237. Nós e Eles
Jober Rocha*
Segundo podemos encontrar em qualquer gramática, os pronomes pessoais são aqueles que possibilitam que permutemos os substantivos, indicando diretamente as pessoas do discurso.
Quem fala ou escreve assume os pronomes eu ou nós. Usa os pronomes tu, vós, você ou vocês para designar a quem se dirige. E utiliza ele, ela, eles ou elas para fazer referência à pessoa, ou às pessoas, de quem fala.
De acordo com o Dr. Yuval N. Harari, em sua obra Uma Breve História da Humanidade, “a evolução fez o Homo Sapiens uma criatura xenofóbica. Os Sapiens dividem a humanidade instintivamente em duas partes, ‘nós’ e ‘eles’. Nós somos pessoas como você e eu, que partilhamos a mesma língua, a mesma religião, os mesmos costumes”. Eu acrescentaria, ainda, e as mesmas ideologias.
Ainda, segundo Yuval, “nós somos sempre distintos deles, e não devemos nada a eles”.
Isto me recorda um fato ocorrido há muitos anos, quando meu filho (na ocasião com seis ou sete anos) foi apresentado, por mim, a um amigo meu. Este amigo, ao saber que ele se chamava Renato, disse ao meu filho que também possuía um filho pequeno chamado Renato. A resposta que o meu filho deu surpreendeu a nós dois, quando disse: “É, mas só eu sou o verdadeiro”!
Ainda, segundo Yuval, “nós somos sempre distintos deles, e não devemos nada a eles”.
Isto me recorda um fato ocorrido há muitos anos, quando meu filho (na ocasião com seis ou sete anos) foi apresentado, por mim, a um amigo meu. Este amigo, ao saber que ele se chamava Renato, disse ao meu filho que também possuía um filho pequeno chamado Renato. A resposta que o meu filho deu surpreendeu a nós dois, quando disse: “É, mas só eu sou o verdadeiro”!
A partir de então, sempre que o meu amigo me via perguntava pelo Renato ‘Verdadeiro’.
Este preâmbulo todo teve por objetivo introduzir uma hipótese que tem me ocorrido, cada vez com maior intensidade de certeza, nos últimos meses. Trata-se da hipótese de os brasileiros estarem caminhando, a passos largos, para o chamado Niilismo, conforme descrito pelo filósofo Friedrich Nietzsche.
A palavra Niilismo traduz um conceito que, por estar relacionado à Ética e à Moral (além de abranger, também, restritamente a Filosofia e a Literatura), passou a alcançar diferentes áreas do conhecimento humano, como a Ciência, a Arte, a Política, as Teorias Sociais, etc.
Trata-se de um sentimento (ou de uma percepção) que acomete o indivíduo com relação à ausência de finalidade e de respostas ao porquê da sua existência; isto é, refere-se à própria desvalorização do motivo de existir.
Tal sentimento faz com que os valores humanos sejam depreciados e os princípios que norteiam a vida social se dissolvam. Como já dito por alguém, em algum lugar: “A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais encontra-se despedaçada, o que torna difícil ao indivíduo prosseguir em seu caminho ou, então, permitir que ele aviste um ancoradouro”.
Um dos principais filósofos a estudar o Niilismo foi o alemão Friedrich Nietzsche, embora depois dele outros tantos tenham se ocupado deste tema (Spengler, Max Weber, Heidegger, Sartre e Albert Camus, por exemplo). A origem do conceito pode ser encontrada em Platão e no Cristianismo; muito embora, uma das primeiras menções ao Niilismo tenha sido feita durante a Revolução Francesa, para se referir àqueles que não eram nem a favor nem contra a revolução.
Nietzsche, segundo alguns autores, distinguia dois tipos de Niilismo: o passivo e o ativo.
Este preâmbulo todo teve por objetivo introduzir uma hipótese que tem me ocorrido, cada vez com maior intensidade de certeza, nos últimos meses. Trata-se da hipótese de os brasileiros estarem caminhando, a passos largos, para o chamado Niilismo, conforme descrito pelo filósofo Friedrich Nietzsche.
A palavra Niilismo traduz um conceito que, por estar relacionado à Ética e à Moral (além de abranger, também, restritamente a Filosofia e a Literatura), passou a alcançar diferentes áreas do conhecimento humano, como a Ciência, a Arte, a Política, as Teorias Sociais, etc.
Trata-se de um sentimento (ou de uma percepção) que acomete o indivíduo com relação à ausência de finalidade e de respostas ao porquê da sua existência; isto é, refere-se à própria desvalorização do motivo de existir.
Tal sentimento faz com que os valores humanos sejam depreciados e os princípios que norteiam a vida social se dissolvam. Como já dito por alguém, em algum lugar: “A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais encontra-se despedaçada, o que torna difícil ao indivíduo prosseguir em seu caminho ou, então, permitir que ele aviste um ancoradouro”.
Um dos principais filósofos a estudar o Niilismo foi o alemão Friedrich Nietzsche, embora depois dele outros tantos tenham se ocupado deste tema (Spengler, Max Weber, Heidegger, Sartre e Albert Camus, por exemplo). A origem do conceito pode ser encontrada em Platão e no Cristianismo; muito embora, uma das primeiras menções ao Niilismo tenha sido feita durante a Revolução Francesa, para se referir àqueles que não eram nem a favor nem contra a revolução.
Nietzsche, segundo alguns autores, distinguia dois tipos de Niilismo: o passivo e o ativo.
O primeiro ele considerava uma evolução do indivíduo, quando, demolindo antigos valores, dava lugar a novos valores que, por sua vez, não seriam fixos; pois tal determinação era considerada como uma atitude negativa, conforme pensava o filósofo.
O segundo tipo propunha uma atitude mais ativa, renegando valores metafísicos tradicionais e redirecionando a força vital do indivíduo para a destruição da moral vigente. Após esta destruição tudo cairia no vazio, sendo a vida desprovida de qualquer sentido e, na falta de quaisquer valores, restaria ao indivíduo apenas esperar pela morte.
O Niilismo já teve sua ocorrência verificada como um fenômeno característico da vida social: na França, durante a Revolução Francesa, conforme já mencionado, e na Rússia Czarista de Alexandre II, no período de 1881 a 1885. Condições diversas (de ordem política e econômica, mas também cultural e ideológica) proporcionaram ambiente propício ao seu desenvolvimento, que se apresentou como uma reação popular às antigas concepções religiosas, metafísicas e idealistas, até então vigentes.
Uma atitude negativa e de desprezo caracterizou o movimento Niilista na Rússia daquela época; todavia, isto tudo estava mais ligado a valores pessoais dos indivíduos do que, propriamente, a uma atividade política.
Voltando ao que dizia o filósofo, vemos que Nietzsche destacava três momentos na vida do indivíduo, para que o Niilismo nele se instalasse.
O primeiro deles se apresentaria quando de crise na denominada ‘categoria meta’; ou seja, quando o ser humano tomasse consciência da chamada ‘agonia do em vão’, isto é, quando se desiludisse com relação à existência de uma meta em sua vida ou quando compreendesse que, mesmo no futuro, nada seria obtido ou alcançado por ele, rompendo, assim, uma das vigas de sustentação dos seus valores tradicionais.
O segundo momento estaria relacionado à denominada ‘categoria unidade’ e se daria quando o indivíduo perdesse a crença em um sentimento universal, isto é, em uma unidade de sentimentos que abrangeria a todos os seus iguais. Esta totalidade ou universalidade, sustentada pela unidade, teria por finalidade última a crença no seu próprio valor individual. A descrença no sentimento de universalidade de sentimentos derrubaria, assim, a segunda viga de sustentação dos valores tradicionais.
O terceiro momento ocorreria quando o indivíduo vislumbrasse estar localizada em suas próprias carências psicológicas, a verdadeira razão que deu origem a criação de todo um arcabouço metafísico para orientar e sustentar seus valores éticos e morais.
O Niilismo que acometeria o indivíduo, neste terceiro momento, seria, assim, a resposta dele ao se contrapor (por total descrença) a crença na existência de um mundo real (e metafísico) que pudesse verdadeiramente nortear o seu futuro e, certamente, melhorá-lo.
Fazendo, agora, uma ilação, entre tudo isto dito anteriormente e a situação vivida por grande parte dos cidadãos brasileiros, na atualidade, encontramos motivos para pensar na possibilidade de estar sendo, rapidamente, instalado entre a nossa gente um sentimento Niilista como aquele definido por Nietzsche, sentimento este que tenderia a se generalizar.
Explico-me melhor: o primeiro momento (crise da categoria meta), salientado por Nietzsche, já ocorre há algum tempo. Em qualquer dos quatro campos do Poder Nacional (Econômico, Político, Militar e Psicossocial), por mais que a sociedade se dedique ao trabalho de construir o país e que os anos passem, sempre ficamos no mesmo lugar ou, até mesmo, caminhamos para trás.
Se isto é notado no nível macro, o mesmo pode ser percebido também no nível de micro unidades; isto é, entre as famílias e as pequenas empresas, notadamente, em decorrência do alto custo de vida; da burocracia; da corrupção generalizada que faz com que as coisas só caminhem quando a propina é distribuída; das carências de toda ordem nos vários setores da vida nacional; da recessão econômica que a todos atinge com o fantasma do desemprego e da elevadíssima carga tributária incidente sobre os preços das mercadorias, sobre o custo dos serviços, sobre os salários e as rendas.
Em raríssimos casos, ao final de uma existência toda dedicada ao trabalho, o brasileiro pode gozar de uma velhice tranquila, sem preocupações de ordem financeira. Em razão da estrutura política montada no país e do aparelhamento político partidário e ideológico das instituições dos três poderes, constata-se a quase total impossibilidade de uma eventual mudança no quadro vigente, em que pesem as manifestações públicas clamando por tais mudanças já realizadas por todo o país.
Em pleno século XXI restam por fazer, no Brasil, reformas na Educação, na Política, no Sistema Financeiro, no Sistema Fiscal, na Saúde, na Segurança Pública, na Agricultura, na Estrutura Fundiária, etc. etc. etc. A primeira viga, portando, já estaria, assim, comprometida.
O segundo momento (crise da categoria unidade) também já estaria ocorrendo, com a nossa população dividida em categoria ou classes pela ideologia de esquerda implantada, que visaria fracionar a unidade nacional da população, estabelecendo distinção e antagonismos que coloquem em lados opostos e como inimigos os ricos, os remediados e os pobres; os negros, os pardos e os brancos; os comunistas/ socialistas e os capitalistas; os democratas, os progressistas, os conservadores, os liberais e os ditatoriais; os heterossexuais, os bissexuais, os transexuais e os homossexuais; os católicos, os protestantes, os espíritas, os ateus; os sulistas, os nortistas e os nordestinos; etc.
O estabelecimento de todas estas diversidades, que separariam os indivíduos ao invés de os unir, estaria acabando com o sentimento de unidade e dando ensejo a intensificação do já natural sentimento do Eu e do Eles; ou seja, do ‘salve-se quem puder’. A segunda viga, portanto, também já poderia estar carcomida.
O terceiro momento, embora de caráter mais intelectualizado, poderia também ser vivenciado pelo homem comum, desde que houvesse uma transvaloração de seus valores (conforme mencionado por Nietzsche; isto é, quando o indivíduo acreditasse que o mal era um bem, que o vício era uma virtude e que esta era viciosa); o que, sem dúvida, já vem ocorrendo desde algum tempo e proporcionado pela Mídia nativa, através da divulgação do denominado ‘ comportamento politicamente correto’, comportamento este que tenderia a substituir a moral tradicional, estabelecida pela Religião, por uma nova moral estabelecida pela ideologia política.
Voltando ao Niilismo russo, podemos constatar que o mesmo, na ocasião em que ocorreu naquele país, não possuía nenhuma intenção revolucionária ou um ideal de reconstrução social; todavia, tendo sido reprimido violentamente pela polícia do Czar (que prendeu e matou suas principais personalidades), fez recrudescer as ações de ambos os lados e acabou pelo assassinato do próprio Czar Alexandre II, avô de Nicolau II que, por sua vez, destronado e morto pela Revolução de 1917, ensejou o fim a dinastia dos Romanov.
Dentro dos marcos aqui traçados anteriormente, da mesma forma que aquele Niilismo russo, o nosso eventual Niilismo também não possuiria, creio eu, uma intenção revolucionária por parte do povo em geral, muito pelo contrário; embora possa ter, da parte de uma minoria liberal e democrática mais intelectualizada e politizada. A motivação principal do brasileiro comum (violentado pelo crime, desempregado ou subempregado, sem saúde e escolaridade, estaria mais ligada à valores pessoais do que a quaisquer conotações de cunho político-partidário ou, mesmo, ideológica.
Tratar-se-ia tão somente de cidadãos pacíficos que, em razão da crescente onda de violência urbana e rural; bem como, contrários ao desvio de recursos públicos e a corrupção generalizada (praticados estes sem nenhum constrangimento pelos detentores do poder, integrantes dos três poderes da república e do meio empresarial), influenciados pelo novo comportamento ‘politicamente correto’ divulgado e incentivado pela Mídia a serviço de uma ideologia socialista Fabiana e Gramscista, passariam a descrer dos valores éticos e morais tradicionalmente vigentes; bem como, da possibilidade de um futuro melhor para si mesmo, seus familiares e seus negócios, por não acreditarem mais neste futuro, haja visto o quadro de falência generalizada, ao estilo venezuelano, que se delineia para o futuro do Brasil, caso a esquerda, responsável por tudo isto, continue no poder a partir das próximas eleições presidenciais.
Muitos brasileiros pensam e proclamam, para quem queira ouvir, seus desejos de mudarem-se do país (a exemplo do que já ocorre na Venezuela), só não o fazendo em grandes proporções por dificuldades várias (de ordem financeira; de dificuldade de transporte, em razão de nossas dimensões continentais e da enorme distância que nos separa dos principais países do Primeiro Mundo, como os da Europa e os USA; de avançada idade cronológica de muitos; de restrições externas para a imigração; etc.).
Diversos pensadores, jornalistas, escritores, cientistas sociais, economistas, etc., falam em décadas perdidas (como também ocorre na Venezuela); ou seja, períodos recentes em que deixamos de crescer e nos desenvolver econômica e socialmente ou, mesmo, em que regredimos para níveis bastante inferiores a outros já alcançados, por nós mesmos, no passado. Estas décadas perdidas nada têm a ver com a conjuntura internacional e foram perdidas, exclusivamente, por um mau planejamento, pelo desvio monumental de recursos públicos para os bolsos das elites no poder e pela má gestão da coisa pública pelos últimos governos.
A crescente desnacionalização de setores empresariais ligados a exploração mineral, a agroindústria, a energia, as comunicações, etc. reduz a perspectiva de empregos para os brasileiros, substituídos por estrangeiros que entram em nosso país com facilidade, seja legalmente, seja de forma ilegal.
– “Nada parece dar certo em nosso país. Tudo é feito de maneira errada e na contramão da História e daquilo que faz o resto do mundo”! – São frases ditas, com frequência, por gente do povo e por profissionais de várias áreas.
Pelo exposto até aqui, as pré condições para o estabelecimento generalizado do Niilismo em nosso país, da forma como definida por Nietzsche, eu creio que já existem.
Se ele vai ou não se instalar, definitivamente, nos corações e nas mentes dos nossos cidadãos dependerá, em muito, da ação futura de nossos eleitores elegendo o único candidato liberal e democrático, sem vínculos ideológicos com a esquerda, e de alguns poucos juízes, promotores, delegados, militares e políticos com visão de futuro, patriotas e compromissados com o combate à corrupção e ao crime de uma maneira geral; como também com a manutenção da Ética e da Moral tradicionais.
O segundo tipo propunha uma atitude mais ativa, renegando valores metafísicos tradicionais e redirecionando a força vital do indivíduo para a destruição da moral vigente. Após esta destruição tudo cairia no vazio, sendo a vida desprovida de qualquer sentido e, na falta de quaisquer valores, restaria ao indivíduo apenas esperar pela morte.
O Niilismo já teve sua ocorrência verificada como um fenômeno característico da vida social: na França, durante a Revolução Francesa, conforme já mencionado, e na Rússia Czarista de Alexandre II, no período de 1881 a 1885. Condições diversas (de ordem política e econômica, mas também cultural e ideológica) proporcionaram ambiente propício ao seu desenvolvimento, que se apresentou como uma reação popular às antigas concepções religiosas, metafísicas e idealistas, até então vigentes.
Uma atitude negativa e de desprezo caracterizou o movimento Niilista na Rússia daquela época; todavia, isto tudo estava mais ligado a valores pessoais dos indivíduos do que, propriamente, a uma atividade política.
Voltando ao que dizia o filósofo, vemos que Nietzsche destacava três momentos na vida do indivíduo, para que o Niilismo nele se instalasse.
O primeiro deles se apresentaria quando de crise na denominada ‘categoria meta’; ou seja, quando o ser humano tomasse consciência da chamada ‘agonia do em vão’, isto é, quando se desiludisse com relação à existência de uma meta em sua vida ou quando compreendesse que, mesmo no futuro, nada seria obtido ou alcançado por ele, rompendo, assim, uma das vigas de sustentação dos seus valores tradicionais.
O segundo momento estaria relacionado à denominada ‘categoria unidade’ e se daria quando o indivíduo perdesse a crença em um sentimento universal, isto é, em uma unidade de sentimentos que abrangeria a todos os seus iguais. Esta totalidade ou universalidade, sustentada pela unidade, teria por finalidade última a crença no seu próprio valor individual. A descrença no sentimento de universalidade de sentimentos derrubaria, assim, a segunda viga de sustentação dos valores tradicionais.
O terceiro momento ocorreria quando o indivíduo vislumbrasse estar localizada em suas próprias carências psicológicas, a verdadeira razão que deu origem a criação de todo um arcabouço metafísico para orientar e sustentar seus valores éticos e morais.
O Niilismo que acometeria o indivíduo, neste terceiro momento, seria, assim, a resposta dele ao se contrapor (por total descrença) a crença na existência de um mundo real (e metafísico) que pudesse verdadeiramente nortear o seu futuro e, certamente, melhorá-lo.
Fazendo, agora, uma ilação, entre tudo isto dito anteriormente e a situação vivida por grande parte dos cidadãos brasileiros, na atualidade, encontramos motivos para pensar na possibilidade de estar sendo, rapidamente, instalado entre a nossa gente um sentimento Niilista como aquele definido por Nietzsche, sentimento este que tenderia a se generalizar.
Explico-me melhor: o primeiro momento (crise da categoria meta), salientado por Nietzsche, já ocorre há algum tempo. Em qualquer dos quatro campos do Poder Nacional (Econômico, Político, Militar e Psicossocial), por mais que a sociedade se dedique ao trabalho de construir o país e que os anos passem, sempre ficamos no mesmo lugar ou, até mesmo, caminhamos para trás.
Se isto é notado no nível macro, o mesmo pode ser percebido também no nível de micro unidades; isto é, entre as famílias e as pequenas empresas, notadamente, em decorrência do alto custo de vida; da burocracia; da corrupção generalizada que faz com que as coisas só caminhem quando a propina é distribuída; das carências de toda ordem nos vários setores da vida nacional; da recessão econômica que a todos atinge com o fantasma do desemprego e da elevadíssima carga tributária incidente sobre os preços das mercadorias, sobre o custo dos serviços, sobre os salários e as rendas.
Em raríssimos casos, ao final de uma existência toda dedicada ao trabalho, o brasileiro pode gozar de uma velhice tranquila, sem preocupações de ordem financeira. Em razão da estrutura política montada no país e do aparelhamento político partidário e ideológico das instituições dos três poderes, constata-se a quase total impossibilidade de uma eventual mudança no quadro vigente, em que pesem as manifestações públicas clamando por tais mudanças já realizadas por todo o país.
Em pleno século XXI restam por fazer, no Brasil, reformas na Educação, na Política, no Sistema Financeiro, no Sistema Fiscal, na Saúde, na Segurança Pública, na Agricultura, na Estrutura Fundiária, etc. etc. etc. A primeira viga, portando, já estaria, assim, comprometida.
O segundo momento (crise da categoria unidade) também já estaria ocorrendo, com a nossa população dividida em categoria ou classes pela ideologia de esquerda implantada, que visaria fracionar a unidade nacional da população, estabelecendo distinção e antagonismos que coloquem em lados opostos e como inimigos os ricos, os remediados e os pobres; os negros, os pardos e os brancos; os comunistas/ socialistas e os capitalistas; os democratas, os progressistas, os conservadores, os liberais e os ditatoriais; os heterossexuais, os bissexuais, os transexuais e os homossexuais; os católicos, os protestantes, os espíritas, os ateus; os sulistas, os nortistas e os nordestinos; etc.
O estabelecimento de todas estas diversidades, que separariam os indivíduos ao invés de os unir, estaria acabando com o sentimento de unidade e dando ensejo a intensificação do já natural sentimento do Eu e do Eles; ou seja, do ‘salve-se quem puder’. A segunda viga, portanto, também já poderia estar carcomida.
O terceiro momento, embora de caráter mais intelectualizado, poderia também ser vivenciado pelo homem comum, desde que houvesse uma transvaloração de seus valores (conforme mencionado por Nietzsche; isto é, quando o indivíduo acreditasse que o mal era um bem, que o vício era uma virtude e que esta era viciosa); o que, sem dúvida, já vem ocorrendo desde algum tempo e proporcionado pela Mídia nativa, através da divulgação do denominado ‘ comportamento politicamente correto’, comportamento este que tenderia a substituir a moral tradicional, estabelecida pela Religião, por uma nova moral estabelecida pela ideologia política.
Voltando ao Niilismo russo, podemos constatar que o mesmo, na ocasião em que ocorreu naquele país, não possuía nenhuma intenção revolucionária ou um ideal de reconstrução social; todavia, tendo sido reprimido violentamente pela polícia do Czar (que prendeu e matou suas principais personalidades), fez recrudescer as ações de ambos os lados e acabou pelo assassinato do próprio Czar Alexandre II, avô de Nicolau II que, por sua vez, destronado e morto pela Revolução de 1917, ensejou o fim a dinastia dos Romanov.
Dentro dos marcos aqui traçados anteriormente, da mesma forma que aquele Niilismo russo, o nosso eventual Niilismo também não possuiria, creio eu, uma intenção revolucionária por parte do povo em geral, muito pelo contrário; embora possa ter, da parte de uma minoria liberal e democrática mais intelectualizada e politizada. A motivação principal do brasileiro comum (violentado pelo crime, desempregado ou subempregado, sem saúde e escolaridade, estaria mais ligada à valores pessoais do que a quaisquer conotações de cunho político-partidário ou, mesmo, ideológica.
Tratar-se-ia tão somente de cidadãos pacíficos que, em razão da crescente onda de violência urbana e rural; bem como, contrários ao desvio de recursos públicos e a corrupção generalizada (praticados estes sem nenhum constrangimento pelos detentores do poder, integrantes dos três poderes da república e do meio empresarial), influenciados pelo novo comportamento ‘politicamente correto’ divulgado e incentivado pela Mídia a serviço de uma ideologia socialista Fabiana e Gramscista, passariam a descrer dos valores éticos e morais tradicionalmente vigentes; bem como, da possibilidade de um futuro melhor para si mesmo, seus familiares e seus negócios, por não acreditarem mais neste futuro, haja visto o quadro de falência generalizada, ao estilo venezuelano, que se delineia para o futuro do Brasil, caso a esquerda, responsável por tudo isto, continue no poder a partir das próximas eleições presidenciais.
Muitos brasileiros pensam e proclamam, para quem queira ouvir, seus desejos de mudarem-se do país (a exemplo do que já ocorre na Venezuela), só não o fazendo em grandes proporções por dificuldades várias (de ordem financeira; de dificuldade de transporte, em razão de nossas dimensões continentais e da enorme distância que nos separa dos principais países do Primeiro Mundo, como os da Europa e os USA; de avançada idade cronológica de muitos; de restrições externas para a imigração; etc.).
Diversos pensadores, jornalistas, escritores, cientistas sociais, economistas, etc., falam em décadas perdidas (como também ocorre na Venezuela); ou seja, períodos recentes em que deixamos de crescer e nos desenvolver econômica e socialmente ou, mesmo, em que regredimos para níveis bastante inferiores a outros já alcançados, por nós mesmos, no passado. Estas décadas perdidas nada têm a ver com a conjuntura internacional e foram perdidas, exclusivamente, por um mau planejamento, pelo desvio monumental de recursos públicos para os bolsos das elites no poder e pela má gestão da coisa pública pelos últimos governos.
A crescente desnacionalização de setores empresariais ligados a exploração mineral, a agroindústria, a energia, as comunicações, etc. reduz a perspectiva de empregos para os brasileiros, substituídos por estrangeiros que entram em nosso país com facilidade, seja legalmente, seja de forma ilegal.
– “Nada parece dar certo em nosso país. Tudo é feito de maneira errada e na contramão da História e daquilo que faz o resto do mundo”! – São frases ditas, com frequência, por gente do povo e por profissionais de várias áreas.
Pelo exposto até aqui, as pré condições para o estabelecimento generalizado do Niilismo em nosso país, da forma como definida por Nietzsche, eu creio que já existem.
Se ele vai ou não se instalar, definitivamente, nos corações e nas mentes dos nossos cidadãos dependerá, em muito, da ação futura de nossos eleitores elegendo o único candidato liberal e democrático, sem vínculos ideológicos com a esquerda, e de alguns poucos juízes, promotores, delegados, militares e políticos com visão de futuro, patriotas e compromissados com o combate à corrupção e ao crime de uma maneira geral; como também com a manutenção da Ética e da Moral tradicionais.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário