182. Vamos mudar o Brasil?
Jober Rocha*
Estou convencido de que nenhum brasileiro, até mesmo aqueles que se dedicam à atividades ilícitas, está satisfeito com a atual situação do nosso país.
O chamado Custo Brasil, que consiste no conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no nosso país, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas, é enorme e atinge a todos (tanto faz ser pobre, como remediado ou rico; inclusive atingindo também aqueles que enriquecem de forma ilícita). Por isso, o Custo Brasil é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade, a eficiência da indústria nacional e prejudicam a vida de todos aqueles que vivem no Brasil.
Quem não gostaria de viver em um país que oferecesse segurança jurídica e pública; transporte, saúde e educação de qualidade; respeito aos direitos humanos por parte de toda a população (e não só dos agentes da lei e da ordem); que tivesse políticos honestos, patriotas e interessados em melhorar a vida dos seus eleitores; que possuísse uma justiça rápida e eficiente; que os salários fossem elevados e os preços baixos, que oferecesse muitos empregos disponíveis; etc. etc. etc.
Por que o Brasil não é um país como esse mencionado, sonhado por todos nós?
Certamente, a razão deve ser buscada em sua gente e nos efeitos da miscigenação de raças aqui ocorrida ao longo da história; em como foram formadas as suas elites; em seus condicionamentos culturais e sociais; etc. Não somos um pais subdesenvolvido, como tantos outros, em razão da carência de recursos naturais ou por dispor de um pequeno território, por falta de água, por carência de recursos minerais, pela inexistência de acesso ao oceano, etc. Nossas carências são de outra ordem e estão ligadas a aspectos psicossociais.
Todavia, se algumas destas variáveis que nos mantém no subdesenvolvimento não podem ser modificadas ou não depende, apenas, de nós fazer com que elas mudem, outras, sim, podem ser mudadas por nós mesmos, basta que queiramos fazer a mudança.
Os indivíduos, enquanto cidadãos, consumidores, fiéis, eleitores, contribuintes, correntistas, telespectadores, leitores, etc., possuem uma monumental força, insuspeitada por eles mesmos. Se conscientes e unidos, podem ‘quebrar’ empresas (não consumindo seus produtos ou serviços), podem fechar igrejas (não freqüentando seus templos), podem sanear o legislativo do país (não votando em políticos reconhecidamente corruptos ou que não tenham ficha limpa) e podem pressionar o governo a se moralizar (mediante passeatas, greves, boicotes, etc.). Só não o fazem por serem desunidos, mal informados, acomodados, influenciáveis e ingênuos.
A única maneira de mudar o Brasil é começando por mudar a nós mesmos. Reconheço que somos apenas uma gota no vasto oceano dos brasileiros dominados, mas o mar se move na direção para onde as gotas se dirigem e não o contrário.
Se nós, seres humanos, nos tornarmos conscientes de como as coisas se passaram até agora, poderemos modificá-las no futuro. Como bem disse o médium Chico Xavier (cuja frase é citada ao final de muitos e-mails como sendo de autoria de Rui Barbosa): “- Embora não possamos voltar atrás e fazer um novo começo, podemos sempre começar de novo e fazer um novo fim”.
Nossas escolhas erradas nas urnas, com respeito àqueles que conduziram o Poder Legislativo do país, até agora, têm sido a principal causa do nosso atraso econômico e social e das crises pelas quais passamos. A alienação do nosso povo quanto às questões geopolíticas e econômicas; bem como, a nossa inocência e pouca cultura quanto a questões de ordem ideológica, política, religiosa e filosófica, estão por detrás de todos os males que nos afligem, compondo o pano de fundo de nosso subdesenvolvimento e de nossas idiossincrasias que têm nos levado a fazer péssimas escolhas no que se relaciona aos nossos dirigentes máximos.
Eu faço votos para que uma nova maneira de entender o nosso país e o mundo em que vivemos, contribua para libertar-nos de falsas propagandas, falsos valores, falsas crenças, crendices e superstições, todos maquiavelicamente inoculados em nossas mentes com o único objetivo de esconder-nos a verdade e permitir que sejamos facilmente dominados, sem que dessa dominação tenhamos ciência e sem que a ela oponhamos resistência.
Posso enumerar aqui algumas sugestões aos meus queridos leitores (sugestões estas que não são só minhas, mas de muitos brasileiros preocupados com o nosso destino), de como mudar o país em um prazo relativamente curto. Segui-las ou não dependerá da vontade de cada um.
As sugestões, com respeito à política, são as seguintes: não reeleja, jamais, nenhum político, dando chance aos novos candidatos, pois mandato público não deve ser considerado uma profissão; não vote em candidatos despreparados, que sejam conhecidos, apenas, por frequentarem quase que diariamente a Mídia, em razão de suas profissões; não vote em nenhum candidato por solicitação de seus amigos, da sua igreja, de qualquer grupo a que pertença, de seus parentes e familiares ou influenciado pelas propagandas e faixas que poluem as cidades nas vésperas das eleições; escolha seus candidatos por suas vidas pregressas, que podem ser obtidas na WEB, local onde qualquer um poderá saber da honestidade e competência deles, pois tudo fica ali registrado.
Com respeito às relações sociais: seja educado com todos; saiba viver em comunidade, respeitando os direitos e as opiniões dos demais; seja prestativo e ajude seus semelhantes; procure ser sempre otimista e nunca perca o bom humor.
Relativamente ao lazer, embora futebol, carnaval e novelas possam ser atividades agradáveis de contemplar quando se está ocioso, use o seu tempo disponível para adquirir cultura e conhecimento; as únicas formas de se libertar da influência de terceiros e poder ser, enfim, senhor de si próprio, deixando para trás um passado de servidão consentida.
Com relação a você mesmo: procure aprender o máximo que puder acerca de tudo, passe a ser mais consciente dos seus interesses e menos ingênuo com relação aquilo que lhe tentam incutir através da grande mídia, oficial e privada. Procure fontes alternativas para se informar, como cursos, seminários, palestras, livros e a própria WEB. Seja honesto consigo e com os demais, mesmo quando não tiver ninguém olhando. Não se deixe influenciar, em termos religiosos ou ideológicos, por quem quer que seja. Se você é religioso, saiba que nem tudo o que lhe dizem acerca das religiões, ou que lê nos livros ditos sagrados, é a fiel expressão da verdade. Procure ler o que dizem os historiadores descompromissados, sobre a sua religião. Com certeza irá se surpreender com fatos que desconhecia. Defenda os seus pontos de vista e valores, não se deixando influenciar por ninguém e, dentro da lei, faça apenas aquilo que a sua consciência ou o bom senso lhe indicar.
O mesmo que eu disse para os que seguem alguma religião eu diria para os que se guiam por alguma ideologia. As ideologias, como as religiões, não surgiram vindas do nada. Foram criadas por seres humanos, segundo interesses particulares de dominação e de prevalência de alguns indivíduos sobre outros indivíduos e de determinados grupos sobre outros grupos. Leiam diversos autores sobre a história do pensamento humano, sobre a história da riqueza, sobre a história das religiões, sobre Filosofia e tirem as suas próprias conclusões.
Quando todos os brasileiros estiverem conscientes e forem seguidores destes pré-requisitos, necessários para transformar um arremedo de país, sem ordem e sem segurança jurídica, em uma verdadeira nação possuidora daquela identidade pela qual os indivíduos se identificam e se sentem partes de um grupo, estaremos a um passo da mudança.
Poderemos, no entanto, jamais nos tornar uma nação desenvolvida, embora fazendo parte das dez maiores economias mundiais. Bastara, para tanto, que a nossa gente continue como sempre foi, ou seja: submissa, ignorante, crédula, inocente, frívola e despolitizada, não participando nem influindo nas grandes decisões nacionais, e que continue a permitir que o nosso país seja conduzido por pessoas incapazes e venais, colocadas onde estão pela própria população iludida com falsas promessas de campanha.
As próximas eleições estão chegando. Não seria uma boa ocasião para tentarmos?
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário