181. O perigo das eleições no Brasil**
Jober Rocha*
As eleições brasileiras, como as de muitos outros países subdesenvolvidos, sempre foram eivadas de denúncias de fraudes na contagem dos votos; de pesquisas de boca de urna encomendadas, objetivando influenciar eleitores indecisos; do uso, durante a campanha eleitoral, de recursos não contabilizados e nem informados pelos partidos e candidatos, oriundos de doações de empresários e de pessoas não identificadas; da utilização de recursos públicos e da máquina administrativa para a campanha eleitoral de candidatos do partido no governo, etc.
Mais recentemente, novos episódios vieram aumentar o arsenal de artifícios tendentes a viciar as eleições em detrimento de candidatos, de partidos e de grupos. É o caso, por exemplo, das chamadas urnas eletrônicas, que inúmeras denuncias acusam de ser facilmente fraudável, tanto por gente de dentro quanto de fora. Explico-me: o programa interno que faz com que a máquina opere é conhecido de pouquíssimas pessoas e pode conter vícios, a máquina é de origem estrangeira e não fornece comprovante ao eleitor, assegurando que o voto foi computado para o candidato em que ele votou. Por outro lado, conforme alguns hackers já demonstraram publicamente, a urna pode ser objeto de interferência externa por parte de pessoas especializadas. Acresce, ainda, que apenas três países no mundo inteiro a utilizam, sendo o nosso país um deles.
Outros fatores que no Brasil sempre foram desconsiderados, são: indivíduos cumprindo pena por crimes não perdem os seus direitos civis, podendo se candidatar e, sendo eleitos, tomar posse; parlamentares condenados pela justiça continuam exercendo seus mandatos, recebendo seus salários e dormindo à noite na prisão.
Centenas de parlamentares, acusados de crimes comuns, continuam exercendo seus mandatos, beneficiados por um denominado foro especial que faz com que apenas possam ser julgados pelas altas cortes da justiça, cujos membros são nomeados pelo chefe do executivo e sabatinados pelos parlamentares, que aprovam seus nomes ou os vetam. Assim, aqueles passam a dever as suas nomeações, para os cargos regiamente pagos e plenos de mordomias adicionais destas altas cortes, ao presidente da república e aos parlamentares que, eventualmente, algum dia, tais magistrados poderão vir a julgar.
Outro aspecto importante são as chamadas bancadas, isto é, parlamentares eleitos por igrejas, por empresas, por sindicatos internacionais do crime organizado, facções criminosas locais, por governos estrangeiros, etc. Eles formam aquilo que, em linguagem politicamente correta, se denomina lobby; mas, que, na realidade, não passa de traição, visto que a atuação dos políticos deve visar o bem geral da população brasileira e não, apenas, os interesses dos grupos particulares a que pertencem, que os financiam e aos quais estão vinculados.
Conforme amplamente denunciado na imprensa, os governantes costumavam comprar, com dinheiro público, o apoio de muitos dos parlamentares às medidas propostas pelo executivo. Muitas destas medidas aprovadas pelos parlamentares, já tinha sido antecipadamente vendidas, por aquele que as propunha, à empresários que com elas seriam beneficiados, gerando uma verdadeira indústria de venda de leis, decretos, portarias, etc.
Inúmeras vezes a população brasileira tem sido surpreendida com medidas contrárias aos interesses públicos, aprovadas pelo parlamento. Poucos são os que sabem a verdade que se esconde por detrás daquelas medidas aprovadas.
O povo, como sempre, em sua passividade de rebanho, na maior parte não se interessa por política e, a exemplo do que fazem em suas residências patrões omissos e perdulários, permite que aqueles seus empregados, por eles colocados no parlamento, tomem conta do país e movimentem o Tesouro Nacional em proveito próprio.
Ao contrario do que ocorre em inúmeros outros países, aqui, no nosso, o povo não possui nenhuma ligação com os seus representantes no parlamento, nada cobrando deles e deixando-os agir por conta própria. Na maioria das vezes, os políticos trabalham apenas para si e para os seus interesses particulares, procurando eleger filhos e parentes ou nomeá-los para cargos burocráticos bem remunerados, disponíveis no parlamento, onde muitos se aposentam.
A coisa tem se repetido da forma como descrito, há muitos e muitos anos. Qualquer que seja o candidato e o partido pelo qual ele se eleja, se não ocorrerem mudanças nesta estrutura viciada, montada desde há muito, as coisas continuarão como sempre foram. Somos o país do cambalacho, das resoluções à portas fechadas, da prevalência dos interesses particulares sobre os públicos, da venalidade geral (desde a corrupção e o suborno dos homens públicos, à fraude empresarial e ao consumo de produtos roubados ou contrabandeados pela população). Aqui ninguém é inocente, como se autodenominou uma companhia teatral brasileira.
Percam, pois, as esperanças, já que não será um governante, por melhor e mais honesto, que seja (como parece ser aquele que hoje desponta nas pesquisas como o que detém maiores intenções de voto para as próximas eleições), que irá consertar este país sozinho. O país terá que ser repensado, reformulado e colocado no rumo, por sua própria gente; quando, e se, todos tomarem consciência de que a eles é que cabe esta tarefa e não àqueles prepostos, que agem, no mais das vezes, apenas para si e em nome da população.
Em não sendo assim, as eleições se transformam, de tempos em tempos, em um espetáculo de drama ou de comédia no Teatro Brasil, em que a peça é sempre a mesma e os marqueteiros, com a experiência e os recursos que possuem, fazem parecer que se trata de um novo espetáculo, inédito na praça, com novos atores, novos cenários e novas coreografias.
O povo animado, de quatro em quatro anos, comparece em massa ao teatro, esperando ver algo diferente. Após o primeiro ato todos se convencem que já viram aquela peça e começam a deixar o Teatro Brasil, arrependidos de terem perdido o seu tempo e de terem gasto o dinheiro da entrada.
Os Produtores deste espetáculo, que financiam periodicamente aquele show (onde os artistas do momento se apresentam em suas melhores roupas e com os seus papéis exaustivamente ensaiados), são os verdadeiros donos do Brasil, que nada entendem de Literatura (Economia) nem de Roteiro (Planejamento), mas que tudo sabem de Dramaturgia (a arte de representar) e de Bilheteria (a maneira de arrecadar e desviar o dinheiro público). Esses é que necessitam, prioritariamente, serem substituídos por quem entenda, verdadeiramente, de Literatura e de Roteiro, setores em que estão localizadas as nossas principais deficiências.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_*/ Crônica
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