169. Todos nós, seres humanos, queremos as mesmas coisas...**
Jober Rocha*
Os seres humanos, da mesma maneira que os animais, são caracterizados por possuírem comportamentos previsíveis, em razão dos seus instintos. Assim é que a Etologia, ciência que estuda o comportamento das espécies animais (aí incluída a espécie humana), utiliza modelos e conceitos teóricos para a interpretação dos fenômenos que caracterizam seu objeto, enquanto disciplina científica. Os principais temas com os quais esta ciência se ocupa, são:
- A evolução do comportamento dos animais;
- O relacionamento entre os animais, de uma mesma espécie, que vivem em grupos (famílias) ou isolados;
- O comportamento dos animais com as mudanças que ocorrem na natureza (aquecimento global, secas, alagamento de regiões, etc.)
- A relação entre as diversas espécies animais, na natureza;
- O relacionamento e o comportamento dos animais com os seres humanos, em diversas situações;
- A utilização de resultados de experiências com animais para o avanço de pesquisas sobre o comportamento humano.
A concepção etológica do ser humano é a de um ser biologicamente cultural e social, cuja psicologia se voltou para a vida sociocultural e para qual a evolução criou preparações biopsicológicas específicas.
Outras ciências, como a Psicologia, o Marketing, a Inferência Estatística, as Ciências Atuariais, o Cálculo de Probabilidades, a Teoria dos Jogos, as Pesquisas de Mercado e de Opinião, fazendo uso de conhecimentos etológicos, tentam se antecipar, prevendo fatos e eventos psicossociais futuros, através do estudo de cenários alternativos simulados.
Entretanto, devemos estar sempre atentos, pois, tudo aquilo que no comportamento humano é de ordem psicológica, está sujeito a anomalias profundas, apresentando paradoxos a todo instante; isto é, no repertório da conduta humana, devemos incluir todas as possibilidades de crimes, patologias e contravenções às próprias leis socialmente estabelecidas.
Voltando ao tema deste ensaio, é fácil perceber que, de uma maneira geral, todos nós, seres humanos, desejamos as mesmas coisas, coisas estas que podem ser traduzidas por: saúde, segurança, afeto, proteção, habitação, comodidade, alimentação, vestuário, informação, cultura, educação, emprego, transportes e lazer, apenas para ficar por aqui e sem nos aprofundarmos muito.
Ocorre que, notadamente naqueles países menos desenvolvidos e do chamado Terceiro Mundo, para adquirirmos tudo o que de básico nós necessitamos (e tudo aquilo que, de supérfluo, a Mídia com a publicidade e a propaganda nos faz desejar), faz-se preciso, em primeiro lugar, que tenhamos dinheiro. Mas, como ter dinheiro, sem emprego? Mesmo para aqueles que possuem algum tipo de emprego, os montantes necessários para adquirir tudo o que desejam, na qualidade e quantidade de que necessitam, para a maioria deles, jamais poderá ser alcançado ou, se acaso o for algum dia, somente ocorrerá no final das suas vidas, em razão dos baixos níveis salarias da maioria das populações.
Toda esta situação, que quase sempre não existe para os habitantes dos países desenvolvidos do Primeiro Mundo, se deve ao fato de o Estado, nos países pobres periféricos (por razões várias, dentre elas destacando-se a malversação de recursos públicos), não prover saúde, transporte, segurança, habitação, etc. em níveis adequados de qualidade e de quantidade, razão pela qual estas necessidades têm que ser supridas com recursos próprios dos cidadãos.
Considerando então os comportamentos humanos, das pessoas que vivem em comunidades urbanas (e que são objeto de estudos da Psicologia e da Etologia), nós constatamos, que:
1. Em síntese, todos os seres humanos desejam as mesmas coisas;
2. Os seus comportamentos, frente a situações comuns, são os mesmos;
3. As leis e o aparato do Estado existem para reprimir os delitos tipificados como crimes;
4. Anomalias e paradoxos, no comportamento humano, ocorrem e, em grandes contingentes populacionais, tenderão a ser percentualmente elevados;
5. Os níveis de carência, de toda ordem, das populações de países do Terceiro Mundo são altos e com tendência crescente, face as altas taxas de natalidade;
5. As técnicas de propaganda e publicidade, fazendo uso de conhecimentos científicos, incentivam as pessoas a consumirem e a comprarem;
6. Para comprar algo é necessário dinheiro;
7. Existem diversas formas de se obter dinheiro: trabalhando honestamente; conseguindo uma sinecura, um apadrinhamento ou um nepotismo na administração pública; especulando; se corrompendo; furtando; roubando; vendendo produtos proibidos por lei; etc;
8. Existem diversas formas de se fazer o dinheiro render mais: aplicando-o a juros; praticando agiotagem; especulando; regateando na compra; adquirindo produtos furtados, roubados ou contrabandeados; furtando água, luz, sinais de TV e de Internet de concessionários de serviços públicos; etc.
Quando as leis de um país são rigorosas e os três poderes se caracterizam pela honestidade, pelo patriotismo e pelo espírito de servir ao povo, seus patrões, as carências populares tendem a diminuir; pois, o Estado cumpre o seu papel de provedor de infra-estrutura social; o povo, em geral, não viola as leis, e as anomalias e os paradoxos que surgem são punidos com severidade. Os cidadãos, neste caso, tendo o básico de que necessitam, suprem o supérfluo de que precisam com os seus recursos próprios, adquiridos de forma honesta e dentro da lei.
Quando as leis são fracas e os subterfúgios legais nas suas aplicações são muitos, quando os três poderes não se destacam pela honestidade, pelo patriotismo e pelo espírito de servir ao povo; ademais de o Estado não cumprir o seu papel de provedor de infra-estrutura social, uma grande parcela da população viola as leis em busca da satisfação de suas necessidades (pois tais violações são, em geral, tratadas com benevolência nas várias instâncias da justiça), seguindo o exemplo que vem de cima, das próprias autoridades envolvidas em ilícitos penais. Os cidadãos, neste caso, desempregados ou empregados com salários vis, costumam adquirir o básico e o supérfluo de que necessitam através do furto, do roubo, da fraude, da corrupção, da aquisição de cargas roubadas, da compra de produtos contrabandeados, etc. Nas comunidades carentes do Rio de Janeiro é prática corrente o furto de luz; de sinais de TV à cabo e de internet; da compra de cargas roubadas, etc.
O fato é que todos os indivíduos desejam consumir e o freio da religião, da moral e dos bons costumes não é suficiente, neste caso, quando o Estado é fraco e os três poderes são lenientes com o crime nas altas esferas e, por conseqüência, também nas baixas. Muitos, ao serem apanhados cometendo estes crimes mencionados, afirmam: - Faço o que todos fazem. Se não for eu será outro a fazer!
Assim, meus caros amigos leitores, como não existem efeitos sem causas, conforme preconizava Voltaire, a razão para os altos índices de criminalidade ocorridos em nosso país, tem as suas causas no fato de nós, seres humanos, desejarmos as mesmas coisas; nas carências não supridas pelo Estado; no incentivo ao consumo promovido pela Mídia, em geral e na leniência das autoridades com o crime nas altas e nas baixas esferas; sem contar, evidentemente, com as anomalias e paradoxos no comportamento humano que levam muitos indivíduos a cometerem os crimes mencionados, mesmo não tendo as carências de que são vítimas a maioria das populações (é o caso dos chamados crimes do colarinho branco, onde o motivo não é a necessidade premente).
Ao contrário de outros povos, não sujeitos aos mesmos condicionamentos, muitos indivíduos, pela necessidade ou pelo exemplo, resolvem violar as leis (em razão da grande impunidade e da leniência com os crimes e com os criminosos; quando, como por exemplo, políticos condenados não perdem o mandato e nem o salário) na ânsia de consumir, não hesitando em praticar atos ilegais tipificados como crimes.
Alguns leitores, com base na Etologia e na Psicologia, ao compreenderem as forças que movem as pessoas para determinados caminhos, podem, até, aceitar a explicação para estes tipos de crimes e justificar os comportamentos dos criminosos. Ocorre que, em sociedade, as regras se fazem necessárias para que todos possam viver em paz. Se ninguém seguir as regras, a sociedade não poderá vingar. Comparemos esta situação com a de um edifício de apartamentos em que, aos poucos, os moradores fossem deixando de pagar as suas cotas condominiais. Ao fim, quando todos não mais as pagassem, o prédio se tornaria inviável como residência (sem luz, sem gaz, sem água, sem limpeza, sem porteiro, sem elevador, sem faxina, etc). O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, estaria rompido quando ninguém mais, no país, seguisse os ditames da lei.
Alguns leitores, com base na Etologia e na Psicologia, ao compreenderem as forças que movem as pessoas para determinados caminhos, podem, até, aceitar a explicação para estes tipos de crimes e justificar os comportamentos dos criminosos. Ocorre que, em sociedade, as regras se fazem necessárias para que todos possam viver em paz. Se ninguém seguir as regras, a sociedade não poderá vingar. Comparemos esta situação com a de um edifício de apartamentos em que, aos poucos, os moradores fossem deixando de pagar as suas cotas condominiais. Ao fim, quando todos não mais as pagassem, o prédio se tornaria inviável como residência (sem luz, sem gaz, sem água, sem limpeza, sem porteiro, sem elevador, sem faxina, etc). O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, estaria rompido quando ninguém mais, no país, seguisse os ditames da lei.
Não vejo maneiras de romper o atual círculo vicioso do consumo criminoso, tal a magnitude do problema aqui em nosso país instalado. O próprio Ministro da Defesa afirmou em recente declaração pública que o Sistema de Segurança Pública brasileiro está falido. O crime (roubo de cargas, assaltos, furtos de toda ordem, desvios, corrupção, malversação de verbas, etc.) tenderá a crescer cada vez mais. Uma mudança verdadeira e duradoura neste quadro atual seria traumática e não aceitável pelas forças sociais e políticas dominantes que se mantêm no poder, algumas delas se beneficiando fortemente deste quadro descrito.
Se nas próximas eleições a esquerda prevalecer, com toda a insanidade de que é capaz e que tem demonstrado, o quadro será trágico e sem retorno, como já podemos constatar, apenas, olhando para um grande país vizinho, de cujo território, dominado por um governo de esquerda, milhares de cidadãos refugiados, invadem, diariamente, o nosso Território de Roraima e cidades do Estado do Amazonas em busca de abrigo, trabalho e comida. Narco empresários, aliados a políticos corruptos, deram origem a chamada Narcopolítica, na qual carreiras políticas são financiadas pelo trafico de drogas, representando séria ameaça ao Estado Democrático de Direito. A aliança da esquerda venal e antipatriótica com o crime organizado, caso venha a se fortalecer daqui para a frente, selará, de uma vez por todas, o nosso destino de país subdesenvolvido.
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
_**/ Ensaio
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