sábado, 30 de novembro de 2019

329. Qual o futuro dos nossos veteranos?**


Jober Rocha*



                              Veterano é um vocábulo normalmente utilizado para caracterizar qualquer militar antigo ou reformado.
                                                No site da Embaixada e dos consulados dos USA, no Brasil, podemos encontrar a seguinte mensagem:

                                      “Em 11 de novembro, os americanos relembram e honram os soldados que serviram durante as guerras nas quais o país participou. Grupos de veteranos organizam churrascos, piqueniques e bailes. Cerimônias religiosas e homenagens aos soldados mortos em combate também são realizadas. O importante propósito do Dia dos Veteranos é uma celebração para honrar os veteranos dos EUA por seu patriotismo, amor à pátria e vontade de servir e se sacrificar pelo bem comum”.
                                               Salta aos olhos de todos que a tradição histórica brasileira com relação aos nossos veteranos, notadamente aqueles participantes da Força Expedicionária Brasileira, que lutaram nos campos de batalha da Europa durante a Segunda Guerra mundial, não tem sido a mesma dispensada pelos demais países, participantes daquele conflito, aos seus próprios veteranos.
                                                Sem dúvida bastante diferente da dos demais participantes mencionados, infelizmente para nós, foi a forma pela qual o nosso país tratou, na ocasião, os heróis que retornaram vivos daquele conflito mundial; bem como, os familiares dos que não retornaram da campanha e cujos restos mortais ficaram sepultados no Cemitério de Pistoia, na Itália, ou foram dados como desaparecidos. 
                                                  Leis e regulamentos em benefício dos ex combatentes e de seus familiares só foram promulgados cerca de quinze anos após haver o conflito terminado. Enquanto outros países souberam recompensar a dor e o sofrimento de seus soldados, o Brasil desmobilizou os dele ainda mesmo na Itália, deixando-os totalmente desamparados após o retorno àquela pátria ingrata que, com o risco da própria vida, foram defender em solo europeu. 
                                                    A permanência de uma ditadura Getulista em nosso país, a princípio pró-germânica, certamente, fez com que o governo não desse nenhum apoio aqueles militares que haviam combatido as ditaduras nazifascistas e que retornavam vencedores. A quase totalidade daqueles ex combatentes chegados ao Brasil, após sofrer as agruras do ‘front’ italiano, não concordava com o Estado Novo Getulista; razão pela qual foram desmobilizados ainda na Itália. Getúlio, ditador, temia ser deposto pelos heróis que retornavam da guerra após combater ditaduras.
                                                   Em que pese o Marechal Eurico Gaspar Dutra haver sido eleito em janeiro de 1946, como resultado final das eleições de 1945/1946, se constatou que o comando da política nacional e sua base eleitoral, como também a estrutura dos interesses políticos do PSD e do PTB, respectivamente lideranças rurais e proletariado, continuavam firmemente nas mãos de Getúlio Vargas.
                                               Com isto os interesses dos ex combatentes, considerados verdadeiros heróis pela população, foram relegados e esquecidos pelo governo, só sendo retomados após a eleição de Juscelino Kubitschek.
                                               Desde então e até o ano de 2002, quando foi eleito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, surgiram no Brasil inúmeras associações de militares veteranos (não necessariamente daqueles participantes da Segunda Guerra Mundial): associações de ex alunos de escolas militares; associações de amigos das forças armadas; associações de veteranos de determinadas forças, armas, quarteis, bases; associações de veteranos das forças interamericanas de paz e de batalhões enviados em missão da ONU para determinados países ou regiões conflituosas; etc.
                                             A partir do governo Lula tais associações passaram a perder o apoio institucional que possuíam, tão logo assumiram o poder os partidos de esquerda e passou a operar no continente o Foro de São Paulo, que estabelecia regras de ação política para a implantação do Socialismo Bolivariano – forma cabocla de comunismo – nos países do Continente.
                                              O comunismo, para se implantar em qualquer país, necessita destruir ou distorcer a história e desmontar ou modificar as tradições do povo daquele país. Isso foi feito na URSS, na China e em Cuba, por exemplo, e estava sendo tentada em vários países do nosso continente, inclusive no Brasil.
                                                     Como bem reconhece o povo norte-americano, o culto que seus cidadãos prestam aos veteranos se deve ao patriotismo destes, ao amor à pátria que possuem; bem como, a vontade de servir e de se sacrificar pelo bem comum. Ora, para implantar um regime comunista em qualquer país é necessário acabar com a eventual resistência por parte dos cidadãos patriotas, como também extinguir a vontade de servir e de se sacrificar pelo bem comum. Esta resistência, vontade de servir e de se sacrificar, em qualquer lugar do mundo, surge primeiro entre os veteranos das forças armadas.
                                               Eles possuem, muito arraigado em seus corações e mentes, o sentimento de nação e de patriotismo; razão pela qual, rejeitam qualquer ideologia internacionalista que busque transformar o seu país em um satélite do comunismo mundial capitaneado pela Rússia ou por qualquer outro país.
                                                Ocorre que as associações de veteranos mencionadas eram uma forma de união de todos os militares nacionais não mais na ativa, que, mediante encontros periódicos, trocavam ideias sobre a conjuntura política, econômica, militar e psicossocial. A esquerda via, e vê, neles um inimigo real pronto a impedir, mesmo através da força se necessário, a tentativa de implantação do comunismo ou de qualquer outra forma de ditadura no país. Urgia, pois, desmantelar as suas associações. É isso, infelizmente, o que tem sido feito desde o início dos governos de esquerda.
                                                 As antigas solenidades militares reverenciando episódios históricos foram suprimidas; os encontros de veteranos suspensos ou cancelados; as associações de veteranos, que funcionavam dentro de organizações militares, convidadas a se retirar ou retiradas das respectivas unidades. 
                                                O atual presidente da república é originário da Brigada Paraquedista do Exército Brasileiro, tropa de elite que possui uma grande associação de veteranos.  Não sei se o presidente está alertado para este assunto. Caso não esteja, deveria ser advertido por algum veterano de suas relações. Duas décadas de governos de esquerda podem mudar (e certamente mudaram) doutrinas, ensinamentos, grades curriculares de escolas militares; falsear episódios históricos, etc.
                                                O próprio presidente, no entanto, declarou publicamente que os militares passariam, em seu governo, a ter parte ativa no cenário nacional. Evidentemente, esta decisão, pelo que imagino, também se estenderia aos veteranos. Ocorre que, em virtude de duas décadas de doutrinação marxista, muitas autoridades militares, na ativa, ainda não se deram conta de que o governo, agora, é conservador e de direita. Como tal, os veteranos militares, mantenedores reconhecidos dos valores castrenses de coragem, lealdade e patriotismo, deveriam voltar a ter as suas associações incentivadas e apoiadas institucionalmente, como um baluarte na defesa da democracia e como instituições de patriotas a se oporem as investidas comunistas no país.


_*/ Economista, doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.
_**/ Publicado pela Academia Brasileira de Defesa - ABD, em 02.12.2019



quarta-feira, 27 de novembro de 2019

328. A República dos Especialistas


Jober Rocha*



                                 Segundo os dicionários um especialista ou perito ou 'expert' é alguém que se ocupa, exclusivamente, de um ramo particular de uma Ciência, de uma Arte, etc. O título é dado, também, aos profissionais que concluem algum curso de pós-graduação ‘lato sensu’ em qualquer área do conhecimento. Também pode ser chamado de especialista aquele profissional liberal que se empenha em estudar, conhecer e trabalhar em determinado campo do saber ou especialidade.
                                             O nosso país, segundo a mídia tenta nos fazer crer, seria, pois, uma terra de especialistas, tanto são aqueles que emitem seus palpites e pareceres sobre os mais variados assuntos.
                                         Qualquer evento de natureza climática, qualquer acontecimento político, qualquer declaração de autoridade governamental, qualquer crime cometido ou qualquer competição esportiva, por exemplo, são analisadas por ‘especialistas’ contratados, às vezes à peso de ouro pela mídia, visando desinformar ou criar contrainformação que neutralize a verdade dos fatos, conhecida, apenas, de poucos brasileiros.
                                                As hipóteses e as teorias que inúmeros destes especialistas difundem são, em sua maioria, totalmente estapafúrdias; principalmente, por se tratarem, grande parte de seus difusores, de pessoas totalmente desqualificadas e despreparadas para aquelas tarefas a que se propõem.
                                                 Comparo estes especialistas àqueles torcedores que, antigamente na maioria das capitais do país, costumavam fazer ponto em torno das bancas de jornais, logo nas segundas-feiras, para comentar o jogo do domingo anterior e fazer previsões sobre os resultados finais dos campeonatos estaduais e nacionais. 
                                            A mídia trata todos os seus palpiteiros por especialistas, de modo a valorizar suas opiniões e justificar os elevados valores por eles cobrados para emitir simples opiniões pessoais, proferidas com ares doutorais de que constituem verdades incontestáveis e baseadas, segundo dizem, em informações privilegiadas que afirmam possuir e em supostos estudos, desconhecidos de todos aqueles que os ouvem.
                                            Assim é que, diariamente, vemos especialistas falando sobre a contaminação das praias do Nordeste pelo petróleo; sobre as queimadas na Amazônia; sobre o impacto, no aumento da criminalidade, da morte de algum chefão local do narcotráfico; acerca dos desdobramentos de diversas ações parlamentares; sobre o real significado oculto das últimas palavras ditas por algum dos filhos do presidente, etc.
                                                 Tais especialistas, como ocorre com muitos videntes e profetas, ao não verem realizar-se as suas previsões alegam a existência de mudanças conjunturais externas, de última hora, que, ao cambiarem o cenário nacional, invalidaram as últimas análises e projeções por eles efetuadas. Tornam, pois, logo em seguida, a fazer novas análises para as futuras realidades que anteveem, perpetuando, desta forma, suas imagens de especialistas perante um público ignorante que segue acreditando naquilo que ‘os especialistas’ dizem.
                                                O fato é que nosso país está cheio destes analistas sem cursos, sem mestrados, sem doutorados, sem experiências práticas; em suma, sem ‘Currícula Vitarum’. São especialistas exclusivamente descobertos pela mídia, que lhes assegura o notório saber que propalam e lhes atribui o título de especialistas que ostentam, mesmo que digam, apenas, sandices, asneiras, estultices, parvoíces, necedades e mentiras em seus pronunciamentos sobre determinados temas.
                                           Ao mesmo tempo em que promove estes ‘especialistas’, a mídia tenta descaracterizar profissionais sérios, comprometidos, de uma maneira geral, com a honestidade de princípios em tudo aquilo que fazem, com o patriotismo e com o senso de justiça de que são dotados. Os leitores mais sagazes já perceberam quais são esses profissionais sérios a que me refiro, diariamente maltratados e vilipendiados pela grande mídia e por políticos oportunistas envolvidos em falcatruas, que tais profissionais investigam.
                                            A grande mídia brasileira, transforma-se, assim, frequentemente, em um instrumento a serviço de interesses políticos e econômicos nefastos, trabalhando, quase sempre, contra os interesses da nossa população; razão pela qual, poderia ser deixada de lado pelo público, cuja fonte de informações deveria se ater às redes sociais e a WEB, onde são encontradas informações verdadeiras com maior frequência e a autocensura praticamente inexiste.
                                                 Especialistas, evidentemente, existem em todos os países. Todavia, nos países desenvolvidos os analistas, peritos, 'experts', etc., costumam possuir títulos acadêmicos que os credenciam e, nestes lugares, realmente, a especialidade é um fato corriqueiro e o referido profissional preza muito o seu nome no meio em que trabalha. Mesmo assim, muitos analistas ainda fazem previsões erradas. Por outro lado, o público que os ouve é muito mais intelectualizado, politizado e crítico. Ademais, aquilo que tais especialistas afirmam lhes costuma trazer consequências, profissionais, cíveis, criminais, etc.; razão pela qual tomam cuidado com tudo aquilo que afiançam.
                                         Outro aspecto em que nós, os brasileiros, somos pródigos, refere-se aos assuntos tratados pelos políticos nos parlamentos. Sem medo de errar, eu diria que um grande percentual daquilo que é discutido diariamente nos parlamentos brasileiros trata de assuntos de somenos importância para os eleitores, em particular, e para povo, em geral. Trata, sim, de assuntos importantes para os próprios políticos, para os seus partidos e para determinadas elites nacionais e internacionais a que servem.
                                               Ainda sem medo de errar, eu diria que um grande percentual do tempo dos magistrados das mais altas cortes é despendido analisando e julgando processos de réus da elite; réus estes que possuem bancas de advogados especializadas e caras trabalhando para defende-los. 
                                            Novamente, sem medo de errar, eu diria que um grande percentual das concorrências públicas para aquisição de obras, bens e serviços, possui algum tipo de vício de origem, que beneficia determinados contratados e alguns poucos contratantes.
                                            Sem medo de errar, eu diria, ainda, que um grande contingente de servidores públicos, a sobrecarregar os orçamentos da união, dos estados e dos municípios, em razão de nepotismo ou de sinecuras proporcionadas por seus padrinhos políticos, nada faz de produtivo ou vive, apenas, maquinando alguma forma de enriquecimento, com recursos públicos, em sua maioria de forma ilícita ou, no mínimo, escusa ou imoral.
                                                Quase ia me esquecendo das obras desnecessárias e supérfluas, como os estádios de futebol superfaturados, ociosos e sem nenhum uso alternativo após as copas e os campeonatos; das pontes e viadutos que ligam o nada a lugar nenhum; das casas populares que esfarelam meses após serem entregues aos seus moradores; das estradas esburacadas pouco tempo depois de serem inauguradas; das frotas de veículos novos, abandonadas ao tempo em algum terreno baldio distante, logo após terem sido recebidos da fábrica; dos remédios comprados através de concorrência pública e que já são entregues com os prazos de validade vencidos. E por aí vai...
                                             Assim, meus caros leitores, por mais impostos que paguemos dificilmente conseguiremos ter tudo aquilo de que necessitamos, em termos de Saúde, Segurança, Habitação, Saneamento e Transportes, por exemplo. Damos um passo adiante, como país sério de gente trabalhadora e honesta, e dois ou mais passos para trás como uma republiqueta de bananas, com políticos e autoridades venais e corruptas. 
                                               Isto, no entanto, já vem ocorrendo há algumas décadas, nas quais a ideologia marxista tem dominado o cenário nacional e continental. Por incrível que pareça, muitos brasileiros ainda não se deram conta do que vem ocorrendo e defendem aqueles que têm sido, eles mesmos, os responsáveis por este verdadeiro caos na economia, na política, no ordenamento legal e na segurança jurídica. Alguns deles já estavam, inclusive, presos no âmbito da Operação Lava a Jato, condenados que foram em duas instâncias anteriores e, infelizmente, acabaram soltos por decisão bastante dividida (6 favoráveis x 5 contrários) no âmbito da mais alta corte do país.
                                                  Se nós, brasileiros, temos alguma pretensão de tornar o nosso país uma potência mundial, que proporcione emprego e renda capaz de sustentar uma população da ordem de 210 milhões de pessoas ou mais, as coisas aqui precisam mudar de forma drástica e rápida. Temos que ser mais conscientes em nossas escolhas políticas, mais honestos em nossas atitudes diárias, mais corajosos em nossas reivindicações e exigências e mais patriotas em nossas posturas. Em suma, devemos tentar proceder como muitos patriotas que nos antecederam com seus exemplos dignos, tendo sempre em mente o progresso das gerações que nos sucederão e o alcance dos nossos objetivos nacionais permanentes.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de defesa – ABD e do Centro de Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

327. O hábito, realmente, faz o monge?**


 Jober Rocha*



                                  O título deste texto faz lembrar antigo ditado popular, que nos ensina a não julgar as pessoas pelas suas aparências; posto que, hábito, aqui, possui o sentido de traje usado por membro de comunidade religiosa. Da mesma forma, quantas vezes não ouvimos alguém nos dizer (ou, nós mesmos, já dissemos isto em determinada ocasião) ter lido um excelente livro cuja capa, simples, não indicava conter nenhum atrativo maior em seu conteúdo? O mesmo com relação ao contrario, uma bela capa e nenhum conteúdo.
                                                O fato é que, inegavelmente, existe um valor simbólico nas aparências e nas roupas usadas pelas pessoas, que afeta os nossos processos cognitivos.
                                                        Os seres humanos evoluíram da situação de andar completamente nus, até chegar a vestir belas e ricas vestimentas; não só em razão da necessidade de proteger seus corpos contra as intempéries; como, também, em virtude do aumento da riqueza individual e grupal motivada pelo progresso; por força da descoberta de novos materiais; da invenção de novas tecnologias; etc.; mas, e principalmente, por razões de ordem psicológica e simbólica, relacionadas a preservação da hierarquia dos indivíduos e de seus status sociais.
                                             Assim é que, ao longo da história humana, determinados sexos, raças, castas, profissões, etc., foram fazendo uso de diferentes vestimentas e adornos que, embora inicialmente visassem, principalmente, protege-los das condições climáticas, ao mesmo tempo os identificavam e os diferenciavam dos demais, mediante um simples olhar por parte daqueles que com eles cruzavam pelos caminhos e edifícios das aldeias, povoações, vilas, burgos, cidades e metrópoles. Determinadas cores e adornos, também, eram típicos de certas castas, de determinados sexos, de raças específicas, de distintas religiões, etc.
                                                 As vestimentas, evidentemente, possuíam múltiplas funções além da proteção física; algumas destas funções eram mais importantes que as outras. Basicamente, serviam para diferenciar os indivíduos dedicados ao mando daqueles dedicados à obediência. Distinguiam os envolvidos com as guerras daqueles outros envolvidos com as religiões e com as coisas espirituais. Evidenciavam os que trabalhavam daqueles que nada faziam e viviam do trabalho alheio.
                                                  Como funções secundárias das vestes, destacam-se, por exemplo:  esconder a forma do corpo dos olhares alheios - as roupas largas dos religiosos tinham por objetivo, também, o de esconder as formas do corpo, não despertando desejos sexuais naqueles que os viam; as roupas usadas (ao estilo bata, burca, túnica, abaia ou hijab), ademais de protegerem o corpo, ocultavam as suas formas, diminuindo ou extinguindo o desejo sexual entre aqueles homens e mulheres que conviviam diariamente em mosteiros, conventos, igrejas, etc. 
                                                Determinadas roupas e pinturas corporais, como aquelas dos guerreiros, objetivavam facilitar os seus movimentos, incutir medo nos inimigos e protege-los de eventuais ferimentos durante os frequentes combates.
                                                    As capas pretas e as perucas dos magistrados buscavam descaracterizá-los perante os réus e seus familiares, com vistas a evitar futuras vinganças pelas penas, muitas vezes excessivas e duras, impostas em suas sentenças. A capa servia para disfarçar as formas do corpo (magras ou gordas) e as perucas para esconder os verdadeiros cabelos (cor, tipo e tamanho). Alguns magistrados, ainda, pintavam os rostos, visando tornarem-se irreconhecíveis e usavam apelidos ao invés dos verdadeiros nomes.
                                                Em determinadas épocas e culturas, o uso de algumas cores nas vestes era privativo da família real. De um modo geral, a nobreza usava vermelho ou bordô; religiosos usavam preto; camponeses usavam marrom e cinza; enquanto mercadores e banqueiros usavam verde. Na Roma antiga, o roxo era reservado para imperadores e magistrados.
                                                    Ademais, como forma de diferenciação entre os sexos, os homens usavam barbas e bigodes e as mulheres os cabelos compridos. Mulheres casadas usavam os cabelos presos e as solteiras soltos.
                                                  No que respeita às formas de tratamento, estas eram também diferenciadas de acordo com o título de nobreza possuído, a importância atribuída ao cargo ou a função desempenhada; bem como, ao grau de conhecimento científico ou filosófico adquirido e a idade alcançada. 
                                                   Vê-se, portanto, que a vida humana, desde há muito, é regida pelos simbolismos e pelo que, de fato, estes representam no psiquismo das pessoas.
                                                   É comum, na atualidade, observar-se indivíduos que, não tendo se destacado dos demais por nenhuma de suas boas qualidades, são, todavia, tratados por excelências, magnificências, sapientíssimos, reverendíssimos, santidades, etc.; pelo simples fato de ocuparem determinadas funções para as quais foram galgados não pelos seus próprios méritos, mas, por simples fatores conjunturais, por sinecuras ou por nepotismos.
                                                  Nos dias atuais, quanto mais pomposo o título de algum ocupante de cargo público, nos três poderes da república, maiores costumam ser as ritualísticas e as liturgias que o envolvem, constituídos pelos tratamentos honoríficos, pelos rapapés, pelas homenagens e pelas mordomias relativas ao cargo.
                                              Verdadeiros analfabetos funcionais enfrentam-se, por vezes, nos parlamentos, nos tribunais, nas comissões, nas reuniões, onde ofendem-se uns aos outros nominando-se mutuamente por Vossa Excelência. Verdadeiras sandices, canalhices, ignorâncias, mentiras, são proferidas com ares doutorais, como se pontificassem verdades ou os mais recentes conhecimentos de ordem jurídica, científica e filosófica.
                                                 Isto tudo, meus caros leitores, só tem valor por que nós lhe atribuímos valor; por que aceitamos as regras do jogo ao decidirmos participar do chamado contrato social, descrito pela primeira vez, em 1762, por Jean-Jacques Rousseau. Ao trocarmos uma suposta insegurança da vida livre, sem fronteiras, pela suposta segurança das fronteiras de um país como o nosso, recebemos, junto ao conjunto de leis que corresponde ao ordenamento jurídico (que devemos respeitar) e aos boletos referentes ao pagamento de impostos e taxas (que devemos pagar), inúmeras autoridades às quais estaremos submetidos e que não chegaram aonde estão pelas suas reconhecidas inteligências, honestidades, coragens e patriotismos. 
                                               Infelizmente, já tendo o nosso planeta sido inteiramente colonizado, não nos resta nenhum canto isolado onde possamos nos ver inteiramente livres da influência de algum governante e de seu séquito de prepostos. Aonde quer que estejamos, sob a face do planeta, estaremos, sempre, sob o foro de algum contrato social que irá nos oprimir de forma mais ou menos intensa, dependendo dos condicionantes históricos e culturais do povo habitante daquelas terras, que acabaram se unindo e formando um país.
                                                  Em um país como o nosso, por exemplo, onde a ideologia marxista a serviço de uma cleptocracia dominante comandou as instituições públicas nas duas últimas décadas, vimo-nos, em inúmeras ocasiões, diante do fato inusitado de observarmos os políticos representarem a si mesmos e aos interesses das suas ideologias internacionalistas e não à vontade daqueles cidadãos brasileiros que os elegeram. As manifestações populares de insatisfação, com relação às leis elaboradas no parlamento e às suas interpretações pelos magistrados (ambas beneficiando, muitas vezes, criminosos já condenados e presos), dirigidas aos nossos políticos e aos nossos juristas, encontram, com frequência, ouvidos moucos e olhos remelentos. 
                                                     Estas duas classes citadas tratam o povo brasileiro como se fossem os seus patrões e não os seus empregados; justamente o contrário do que deveria ocorrer nos regimes democráticos. O que aqui vigora é mais condizente com o que se passa naqueles regimes ditatoriais em que o parlamento e o judiciário mantém submisso o executivo, governando eles próprios mediante o que é conhecido como ‘Democracia de Fachada’. Quando esta rui ou se torna impossível sustentar, fica evidente a vigência de uma ditadura comandada pelo Judiciário e pelo Legislativo, como ocorre atualmente em alguns lugares no continente.
                                                      Em países onde os crimes das classes dominantes raramente são punidos; onde as oligarquias exercem extrema influência ou, mesmo, comandam as expressões do poder nacional; onde os próprios poderes da república fixam seus efetivos, os seus salários e os benefícios de seus integrantes; onde as eleições nem sempre são feitas com lisura e transparência; onde os ministros da mais alta corte são indicados e nomeados sem concurso, por presidentes da república que, por vezes, acabam réus em crimes de prevaricação e de desvio de dinheiro público, sendo julgados, sem a alegação de impedimentos, por aqueles próprios ministros a quem nomeou; onde se vendem leis e sentenças, realmente, nestes países o hábito faz o monge, pois nada é o que parece ser. A mediocridade campeia, apresentando-se como sumidade. O povo, quase sempre inculto, inocente, crédulo e despolitizado, costuma ver valores onde eles inexistem.
                                                 Na atualidade, nestes países, não só o hábito faz o monge; mas, além disto, uma série de indivíduos, usando hábitos, se fazem passar pelos monges que irão libertar os oprimidos que ali existem, coisa que, evidentemente, não passa de simples retórica visando cooptá-los para abraçar uma ideologia internacionalista que, vivendo da opressão, jamais conseguiu conviver bem com as religiões e com os próprios monges ou sacerdotes.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro doa Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos estratégicos – CEBRES.

_**/ Publicado pela Academia Brasileira de Defesa - ABD, em 22.11.2019



quarta-feira, 13 de novembro de 2019

326. Onze respostas de improviso, para autoridades brasileiras surpreendidas por jornalistas em aeroportos.



Jober Rocha*



                                     Acompanhando o desenrolar dos acontecimentos relativos ao chamado Escândalo da Operação Lava a Jato, quando diretores e um doleiro, sob o manto da delação premiada, denunciaram empreiteiros, políticos e membros do executivo em um enorme esquema de desvio de dinheiro da empresa estatal de petróleo, para comprar corações e mentes de políticos e de membros do executivo, além de enriquecer os patrimônios pessoais de todos os envolvidos, chamou-me a atenção as contestações e negativas, apresentadas pelos denunciados quando entrevistados pela imprensa. 
                                                     Todos afirmaram, gaguejando e nervosos, serem mentirosas as acusações que pesavam sobre eles, embora, dentre as regras da delação premiada os delatores devessem apresentar provas concretas daquilo que denunciavam - e, certamente, eles as haviam apresentado. Com a atual libertação de inúmeros envolvidos, já condenados e presos, após o atual voto do STF de que só poderiam ser presos após haver transitado em julgado os seus casos, sabendo-se lá quando isso se daria, resolvi redigir este texto, pois sei que muitos daqueles ex condenados andarão livremente pelo país inteiro, a partir de agora, fazendo proselitismo político e criticando o atual governo e as autoridades responsáveis por suas prisões.
                                                Lembrei-me, para tanto, daquela entrevista concedida por um ex-governador paulista, quando jornalistas lhe perguntavam sobre suas contas na Ilha Jersey (uma das ilhas do Canal da Mancha, para onde havia transferido, segundo acusação que fazia o Ministério Público, o dinheiro arrecadado em obras públicas durante a sua administração à frente do governo paulista), onde teria depositado a ‘suposta bolada’, louvando-se no tradicional sigilo bancário daquele paraíso fiscal:

                                                -“Desafio que provem que aquele dinheiro é meu! Quem conseguir provar pode ficar com ele para si”! – Teria dito o ex governador na ocasião.
                                                 Como sei que nossos políticos, tal qual o ex-governador paulista, jamais serão réus confessos, apresento, a seguir, onze desculpas que, convenientemente decoradas, poderão ajudá-los durante suas entrevistas na mídia, mormente agora que foram libertados e sabe-se lá se, algum dia, retornarão as celas de onde saíram livres, leves e soltos.
                                                    Ao serem surpreendidos por algum jornalista bisbilhoteiro em busca de uma matéria para o seu jornal, durante a espera de voo em algum aeroporto nacional, poderão, simplesmente, utilizar-se de um destes onze argumentos, fornecidos por mim gratuitamente, para desvencilhar-se de maneira rápida e elegante:

1. “Jamais recebi qualquer centavo das mãos daqueles que me acusam.  Vocês estão me confundindo com alguém. Vivi durante toda a minha vida nas montanhas do Tibete e cheguei ao Brasil apenas ontem. Não sei de nada sobre este assunto de que me acusam. Vim ao Brasil para realizar uma palestra sobre levitação, destinada a monges brasileiros. Por favor, me deem licença que estou muito cansado da viagem”!

2. “Desafio a estes que hoje me acusam, que mostrem uma única nota de real com a minha impressão digital gravada. Isto é uma mentira que assacam contra a minha pessoa e, estejam certos, vou processar aqueles que me denigrem na Corte Internacional de Haia, pois, infelizmente, não confio na justiça brasileira”!

3. “Prezados jornalistas, sou deputado há várias legislaturas e já formei, desde muito tempo atrás, o meu patrimônio pessoal. Eu não teria mais necessidade, hoje em dia, de entrar em um esquema milionário como este, que pouco acrescentaria ao meu patrimônio já bilionário”!

4. “Meus caros senhores jornalistas, são absolutamente inverídicas estas acusações que me atribuem. Minha fortuna foi conseguida tanto no setor elétrico, quanto através de advocacia administrativa junto aos bancos oficiais. Todos os projetos do interesse do governo (e das empreiteiras) que aprovei, foram feitos, apenas, com base na possibilidade de poder indicar parentes para cargos de direção na administração pública e jamais por dinheiro”!

5. “Depois destas denúncias, assacadas contra mim e a minha honra, prometo que jamais me candidatarei novamente a um cargo eletivo. Estou enojado destes promotores, delegados e juízes, que, em um simulacro de Inquisição moderna, só pensam em colocar na fogueira aqueles que pensam de maneira diferente da deles e possuem outras convicções mais maleáveis de ordem moral”!

6. “A posteridade me dará razão. Segundo os autores econômicos clássicos, se você não sabe cuidar do seu dinheiro deixe que outro que saiba se aproprie dele e o faça multiplicar em benefício da coletividade. Foi o que fiz com o dinheiro do povo, inexperiente em matéria de finanças. Isto não é um reconhecimento de culpa; mas, apenas, uma afirmação de caráter filosófico, que faço com base nos pensadores gregos os quais admiro”!

7. “Estas denúncias, que me fizeram os delatores premiados, nada mais são do que um grande complô armado contra a nossa Democracia, engendrado pelos Illuminatis, contando com o apoio da maçonaria internacional, abençoado pelo Vaticano, financiado pelos USA e contando com a ajuda de seres extraterrestres infiltrados em nossa justiça e na polícia federal”!

8. “Pensem bem, meus caros jornalistas, raciocinem comigo, simplesmente, com base na lógica formal: Se eu tivesse, realmente, ganhado esta montanha de dinheiro de que me acusam os delatores, vocês não acham que eu teria comprado todos os policiais, promotores e juízes deste caso e o meu nome nem apareceria no processo? Logo, não é verdadeira a acusação que me fazem, pois, meu nome ainda está lá e com destaque no processo”!

9. “Fazendo uma autocrítica sobre o meu mandato, encontrei um único motivo relevante para que os delatores pudessem envolver meu nome nas denúncias: votei contra o casamento de homoafetivos. Não sei não, mas aqueles que me denunciaram parecem jogar no time deles. Um deles tinha até as unhas esmaltadas de vermelho e sombra nos olhos”!

10. “Denúncias irresponsáveis como estas que me assacaram já ocorreram no pretérito e nunca foram apuradas ou tiveram qualquer corolário. Nossos suspicazes promotores e juízes não se deixarão embair ou esbulhar por qualquer rufião leviano que, intempestivamente, levante, a sorrelfa, alguma aleivosia malévola acerca da altivez, decência e apreço de nossos políticos pátrios, dentre os quais me incluo”!

11. “Nego-me a tocar neste assunto com a imprensa, a não ser que seja bem remunerado. Notícias como as que disponho, em primeira mão, envolvendo vários colegas e altas autoridades do governo, valem bem uma centena de dólares. Voltem as suas redações e conversem com seus editores; se estes aprovarem o pagamento, me procurem em meu gabinete parlamentar na quinta-feira, pois não trabalho na segunda, terça, quarta e sexta, já que nestes dias estou junto às bases eleitorais em meu Estado”!


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

domingo, 10 de novembro de 2019

325. Depressão e ansiedade no Brasil da atualidade



Jober Rocha*



                                      Depressão é uma doença crônica e recorrente que produz alteração do humor e é caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a outros sentimentos negativos. Ansiedade é um estado de apreensão ou medo, provocado pela antecipação de uma situação desagradável ou perigosa. Embora doenças distintas, segundo informações divulgadas, quase dez por cento da nossa população possui uma ou outra ou, até mesmo, ambas.
                                                   Causa estranheza, a meu ver, um índice tão baixo destas patologias no seio da nossa população. Explico-me melhor: o cenário político brasileiro é tão imprevisível e destoante da vontade popular que as alterações de humor, as tristezas profundas, as amarguras, os desencantos, as desesperanças, os sentimentos de culpa, as sensações de inutilidade, as apreensões e os medos, fazem parte do quotidiano da vida de grande parte dos nossos cidadãos, ao constatarem os casuísmos praticados diariamente por juristas e legisladores.
                                                 Em sendo assim, o número de casos de depressão e de ansiedade deveria ser bem mais elevado. Acredito mesmo que o seja, já que as estatísticas oficiais nem sempre representam a realidade dos fatos e muitos indivíduos convivem com tais doenças sem buscar auxílio médico.
                                               Por vezes, quando o indivíduo se imagina curado, após meses de tratamento, vem uma notícia como está recente, que deixou arrepiado até a medula muitos cidadãos de bem, ao verem abertas as portas das celas para aqueles criminosos condenados, apenas, em primeira e segunda instâncias. Alguns pessimistas calculam na soltura de cerca de 190 mil condenados. Outros, otimistas, falam em aproximadamente 5 mil. 
                                              Com certeza, daqui por diante, os consultórios psiquiátricos terão seus horários integralmente preenchidos e as farmácias esgotarão, rapidamente, os seus estoques de remédios de tarja preta.


_*/ Economista e doutor em Economia pela Universidade de Madrid, Espanha.

sábado, 9 de novembro de 2019

324. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


Jober Rocha*



                                O poeta português Luís Vaz de Camões (1524- 1580), in "Sonetos", escreveu sabiamente:

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades”.

“Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades”.

                                    Luís de Camões, a meu ver, além de poeta era também um excelente vidente, que poderia ocupar um lugar de destaque ao lado de videntes famosos, como Michel de Nostradamus, Rasputin, Madame Lenormand, W.A.Criswel, Joan Quigley e Edgar Cayce.
                                                Nestes seus versos citados, podemos inferir a sua acurada visão prospectiva, já naquela ocasião, com relação ao cenário político brasileiro atual. Em seu primeiro quarteto fala, certamente, da esperança popular em um novo país, renascido das cinzas qual fênix, após ter sido conduzido nas últimas décadas de forma temerária por seus ex governantes. No segundo quarteto, o poeta, com certeza, menciona a frustração popular com o desfecho ocorrido em novembro de 2019, quando criminosos condenados e presos foram soltos mediante uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Senão, vejamos:

                                                “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Refere-se o poeta, evidentemente, às eleições de 2018, que deram vitória ao liberal conservador Jair Bolsonaro, depois de quase duas décadas de governos de esquerda. A vontade avassaladora do povo brasileiro, naquela ocasião, foi a de expurgar da vida política nacional os partidos de esquerda, alguns deles comprometidos com desvio de recursos públicos, com o aparelhamento do Estado e com a tentativa de implantação de um governo comunista no Brasil.

                                             “Muda-se o ser, muda-se a confiança”. Após a posse de Jair Bolsonaro, a confiança retornou ao povo e ao meio empresarial. Novas empresas se instalaram, investimentos novos foram feitos, empresas estrangeiras para cá se transferiram, o dólar caiu e as ações nas bolsas de valores subiram, reformas foram apresentadas ao parlamento e a confiança em nossa recuperação econômica retornou.

                                             “Todo o mundo é composto de mudanças”. O poeta se refere, com certeza, às mudanças ocorridas em todo o mundo, na mesma época. A Inglaterra ter sido contrária a sua participação na União Europeia, a eleição de Donald Trump como presidente dos USA, etc.

                                             “Tomando sempre novas qualidades”. As mudanças ocorridas no plano geral, segundo as palavras do poeta, foram no sentido do aperfeiçoamento da sociedade. Vejam que a Nova Ordem Mundial perdeu a força que tinha; o surgimento das redes sociais, por sua vez, possibilitou às populações dependerem cada vez menos da grande mídia assalariada formadora de opiniões. 


                                                  O recente episódio, no meu entendimento de casuísmo jurídico, no qual o Supremo Tribunal Federal permitiu libertar criminosos já condenados em primeira e segunda instância, parece, realmente, haver sido antevisto de forma premonitória por Luís de Camões, ao escrever que: “continuamente temos novidades, diferentes em tudo da esperança: do mal ficam as mágoas na lembrança e do bem (se algum houve, as saudades”. Analisemos, pois, os versos do poeta:

                                              “Continuamente temos novidades”. Parece que Camões teve uma visão antecipada dos autos do processo de Luís Inácio Lula da Silva, pois, neste, as novidades, quase diárias, se sucediam umas às outras, como se aquela suprema instituição tivesse apenas um cliente com que se ocupar. Assim, alguém que se dispôs a levantar as movimentações do referido processo, encontrou:

80 recursos só no caso triples, 9 agravos de decisão de recursos especial e extraordinário, 9 habeas corpus, 5 recursos especiais, 5 recursos extraordinários, 3 agravos em habeas corpus, 3 agravos internos em habeas corpus, 3 exceções de suspeição criminal, 2 mandados de segurança, 2 embargos de declaração, 1 recurso criminal em sentido estrito, 1 apelação criminal, 1 embargo de declaração contra acórdão,1 embargo de declaração em apelação criminal,1 agravo regimental, 7 habeas corpus, 3 agravos regimentais, 2 agravos em recurso especial, 1 reclamação,1 embargo de declaração, 1 pedido de reconsideração, 1 pedido de tutela provisória, 1 recurso extraordinário ao habeas corpus, 4 agravos regimentais, 2 reclamações, 2 habeas corpus, 1 ação civil originária, 1 embargo de declaração em habeas corpus, 1 petição, 1 recurso extraordinário em agravo, 2 exceções de suspeição criminal, 1 embargo de declaração, 1 exceção de incompetência criminal 1 incidente de falsidade criminal.

                                        “Diferentes em tudo da esperança”. Evidentemente, o poeta se referia ao fato de que as novidades jurídicas, que continuamente ocorriam, desde a prisão dos envolvidos na Operação Lava a Jato, eram diferentes, em tudo, daquilo que esperava o povo de bem deste país. Matérias pacíficas, com jurisprudência já formada, retornavam para ser novamente discutidas em plenário, como, por exemplo, a possibilidade de prisão em segunda instância (adotada por todos os países do mundo e também no Brasil desde o ano de 1934 até o ano de 2009, quando, então, começou a ser rediscutida, em virtude da condenação em primeira e segunda instâncias e da prisão, logo em seguida, de políticos poderosos no âmbito da Operação Lava a jato).

                                             “Do mal ficam as mágoas na lembrança”. Evidentemente que a decisão tomada não poderá ser revertida pelo parlamento, como imaginam alguns ainda esperançosos. Mesmo que o parlamento aprove uma emenda a constituição, incluindo a prisão após a condenação em segunda instância, está só atingirá os novos casos, não retroagindo. Ficarão, pois, apenas, as mágoas na lembrança dos cidadãos de bem deste país e daqueles juízes, promotores e procuradores patriotas que, corajosamente (pois enfrentavam gente poderosa e sem escrúpulos) participaram da Operação Lava a Jato.

                                               “E do bem (se algum houve) as saudades”. As saudades do bem a que o poeta se refere (bem este que, certamente, houve), dizem respeito às recordações que teremos daquelas notícias alvissareiras sobre a desarticulação da organização criminosa (envolvendo políticos, governantes, empresários e executivos) que roubava dinheiro público, ainda durante a fase de apuração dos desvios milionários. Infelizmente, julgávamos, em nossa inocência de povo simples, crédulo e conformado, que seriam todos eles punidos exemplarmente. Todavia, isso não ocorreu e hoje, desanimados com a decisão tomada pelo STF, somos forçados a concluir que neste país o crime, realmente, compensa. O transito em julgado, pré-requisito necessário ao encarceramento de criminosos, para aqueles que possuem recursos financeiros que possibilitem ações protelatórias infinitas, não passa, meus caros leitores, de uma simples figura de retórica.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

323. O que dizem sobre a cor roxa só vale para as cabeças de alho...


Jober Rocha*



                                     Conforme antiga tradição nordestina, quando alguma criança do sexo masculino nasce, os presentes à cena logo observam se ela tem o “saco roxo”. Em caso afirmativo, todos se alegram, pois, aquilo, era indicativo de que seria um homem forte, viril e corajoso.Outra tradição brasileira é a de que as cabeças de alho de cor roxa são melhores do que as de cor branca; isto é, são mais saborosas e duram mais.
                                           Em 03 de abril de 1991, logo após uma manifestação de protesto contra o seu governo, o ex presidente Fernando Collor de Mello, em uma solenidade em Juazeiro do Norte, declarou: “Não nasci com medo de assombração, não tenho medo de cara feia. Isso o meu pai já me dizia desde pequeno, que havia nascido com aquilo roxo, e tenho mesmo, para enfrentar todos aqueles que querem conspirar contra o processo democrático”. A manifestação de protesto, na ocasião, era organizada pelo PT, PSB, PDT e PC do B.
                                           Collor, em 30 de dezembro de 1992, foi condenado à perda do mandato e à inelegibilidade durante oito anos, por crime de responsabilidade. Saiu da presidência, junto com a esposa, de cabeça baixa e vaiado pelo público que assistia a lamentável cena.
                                             O Brasil, como muitos já notaram, é o país da conversa fiada, da negociação de bastidores, das bravatas. Aqui, quando se deseja extravasar a raiva e a frustração, busca-se um cachorro morto para chutar. Cachorro vivo, nem pensar...
                                                Assistimos com um ar de resignação tudo aquilo que nos prejudica, como se fosse inexorável o nosso destino de povo sofredor. A nossa história está plena de episódios de revoluções sem tiros nem mortes, de mudanças de formas de governo sem a participação popular, como, por exemplo, a da monarquia para a república. 
                                              O nosso povo aceita tudo de forma tão pacífica, que eu chego a imaginar se o fato não poderia ter implicações psicológicas fundamentadas no longo período em que perdurou a escravatura no país, criando raízes psicossociais de aceitação do sofrimento, raízes estas que perduram ainda hoje. Libertos, na atualidade, dos grilhões que nos tolhiam durante a colonização, viveríamos, ainda hoje, em uma servidão consentida.
                                                Desfeitos os laços físicos que nos prendiam ao pelourinho, permaneceram os laços psicológicos, frutos dos reflexos condicionados de um povo, reflexos estes que o mantêm imóvel, mesmo depois de liberto, como se ainda se sentisse preso à picota (sinônimo de pelourinho).
                                                 É o que podemos deduzir dos fatos ocorridos em 07 de novembro de 2019, data que passará a fazer parte da nossa história política. Após três vezes haver confirmado a prisão em segunda instancia de condenados (entendimento jurídico vigente nos últimos vinte anos, após a constituição de 1988), o Supremo Tribunal Federal, em um casuísmo desmedido, decidiu em contrário na data de ontem. 
                                                Estimativas preliminares indicam que cerca de cinco mil condenados, já presos, sairiam das cadeias, livres, após seus advogados peticionarem suas liberdades. Investigações ainda em andamento seriam, pois, grandemente prejudicadas, já que muitos dos réus que serão libertados respondem a outros processos, ainda em tramitação na justiça.
                                                  É o caso daqueles presos na Operação Lava a Jato, cuja necessária e premente libertação motivou toda esta mudança de posicionamento por parte do STF, onde muitos ministros deveriam se declarar impedidos de votar, em razão de vínculos conhecidos com alguns dos réus a serem imediatamente libertados em decorrência de seus votos.
                                                    A impunidade, finalmente, parece ter triunfado sobre a justiça brasileira.
                                                     Os desdobramentos desta decisão do STF são imprevisíveis, pois aquilo tudo de mal que parecia ter sido afastado, após a eleição de Jair Bolsonaro pela maioria dos votos dos eleitores brasileiros que desejavam mudanças, ameaça voltar. 
                                                   Com a libertação do ex presidente preso, sem ter transitado em julgado o seu processo (o que, evidentemente, jamais ocorrerá), ele poderá se candidatar, fazer campanha e ser eleito novamente, trazendo de volta, em doses bem mais fortes, tudo aquilo que já vimos ocorrer no passado recente (má gestão, aparelhamento do governo pela esquerda e corrupção desenfreada) e que acabou por levar o nosso país à bancarrota, com milhões de desempregados e milhares de empresas fechadas.
                                                    A administração Bolsonaro ensaiava mudar este quadro, quando foi surpreendida por esta decisão casuística do supremo. O que resultará disto tudo creio que nem Michel Nostradamus poderia nos dizer, caso ainda fosse vivo.
                                                   A única coisa que, estou certo, ele iria dizer com um sorriso irônico nos lábios, caso seu espírito viesse a se incorporar em algum médium nativo, seria: - “No Brasil, aquilo que dizem sobre a cor roxa só vale para as cabeças de alho”...


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Defesa - ABD e do Centro Brasileiro de Estudos estratégicos – CEBRES.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019


322. Casuísmos, etc. e tal**


Jober Rocha*


                           Casuísmos, segundo os dicionários, são formas pelas quais se criam regras ou se adotam um conjunto de regras associadas, para justificar um ato ou algum acontecimento exclusivo; não importando se prezam pelos interesses coletivos ou se acatam as virtudes.
                                   Podem ser, também, entendidos como os argumentos ou as medidas fundamentadas em raciocínios enganadores ou falsos, especialmente em direito e em moral, baseados, muitas vezes, em casos concretos e não em princípios fortemente estabelecidos.
                                  Podemos dizer que o Brasil é o país dos casuísmos, tantas foram as vezes em que foram utilizados pelas autoridades dos três poderes da república ao longo da nossa História.

                               Nossas leis, decretos, portarias, etc., raramente são normatizados; isto é, têm as suas regras ou padrões de aplicação estabelecidos de maneira definitiva. 

                               Tal estratégia é adotada, justamente, para facilitar a aplicação de algum casuísmo pelas autoridades do momento encarregadas de aplica-las. Os Casuísmos, nestes casos, ficam evidentes pelas maneiras simplistas, tendenciosas e com fraco embasamento jurídico ou argumentativo, com que são tratados assuntos importantes, alguns deles até vitais para o país, para as suas instituições republicanas e para o seu povo.

                              Uma população pacífica como a nossa, dificilmente adota medidas radicais contra os casuísmos frequentemente utilizados para esclarecer questões e as autoridades sabem muito bem disto; razão pela qual, continuam deles se utilizando de forma contumaz e sem sentimento de culpa.  

                                    Ocorre que um velho ditado popular, tão antigo quanto o início dos tempos, reza que ‘não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe’...


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Publicado no Jornal O Vale Gazeta. S. José dos Campos,         SP.08.11.2019


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

321. As Conspirações do Silêncio e do Ruído


Jober Rocha*



                             Ouvi falar pela primeira vez em conspiração do silêncio ao assistir ao filme ‘Bad Day at Black Rock’, de 1954, do diretor norte-americano John Sturges, que tinha Spencer Tracy no papel principal e cujo título, no Brasil, foi ‘A Conspiração do Silêncio’. Foi este o primeiro filme em Cinemascope, produzido pela MGM e também o último filme de Spencer Tracy para a referida empresa cinematográfica e com a peculiaridade de que o roteiro do filme foi considerado subversivo pelo então presidente da MGM, Nicholas Schenck.
                                       A magistral interpretação de Tracy, no entanto, foi premiada no Festival de Cannes de 1955.
                                           A história do filme se passa em 1945, dois meses após o fim da 2ª Guerra Mundial. No vilarejo de Black Rock chega um idoso desconhecido, John MacReedy (Spencer Tracy), que tem só um braço. Apesar da sua idade e deficiência física, sua presença incomoda cada vez mais os moradores do local, em parte por ser o primeiro visitante que ali aportava em 4 anos (literalmente o trem nunca parava naquela estação) e, também, por ficar cada vez mais claro que todos os habitantes estavam escondendo algo do visitante. Quando ele diz que está procurando Komoko, um japonês residente no local e que está desaparecido, a tensão aumenta e parece que todos obedecem a Reno Smith (Robert Ryan), o "dono" de Black Rock.
                                          O filme em questão tratava da má consciência de uma comunidade de indivíduos que, por medo, covardia, ignorância e maldade, havia feito um pacto de silêncio sobre determinado crime desprezível por eles cometido.
                                   Os espectadores do filme, segundo pesquisas feitas durante e após o lançamento da película, torciam o tempo todo pelo sucesso do visitante e personagem principal, John MacReedy.
                                         Qualquer leitor mais perspicaz já terá percebido aonde desejo chegar. A semelhança desta história com a do atual presidente Jair Bolsonaro é bastante significativa. A história recente, em que Bolsonaro é o personagem principal, se passa alguns meses após o impeachment de Dilma Roussef, com o nosso país destruído como se tivesse participado em uma verdadeira guerra e perdido. 
                                              Por ser o primeiro presidente liberal de direita, após anos de governos de esquerda (em que a máquina pública dos três poderes da república fora, efetivamente, aparelhada com muitos militantes e ativistas dos partidos de esquerda, partidos estes formadores das bases parlamentares dos governos petistas), ficou cada vez mais claro para o novo presidente que inúmeros de seus subordinados e colaboradores forçados (sim, pois, embora funcionalmente subordinados ao atual presidente, tinham sido nomeados pelos presidentes anteriores – um deles já preso por crime de corrupção – de quem eram eleitores e a quem deviam favores) lhe escondiam algo e, até mesmo, sabotavam as suas decisões. Não é necessário ser presidente da MGM, como   Nicholas Schenck, para perceber que essa atual conspiração do silêncio contra o presidente, como aquela do velho filme, possui um caráter nitidamente subversivo. 
                                             Quando Bolsonaro mencionava na mídia estar procurando por alguém honesto e patriota para ajudá-lo na tarefa que tinha pela frente, como no filme mencionado, a tensão aumentava; ficando claro que muitos servidores escondiam a verdade e não obedeciam ao presidente, mas, sim, a alguns outros personagens, que dividiam com ele o comando dos denominados ‘três poderes da república’.
                                                 Paralelamente a isto, desenvolvia-se uma outra sedição, que denomino a Conspiração do Ruído, promovida pela grande mídia nacional e estrangeira, por membros do setor artístico e estudantil e por alguns governadores de Estado, vinculados a partidos de esquerda e insatisfeitos com a eleição majoritária de um governo liberal de direita, que passaria, dali em diante, a fiscalizar com rigor a concessão de verbas públicas.
                                                       Diariamente, desde que o presidente tomou posse e fechou as torneiras por onde escoava, descontroladamente, o dinheiro público, os principais grandes meios de comunicação deram início a uma campanha de críticas, de acusações e de difamação, contra ele e a sua equipe, visando desestabilizar aquele governo que se iniciava e usando, para tanto, o ruído das críticas traiçoeiras e inverídicas, produzidas e veiculadas através de milhares de mídias menores, de entrevistas, de filmes, etc., realizados no país e no exterior por grandes grupos midiáticos prejudicados pelo atual governo, como já dito, em seus interesses espúrios.
                                                A conspiração do silêncio que hoje se observa existir nos três poderes da república é dirigida contra o presidente e sua equipe e consiste, portanto, em um processo de ocultação de informações verdadeiras e de distorção de fatos e de dados, de modo a tumultuar e confundir a nova administração, buscando, assim, um mau desempenho desta que a incompatibilize com os anseios da população. 
                                                  A conspiração do ruído, por seu turno, é que tem como público alvo toda a população brasileira e objetiva, também, através da sonegação de informações verdadeiras e mediante a divulgação maciça das chamadas ‘Fake News’, desinformar e produzir contrainformação, de modo a que os brasileiros jamais saibam o que se passa, na realidade, nos campos político, econômico, militar e psicossocial brasileiros.
                                               O nosso povo de bem, que pagou muito caro para ver o novo espetáculo do Brasil sendo alçado ao Primeiro Mundo e livre do comunismo de uma vez por todas, torce pelo sucesso do protagonista principal, Jair Bolsonaro, da mesma forma como os espectadores do antigo filme torciam para John MacReedy.
                                              Entendo que a construção de uma relação de verdade, com a destruição das conspirações de silêncios e de ruídos, embora conduza à angustias e sofrimentos iniciais, torna-se absolutamente necessária para o sucesso da administração Bolsonaro e para o desenvolvimento econômico e social do nosso país. Para este objetivo, minha opinião é a de que a participação popular é indispensável e fundamental.
                                               Em primeiro lugar, deixando o povo de acompanhar as notícias da grande mídia e de acreditar nas informações por ela divulgadas. Em segundo, os cidadãos participando ativamente dos movimentos de massa promovidos pelos apoiadores do atual governo. Em terceiro, todos denunciando as ações e as informações, sobre as quais tiverem conhecimento ou ciência, promovidas pelas esquerdas e seus aliados criminosos, de colarinho branco, de colarinho sujo, de camisa sem colarinho ou, até mesmo, descamisados, que sejam contrárias aos interesses dos cidadãos de bem, à preservação da moral e dos bons costumes.
                                                  A participação popular é fundamental por que, por definição, os seres humanos são considerados racionais e as únicas situações em que podem perder a racionalidade são aquelas em que se vêm dominados pelas paixões ou pulsões (impulsos funcionando sob o Princípio do Prazer, isto é, buscando, sempre, aquilo que produza prazer e evitando o que cause dor), coisa comum em seres humanos ambiciosos pelo poder e pela riqueza, como costuma ocorrer com os políticos e com aqueles que têm como meta galgar os mais altos postos nos três poderes da república e na vida privada.
                                                  Neste sentido, as paixões (ambição, antipatia, ciúme, egoísmo, fanatismo, frieza, interesse, inveja, mágoa, medo, orgulho, raiva, soberba, etc.) podem ser entendidas como vícios, que debilitam a mente do indivíduo; pois este se foca, apenas, no objeto de seus pensamentos, sendo todos os demais momentâneos e irrelevantes. 
                                               Creio ser esta uma característica intrínseca dos atuais conspiradores do silêncio e do ruído, que, ademais de ideologicamente doutrinados de forma nefasta, sempre se moveram pelas paixões espúrias e já torciam para o novo governo dar errado, desde antes de ter começado; ainda que o seu objetivo fosse o de buscar consertar todo o mal deixado pelos governos anteriores.
                                               Seria uma ilusão imaginar que estes tradicionais conspiradores, eventualmente tocados por um sopro divino nesta nova gestão, abandonassem suas paixões e mudassem as maneiras malignas de agir, se transformando, de uma hora para outra, em anjos do bem interessados em construir, com seus trabalhos, o nosso futuro como potência; deixando de lado seus interesses particulares mesquinhos de construir os próprios futuros e os de suas famílias com o dinheiro público.
                                                  Tendo em vista esta constatação, urge que o novo governo tenha pessoas da sua mais absoluta confiança nos três poderes, cujas vidas pregressas sejam limpas, transparentes e suas lealdades comprovadas. É mandatório o rápido desaparelhamento das instituições públicas, livrando-as dos sabotadores e dos quintas colunas, remanescentes ideologicamente contaminados das passadas administrações de esquerda. 
                                                   É imprescindível ao novo governo contar com o apoio de algumas grandes mídias, já existentes ou a serem criadas, ademais do apoio que já recebe de seus eleitores através das redes sociais. É fundamental ao novo presidente possuir uma assessoria pessoal de inteligência, de alto nível e bem treinada no que respeita às modernas técnicas de segurança das comunicações eletrônicas e computacionais.

_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha. Membro da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.