154. Aos nossos heróis anônimos**
Jober Rocha*
No dia três de dezembro de 2011, falecia na cidade de Niterói, em sua residência, o coronel Iporan Nunes de Oliveira, aos 94 anos. Seu enterro ocorreu no Cemitério do Parque da Colina, em Pendotiba, Niterói, RJ.
Alguns meses antes, eu o havia observado, ao por do sol, caminhando solitário pelo calçadão da Praia de Icaraí. Trajava calça escura e um agasalho marrom, pois o tempo estava frio.
A calçada estava cheia de caminhantes, alguns apenas passeando, outros correndo e alguns praticando ginástica. Vendo-o caminhar devagar e com passos trôpegos, fiquei imaginando-o nos idos de 1944, como um simples tenente de infantaria, comandando o pelotão que tomou a cidade de Montese, na Itália, dos aguerridos soldados alemães que a dominavam; bem como, comandando tropas brasileiras na famosa tomada de Monte Castelo. Ao seu lado, na calçada, nenhum dos passantes o cumprimentava ou demonstrava reconhecê-lo. Por outro lado, um carro de som com um cantor e seu conjunto musical congregava uma multidão de freqüentadores daquela praia.
Pelos seus reconhecidos atos de bravura, Iporan recebeu, dentre outras condecorações, a Cruz de Combate de 1ª e de 2ª classe; a Silver Star do V Exército Norte Americano e foi admitido na Ordem do Império Britânico pelo Rei George VI.
Aqui em nosso país permaneceu, sempre, como um ilustre desconhecido, igual a tantos outros brasileiros que dedicaram e dedicam suas vidas a proteger o nosso povo, a nossa economia, a moralidade pública, a justiça, os nossos bens, valores, interesses e, ainda, as nossas fronteiras e limites territoriais.
Conheci o Coronel Iporan, já na reserva, na sede do Terceiro Regimento de Infantaria – Regimento Ararigbóia, quando de uma solenidade militar em que ele estava sendo homenageado como ex-combatente da FEB oriundo daquele quartel de infantaria, como tantos outros integrantes da Força Expedicionária Brasileira, que dali haviam saído para compor o primeiro e o segundo escalão a embarcarem para a Itália. Naquela ocasião, na qualidade de Presidente do Conselho Consultivo da Associação de Amigos e Veteranos do Regimento Ararigbóia-SAVRA, entreguei a ele um diploma de sócio benemérito da SAVRA.
Em dezembro deste ano de 2017, por ocasião da formatura dos aspirantes da Turma Iporan Nunes de Oliveira, na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, RJ, ironicamente a imprensa destacava o início das filmagens de uma película sobre a vida de um político e guerrilheiro, autor de um conhecido manual de guerrilha, morto no final da década de 1960, ao ser preso na cidade de São Paulo.
Voltando ao caminhar do velho soldado pelas calçadas do Bairro de Icaraí, em Niterói, fico imaginando quantos heróis anônimos percorrem diariamente as ruas e os gabinetes do nosso triste país, trabalhando pelo bem da nossa gente, sem esperar e sem receber nenhum reconhecimento por parte daqueles a quem buscam defender e das autoridades do Estado a que estão subordinados.
É o caso de médicos, nos hospitais públicos, superlotados e desaparelhados; de policiais civis e militares, que expõem diuturnamente as suas vidas em defesa das nossas; de bombeiros militares; de funcionários públicos; de professores, muitas vezes humilhados por seus alunos, ensinando em escolas deficientes e distantes em que tentam retirar o véu da ignorância de olhares displicentes e, quase sempre, desinteressados.
Infelizmente, em razão de uma transvaloração de valores em que vícios passam a se constituir em virtudes e virtudes em vícios, nossa gente considera como seus heróis nacionais simples praticantes de esportes (que enriquecem de maneira fácil e rápida, em razão dos elevados salários que recebem); cantores, artistas de televisão e do cinema (que também ficam milionários em razão dos altos salários e cachês recebidos) e determinados políticos, cujos únicos objetivos na política foram os de enriquecer, a si mesmo e aos seus familiares, de maneira fraudulenta.
Quantos daqueles que caminhavam na mesma calçada do velho Iporan saberiam que ele, nos idos de 1944 (apenas para mencionar a sua citação para a Cruz de Combate de 1ª Classe):
“Durante toda a campanha da FEB, destacou-se em diversas patrulhas de combate e em três batalhas – Monte Castelo, Castelnuovo e Montese – em que o 11º RI se envolveu, tendo recebido doze elogios por suas ações militares, nas quais sempre fazia prisioneiros alemães. Na antevéspera do ataque a Montese, na chefia de uma patrulha de combate, abriu uma pequena brecha em um campo minado que protegia uma das bordas fortificadas da posição alemã. Durante o ataque do dia 14 abril., já conhecendo o terreno e sabendo da existência da brecha, a qual era desconhecida dos alemães, foi à frente da força de ataque, entrando com seu pelotão em Montese, tomando a torre local, onde fez vários prisioneiros, e manteve posição de resistência contra os alemães, contribuindo em larga escala para a vitória da FEB nesta batalha. Seu pelotão foi a primeira tropa brasileira a romper o dispositivo defensivo e adentrar no fortificado ponto de defesa dos alemães, em um momento em que as unidades da FEB engajadas na batalha sofriam pesadas perdas decorrentes da obstinada resistência inimiga. Demonstrou coragem, decisão, vontade, senso de cumprimento do dever e iniciativa”.
Quantos brasileiros demonstram em seus ofícios e ocupações, durante todas as horas e dias da semana, como era costume do velho soldado Iporan, coragem, decisão, vontade, senso de cumprimento do dever e iniciativa, de forma anônima e desinteressada?
A estes bravos heróis anônimos, tão desconhecidos do nosso povo quanto o Iporan, os meus sinceros agradecimentos e meu eterno reconhecimento.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Crônica
_**/ Crônica
Bela página!
ResponderExcluirInfelizmente, por causa de mais de 15 anos de governos pseudo-socialistas, temos visto os valores nacionais em todos os campos serem mudados de acordo com a doutrina comunista. Espero que em 2018 possamos começar a mudar isso.
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