sábado, 18 de julho de 2020

382. O Brasil não foi sempre assim...


Jober Rocha*



Um dia desses pensava eu com meus botões sobre as causas que levaram muitas das mais altas autoridades brasileiras a tamanha degradação moral, a tamanha ambição pelo luxo e pela riqueza, a tamanho pouco caso pela situação do povo humilde e trabalhador sem conseguir atinar com suas razões.
 A sanha destas autoridades (algumas ainda poderosas na atualidade, outras já condenadas, mas ainda soltas) pela apropriação indevida do dinheiro público é algo sem precedentes em nossa história, embora nossa história não seja nenhum paradigma louvável.
A operação por todos conhecida como Lava à Jato, menciona algo em torno de oito trilhões de reais como o montante que teria sido desviado de forma fraudulenta por políticos, executivos e empresários, durante diversas décadas, acobertados pela grande mídia, cooptada pelas enormes verbas de publicidade que lhe eram presenteadas pelos governos de então.
Lembro-me bem que as coisas não eram assim em minha juventude, nem na do meu pai que me contava como era e o que ouvia do pai dele, meu avô, falar sobre a sua. Eram sociedades aquelas de então, onde, embora o Brasil fosse um país ainda pobre, as autoridades eram mais honestas, pensavam no futuro do país e do povo, viviam com seus salários. Não direi que não existiam desvios de recursos por servidores públicos, mas eram casos pontuais isolados, sem a generalização atual.
O que teria contribuído para uma mudança tão radical em tão pouco tempo, fazendo com que nós, os brasileiros, ficássemos conhecidos mundialmente como o povo que possui das autoridades mais corruptas de todo o mundo? Esta degradação geral que percebemos quotidianamente, eu posso dizer, sem medo de cometer algum engano, data apenas dos últimos trinta anos.
Fui procurar na história mundial razões que poderiam ter sido semelhantes às nossas e que me informassem algo sobre aquilo de terrível que se abateu sobre o Brasil nestas últimas três décadas, sem contar, evidentemente, com a ação nefasta do comunismo internacional que, tendo se esfacelado junto com a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), ficando restrito à Rússia, tentou se reorganizar no Continente Sul Americano, através da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), fazendo do Brasil o centro das reuniões do chamado Foro de São Paulo (entidade que congregava partidos e movimentos comunistas das Américas; bem como, organizações ligadas ao narcotráfico) e o grande financiador de recursos para o fortalecimento dos países comunistas, eufemisticamente chamados de socialistas bolivarianos.
Encontrei uma situação semelhante na Roma Antiga, situação esta que acabou transformando a tradicional República Romana no Império Romano. Primeiro mencionarei o que ocorreu com a República Romana para, depois, fazer as devidas ilações daquilo que teria ocorrido com o caso brasileiro.
Até o fim da Segunda Guerra Púnica, os romanos tinham sido um povo considerado pobre. Repentinamente, com suas vitórias na guerra, enriqueceram pelo saque do mundo mediterrâneo, cobrando indenizações dos povos vencidos. Conheceram, também, na ocasião, a riqueza dos povos do Oriente e das cidades gregas.
Foi isso, certamente, o que os transformou. Não mais admitiam viver da forma medíocre em que viviam. Passaram a gostar das vestes caras, dos tecidos suntuosos, das joias, braceletes e colares de pedras preciosas caras. Passaram a consumir perfumes, ao invés do azeite, em seus banhos. Passaram a promover festins, a elaborarem suas refeições com pratos refinados, a possuírem escravos (prisioneiros de guerra).
Transformaram suas casas em mansões, com interiores ricamente mobiliados, móveis caros, esculturas, pinturas, afrescos e mosaicos; bem como, construíram casas de fim de semana no campo, com todo o conforto.
Tal vida de luxo passou a exigir muito dinheiro, surgindo, assim, uma imperiosa necessidade de enriquecimento. Para tanto, todos os meios disponíveis foram considerados bons, inclusive aqueles fraudulentos.
Deu-se início, então, a corrupção dos costumes, ao desvio de recursos públicos e a perda das virtudes cívicas, que eram a grande força da República Romana. A corrupção generalizou-se entre as altas autoridades, ao mesmo tempo em que enfraquecia a vida familiar com a diminuição do respeito dos filhos pelos pais. Os divórcios tornaram-se frequentes, a taxa de natalidade caiu.
A própria religião se modificou. Os deuses romanos foram assimilados pelos gregos. A falta de religião fez grandes progressos. Muitos romanos passaram a adotar religiões orientais, cujos cultos eram muito mais sedutores, contrastando com a frieza dos cultos romanos.
Alguns homens, no entanto, patriotas e com visão de futuro, lutaram contra essas modificações e inovações, como Catão (234-149), por exemplo.
No fim do segundo século, a Civilização Romana já era Greco-Romana e o Estado Romano já estava moralmente enfraquecido.
Enquanto os ricos dividiam entre si as magistraturas e os negócios, a classe média dos pequenos proprietários tendia a desaparecer, em razão dos produtos agrícolas consumidos pela população chegarem à Roma, vindo dos territórios conquistados, mais baratos do que aqueles produzidos internamente no país.
O amor à pátria, a obediência às leis, a honestidade, o rigor pelo trabalho; em suma, as virtudes que fizeram a força da República Romana tendiam a desaparecer. O povo romano formava uma multidão de gente de diversas nacionalidades. Uma boa parte dessa plebe recusava-se a trabalhar e preferia recorrer às distribuições gratuitas de trigo que o governo, populista, fazia às classes mais pobres. Em Roma, um dia em cada dois era feriado. Existiam 175 dias de feriados por ano de 365 dias.
Generais ambiciosos, apoiados em seus exércitos e nas plebes romanas desejosas de pilhagens dão início, então, às guerras civis que culminam com a ditadura de César, pouco depois assassinado (44 a.C). Marco Antônio (general de César) e Otávio Augusto (filho adotivo de César) foram os que se insinuaram no lugar do chefe vago. Marco Antônio assumiu as colônias e as províncias do Oriente e Otávio as do Ocidente, que incluía a Itália. Vitorioso sobre Marco Antônio, que se suicidou com a esposa Cleópatra (31.a.C), o senado romano concedeu vitaliciedade à Antônio, passando este a usar o título de imperador e o senado concedeu-lhe o título de Augusto (29 a.C - 14 d.C). Teve, então, início o Império Romano que terminou em 476 d.C.
Aqui me detenho e passo a analisar o caso brasileiro. Sem dúvida, os leitores mais perspicazes já notaram inúmeras semelhanças entre a República Romana, de então, e a República Federativa do Brasil atual.
No Brasil, tradicionalmente governado por oligarquias, no último ano do movimento militar de 1964 (inserido este no contexto da chamada Guerra Fria), baseado nas ideias do General Golberi do Couto e Silva, o general presidente, João Figueiredo e seus assessores militares, resolveram criar uma esquerda ‘dita confiável’, após o término dos movimentos guerrilheiros, urbano e rural, iniciados oficialmente em 1968 e totalmente vencidos pelas Forças Armadas em 1975.
Assim, no governo do General João Figueiredo, os militares, pensando na abertura política que pretendiam fazer, criaram, na ocasião, diversos partidos políticos aos quais os guerrilheiros, já anistiados, se filiaram. Muitos deles concorreram logo na primeira eleição, em 1985, a cargos políticos e foram eleitos. O presidente eleito, na ocasião foi Tancredo Neves, mas faleceu e assumiu José Sarney, do partido ARENA (Aliança Renovadora Nacional), de direita. A seguir assumiu Fernando Collor, de direita, no período 1990/92, sendo destituído pelo Congresso. Assumiu, a seguir, Itamar franco, de 92/95, também de direita.
O primeiro presidente de esquerda eleito foi FHC, para o período de 1º de janeiro de 1995 a 1º de janeiro de 2003, quando assumiu Luiz Inácio Lula da Silva de 2003 a 2011. A seguir, assumiu Dilma Rousseff, de 2011 a 2016, quando recebeu impeachment. Todos os três concorreram à presidência por partidos políticos de esquerda.
FHC, sociólogo, era considerado um intelectual comunista, que já então pensava em comunizar todo o continente latino americano. Era amigo e frequentador da mansão de George Soros, financista por detrás da Nova Ordem Mundial. Passou seu governo para um proletário, metalúrgico oriundo das classes mais baixas, porém com um imenso carisma popular e uma tremenda ambição por poder e riqueza. Lula passou seu governo para a ex guerrilheira Dilma Roussef, filha de um imigrante búlgaro falido, que veio para o Brasil no final da década de 1930 tentar a sorte.
Estou certo de que o país começou a mudar a partir de 1995. Como na República Romana, o contato de pessoas simples e de vida austera e pobre com o fausto e o luxo; isto é, de gente do povo tornados governantes de uma hora para a outra, vivendo, a partir de então, em palácios e consumindo coisas que jamais haviam consumido antes.  Em suma, tratava-se de gente humilde e de sua corte de sindicalistas colocada frente a frente com uma vida para a qual jamais haviam sido preparados, como costuma ocorrer nas famílias destinadas à realeza. Como podemos perceber, o fato provoca mudanças enormes na psique dos indivíduos.
Pessoas oriundas de classes de renda baixa, sem uma formação moral rígida, passaram, de uma hora para outra, a conviver e a manter relações promiscuas com empresários e empreiteiros milionários, que ocupavam os seus tempos disponíveis apenas com consumir o que a vida oferece de melhor, além de ganhar dinheiro maquinando negociatas espúrias visando, unicamente, desviar dinheiro dos cofres públicos para enriquecer cada vez mais. A vida dos novos governantes eleitos pelos partidos de esquerda e de suas cortes, neste novo meio, acabou por coloca-los a perder.
Começou, então, uma época em que o país foi assolado, por um lado, pelos ideólogos de esquerda que viam naqueles governantes do momento a oportunidade que tanto esperavam de usar as táticas de Antônio Gramsci para a tomada do poder e para a implantação de um governo comunista em nosso país. O Foro de São Paulo, com suas orientações, buscava no Brasil os recursos financeiros gratuitos para fortalecer os partidos comunistas da América Latina, fomentar as ações de desestabilização de diversos países ainda não cooptados para a via do comunismo e engordar algumas contas particulares de vários de seus dirigentes.
O que se passou com o nosso país nas últimas três décadas pode, resguardadas as diferenças históricas, ser comparado com a época que culminou com o fim da República Romana. Aqui em nosso país, se não fosse uma intervenção popular mantida através das redes sociais a influenciar a eleição do deputado federal Jair Bolsonaro, em 2018, ter-se-ia culminado com o fim do Sistema Capitalista para dar início ao Comunismo, sob o nome mais simpático de Socialismo Bolivariano, conduzido por um presidente de esquerda do Partido dos Trabalhadores.
Mas, voltando ao assunto em que estávamos, enquanto uma classe dos participantes do governo de esquerda eleito, ideologicamente contaminada pelo marxismo, fazia tudo aquilo necessário para transformar nossas instituições republicanas em instituições comunistas, agindo nos três poderes da república e tomando o controle do estamento do Estado; outra classe, a dos cleptocratas, mais acima da anterior, maquinava maneiras e formas de se apropriar do dinheiro público em benefício próprio.
Para tanto, ademais de cooptar a mídia, em geral, cooptaram também os artistas, as igrejas e os militares, em particular. Com isto estas duas classes buscavam, destes agentes citados, o silêncio que permitiria que comandassem os destinos do país agindo sem resistência e sem chamar a atenção da grande massa trabalhadora para a armadilha que lhes estava sendo preparada.
Eram, pois, duas as ações sendo levadas a cabo em um mesmo momento: uma delas pela cúpula envolvida com empreiteiros e empresários vendendo leis e decretos, proporcionando renúncias fiscais, promovendo concorrências fraudadas e praticando superfaturamento nas obras e nas vendas de bens e serviços à administração direta do governo e às empresas estatais.
A outra pela cúpula que estava encarregada de difundir o marxismo nas escolas e universidades, nas forças armadas, nas estatais e nas repartições governamentais, em fazer contato com governos de países comunistas, em criar novas leis que facilitassem a ação esquerdista e dificultasse uma eventual reação da direita, em modificar a família, em substituir a moral estabelecida, através de conceitos religiosos de virtudes, pelo comportamento politicamente correto onde vale tudo, inclusive os vícios.
A própria Força Nacional de Segurança, nos moldes das SA nazistas, se tratava de uma guarda pretoriana, armada, sob o comando do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, criada durante o seu governo em 2004 e a revelia da Constituição Federal, objetivando, veladamente, romper focos de resistência que, certamente, surgiriam com a tentativa de comunização do país, que os ideólogos de esquerda pretendiam promover em breve.
"A História sempre se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa", consiste em uma velha frase atribuída ao próprio filósofo Karl Marx.
O Brasil ao qual me refiro, das três últimas décadas e cujo desfecho final ainda não terminou, repete como farsa a tragédia que vitimou a República Romana.
  A farsa, no nosso caso atual, pode, ainda, ser percebida quando grande parte da elite nacional, intelectual e empresarial, se volta contra o novo presidente eleito pelos cidadãos de bem do país, que deseja governar por novas regras políticas, diferentes daquelas até então vigentes e chamadas de “Toma lá, dá cá” ou de “Velha Política” em que nada é de graça e todo apoio político tem seu preço no ‘mercado da patifaria’, por onde se esvaem as verbas públicas arrancadas via impostos arrecadados de maneira escorchante do trabalho diário dos cidadãos de bem, trabalhadores estes considerados simplesmente como ‘contribuintes’.
Espero que seja possível a esta nossa atual geração de brasileiros dar uma lição ao filósofo Karl Marx, mostrando que, realmente, a história sempre se repete; mas, não, apenas, duas vezes, conforme apregoado por ele. Estou certo de que a história pode se repetir, ainda, uma terceira (ou quarta vez) e desta outra como um simples drama histórico, no qual o bem termina, finalmente, triunfando sobre o mal e triunfando também sobre muitas das falsas teses enunciadas por Marx como verdadeiras em 1867, teses estas que o Foro de São Paulo tentou, de forma infrutífera e criminosa, ver aplicadas em nosso país nas últimas décadas em que prevaleceram os famigerados e lesivos governos de esquerda no Brasil.
Reconheço que nos faltaram e ainda faltam, a mesma coragem e o mesmo destemor comuns aos nossos pais, avós e bisavós, desbravadores e construtores deste país, que conseguiram dar um basta à violência, a criminalidade e aos desmandos dos títeres existentes na época em que viveram; coisa que nós, seus filhos, netos e bisnetos ainda não logramos fazer acontecer.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

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