315. Os Sonhos
Jober Rocha*
Desde o surgimento do homem na face do planeta, os sonhos têm desafiado a inteligência humana. Cientistas, filósofos e religiosos têm tentado estudar e entender o que seja o sonho e explicar qual a sua finalidade.
Para a Ciência, seria uma experiência de imaginação do inconsciente durante o nosso período de sono. Para Freud, o pai da psicanálise, o sonho seria a busca pela realização de um desejo reprimido. No enredo de todo sonho haveria um sentido manifesto (que seria, apenas, uma fachada) e outro sentido latente (que seria o verdadeiro significado do sonho). Este último seria, para Freud, o único que teria importância para o sonhador. Para o psiquiatra Jung, o sonho seria uma ferramenta da psique, que buscaria o equilíbrio psíquico por meio da compensação, tentando trazer ao consciente matérias que eram mantidas no inconsciente e que, de certa forma, atormentavam o indivíduo.
Para muitos xamãs e pensadores religiosos, o sonho aparece revestido de poderes premonitórios ou, até mesmo, de uma expansão da consciência. Alguns imaginam atingir, em sonhos, o local onde vivem as divindades e delas receberem conselhos. A oniromancia consiste, pois, em uma, suposta, arte de fazer previsões do futuro pela interpretação dos sonhos. Ela sempre foi praticada por diversas civilizações, como a Maia, a Egípcia e a Grega, por exemplo. Os índios norte americanos também a utilizavam, bem como índios de outras partes do mundo. Algumas vezes, quando as previsões feitas pelos oniromantes, para prever o futuro de seus chefes, falhavam, suas cabeças decepadas podiam ser vistas fixadas em postes situados próximos das comunidades nas quais exerciam seus difíceis e arriscados ofícios.
Para a Filosofia o fato de os indivíduos sonharem, quase sempre, sem que se apercebam de que sonham (ou tão logo acordem esqueçam o sonho que tiveram), levou alguns filósofos a questionar se não viveríamos em um estado de sonho constante, ao invés de em uma realidade acordada.
Como eu nada entendo sobre assunto tão interessante, resolvi dar a minha interpretação particular para os sonhos, embora reconheça que muitos cientistas, filósofos e pensadores religiosos, bem mais capacitados do que eu, tenham opiniões totalmente divergentes. Na minha singela maneira de ver esta questão, entendo que nós, os seres humanos, somos matéria e espírito. Quando em vigília, o nosso espírito se utiliza da matéria para se expressar, se locomover e realizar tarefas. Quando dormindo, a matéria encontra-se totalmente em repouso e o nosso espírito, que a ela vive preso, pode, então, dela se desligar.
O espírito só consegue se desligar da matéria, nestas ocasiões, quando o corpo está totalmente repousado (na chamada fase REM do sono). Se o sono permanece, apenas, na fase não REM, o espírito fica no corpo e acordamos sem nenhuma sensação de haver sonhado. Na fase REM, quando o espírito pode se afastar do corpo, é quando nos lembramos, perfeitamente, do sonho que tivemos, que transcorreu no passado ou no presente. O espírito só pode ir ao presente ou ao passado, onde já esteve, mas nunca ao futuro, onde ainda não esteve; razão pela qual, ninguém sonha com o futuro, mas, apenas, com o presente e com o passado.
Vejam que em todos os sonhos temos a noção exata de que somos um personagem vivenciando uma situação e não um personagem contemplando uma situação que se desenrola sem a nossa participação. Nosso espírito, liberto da matéria que dorme e descansa, pode, assim, retornar às suas antigas vivencias em outras existências.
Caso se tratasse de uma mera recordação de informações armazenadas na memória do cérebro (ou guardadas no inconsciente, isto é, em algum lugar desconhecido do próprio cérebro), o sonho seria apenas contemplativo, mas não participativo como são todos os sonhos. Da mesma forma, poderíamos sonhar com o futuro, pois nossa memória guardaria imagens de filmes como Guerra nas estrelas, por exemplo. Isto, todavia, não ocorre. Jamais soube de alguém que tenha sonhado com cenas se passando no futuro e que pudesse descrever esse futuro. O que os oniromantes tentavam, às vezes com sucesso e por pura sorte, era prever o futuro de terceiros com base em sonhos destes transcorridos no presente ou no passado.
Percebo que no sonho somos o nosso próprio espírito vagando (pois, jamais, vemos o nosso corpo físico nos sonhos, nem mesmo partes dele), livre de quaisquer amarras materiais, retornando a experiências já vividas anteriormente e que nos marcaram, por alguma razão, de forma indelével. Em sonho percebemos detalhes de paisagens, edifícios, estruturas, ambientes, pessoas, etc., de uma forma muito nítida e real, para que seja uma simples recordação guardada na memória. Sonhando é como se estivéssemos ali, presente, contemplando o cenário, dele participando e com ele interagindo.
Algumas vezes sonhamos que estamos no passado convivendo com pessoas que conhecemos no presente. Isto se dá por que são outros espíritos que nos acompanham desde tempos imemoriais, encarnando sempre na mesma época. Reconhecemos os seus espíritos nesses passeios que fazemos a outras existências. Todavia, eles se apresentam em nossos sonhos com a imagem que possuem na existência atual.
Algumas vezes sonhamos que estamos no passado convivendo com pessoas que conhecemos no presente. Isto se dá por que são outros espíritos que nos acompanham desde tempos imemoriais, encarnando sempre na mesma época. Reconhecemos os seus espíritos nesses passeios que fazemos a outras existências. Todavia, eles se apresentam em nossos sonhos com a imagem que possuem na existência atual.
Também, sempre, sonhamos conosco como o personagem principal e não com alguém
desempenhando este papel; o que poderia ocorrer, evidentemente, caso se
tratasse, apenas, de recordações da nossa memória.
Se somos acordados durante um sonho deste tipo, por vezes, levamos algum tempo para nos darmos conta de onde estamos; isto é, até que o nosso espírito entenda que está de volta à matéria. Por vezes, nos sonhos, sentimos como se algo nos puxasse, do lugar onde estávamos, de volta à cama onde nosso corpo repousa.
Creio que a explicação para os sonhos é bem mais simples, portanto, do que aquela que nos fazem crer os cientistas, os filósofos e os religiosos.
O leitor poderá argumentar que esta minha interpretação também é uma interpretação religiosa; posto que, se trataria de um fenômeno metafísico a envolver o espírito e, portanto, na esfera da doutrina espírita. Ocorre que a religião trata de fenômenos Metafísicos, mas a Metafísica não trata de fenômenos religiosos.
O fato de os seres humanos possuírem espírito e matéria é um fenômeno físico (conhecido) aliado a outro fenômeno metafísico (desconhecido), mas não um fenômeno religioso. A religião é uma construção humana, que tenta explicar fenômenos metafísicos mediante interpretações humanas e revelações, supostamente, divinas. Não nos esqueçamos de que por detrás das religiões existem, sempre, interesses humanos de poder, de riqueza e de dominação.
Pelo fato de a vida espiritual, que ocorreria depois da vida material, se tratar de um fenômeno cujas causas e implicações são desconhecidas pela ciência da Física, passou ela a fazer parte da chamada Metafísica (que vai além da Física). A religião, na falta de uma explicação científica para o fenômeno, forneceu a sua própria explicação, dando a está um caráter místico. A verdadeira explicação do fenômeno, todavia, será, com certeza, mais cedo ou mais tarde, encontrada pelos cientistas Físicos.
Inúmeras pessoas relatam experiências de quase morte – EQM. Nestas experiências elas, ao deixarem seus corpos físicos sob a forma espiritual, constatam a existência de vida após a morte (principalmente a delas, sob a forma espiritual) mas não relatam nenhuma estrutura religiosa comandando as ações naquela outra dimensão.
Por outro lado, nas regressões hipnóticas ou Terapias de Vidas Passadas, os pacientes hipnotizados voltam ao passado, em outras existências e com novas identidades, penetrando em ambientes onde interagem com pessoas e vivenciando situações aflitivas pelas quais já passaram e que lhes deixaram sequelas psíquicas. Ninguém faz regressão hipnótica para ir ao futuro, desconhecido.
Eu mesmo já passei por ambas as situações mencionadas, de forma absolutamente consciente, e posso atestar que se tratam de experiências verdadeiras e não fruto da imaginação de quem as vivencia.
Assim, enquanto o corpo repousa, o espírito que nele existia vagueia por alguma outra existência pela qual tenha passado. Quando está próximo do corpo acordar o espírito retorna. Por isto, ao acordarmos, o sonho (ou passeio espiritual) ainda está bem vivo e nítido e nos lembramos perfeitamente dele. Com as nossas demais atividades e afazeres do dia, acabamos por esquecer daquela experiência noturna.
Alguns cientistas dizem que sempre sonhamos. Outros que sonhamos, apenas, quando atingimos a fase REM ou Rapid Eye Movement (movimento rápido dos olhos). De uma maneira geral o sono não REM ocorre na primeira parte da noite. Nesta parte, pelo fato do corpo não se encontrar, ainda, totalmente relaxado, o espírito talvez esteja impossibilitado de se ver livre da matéria e, assim, permaneça ainda junto ao corpo. Por isso nesta fase não sonhamos (ou efetuamos o passeio espiritual mencionado). O sono REM, no entanto, costuma ocorrer na segunda parte, quando o corpo já está totalmente relaxado. Nesta hora é que o espírito pode, então, deixar o corpo para o seu passeio por outra existência e é quando ocorre o chamado sonho do qual nos lembramos ao acordar.
Segundo a ciência da Medicina, várias funções são atribuídas ao sono. Uma das hipóteses é a de que o sono se destina à recuperação pelo organismo físico de um possível débito energético estabelecido durante a vigília. Além desta, outras funções são atribuídas, especialmente ao sono REM: manutenção do equilíbrio geral do organismo, das substâncias químicas no cérebro que regulam o ciclo vigília-sono, consolidação da memória e regulação da temperatura corporal.
Vejam, portanto, que o sono visa, apenas, a manutenção corporal. O espírito não necessita dele, pois não se desgasta nem consome, não necessitando de repouso nem de alimento. Assim, aproveita, então, algumas vezes, a oportunidade em que o corpo físico dorme para retornar a outras existências e vivenciar experiências já vividas, que, de alguma forma, ficaram indelevelmente marcadas.
O leitor mais perspicaz poderá perguntar: - Por que não sonhamos, então, com a hora da nossa morte em outra existência?
A pergunta é instigante, mas posso supor que antes de chegarmos a este ponto o nosso corpo físico acorde e o espírito tenha que retornar de onde estava sem vivenciar a hora da morte de seu corpo anterior ou, ainda, que não nos seja permitido, como espíritos encarnados que somos, recordar este momento em nossos sonhos. Ademais, recordaríamos, apenas, a morte de um corpo físico; posto que, como espíritos, somos eternos. Não cabe, pois, como espíritos que somos, querer vivenciar a hora da morte de um corpo anterior que tenhamos tido, pois o nosso espírito jamais morreu. Simplesmente, deixou para trás um corpo que o abrigava.
Por outro lado, lembrem-se dos chamados pesadelos, quando, por vezes, acordamos gritando e desesperados por vivenciarmos, em sonhos, cenas terríveis, violentas ou opressivas. As explicações usuais para os pesadelos não me convencem. Estes pesadelos representam, na realidade, segundo penso, a vivência espiritual de experiências traumáticas ocorridas em vidas passadas, que se manifestam em um estado de agitação do corpo físico em repouso, que acorda gritando quando o espírito emocionado a ele retorna.
Assim, meus caros leitores, à guisa de um experimento, procurem lembrar-se, logo ao acordar, dos próximos sonhos que tiverem e tentem descrevê-los nas folhas de um caderno. Tentem lembrar-se do local, da época e do assunto do sonho. Façam isso toda vez que sonharem. Procurem, depois de algum tempo, ver se existe alguma conexão entre os locais dos sonhos, as épocas e os assuntos. Faça um esforço consciente, durante o sonho, para tentar saber a época em que ele se passa, mediante a contemplação da arquitetura de prédios, das construções, das roupas de pessoas que encontrar, dos ambientes, dos veículos, etc. Os sonhos que, até então, eu tive, foram todos coloridos, com as cores reais existentes na Natureza. Mais uma razão para crer em suas realidades.
Talvez você, caro leitor, se surpreenda com alguns sonhos recorrentes; isto é, aqueles que se repetem com frequência. Isto, todavia, foge do escopo desta minha análise e já seria matéria para ser pesquisada por um profissional da área de Saúde.
Como costumava dizer o filósofo Voltaire, “detenho-me quando o meu archote se apaga”!
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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