de nossos políticos pátrios, dentre os quais me incluo”!

11. “Nego-me a tocar neste assunto com a imprensa, a não ser que seja bem remunerado. Notícias como as que disponho, em primeira mão, envolvendo vários colegas e altas autoridades do governo, valem bem uma centena de dólares. Voltem as suas redações e conversem com seus editores; se estes aprovarem o pagamento, me procurem em meu gabinete parlamentar na quinta-feira, pois não trabalho na segunda, terça, quarta e sexta, já que nestes dias estou junto às bases eleitorais em meu Estado”!


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário