236. Sobre o medo de se expor publicamente no Brasil
Jober Rocha*
O receio ou o medo de se expor publicamente, atualmente em nosso país, é mais comum do que imaginamos. Ocorre com frequência entre pessoas honradas, de boa índole, que têm um nome a preservar, quer sejam normalmente artistas, profissionais das ciências ou qualquer ser humano comum, chamado a dar o seu ponto de vista sobre alguma coisa de maneira pública, através de áudio, vídeo ou por escrito, em qualquer tipo de Mídia ou nas redes sociais.
Entre os artistas, o receio de que a sua arte não seja do agrado de quem a vê, ouve ou lê, faz com que muitos trabalhem com pseudônimos ou com nomes artísticos. Previnem-se desta forma contra possíveis críticas aos seus trabalhos, por parte daqueles que tomaram contato com as suas produções e delas não gostaram ou a criticaram em alguns de seus vários aspectos. Como estes artistas não estão, ainda, convencidos da qualidade daquilo que produzem, utilizam-se deste artifício que, supõem, preservaria as suas identidades verdadeiras, no caso de não verem as suas produções apreciadas pelo público.
Entre profissionais das ciências, muitos brasileiros receiam que suas eventuais teorias, ou ideias, ou teses, ou monografias, tenham falhas não percebidas e que possam ser ridicularizadas com as suas divulgações no meio científico (interno e/ou externo) e, com isso, não as publicam em livros, revistas ou periódicos, guardando-as para eventual divulgação pós-morte.
Durante a vigência de regimes ditatoriais ou totalitários, também, mas por outras razões, os cidadãos têm medo de dizer o que pensam sobre as ações do governo ou sobre temas que possam ser considerados como subversivos à ordem vigente. O patrulhamento ideológico existente na Mídia e também executado pelo próprio governo e seus serviços de informações, pode trazer consequências desagradáveis àqueles que dizem o que acham e pensam, sobre temas que possam ameaçar o status quo vigente. Nestes regimes os únicos que podem expor sem receio suas eventuais verdades ou mentiras, publicamente, são os próprios governos, através de seus órgãos de propaganda, e aqueles que dele se beneficiam ou favorecem e que desejam, portanto, promove-los.
Em quaisquer regimes, por sua vez, quando se tratam de profissionais que colocam seus interesses mesquinhos acima da honradez de seus nomes, estes não receiam se expor, ao dizerem o que dizem ou a escreverem o que escrevem, porque os benefícios que esperam colher com aquilo superam a eventual mácula que possa vir a gravar seus nomes; muitos deles, até mesmo, com os nomes já maculados.
Isto ocorre também no meio científico (independentemente do tipo de governo em vigor) com profissionais mercenários que transformam resultados negativos de suas pesquisas em resultados positivos (fato que quase sempre é possível, variando as premissas formuladas) visando interesses bem remunerados, quase sempre com pesquisas feitas sob encomendas para apresentar determinados resultados, a serviço de indústrias diversas.
Da mesma forma é comum ocorrer entre artistas pagos com verbas oficiais, que não se importam em produzir arte sob encomenda, destinada a fins ideológicos, mesmo que a sua arte objetive subverter a moral e os bons costumes (tais artistas sempre argumentam, ao serem criticados, que a arte está acima da moral e dos bons costumes).
Ocorre ademais, tanto no meio artístico quanto esportivo, durante a época das campanhas eleitorais, quando, em troca de uma remuneração, artistas e esportistas com certa projeção declaram, em vídeos produzidos por empresas de marketing e de propaganda, as suas preferências por determinados candidatos, os quais, muitas vezes, estes artistas ou esportistas nem conhecem e em quem nem votarão.
Mas, sobretudo, isto ocorre quase que diariamente no meio político-partidário, onde o compromisso com a verdade pode-se dizer que não existe.
Verbas públicas, recursos partidários e recursos de empresas públicas e privadas (contabilizados ou não) são alocados com a finalidade de dar divulgação à realizações e obras já feitas, em elaboração ou ainda por fazer, dos candidatos de determinados partidos. Estes recursos, alimentam uma enorme rede de pessoas e de instituições especializadas em divulgar matérias inverídicas e a fazer contra- informação acerca de outros candidatos, na Mídia de uma maneira geral e nas redes sociais de um modo particular.
Nas redes sociais, com estes recursos disponíveis, através da contratação de pessoas e de empresas especializadas, cria-se uma indústria dos chamados fakes (notícias falsas), que beneficiam determinados candidatos e prejudicam seus eventuais oponentes.
O cidadão comum, de bem, quase sempre, em se tratando de matéria de cunho político, evita se comprometer com comentários ou com o compartilhamento de notícias, muitas vezes, se limitando a uma simples curtida, quando muito, na matéria que lhe agradou. Muitos grupos nas redes sociais proíbem, inclusive, a veiculação de matérias de cunho político, em que pese alguns filósofos, políticos, pensadores e escritores terem se expressado sobre política da forma seguinte:
. Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam (Platão);
. Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles (Ruy Barbosa);
. O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus (Platão);
. Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada (Otto Von Bismarck).
A razão para isto tudo, em nosso país, pode ter várias conotações, segundo penso. A mais importante destas conotações, na atualidade, creio ser aquela que se refere ao acatamento ou a aceitação, pelos internautas, do chamado comportamento politicamente correto (uma transvaloração dos antigos valores, promovida pela esquerda fabiana no poder, que busca implantar o comunismo de maneira disfarçada e para quem impostos são "contribuições", gastos do governo são "investimentos", criticar o governo é "entreguismo" ou "falta de patriotismo", donos de propriedades são "elites", "reacionários" e "privilegiados", e "mudança" significa " socialismo"), que faz com que os cidadãos de bem evitem fazer comentários críticos, de forma pública, mesmo não concordando com a matéria exposta.
Outra razão pode ser a de buscar evitar eventuais réplicas aos seus comentários, réplicas estas, algumas vezes, partidas de internautas mal educados, incivilizados e militantes ideologicamente radicais, que não hesitam em fazer ameaças e/ou em proferir ofensas pessoais de baixo calão. Outra razão, também importante, pode ser a pouca cultura do internauta e a dificuldade de se expressar corretamente, em um comentário de forma escrita, sobre aquilo que lhe passa pela mente. O receio de ações cíveis e criminais também pode inibir a postura de matérias e comentários que possam ser considerados inverídicos e ofensivos.
O não compartilhamento de notícias de cunho político pode estar, ainda, ligado ao receio do internauta de se comprometer; isto é, de permitir que seus amigos ou o público em geral saibam qual a sua posição política e as suas preferências partidárias ou ideológicas. Pode estar ligado, também, ao fato de julgar que a matéria veiculada não é verdadeira e não querer propaga-la. Por último, o internauta pode ser daqueles que costumam estar sempre em cima do muro, a esperar pela definição da corrente mais forte no gosto popular para a ela aderir posteriormente.
Em minha maneira particular de ver toda esta questão, penso como Ruy Barbosa, já citado neste texto, quando afirma que aqueles que não lutam pelos seus direitos não são dignos deles. Um povo submisso, que aceita passivamente tudo aquilo de mau que seus governantes lhe impõe, merece passar pelo que passa e conformar-se com o destino que lhe será imposto.
Essa luta pelos nossos direitos, individuais e coletivos, deve ser diária, incessante, em todos os aspectos da vida econômica, política, psicossocial e militar.
Não devemos ter medo ou receio de nos expor, principalmente no que respeita à política, notadamente quando temos a consciência de que estamos do lado do bem, fazendo a coisa certa, com bons propósitos.
Com medo de se expor deveriam estar os maus, os que são adeptos dos ‘malfeitos’ na vida pública (como no Brasil atual costumam denominar os crimes dos políticos, de forma a minimizá-los aos olhos do povo), os que confabulam suas maquinações perversas na calada da noite. Infelizmente, estes não têm medo de nada, pois muitos deles ainda estão no poder, zombando das instituições republicanas, rindo-se das leis, julgando-se eternamente poderosos.
O Nosso país encontra-se em uma encruzilhada, talvez a mais importante em que já esteve desde o dia 15 de novembro de 1889, quando foi transformado em uma República. Se a esquerda tomar, novamente, o poder nas próximas eleições, o nosso país será uma nova Venezuela, com todas as trágicas consequências que disto advirão. Para mascarar essa tomada de poder, os partidos e candidatos, antes de esquerda, hoje se declaram de centro (usando a velha técnica Fabiana já mencionada, de modo a travestir seus objetivos com aparências mais inofensivas) e fazem coligações contra o único candidato de direita, que, com certeza, é exclusivamente o que poderá evitar o risco de ocorrência desse lastimável e fatídico desfecho.
É preciso que os brasileiros de bem percam o medo de se expor publicamente, pois a verdade está do lado deles e o futuro do país sob as suas responsabilidades.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Muito bom e inspirador.
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