sexta-feira, 6 de julho de 2018


234. A Importância da Educação na História da Humanidade e o descaso com que ela é tratada no Brasil



Jober Rocha*




                                            Desde os mais remotos tempos em que conviviam juntos sobre a face do planeta, há cem mil anos, pelo menos seis espécies de humanos (o homo rudolfensis, o homo erectus, o homo neanderthalensis, o homo soloeensis, o homo ergaster e o homo sapiens), todos eles do gênero homo e da família dos humanos, surgidos há 2,5 milhões de anos a partir de um gênero anterior de primatas chamado Australopithecus, conforme nos afirma o Dr. Yuval Noah Harari, doutor em História pela Universidade de Oxford, em sua obra “Sapiens - Uma breve história da humanidade”, a educação e o aprendizado foram fundamentais para que o homo sapiens se diferenciasse das demais espécies humanas.
                                                      Sempre que estes Sapiens chegavam a um determinado local, a população nativa das demais espécies de humanos se extinguia. Essas espécies eram similares demais para se ignorar, mas diferentes demais para se tolerar.
                                                            Segundo o professor, em sua obra citada, o fato de os Sapiens haverem se destacado dos demais e sobrevivido, enquanto as restantes espécies humanas pereceram, deveu-se a chamada revolução cognitiva dos Sapiens e a sua linguagem única. Segundo afirma o professor, estes primeiros Sapiens eram tão inteligentes, criativos e sensíveis como nós na atualidade.
                                                            A chamada revolução cognitiva, pela qual eles passaram, deu-lhes a capacidade de transmitir maiores quantidades de informações sobre o mundo a sua volta, sobre as suas relações sociais e sobre as coisas que não existiam de fato, mas eram abstratas e intangíveis, tais como a noção dos espíritos tribais, a noção de nações, de direitos e deveres, etc.; coisas que as demais espécies não eram capazes de perceber.
                                                           Por outro lado, dado o seu raciocínio mais elevado, puderam criar técnicas e armas mais aperfeiçoadas e caçar com mais abundância, procriando em maior escala e sobrepujando e eliminando, aos poucos, as demais espécies.
                                                             Desde então, tornando-se única, a nossa espécie iniciou uma destruição da fauna e da flora sem precedentes, ao passar de simples caçadores e coletores de frutas e raízes para a atividade de agricultores e criadores de animais domesticados, segundo destaca o professor.
                                                             Como caçadores coletores, eles viviam em harmonia com o meio ambiente, deslocando-se, alimentando-se de forma bastante variada e menos sujeitos à enfermidades. Ao se fixarem como agricultores e criadores de animais a sua dieta se restringiu, passaram a se exercitar menos e a ter uma dieta limitada. Pelo fato de se estabelecerem em um local determinado e conviverem com animais, as doenças os acometeram com maior intensidade.
                                                              Ainda de acordo com o Dr. Harari, a maior fraude da História foi atribuir a extinção dos grandes mamíferos a um cataclismo de efeito mundial ou a mudanças de ordem climáticas. Segundo ele, os grandes mamíferos foram extintos pela ação do Homo Sapiens e suas novas tecnologias de abate de grandes animais. No seu livro encontrarão os argumentos de que se utiliza para corroborar o que afirma, não cabendo aqui descrevê-los.
                                                                 Mas, voltando ao nosso objetivo inicial, com a expansão dos Sapiens e a sua vida sedentária em aldeias e comunidades surgiram os primeiros feudos, quando, segundo nos disse Jean Jaques Rousseau (1712-1778) em sua obra “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens”, algum esperto resolveu cercar as terras em que vivia e criar, assim, a primeira propriedade privada.
                                                                  Cumpre alertar, caríssimos leitores, àqueles que ainda não se deram conta disto, que a sociedade humana sempre foi dividida em duas classes de pessoas: os dominadores e os dominados. As razões pelas quais se estruturou desta forma são as mais variadas: aptidão natural e/ou elevado nível intelectual de alguns para mandar, decidir e comandar; vocação natural e/ou propensão de outros para obedecer; maior esperteza, ganância e orgulho de alguns que, iludindo aos demais, conseguiram obter vantagens sobre estes; necessidade de uma liderança para conduzir a todos os demais em segurança pelos caminhos da sobrevivência em um meio inóspito ou nas guerras contra eventuais inimigos, etc.
                                                                   A seguir, vale destacar que o ser humano, em razão de sua ignorância sobre os fenômenos naturais que o cercavam, atribuiu, desde o início dos tempos, uma característica sobrenatural a estes acontecimentos. A partir daí, surgiram os deuses, responsáveis pela existência e manifestação dos fenômenos e por aplacá-los, caso pudessem ser diretamente contatados.
                                                           Por outro lado, vendo o nascimento e a morte dos seres vivos e não compreendendo as razões para tal, o homem passou a crer na vigência de uma outra existência, de onde os seres humanos vinham e para onde voltavam após a morte. Surgiram a partir daí os intermediários entre homens e deuses, entre este mundo e o outro. Em outras palavras, apareceram os sacerdotes.
                                                         O contato com povos vizinhos que competiam pelo mesmo alimento e a necessidade de conquistar novos territórios para a sobrevivência da tribo, ou da raça, fez surgir a guerra e, com ela, os guerreiros e seus comandantes - os generais.
                                                         A aliança mutua que surgiu entre estas três categorias de detentores de poder entre os primitivos povos - o chefe, o sacerdote e o general - selou, para sempre, o destino da raça humana. Estabelecida esta aliança, desde os mais remotos tempos, a história de todos os povos só fez por aperfeiçoá-la até os nossos dias.
                                                              Para este aperfeiçoamento tudo tem sido válido, desde falsear a própria história, atribuindo mandato divino aos governantes, até a eliminação física daqueles que não aceitam a versão oficial dos fatos, passando pela censura das informações existentes e a queima ou destruição de livros e bibliotecas, tendo por objetivo a desinformação dos indivíduos.
                                                             De passagem, destacamos que os guerreiros dos exércitos, que cumprem os desejos e defendem, sem saber, os interesses dos detentores do poder, sempre foram levados a crer que lutavam por seus próprios interesses e os de seus familiares, além de lutarem por valores morais e pela prevalência de seus deuses (nunca pelos interesses dos detentores do poder).
                                                                A modernização das instituições sociais, ocorrida ao longo da história, sempre manteve os povos e as populações dominados por estas categorias de agentes detentores do poder, que sempre se utilizaram, além da força, da cultura, do conhecimento científico, da pesquisa, da tecnologia e da esperteza para dominar, tanto os seus próprios povos quanto os outros.
                                                              A queda do feudalismo, o surgimento de uma burguesia comercial e a revolução industrial, realizadas mais a frente, forçaram alguns dos atores a saírem de cena; enquanto outros novos vieram assumir o papel daqueles que saíram.
                                                          O poder passou, assim, conforme mencionado, a ser dividido entre os “proprietários do capital”, os “detentores do poder de intermediação entre os homens e os deuses” e os “senhores das armas”. Em algumas nações, em razão de movimentos populares históricos que extinguiram a religião, os “detentores do poder de intermediação entre os homens e os deuses”, foram substituídos pelo “partido político”, que passou a fazer a intermediação entre os cidadãos e os dirigentes da nação (os novos deuses em carne e osso...).
                                                       Com o advento da imprensa, e o surgimento e aperfeiçoamento dos meios de comunicação de massa, um novo agente apareceu neste cenário, desejoso de participar da tradicional aliança para o domínio dos povos: “os proprietários dos meios de comunicação”.
                                                                 Estes passaram, assim, a constituir novos e importantes sócios, cuja missão consistia, de um modo geral, em divulgar valores do interesse da aliança a que pertenciam, promover contrainformação objetivando este mesmo interesse e impedir, ou falsear, a difusão de informações contrárias ou que pudessem, em algum momento, desestabilizar ou ameaçar o futuro da aliança.
                                                                   Além destas, outra importante função deste quarto poder consistiu em manter alienadas, cultural e politicamente, as camadas mais baixas das populações sem renda necessária para ter acesso ao conhecimento e a cultura de qualidade, proporcionando-lhes diversão e entretenimento de baixo nível e sem nenhum compromisso cultural.
                                                              As técnicas de propaganda e marketing, desenvolvidas para vender produtos, necessidades, ideias e valores, foram e são constantemente empregadas pela mídia, em todos os países, em benefício destes agentes detentores do poder já mencionados.
                                                                 Mais recentemente, após o término da Segunda Guerra Mundial, uma nova ordem política, econômica e militar foi estabelecida durante a Conferência de Yalta. Embora os quatro principais países vencedores, agentes do poder mundial, continuassem, ainda, dando as cartas em suas respectivas nações, agora os tradicionais centros do poder mundial haviam sofrido algumas importantes modificações.
                                                                Determinados países vencedores do conflito, a partir de então, desenvolveram seus arsenais bélicos de tal maneira que, na atualidade, tornaram-se praticamente invencíveis, em razão dos artefatos nucleares e armamentos convencionais que acumularam.
                                                               Tais países passaram a deter uma hegemonia militar e econômica em todo o mundo, comandando as decisões tomadas por organismos internacionais, criados por eles mesmos com o objetivo de solucionar questões, crises e conflitos econômicos e militares, entre seus membros. Por vezes, mesmo à revelia destes organismos, tais países hegemônicos não hesitam em intervir, direta ou indiretamente, econômica e militarmente, em países mais fracos nos quais possuam interesses econômicos ou estratégicos.
                                                                  Criou-se, assim, a partir de então, o centro e a periferia, ou o império e os novos bárbaros. Os países que não se submetem sofrem embargos, bloqueios, pressões e, até mesmo, bloqueios marítimos e aéreos, invasões militares e bombardeios aéreos e navais. 

                                                       Aqueles países cujas elites são venais e impatrióticas e cujas populações não se interessam por obter cultura, educação, conhecimento e tecnologia, estão fadados a fazerem parte da periferia e a serem eternamente dominados.
                                                               As decisões políticas, econômicas, militares e ambientais tomadas pelos países que formam o centro, ou o império, sempre visando seus interesses, influenciam quase sempre de maneira negativa os países periféricos, ou bárbaros. De um modo geral, o centro quer crescer mantendo a periferia estagnada. Milhões de seres humanos são mortos, anualmente, em todo o mundo, (de fome, doenças ou em guerras) para que o poder e a riqueza daqueles mencionados agentes detentores do poder (e das famílias de suas elites dominantes, que não são muitas - dizem que apenas sete famílias - comparadas com a população total do planeta) aumentem constantemente.
                                                      Por último, embora a chamada Teoria da Conspiração (cujo nome pejorativo foi criado pelas elites), teoria esta  que busca explicar um evento histórico ou atual como resultado de um plano secreto levado a efeito por conspiradores (chamada de Teoria da Conspiração pelas elites de modo a descredenciar e ridicularizar as hipóteses e teses verdadeiras levantadas por pessoas comuns) tenha, em nosso modo de ver, importância relevante na história da formação dos povos e das nações; posto que, a maioria delas não se trata de simples teoria, podemos constatar que, ademais disso, a diferença entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos não é, normalmente, como já disse alguém em algum lugar, apenas de cunho intelectual e, muito menos, de raça, de recursos naturais disponíveis ou de idade destas nações.
                                                       A diferença é, quase sempre, devida à atitude das populações e de suas elites, determinada esta pela educação e pela cultura que possuem e pelo patriotismo e honestidade de que são portadores.
                                                    Os países pobres, em qualquer parte do mundo, devem suas situações, em geral, à falta de cultura, de educação de urbanidade, de honestidade e, também, de atitude – ou falta de “vontade nacional” – da maioria de seus habitantes, e não, apenas, porque lhes faltem recursos ou porque sejam explorados pelos vizinhos mais ricos.
                                                     Constata-se, com frequência, que as suas populações carecem de ética, integridade, responsabilidade, respeito às leis, respeito aos direitos humanos, amor pelo trabalho, pontualidade, esforço para economizar e investir e desejo de superação.
Não é por outra razão que os governantes destes países – representantes que são de elites retrógradas –, para evitar o despontar da vontade nacional, invistam tão pouco em educação e cultura, como é o nosso caso. 

                                                         Nosso ensino nas últimas duas décadas tem sido, basicamente, voltado para uma doutrinação ideológica de tendência esquerdista; ao contrário da missão dos professores e da grade curricular de países sérios, que são as de preparar os estudantes para o mercado de trabalho. 
                                                        Assim, enquanto deixamos de treinar nossos estudantes e dar-lhes uma boa formação técnica, que lhes permitirão disputar o mercado de trabalho nacional e internacional em pé de igualdade com os demais profissionais de outros países, são lhes incutidas ideologias ultrapassadas que os transformarão em profissionais revoltados, com má formação técnica e profissional e, quase sempre, frustrados ao concluírem seus cursos, buscarem colocação no mercado e não conseguirem emprego em virtude da falta de conhecimento e de preparo profissional.
                                                             É o cúmulo que, na atualidade, os Conselhos Regionais e a Ordem dos Advogados, entidades privadas, tenham que submeter cidadãos formados pelas universidades brasileiras, com diplomas expedidos pelo Ministério da Educação e Cultura, à provas, estágios e residências, antes de os autorizar ao exercício de suas profissões. Isto é uma demonstração cabal do treinamento deficiente das Universidades Brasileiras, cujos universitários, ao se formarem, não estão aptos para exercerem suas profissões.
                                               A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou recentemente um ranking mundial de qualidade de educação. Entre os 76 países avaliados, o Brasil ocupou a 60ª posição, demonstrando a péssima qualidade do ensino brasileiro. O ranking foi definido a partir de resultados de testes de matemática e ciências, aplicados nestes países. Além dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), foram analisados o TIMSS, dos Estados Unidos, e o TERCE, aplicado em países da América Latina.
                                                   O Pisa avalia conhecimentos de leitura, matemática e ciências dos adolescentes. O Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC), é quem aplica a prova no Brasil.
                                                             Ao tomar posse em seu segundo mandato, no dia 1º de janeiro de 2015, Dilma Rousseff anunciou o lema de seu segundo governo como Presidente da República: “Brasil, pátria educadora”.
                                                           Todavia, Luiz Ruffato em sua coluna “Brasil, pátria educadora”, no jornal El País de 06.10.2015, calculava que 15% dos jovens brasileiros entre 15 e 24 anos eram analfabetos funcionais – ou seja, não conseguiam interpretar textos e limitar-se a compreender operações matemáticas simples. E a tragédia se estendia ao ensino superior: o Instituto Paulo Montenegro concluiu que constituíam-se em analfabetos funcionais 38% dos estudantes universitários.
                                                           Se somarmos o número total de analfabetos funcionais (68% da população) aos analfabetos (7% do total), teremos que apenas 25% dos brasileiros, ou seja, um em cada quatro, possuem pleno domínio da leitura, da escrita e das operações matemáticas. 

                                                           Isso bem demonstra a falência na Educação dos governos de esquerda das últimas décadas. Como pretender chegar a ser uma potência mundial, com um ensino tão deficiente como o nosso, onde os alunos passam de ano sem saber aquilo que deveriam, simplesmente, para demonstrar que o sistema está funcionando de forma satisfatória? Como competir com profissionais norte-americanos, europeus e asiáticos no mercado de trabalho nacional e internacional?                                                        
                                                    Torçamos para que em um próximo governo, as autoridades levem a sério a Educação e a Cultura em nosso país e que os professores e os técnicos especializados em Educação (os Educadores), deixando de lado as ideologias, que muitos ensinam sem compreendê-las, façam aquilo para que são pagos; isto é, preparar os jovens brasileiros para às suas inserções no mercado de trabalho.

_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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