segunda-feira, 2 de julho de 2018

233. As próximas eleições brasileiras sob a ótica de um eleitor  Maniqueísta


Jober Rocha*

 


                                       Maniqueísmo consiste em um dualismo religioso, sincretista, originado na Pérsia, criado por Manes ou Maniqueu, filósofo cristão do século III d.C., e que foi amplamente difundido no Império Romano. A doutrina de Maniqueu consistia, basicamente, em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o Reino da Luz (o Bem) e o das Sombras (o Mal); e em afirmar que ao homem se impunha o dever de ajudar à vitória do Bem sobre o Mal.
                                                       Os pisos de muitas catedrais e templos, que alternam ladrilhos brancos e pretos, buscam lembrar aos fiéis e adeptos esta disputa entre os reinos da luz e da sombra.
                                                      Concordo com Maniqueu acerca da existência deste eterno conflito, apenas, discordando que tenham os contendores a categoria de dois reinos distintos; qual sejam, o do bem e o do mal.
                                                            Este conflito, segundo penso, se daria no interior de cada um dos seres humanos, posto que, da mesma forma que os soldados das forças especiais carregam em suas mochilas tudo aquilo de que irão precisar para sobreviver, ao saltarem de paraquedas atrás das linhas inimigas; os seres humanos também trariam consigo, ao nascer, vícios e virtudes dos quais necessitariam ao longo de suas existências e que os habilitariam a sobreviver em um meio inóspito e conflituoso como o do nosso planeta.
                                                             As evoluções material e espiritual, como todos sabemos, constituem os dois objetivos de todos os seres humanos que aqui encarnam e ocorrem da forma dialética (significando a arte do diálogo, do debate, da persuasão e do raciocínio); isto é, seria através dos conflitos entre a tese e a antítese, que chegar-se-ia à síntese. Em Direito fala-se no Princípio do Contraditório quando, do cotejo entre as duas versões (a do defensor e a do promotor), surgiria uma terceira (a do juiz ou do júri) que, sintetizando o que ambas possuíam de bom e de verdadeiro, estaria mais próxima da verdadeira justiça do que estas duas originalmente.
                                                      Digo isto, por que já salientava o filósofo Voltaire, no século XVIII, ao afirmar: “Grande parte dos homens, vendo a mal físico e o mal moral espalhados sobre este globo, imaginou dois seres potentes, um produzindo todo o bem e o outro todo o mal. Se eles existissem seriam necessários e eternos, independentes, e ocupariam a totalidade do espaço; portanto, existiriam no mesmo lugar, um penetraria no outro, pois agiriam ambos sobre as criaturas e seus espíritos e isso é um absurdo. A ideia destas duas potências inimigas só pode originar-se dos exemplos que nos espantam na Terra; aqui vemos homens doces e ferozes, bons senhores e tiranos. Imaginaram-se, então, dois poderes contrários que presidiriam a Natureza. Trata-se tudo isso, apenas, de um romance asiático. Em toda a Natureza há uma unidade manifesta de desígnios, leis que são invariáveis; é impossível que dois artesãos supremos, inteiramente contrários um ao outro, tenham obedecido às mesmas leis. Só isso, em minha opinião, já é suficiente para desbaratar o sistema maniqueísta”.

                                                  Assim, o meu maniqueísmo seria no sentido de reconhecer a existência do bem e do mal nas pessoas e em suas ações; todavia, isto nada teria a ver com a intervenção de Deuses menores ou com a intervenção de um Deus supremo nos destinos e nas ações dos seres humanos.
                                                        Isto posto, chegamos ao cerne da questão principal deste texto: as eleições brasileiras que serão realizadas neste ano se revestirão de radicalismo, de fanatismo e de ideologia, promovidos pelos diversos candidatos e, neste contexto, alternar-se-ão bondades e maldades por parte de todos eles, buscando sobreviver na vida política e aniquilar os seus inimigos.
                                                         As mentiras, as notícias falsas, os engodos, a compra de votos, a manipulação de eleitores e de urnas, os acordos espúrios e inconfessáveis, o uso da máquina administrativa para beneficiar candidaturas, as doações de dinheiro não declaradas e não contabilizadas, etc.; enfim, todas estas e mais algumas medidas que desconhecemos serão empregadas, como sempre foram, na tentativa de eleger alguém comprometido com todo este quadro de esperteza, de ilegalidades, de malversações. Os eleitores, em sua maioria, não perceberão todas estas fraudes e acreditarão na lisura das eleições.
                                                       Eu, como eleitor e como alguém que sempre buscou levantar templos às virtudes e cavar masmorras aos vícios, conforme costumam dizer (e algumas vezes fazer) os homens livres e de bons costumes através dos tempos, ficarei do lado onde me parece estar, também, entrincheirado o bem. Explico-me melhor: o bem, no íntimo da maioria dos indivíduos, em minha modesta opinião, estará sempre do lado da moralidade, dos bons costumes, da honestidade, do interesse pelo progresso e pelo destino do país, suas instituições e sua gente. Assim, os candidatos que se identificarem com estes objetivos, de uma maneira geral, e com os os outros que mencionarei mais adiante, de um modo particular, sem dúvida, serão aqueles  que estarão do lado do bem.
                                                           Com respeito aos eleitores, em sã consciência, não imagino que o lado mau dos indivíduos (a não ser em pequena escala e naqueles contaminados pelo radicalismo, pelo fanatismo, pela ideologia e nos casos patológicos de desvios comportamentais), possa prevalecer sobre o lado bom, fazendo com que o mal, presente em todos os indivíduos, triunfe sobre o bem neles também presente. A batalha a ser travada será, portanto, no interior de cada um, tentando discernir qual o melhor dos candidatos, segundo os seus valores de eleitor.
                                                            Para identificar onde está o bem, no caso de uma eleição como a nossa próxima, conforme já dito, é necessário, em primeiro lugar, analisar o passado dos vários candidatos e compará-los entre si.
                                                         Veja quais deles estão respondendo a processos cíveis e criminais na justiça; quais os que sempre defenderam medidas impopulares e contra os interesses dos cidadãos; quais os que propuseram, apoiaram e, ainda, pregam o desarmamento dos cidadãos de bem, deixando-os à mercê das facções criminosas que agem nas cidades e no interior; quais os que defendem o aborto, o incesto, a pedofilia, a ideologia de gênero e o consumo e o tráfico de drogas; quais os candidatos que propõem a implantação do comunismo ultrapassado, já abandonado pela própria Rússia que o implantou em 1917, através de sangrenta revolução, mas, que, maquiado de ‘socialismo bolivariano’, é apresentado aos sul-americanos como uma novidade salvadora de países que se encontram na penúria em que estão, não devido ao sistema capitalista que adotaram, mas, em razão da ganância e da corrupção de suas elites políticas governantes. 

                                                            Onde está o bem, se quer saber, é no lado contrário disto tudo que foi mencionado no parágrafo anterior.
                                                         Procure saber qual (ou quais) candidato propõe a escola sem partido e os estudantes sem ideologia; o fim do foro privilegiado para políticos e autoridades; qual é a favor da religião e prega a moralização do ensino e das escolas.
                                                         Investigue qual (ou quais) candidato é favorável a maior rigor contra o crime e os criminosos e a favor da maior autonomia policial; qual é a favor da livre concorrência, de um Estado mínimo e de um imposto único.
                                                         Pesquise qual (ou quais) candidato é contra o consumo e o tráfico de drogas; contra o Globalísmo e a ingerência estrangeira nos assuntos internos do nosso país; contra a desnacionalização do nosso parque industrial e do agronegócio; que é a favor da redução do excessivo números de ministérios, hoje em torno de 40, para, no máximo, a metade disto; que é favorável a redução da maioridade penal com a possibilidade da emancipação do criminoso em casos hediondos ou de reincidência; que é favorável a rediscussão de tratados, econômicos ou não, que tenham sido lesivos para o Brasil.
                                                           Qual (ou quais) candidato é a favor de um maior apoio para a modernização e o reaparelhamento das nossas forças armadas, sucateadas ao longo dos últimos governos para que tivessem um papel secundário nas decisões nacionais e, também, por revanchismo de governantes que as combateram, atuando na ilegalidade, no passado; qual é pela transparência, tanto dos atos políticos quanto da gestão e da administração, dos três poderes da República e, finalizando, qual é pela revogação do Estatuto do Desarmamento, implantado a revelia do povo que votou contra ele em plebiscito anteriormente realizado.

                                                            Onde está o mal, se quer mesmo saber, é no lado contrário a isto tudo que foi mencionado nas linhas anteriores.
                                                          Estou certo que qualquer brasileiro honesto, de boa índole, não comprometido com sinecuras, nepotismo, clientelismo, nem fazendo parte do aparelhamento do Estado promovido nessas últimas duas décadas pelo partido no poder, saberá como discernir o lado do bem e o do mal; bem como, escolher o melhor candidato para as próximas eleições ao fazer estas pesquisas.
                                                             Eu já tenho o meu, mas, evidentemente, não mencionarei seu nome, pois o voto é secreto. 

                                                            Com respeito aos candidatos, procurei fazer a mim mesmo estes diversos questionamentos que proponho aos meus leitores, tendo em mente, como reza o Maniqueísmo, que "ao homem se impõe o dever de ajudar a vitória do bem sobre o mal" e recordando-me, ainda, daquilo que disse Basílio de Brito Malheiro, um dos delatores da Inconfidência Mineira que espionava os principais suspeitos, a um de seus filhos, em 1789: 
                                                        - “Os filhos dos homens de bem que têm a desgraça de nascerem e serem criados no Brasil, não herdam de seus pais os estímulos de honra, mas adotam de boa vontade os costumes da terra. Não venda nada fiado e que fique cá o seu importe, pois nunca lhe vai mais nada a Portugal, que isto cá é terra de ladrões”!
 

_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

2 comentários:

  1. Parabéns! Grande pensador e amado Ir.

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  2. Como sempre, excelente artigo. Inteligente e oportuno. A propósito, para presidente da república, você descreveu as características do candidato escolhido sem citar seu nome. Eu o faço: Jair Bolsonaro.

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