terça-feira, 15 de outubro de 2019

309. Por que os sinos dobram?


Jober Rocha*


                                       Alguns leitores, ao verem o título deste texto, logo imaginarão um erro de digitação ou, mesmo, de gramática; posto que, um conhecido romance de 1940 do escritor norte-americano Ernest Hemingway, ambientado em Segóvia durante a Guerra Civil Espanhola e considerado pela crítica uma das suas melhores obras, denominava-se ‘Por quem os sinos dobram’?
                                                        Talvez os leitores mais idosos até tenham visto o filme homônimo, feito em 1943, baseado no referido romance e tendo nos papéis principais os astros da época, Gary Cooper e Ingrid Bergman.
                                                        Não se trata, no entanto, de nenhum erro, pois o título está correto conforme perceberão mais adiante.
                                                      Desde tempos muito antigos, tanto no Oriente quanto no Ocidente, os sinos, através dos seus sons (que, propagando-se pelo espaço, alcançavam longas distâncias), eram usados como meio de comunicação entre populações isoladas e comunidades esparsas.
                                                      A Igreja Católica começou a fazer uso dos sinos a partir do século IV d.C. Naqueles tempos de comunicações difíceis, os sinos serviam, basicamente, para convocar os cristãos e para advertir as populações esparsas acerca dos principais acontecimentos da comunidade local (paróquia ou outra), mediante códigos que utilizavam os sons e determinados toques especiais. 
                                                  Os diversos toques constituíam e ainda seguem constituindo, pois, uma linguagem convencional, que pode ir de uma simples badalada até o som dobrado, ao toque picado, ao toque encadeado e ao toque repicado ou repenicado, que é utilizado em ocasiões festivas. Tal linguagem dos sinos, desde os primórdios, era perfeitamente compreendida pelos habitantes das aldeias e vilas. Na atualidade, até mesmo com o ruído constante das cidades, o som dos sinos não passa despercebido da maioria dos seus habitantes.
                                                      O toque dos sinos das igrejas católicas, desde tempos imemoriais, vem assinalando as horas do dia e da noite, os tempos de oração, a celebração da missa, o Ângelus e a oração comunitária. Ele reúne o povo para as celebrações litúrgicas, adverte os fiéis quando ocorre algum acontecimento importante que seja motivo de alegria (como a entrada de um novo bispo ou de um novo padre) ou de tristeza (a morte ou os funerais de alguém). 
                                                    Há, desta forma, toques para avisar que morreu um paroquiano, para especificar se o falecido era homem ou mulher, para convocar os fiéis, para anunciar que o cortejo fúnebre está prestes a sair da igreja, etc.  Por outro lado, os sinos, também, tocam em diversas outras oportunidades, como, por exemplo, quando os verdadeiros crentes exultam ou choram por ocasião de episódios históricos-religiosos, quando dão graças ou suplicam; como também quando se reúnem para manifestar a sua fé e a crença que possuem nos dogmas da igreja.
                                                        Isto, todavia, era o que ocorria, até então, quando a igreja funcionava como um organismo uno, quando fiéis e sacerdotes pensavam da mesma forma, tinham a mesma crença e trabalhavam para um mesmo fim. Com o advento da chamada Teologia da Libertação, que tem provocado cisma na igreja católica; bem como, com a chamada Nova Ordem Mundial e seus desdobramentos, dentre os quais o denominado Sínodo da Amazônia é um exemplo, as coisas, no entanto, estão mudando e as mudanças deverão se acentuar ainda mais nos próximos anos.
                                                 A referida teologia, segundo alguns historiadores, surgiu a partir do ano de 1971, quando o padre peruano Gustavo Gutiérrez publicou um livro denominado ‘A Teologia da libertação’.
                                               A Teologia da Libertação, ampliada e consolidada posteriormente por sacerdotes de influência marxista, parte da premissa de que o Evangelho exige uma opção preferencial pelos pobres e destaca que a teologia, para concretizar essa opção, deve se utilizar das ciências humanas e sociais. Busca, pois, a mencionada teologia, reformular todo o cristianismo com uma nova maneira de interpretar os fatos históricos, sociais, místicos e transcendentais que o originaram. 
                                                  Trata-se, portanto, de uma nova interpretação do cristianismo surgida no Continente Sul Americano, feita por alguns sacerdotes, abolindo o sentido anagogico e transcendental da fé cristã. 
                                                    A Teologia da Libertação buscaria, desta forma, explicações científicas, antropológicas e sociais para fenômenos metafísicos-religiosos, negando os dogmas do cristianismo e cortando a transcendência divina desta religião, convertendo-a, como um todo, em um novo movimento de transformação da realidade através de uma releitura sociológica dos livros sagrados à luz do materialismo histórico marxista; isto é, mediante a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao estudo da vida social.
                                                    A Santa Sé, em 1984, condenou os principais fundamentos da Teologia da Libertação, como, por exemplo: a ênfase exclusiva desta teologia no pecado institucionalizado, coletivo ou sistêmico, e não mais nos pecados individuais; a eliminação da transcendência religiosa; a desvalorização do magistério e o incentivo à luta de classes. A partir desta condenação a importância do movimento se reduziu entre os sacerdotes locais.
                                                   Na década de 1990 e início da de 2000, no entanto, com a criação do Foro de São Paulo e o surgimento de diversos países socialistas bolivarianos (comunistas) no Continente Sul Americano; bem como, com a ascensão ao poder, em vários outros países do continente, inclusive no Brasil, de governantes de esquerda, a referida teologia ganhou novas forças, notadamente entre os sacerdotes católicos de tendência marxista que voltaram à carga contra os católicos e sacerdotes ortodoxos tradicionais.
                                                    Em nosso país, conforme bem definiu o padre católico Paulo Ricardo de Azevedo Junior (https://padrepauloricardo.org/), parte importante do clero da Igreja Católica aderiu aos partidos de esquerda, tornando-se, muitos destes sacerdotes, naquilo que o padre denomina de ‘teólogos da corte’; ou seja, padres e bispos que seguem a ideologia marxista dos partidos de esquerda, notadamente do Partido dos Trabalhadores. 
                                                     Segundo declarações do padre no YouTube, a única oposição concreta aos objetivos dos partidos de esquerda de implantarem o comunismo, em nosso país, partiria das igrejas protestantes.

                                                     - “Se o povo soubesse como se produz teologia neste país, ficaria envergonhado, como eu me envergonho ao imaginar que as pessoas olhem para mim, padre, e pensem que eu também estou no bolso do governo petista” - declarou Paulo Ricardo, em um de seus vídeos divulgados no YouTube.
                                                    O arcebispo de Aparecida do Norte, Orlando Brates, no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Fátima, durante sermão que fez na missa solene de sábado, dia 12 de outubro de 2019, declarou, na presença do presidente Jair Bolsonaro: - “Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta. Estão fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo”.
                                                      Alguns dias antes (domingo, 19 de setembro de 2019) o mesmo santuário havia recebido petistas dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, da Capital Federal Brasília e, também, de diversas cidades de São Paulo. O padre João Batista de Almeida pediu, durante a sua fala: “Pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que Nossa Senhora Aparecida o abençoe e dê muitas forças e se faça a verdadeira justiça para que, o quanto antes, ele possa estar entre nós, construindo com o nosso povo um projeto de país que semeie a justiça e a fraternidade, rezemos ao senhor”. 
                                                  Faixas com os dizeres Lula Livre eram vistas dentro e fora da basílica, demonstrando que a famosa Igreja da Libertação, de natureza marxista, apoiava, ostensivamente, a libertação de um ex governante, criminoso condenado por vários juízes, em várias instâncias, em vários processos, por formação de quadrilha, corrupção, desvio de verbas públicas, etc. etc. etc.
                                                   Por sua vez, do outro lado do Atlântico, o cardeal Walter Brandmüller, historiador da Igreja Católica, criticou o documento de trabalho lançado pelo Vaticano, denominado ‘Instrumentum Laboris’, para o Sínodo da Amazônia. Segundo o cardeal: “Há que se perguntar o que a ecologia, a economia e a política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja? E, acima de tudo, que competência profissional e autoridade tem um sínodo eclesial de bispos para emitir declarações nesses campos”?
                                                   O cardeal conclui, afirmando: “Portanto, deve ser dito hoje, com força, que o ‘Instrumentum Laboris’ contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como um documento herético. Dado que mesmo o fato da revelação divina é aqui questionado, deve-se, também, falar que, além disso, é um documento apóstata”.
                                                     Voltando, pois, ao título do presente texto, a pergunta que muitos católicos poderão fazer a si mesmo, diz respeito às novas razões pelas quais os sinos das igrejas passarão a dobrar, em futuro próximo, caso a corrente marxista da Teologia da Libertação (aliada aos sacerdotes e altos prelados do Vaticano que seguem a cartilha da Nova ordem Mundial, em busca de um governo único e uma religião única mundiais; religião esta que, evidentemente, não deverá ser o cristianismo, mas uma religião oriental como o islamismo, o budismo ou o hinduísmo que congregam maiores contingentes populacionais e são mais do que simples religião, pois fazem parte da vida social e institucional dos países onde predominam), saia vencedora do atual cisma que se apresenta aos olhos de todos os fiéis.
                                                     Será que, com a abolição dos velhos toques de sinos nas igrejas, que traduziam os antigos sentimentos religiosos, serão criados alguns toques novos, como, por exemplo, para indicar que o comunismo ditatorial e de partido único, finalmente, venceu o capitalismo e a democracia liberal em nosso país e no resto dos países do Ocidente? 
                                              Será que os sinos emitirão sons encadeados, nas torres das igrejas, de forma nova e diferente, para indicar que, finalmente, todos os meios de produção agora pertencem ao vitorioso (e implantado por toda parte) governo popular comunista? 
                                             Algum toque novo, repenicado, finalmente, para júbilo de alguns apóstatas, irá comunicar aos fiéis remanescentes que o cristianismo está com seus dias contados ou que  já acabou sobre a face da Terra?


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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