157. Qui, come là...**
Jober Rocha*
Segundo noticias divulgadas na imprensa, o papa Francisco I alertou, nesta quinta-feira 21/12/17, os cardeais da Igreja de Roma sobre o "câncer da desequilibrada e degenerada lógica das intrigas no seio da Cúria Romana, o Governo da Igreja", e advertiu sobre o "perigo dos traidores da confiança".
Perante os representantes da Cúria, reunidos na Sala Clementina, o pontífice advertiu sobre "A lógica desequilibrada e degenerada das intrigas ou dos pequenos grupos".
Vejam que o Sumo Pontífice, a autoridade máxima da Igreja de Roma, aquele que afirma fazer a ponte entre o material e o imaterial, entre o humano e o divino, está preocupado com os rumos da instituição que comanda, tantos são os escândalos em que esta se envolveu ao longo dos últimos anos; bem como, tantas são as correntes de interesses e de pensamentos divergentes, que ameaçam o surgimento de forte dissensão e cizânia, quase um cisma, no seio da igreja.
Vejam também que as religiões, de uma maneira geral, intrinsecamente, constituem-se em organizações criadas com os objetivos de levantar templos às virtudes e de cavar masmorras aos vícios, conforme já disse alguém tempos atrás. Suas finalidades básicas e principais, segundo preceitos, regulamentos, doutrinas e ritualísticas adotadas por todas elas são as de propiciar, aos adeptos, oportunidades de evolução espiritual. Teoricamente, só procuram religiões aqueles que desejam evoluir espiritualmente e acham que o sacerdote poderá ajudá-los nesta busca.
Em tese, os religiosos deveriam se tratar de pessoas bem intencionadas, movidas pela fraternidade, pela modéstia, pela humildade, pela caridade, etc. Ocorre que isto nem sempre é o que se verifica na prática.
Muitos religiosos procuram a religião em busca do perdão para as suas consciências culpadas e do atendimento às suas demandas materiais, emocionais e de saúde; objetivos estes que julgam poder ser atendidos pelas divindades. Notem, portanto, que se tratam, quase sempre, de objetivos egoístas e mesquinhos. O próprio sectarismo religioso, com a disputa, por parte das diversas religiões, pela primazia dos seus Deuses; bem demonstra a falta de humildade e de fraternidade entre os seguidores de muitas delas.
Se isto ocorre no âmbito dos adeptos e dos sacerdotes das varias religiões e seitas (que teoricamente seriam pessoas que estariam do lado do bem), o que dizer então do pensamento diário que norteia muitos políticos e empresários nas suas atividades mundanas de amealhar riqueza em países do Terceiro Mundo, como o nosso? Políticos e empresários que possuem vasta ficha criminal (e que, sabidamente, sempre estiveram do lado do mal), em razão das brechas existentes nas leis, de seus caríssimos e competentes advogados e da condescendência de alguns juízes (muitas vezes, nomeados pelos próprios políticos mandatários que são réus nos julgamentos), não se sentem tolhidos em suas maquinações visando à acumulação de riqueza e poder, em razão da total impunidade de que chegam a desfrutar, por força do chamado foro privilegiado que os beneficia com julgamentos especiais e particulares quando são alvos de processos penais.
Existem fortíssimas razões para o povo brasileiro estar mais preocupado com o destino do Brasil, do que o papa com o destino do Vaticano.
Parte dos políticos brasileiros, de forma egoísta e mesquinha, pensa, apenas, em si mesmo, na sua família e no grupo criminoso do qual faz parte. O povo e as suas necessidades apenas são objeto de comentários, por parte deles, quando alguma negociata destinada a amealhar muito dinheiro pode ser engendrada tendo o povo como suposto beneficiário daquilo que será feito. Os benefícios populares são mencionados, apenas, para justificar o mérito daquela negociata (obra, projeto, atividade ou serviço) com recursos públicos, que, em razão de superfaturamentos vários, proporcionará a riqueza de muitos políticos, executivos e empresários.
A degenerada lógica das intrigas e o perigo dos traidores da confiança do povo brasileiro, neles depositada nas urnas, são, com toda certeza, mais intensos e mais perigosos aqui, no Brasil, do que na Cúria Romana, no Vaticano, objeto da preocupação papal.
Mais perigosa, principalmente, em razão do fato de que aqui no país eles podem conspirar entre si e maquinar seus crimes, em pequenos e grandes grupos, sem nenhum receio de punições, quer da parte dos governantes, quer da parte de divindades nas quais não acreditam ou, quando muito, apenas fingem nelas acreditarem.
Os inúmeros habeas corpus (inclusive preventivos), com que os réus envolvidos em desvio de dinheiro público são agraciados, além do fato de que, quando eventualmente condenados, as penas. quase sempre, são cumpridas em suas próprias residências; bem demonstram o tratamento diferenciado que recebem, quando comparados aos demais criminosos do país. Por outro lado, as mais altas cortes de justiça passaram a decidir sobre quase todos os assuntos, inclusive sobre assuntos políticos e propostas de emendas constitucionais, evidenciando a falência das instituições e a insegurança jurídica que reina no país.
Acresce, ainda, que, correndo pela raia de fora, encontra-se o grupo dos políticos que quer ver implantado no país o regime comunista proposto por Antônio Gramsci. Empresários que enriqueceram com os governos passados, de natureza esquerdistas, imaginam que irão continuar ganhando muito dinheiro, caso seja implantado aqui um regime comunista do tipo venal, como costumam ser. Talvez, por isto, ainda estejam em cima do muro, quanto ao apoio material, político e financeiro para a campanha de 2018 à Presidência da República, esperando para ver se o comunismo se implanta através de algum casuísmo, como, por exemplo, uma nova constituição outorgada sem a participação popular.
De acordo com alguns jornalistas, o Brasil da atualidade é governado pelo crime organizado internacionalmente. Em sendo verdadeira esta afirmação, como parece ser, qualquer eventual candidato à presidência da república, por qualquer um dos partidos existentes, terá que fazer coligações e comer na mão dos atuais donos do país, para poder governar; isto é, terá que seguir a cartilha ditada por aqueles que realmente comandam o processo, cujos nomes são conhecidos de alguns poucos. Portanto, não creio em mudanças significativas, nos próximos anos, com a simples troca de governantes ou com apelos aos sentimentos dos dirigentes, nem no Brasil nem no Vaticano.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Aqui, como lá... (Crônica)
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