quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

156. Por que?**


Jober Rocha*




                      Alguns dos meus leitores já terão se perguntado por que o autor destes textos, um economista, não escreve artigos sobre Economia em seu blog?
                       A resposta é longa e peço àqueles que desejarem conhecê-la através deste ensaio (pois creio que vale a pena ser conhecida), um pouco de paciência em virtude da extensão da resposta.
                    Antes, porém, como ‘pano de fundo’, faço alguns comentários para melhor situar os meus caros amigos, quanto ao objetivo que pretendo ver atingido ao final da minha explanação. Por outro lado, como serão milhares, senão milhões, de anos que irei resumir em algumas poucas linhas, muita coisa poderá deixar de ser mencionada e ficar de fora, pelo que antecipadamente peço minhas escusas.
                          Inicialmente, por similitude com a estória de Adão e Eva, creio que nos primórdios do surgimento do Homo Sapiens no planeta, a Filosofia (traduzida do grego como ‘amizade pelo conhecimento’ e consistindo no estudo das questões gerais e fundamentais relacionadas com a natureza da existência humana; do conhecimento; da verdade; dos valores morais e estéticos; da mente; da linguagem, bem como do universo em sua totalidade), deve ter sido a primeira preocupação a surgir de forma avassaladora na mente humana. 
                           A convivência e a posterior união desta Filosofia rudimentar com uma Matemática também rudimentar, na minha maneira de ver, foi o que possibilitou, algum tempo depois, a concepção de uma Ciência embrionária, também rudimentar. A religião certamente surgiu da Filosofia, em seguida ou até mesmo concomitantemente com a Ciência, também como fruto da preocupação humana de ordem Metafísica. Inicialmente, a Religião abençoou aquela anterior união da Filosofia com a Matemática, ao bendizer o nascimento da filha pródiga, a Ciência; mas, posteriormente, veio a maldizê-la, ao competir com sua irmã pela supremacia acerca da posse da Verdade. 
                                A Religião afirmava que a Verdade lhe havia sido revelada pelo Criador, enquanto a sua irmã, a Ciência, tentava obtê-la através da descoberta das leis físicas, químicas e biológicas que regiam o Universo e a vida. A Arte também surgiu na mesma ocasião, mas, desde o início, esteve separada da Filosofia, sendo ambas apenas amigas e não parentes consanguíneos como eram a Religião e a Ciência.
                              Embora a Bíblia date o surgimento do homem em 4.142 anos antes de Cristo (ano da criação de Adão, segundo o Gênesis, Cap. 1, Ver. 27), estudos científicos indicam que o homem surgiu, em várias regiões da face do planeta, entre um e quatro milhões de anos antes de Cristo. 
                           Antes de os homens primitivos, que viviam em liberdade natural, se transformarem em indivíduos sedentários; isto é, transitarem da colonização nômade para a colonização permanente, eles viveram um período denominado Semi-Nomadismo, no qual possuíam acampamentos fixos onde passavam parte do tempo com o seu grupo e com seus animais (domesticados ou não). 
                             O sedentarismo total tornou-se, então, possível, graças à descoberta de técnicas agrícolas e pecuárias, cujo desenvolvimento permanente permitiu maior agregação populacional, levando a formação de vilas, cidades e outras formas de comunidade.
                                  O surgimento da Agricultura ocorreu entre 8.000 e 5.000 a.C. Os povos, em geral, contavam o tempo tendo por referência suas crenças. Os judeus contam-no a partir da criação do mundo, que supõem haver ocorrido há cerca de seis mil anos. Os árabes contam-no a partir da fuga de Maomé de Meca para Medina, ocorrida 622 anos após o nascimento de Jesus. 
                              A Idade Antiga é contada do surgimento da escrita, mais ou menos 4.000 anos antes de Cristo, até a queda do Império Romano, em 476 depois de Cristo (século V).
                               Em 533 D.C. o monge Dionisio Exiguo, conhecido como ‘O Pequeno’, propôs a divisão da História em dois ciclos: um antes e um depois do nascimento de Cristo. O nascimento ficou sendo o ano 01 D.C, embora Jesus tenha nascido cerca de 4 a 6 anos antes. Anteriormente o tempo, no Império Romano, era contado a partir da data de fundação de Roma.
                                A Idade Média teve início no século V e foi até a queda de Constantinopla, em 1453 D.C. (século XV). A Idade Moderna inicia no século XV e vai até a Revolução Francesa de 1789 (século XVIII) e a Idade Contemporânea vem do século XVIII até os dias atuais. Podemos dizer que a história do pensamento econômico é dividida em três períodos: Pré-moderno (grego, romano e árabe), Moderno (o mercantilismo e a fisiocracia) e Contemporâneo (a partir de Adam Smith no final do século XVIII). A análise econômica sistemática se desenvolveu, principalmente, a partir do surgimento da Modernidade.
                            Voltando, mais uma vez, ao surgimento da preocupação Metafísica, ainda no âmbito da Filosofia, constatamos que a função dos mitos que deram origem as Religiões foram, exclusivamente, as de lidar com a angústia dos indivíduos, na tentativa de superar o vazio que o ser humano sempre enfrentou diante dos mistérios da criação.
                                    Oliveira Martins, em seu livro “Mitos da Religião” destaca: 

                            A Mitologia consiste no sistema dos sonhos primitivos com que o pensamento inconsciente dos povos representa a seu modo a Natureza. O mito e o fato são, pois, na essência, uma e a mesma coisa, vista por maneiras diversas. Tanto o pensamento cria um mito quando representa ou corporifica noções mentais, como quando anima ou define objetos reais.
                                    É fato conhecido e estudado que da admiração e do medo, gerados pelo instinto do conhecimento (característica intelectual da espécie humana), nascem os mitos que são a raiz da religião. Assim é absurdo negar a qualquer homem a faculdade mitogênica, como é absurdo afirmar a existência de raças sem religião.
                                   A criação de mitos é, assim, uma função espontânea inerente ao espírito humano, da mesma forma que a fala.
                               A função psicológica inventora dos mitos é universal e essencialmente humana O mito é, pois, a parte subjetiva das religiões, enquanto o medo é sua parte objetiva. Este medo do inominado foi o que fez a raça humana tremer e fugir, produzindo o calafrio e a palidez; foi á impressão que levou o homem primitivo a cair de rastros adorando um Deus. Do mito que deu realidade à quimeras, nasceu o medo religioso, nasceu Deus, cuja imagem é sempre dupla: ¨ Bem ou malfazeja, terrível como as sombras errantes animadas ou simpática à maneira da luz do céu sereno.¨
                                 Com o primeiro Deus surgiu o primeiro sacerdote, porque uma autoridade que se sente sem se ver; a quem se obedece e se teme sem se conhecer, envolve, em si, a necessidade de um intermediário.
                              Por outro lado, a alma humana, neste momento da sua compreensão, seria a ponte que colocaria o homem em relação com a divindade, á ponte que ligaria o mundo real ao fantástico, o mundo do sonho ao mundo dos astros.
                        No Céu, no Paraíso, no Olímpo, junto aos deuses, partilhando-lhes a essência e a vida, a alma também seria um intermediário necessário.
                              A tendência para a unidade, por sua vez, é ingênita no espírito humano e toda a mitologia, quer seja animista (percepção infantil do mundo, invenção dos espíritos ou almas, seres fantásticos, etc.), naturalista (ideia de uma causa da existência humana, dos animais e das coisas) ou idealista (o mundo externo e o mundo interno representam-se para a imaginação como aspectos de substancias que, no seu desenvolver, o pensamento reduzirá à pureza de idéias), procede unificando os deuses no seio de uma Doutrina Monoteísta.
                                  Houve quem chamasse a religião de uma doença (Fuerbach) e quem a radicalizasse psicologicamente no medo (Schleiermacher);
                                A religião seria, pois, a doença do medo. Outros denominam a religião como a teoria das relações entre o homem e o universo.
                               Resumindo, desde o surgimento do homem sobre a face da terra, as religiões tiveram suas origens no fato dos homens verem, sentirem e explicarem, a seu modo, a existência e, cheios de medo, colocarem-se de joelhos perante o desconhecido. Naquela ocasião tudo em sua volta consistia em sombra e morte. Não havia sociedade, nem leis: não havia moral, nem ciências, surgindo daí os mitos de representação simples. Depois, a sociedade constitui-se como uma cristalização e esboçam-se idéias científicas; isto é, percepções e opiniões obtidas pela comparação e pela observação. Surge, então, outra esfera de mitos, os mitos da invenção, porque é por via deles que o pensamento inventa os casos que solicitam a sua curiosidade.
                                 Posteriormente,quando deuses morais e criadores introduzem-se, os mitos sociais e cosmogônicos progridem, pondo, a par da mitologia remota, os ditos mitos do pensamento, que são as invenções abstratas da teologia e da filosofia.
                              Assim, o medo já transformado em respeito e submissão, torna-se amor, piedade e caridade.
                               Surgidas às religiões, consolidadas e adotadas por todas as raças, como uma necessidade intrínseca do ser humano para explicar o inexplicável, surge, também, a associação do sacerdote (como intermediário entre o indivíduo e a divindade) e os detentores do poder temporal terrestre. Desta forma, um poder passa a precisar do outro; posto que, ambos se complementam.

                           Desde os tempos imemoriais, os governantes governam pela graça de Deus, ou de Deuses, segundo afirmam eles próprios e confirmam os sacerdotes. Esta associação entre os poderes terrestres e os religiosos, existente em todos os cantos do planeta, alem de legitimar os primeiros, busca manter os povos conformados com seus destinos; pois, se Deus existe (e isto é fora de dúvida) e escolheu aquele governante, aquela oligarquia, aquele partido ou aquela religião, para cuidar dos destinos daquele povo, não há porque contestar tal escolha. Mesmo porque os verdadeiros valores, aqueles que realmente importam para os seguidores de alguma religião, são os transcendentais que os aproximam da sua divindade. Os bens que devem ser buscados não são os materiais (aqueles buscados avidamente pelos governantes e detentores do poder), mas, sim, os bens imateriais (as virtudes, que devem ser buscadas pelo homem comum para obter uma vida melhor após a morte). Esta colocação, acatada pelas populações religiosas, evita quaisquer contestações sobre legitimidade do poder e sobre a apropriação da riqueza gerada por aquele povo.
                         Feitas estas considerações iniciais, creio que posso, agora, chegar ao cerne do título deste texto. Como vimos até aqui, inicialmente as preocupações de ordem filosófica dominavam o pensamento humano. Pouco depois, as preocupações científicas e metafísicas, já desmembradas da Filosofia, sob a forma de Ciência e Religião, passaram a competir entre si pela supremacia das explicações acerca da Natureza e da vida, suas criações, funcionamento e evolução. 
                          Com o desenvolvimento da civilização, diversas questões mal respondidas pela Filosofia deixaram-na de lado e passaram, em seguida, a fazer parte da Ciência, da Arte ou da Religião. Algumas outras questões, embora tendo se mudado para a Ciência, permaneceram, ainda, visceralmente ligadas a Filosofia ou a Arte. Outras tantas permaneceram no limbo, sem que se saiba, ao certo, se fazem parte da filosofia, da Ciência, da Arte ou da Religião.
                          O caso do Direito, por exemplo, fez com que sua natureza seja objeto, ainda, de controvérsia. Alguns o consideram como Ciência, Técnica ou Arte; outros o vêm, apenas, como um conhecimento científico. Na minha modesta opinião, trata-se de uma Arte, embora muitas de suas áreas de abrangência sejam denominadas de Ciências Jurídicas.
                        Todavia, não existe um critério único e uniforme que determine a sua extensão, natureza e caracteres, em razão do fato de que vários critérios adotados pelo Direito têm fundamentos filosóficos que extravasam a prática científica.
                             A Economia, por sua vez, considerada, por muitos, como Ciências Econômicas, trata, fundamentalmente, da análise da Produção, da Distribuição e do Consumo de Bens e Serviços; bem como, da aplicação prática da Teoria Econômica e dos variados tipos de organizações humanas, públicas e privadas.
                              Trata-se, pois, a Economia, de uma especialidade cuja natureza possui caracteres de ordem filosófica e científica. É certo que Economia e Ideologia caminham juntas; pois esta é, quase sempre, utilizada para justificar a supremacia ou a Ética de um determinado Sistema Econômico sobre outros, já que uma Teoria Econômica implica, sempre, em uma Teoria de Raciocínio Moral.
                         Os métodos utilizados na Economia, em geral, fazem simplificações que acabam virando crenças e, posteriormente, transformando-se em axiomas, como, por exemplo: a crença de que os seres humanos são independentes em suas preferências e não influenciáveis pela propaganda; a crença de que os seres humanos são felizes apenas quando consomem; a suposição de que os seres humanos agem racionalmente no que respeita aos seus interesses próprios; que existe plena mobilidade dos fatores de produção trabalho e capital e, finalmente, que existe concorrência perfeita no mercado de determinados bens e serviços, com incontáveis vendedores e compradores.
                               A inter-relação entre a Economia, a Filosofia, a Psicologia, a Estatística, a História, a Geografia, a Política, as Finanças, a Geoestratégia e a Arte da Guerra, por exemplo, faz da Economia uma profissão onde as previsões, quase sempre, se frustram, por serem tantas e imprevisíveis as variáveis independentes a afetarem o experimento econômico em estudo. Os Métodos Quantitativos, a Teoria das Probabilidades e a Teoria dos Jogos, tentam solucionar este problema; mas, quando entra em cena o comportamento humano e suas idiossincrasias, as previsões constantemente se frustram.
                                Como exemplo, cito o fato do filósofo e sociólogo Karl Marx (1818-1883) e de seu amigo Friedrich Engels (1820-1895), fundadores do chamado socialismo científico, que criaram a expressão ‘luta de classes’ para indicar o conflito entre os chamados opressores e os denominados oprimidos (isto é, a burguesia e o proletariado); conflito este que, segundo eles, vigoraria no sistema de produção capitalista. Para eles, a referida luta teria surgido com a instituição da propriedade privada dos meios de produção e só acabaria com o fim do capitalismo e das classes sociais. 
                                Segundo Marx, a luta de classes era inevitável, em razão da irreconciliável relação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção, e seria regida por Leis Sociais Historicamente Determinadas. A luta de classes era, assim, para o filósofo, o motor do desenvolvimento histórico das sociedades e a mais importante força motriz da história humana, mesmo que ela pudesse se desenvolver em outros terrenos que não o econômico; isto é, os terrenos político, religioso, filosófico ou em qualquer outro solo fértil ideologicamente. Na opinião do filósofo, existiriam as chamadas Leis Sociais Historicamente Determinadas segundo as quais, sempre que determinadas condições estivessem presentes, o comportamento da sociedade seria sempre o mesmo, justificando, com isso, a existência das mencionadas leis históricas.
                               Evidentemente, a propalada luta de classes, classificada pelos dois eminentes filósofos como uma lei social histórica, consiste, apenas, segundo a minha modesta maneira de ver este assunto, em uma falácia que mascara o simples desejo das classes trabalhadoras por maiores salários e por melhores condições de vida, frente a proprietários dos meios de produção, muitas vezes, insensíveis às condições laborais e as reivindicações salariais destes trabalhadores. O papel do Estado, como árbitro e moderador isento destes eventuais conflitos, é que vem a ser, em minha ótica, de fundamental importância para a solução satisfatória destas reivindicações trabalhistas.
                             Imaginar que todos os proletários são infelizes e que iriam ao extremo da ‘luta de classes’, apenas, por não serem os donos dos meios de produção é, penso eu, de uma ingenuidade portentosa; posto que, aqueles que assim pensam, olvidam importantes aspectos psicológicos da natureza humana, ademais da existência de razoável distribuição de renda e das características dos modernos Mercados de Capitais, existentes em inúmeros países democráticos desenvolvidos. 
                        Essa suposta “Lei Histórica”, que conduziria a luta de classes, tem sido vendida como verdadeira pelas esquerdas, objetivando unicamente apoio popular para a tomada do poder. Após haverem chegado lá, esquecem-se de que anteriormente a mencionaram e reprimem as manifestações e os descontentamentos populares (com a situação econômica e social, motivada por políticas erradas de seus governos), da mesma forma como os países capitalistas costumam fazer; isto é, fazendo uso da força policial. Conquanto a Economia tenha produzido teorias que se correlacionam com os comportamentos observados na sociedade, a Economia não gera leis naturais ou constantes universais, devido à sua dependência de argumentos não-físicos.

                               Voltando ao tema central do presente texto, minha formação profissional me conduziu a trabalhar em universidades, centros de pesquisas públicos e privados; bem como, em instituições públicas de financiamento a projetos de Desenvolvimento Econômico e Social. 
                                  Minha experiência nestes locais por onde passei, mostrou-me que inúmeros trabalhos, teses acadêmicas, relatórios de análises, livros publicados e teorias divulgadas de cunho econômico, serviam, apenas, para mostrar serviço de empregados para seus patrões; para demonstrar interesse e produtividade de professores, visando impressionar a direção das universidades em que trabalhavam e os organismos públicos e privados financiadores de pesquisas; para alunos pós graduados poderem demonstrar capacidade e os conhecimentos necessários para obterem os graus de mestres e de doutores; bem como, de uma tentativa de alguns ideólogos de países do Primeiro Mundo, em tentar convencer economistas do Terceiro Mundo sobre a veracidade e a inexorabilidade de certos ‘Princípios de Natureza Econômica’.  
                                A grande maioria daqueles textos não passava de exercícios de futurologia, sem nenhuma aplicação prática com respeito à realidade dos países onde eram realizados ou aos quais se destinavam; tantas as condicionantes e limitações que possuíam. Tais condicionantes e limitações sugeriam, sempre, a continuação das pesquisas realizadas, justificando, de antemão, novas verbas para os meses e anos seguintes. Tanto era assim que, muitos destes relatórios de pesquisa, logo depois de divulgados e comentados, iam parar em alguma estante de onde jamais saiam. 
                     O mesmo ocorria com pesquisas econômicas encomendadas, por órgãos públicos, a empresas privadas de consultoria. Pago o estudo, o mesmo era encaminhado a alguma biblioteca, onde era arquivado para eventual consulta futura. Muitos esforços despendidos por economistas em busca de equações que descrevessem a realidade dos fenômenos observados, com vistas a poderem efetuar previsões, projeções ou criarem cenários econômicos, simplesmente, consistiam em esforço inútil.
                                   Recordo-me de que projetos submetidos à determinadas Instituições Financeiras, nacionais ou internacionais, possuíam, em média, sete assinaturas ao serem encaminhados para a Diretória, e haviam sido gestados em, no mínimo, vários meses. Ao serem aprovados em reuniões de Diretorias, levavam o ‘referendum’ de mais cinco ou seis novas assinaturas dos diretores. Destas treze assinaturas, apenas os quatro técnicos que elaboraram as análises e visitaram as empresas e/ou os locais dos projetos, além dos gerentes destes técnicos, possuíam convicção formada sobre os mesmos. Os demais participantes assinavam, normalmente, em confiança; já que a apresentação dos mesmos, durante as Reuniões de Diretorias, eram sucintas e já vinham com o aval dos técnicos, dos gerentes, dos chefes dos departamentos e dos superintendentes das instituições. 
                                Projetos mal analisados, contendo treze ou mais assinaturas, que, eventualmente, redundavam em fracasso futuro, eram, normalmente, considerados mal sucedidos devido a “um furo nas previsões de mercado”, “a uma conjuntura econômica adversa” ou “a uma queda nas atividades econômicas em decorrência da crise internacional”. Tais projetos mal sucedidos (após deixarem as áreas onde haviam sido analisados e as suas execuções haviam sido acompanhadas) eram remetidos a um novo Departamento para que fosse tentada a Recuperação daqueles Créditos, quando seriam tentadas  alternativas quaisquer, extrajudiciais, para recuperar os montantes emprestados. Findas as  possibilidades de acordos, os projetos eram enviados aos Departamentos de Contencioso, para os procedimentos judiciais de cobrança.
                                   Muitos estudos econômicos, evidentemente, servem aos seus objetivos de proporcionar desenvolvimento com justiça social, mas isso não é regra geral. Vivemos em uma sociedade dominada pela informação, mas, infelizmente, também pela desinformação, pela contra-informação, pelo engodo e pela corrupção.
                                      Diversas agências de notícias, imprensas e editoras em todo o mundo, permitem que a desinformação, de uma maneira geral, se propague por seus intermédios, sem nenhum controle, fazendo com que, algumas vezes, as notícias se tornem virais e influenciem o pensamento e o comportamento das populações. O mesmo ocorre quanto às notícias referentes à Economia. Governos e mega investidores manipulam o Mercado de Capitais, as cotações das moedas, as Bolsas de Valores, as taxas de juros e os preços das commodities nas Bolsas de Mercadorias. Quase sempre estas manipulações estão lastreadas em falsas notícias, oriundas de estudos e pesquisas econômicos tendenciosos ou falaciosos encomendados a empresas de consultoria, institutos de pesquisa, empresas de Marketing ou elaborados pelo próprio governo.
                                    Eu penso que esta falta de controle sobre tudo aquilo que consiste em notícias falsas ou mentirosas e é divulgado diariamente, através da Mídia, nas notícias, estudos e pesquisas de natureza econômica, se constitua em um grande problema da humanidade na era da informática digital global em que vivemos. Talvez as nossas leis devessem considerar como crimes a criação, a divulgação e a propagação de qualquer notícia falsa, através dos meios de comunicação (como já ocorre com a propaganda enganosa), tantos e tão graves são os malefícios que podem advir da divulgação de falsas notícias e de informações mentirosas. Todavia, como fazer para separar a verdade da mentira? Esta é a grande questão que se impõe nos dias atuais, principalmente porque inúmeros governos (notadamente aqueles que não são democráticos, mas alguns destes também procedem desta forma) divulgam informações falsas através de seus institutos de pesquisa e de organismos de coleta de dados primários sobre a Economia.
                          Já aposentado, na atualidade, prefiro, portanto, dedicar-me a elaboração de ensaios polêmicos, alguns de natureza filosófica; muito mais interessantes e úteis, sob a minha ótica, que aqueles de natureza econômica, pelas razões até aqui expostas. Não é meu desejo, ademais, vir a enganar meus eventuais leitores com matérias, muitas vezes herméticas e ininteligíveis, que, supostamente, representariam a realidade dos fatos e dos atos econômicos, como, por vezes, chegam a fazer alguns de meus colegas.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Ensaio








Um comentário:

  1. Acabo de ler o texto, aqui em Mury. Muito interessante e rico, para se pensar.

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