sábado, 9 de dezembro de 2017


153. O Poder da Desinformação**



Jober Rocha*



                Pesquisa recente, divulgada pela Mídia, dá ciência de que o Brasil é o segundo país do mundo em que as pessoas mais têm a percepção equivocada sobre a realidade de onde vivem. 
               A notícia, segundo a imprensa, faz parte da pesquisa denominada “Os perigos da percepção”, elaborada pelo instituto Ipsos Mori.
                    De acordo com o levantamento, realizado em 38 países, para avaliar o conhecimento geral e a interpretação que as pessoas fazem acerca dos países em que vivem, os brasileiros entrevistados só ficaram à frente dos sul-africanos.
                  O estudo apresentou aos 29 mil indivíduos pesquisados perguntas sobre a realidade de seus países e, em seguida, comparou a percepção destas pessoas com os dados oficiais divulgados pelos próprios países.
                        Os países cujos cidadãos possuem as maiores percepções da realidade em que vivem são: Suécia, Dinamarca, Espanha e Montenegro. O fato do Brasil encontrar-se em segundo lugar, quanto a percepção equivocada, demonstra bem a intensidade com que a desinformação proposital é aqui aplicada, ademais dos altos índices de analfabetismo funcional.
                    A pesquisa em apreço, que deveria se chamar “Os perigos da percepção errada”, evidencia o papel da desinformação plantada, propositalmente, entre os cidadãos de todos os países, por agências públicas e privadas, a serviço de governos, de partidos políticos, de empresas, de grupos econômicos, de religiões e de ideologias. 
                     Diariamente somos massacrados por informações visuais e auditivas, muitas delas contraditórias, cujos objetivos últimos desconhecemos, tentando nos convencer sobre a supremacia de algo ou de alguém. Este algo ou alguém, como já dito, pode ser um produto ou serviço, um candidato a cargo político eletivo, uma ideologia, uma religião. Nossos corações e mentes são disputados, avidamente, por aqueles que ambicionam a riqueza e o poder, objetivos estes que só podem ser alcançados através dos indivíduos de uma nação, quer como consumidores, fiéis, eleitores, trabalhadores, usuários, espectadores, etc.
                 Avram Noam Chomsky (nascido na Filadélfia em sete de dezembro de 1928) consiste num linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna" e também é conhecido como uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica. Outra parte importante do trabalho político de Chomsky consiste na análise dos meios de comunicação de massa (especialmente dos meios norte-americanos), de suas estruturas, de suas restrições e do seu papel no apoio aos interesses das grandes empresas e do governo
                 Edward S. Herman e Noam Chomsky, em suas pesquisas, encontraram evidências de que a imprensa norte-americana estava se comportando de modo subserviente aos interesses das elites daquele país. Esta constatação, com certeza, pode ser estendida aos meios de comunicação de todos os países do mundo no que tange às suas respectivas elites. 
                    Amado e odiado por muitos, Chomsky já foi definido como ‘o Sócrates americano’, como ‘o intelectual mais importante dos USA’. Da mesma forma, dele já disseram que ‘não possui nenhuma credibilidade entre as pessoas sérias que se preocupam com a verdade’. Já foi, também, chamado de ‘o aiatolá do ódio antiamericano’.
                A desinformação proposital, levada a cabo por agências governamentais de inteligência, por institutos de verificação de opinião e empresas de marketing, através da imprensa, das redês de televisão, das emissoras de rádio, das editoras e das companhias cinematográficas, constitui um fato concreto a nível mundial e é produzida de maneira cientifica, fazendo uso dos conhecimentos mais avançados de ciências tais como a Psicologia, a Medicina, a Estatística, a Informática, a Computação Gráfica, etc.
                      Alguns leitores, mais inocentes, poderão questionar: Qual a razão que tais agentes teriam, para querer uma população desinformada?
                  Todas as razões, a começar pelo fato de que a verdade ilumina as trevas e aqueles que agem nas trevas, seja para ganharem dinheiro ou alcançarem poder de forma ilícita, não desejam que as populações conheçam a verdade.
                  ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’ é uma frase antiga da Bíblia, atribuída ao evangelho de João (8,32), em que cabem várias interpretações, tanto as de caráter religioso quanto as de índole psicossocial e política.
                    O Sistema de Dominação vigente, existente mundialmente, funciona bem quando e enquanto a maioria das pessoas aceita a dominação, acredita nas ‘verdades’ proclamadas pelo Sistema e as reproduz. Por isto, a desinformação é tão importante para governos, empresas, religiões, partidos políticos e grupos econômicos.
                       Como já afirmava Étiene de La Boétie, no século XVI, (360 anos antes de Mahatma Gandi divulgar, em 1906, o principio da não agressão – Satyagraha –, uma forma não violenta de protesto e de desobediência civil): 

                    ”Não é preciso combater nem derrubar esses tiranos que comandam o mundo. Eles se destroem sozinhos, se as pessoas não consentirem com suas servidões. Nem é preciso tirar-lhes algo, mas só não lhes dar nada. As pessoas não precisam esforçar-se para fazer algo em seus próprios benefícios, basta que não façam nada contra si mesmos. São, por conseguinte, as próprias pessoas que se deixam, ou melhor, que se fazem maltratar, pois seriam livres se parassem de servir. É o próprio povo que se escraviza e se suicida, quando, podendo escolher entre ser submisso ou ser livre, renuncia à liberdade e aceita o jugo; quando consente com seu sofrimento, ou melhor, o procura”. 

                      Os indivíduos, enquanto cidadãos, consumidores, fiéis, eleitores, contribuintes, correntistas, telespectadores, leitores, etc., possuem uma monumental força, insuspeitada por eles mesmos. Se conscientes e unidos, podem ‘quebrar’ empresas (não consumindo seus produtos ou serviços), podem fechar igrejas (não frequentando seus templos), podem sanear o legislativo do país (não votando em políticos reconhecidamente corruptos ou que não tenham ficha policial limpa) e podem pressionar o governo (mediante passeatas, greves, boicotes, etc.). 
                         Só não o fazem por serem desunidos, mal informados (ou desinformados propositalmente), acomodados e influenciáveis. A única maneira de mudar o mundo é começando por mudar a nós mesmos. 
                          Reconheço que, individualmente, somos apenas uma gota no vasto oceano dos seres dominados, mas o mar se move na direção para onde as gotas se dirigem e não o contrário. O mesmo se passa com os bandos de pássaros, com os cardumes, com os rebanhos e com as populações. 
                           São os seus componentes que os movimentam. Se nós, seres humanos, nos tornarmos conscientes de como as coisas se passaram, até agora, poderemos modificá-las no futuro. Como bem disse o médium Chico Xavier, com esta frase tantas vezes citada: “Embora não possamos voltar atrás e fazer um novo começo; sempre poderemos começar, agora, e fazer um novo fim”. 


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Ensaio



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