382. O Brasil não foi sempre assim...
Jober Rocha*
Um dia desses pensava eu com meus botões
sobre as causas que levaram muitas das mais altas autoridades brasileiras a
tamanha degradação moral, a tamanha ambição pelo luxo e pela riqueza, a tamanho
pouco caso pela situação do povo humilde e trabalhador sem conseguir atinar com
suas razões.
A
sanha destas autoridades (algumas ainda poderosas na atualidade, outras já condenadas,
mas ainda soltas) pela apropriação indevida do dinheiro público é algo sem
precedentes em nossa história, embora nossa história não seja nenhum paradigma
louvável.
A operação por todos conhecida como Lava
à Jato, menciona algo em torno de oito trilhões de reais como o montante que
teria sido desviado de forma fraudulenta por políticos, executivos e
empresários, durante diversas décadas, acobertados pela grande mídia, cooptada
pelas enormes verbas de publicidade que lhe eram presenteadas pelos governos de
então.
Lembro-me bem que as coisas não eram
assim em minha juventude, nem na do meu pai que me contava como era e o que
ouvia do pai dele, meu avô, falar sobre a sua. Eram sociedades aquelas de então,
onde, embora o Brasil fosse um país ainda pobre, as autoridades eram mais
honestas, pensavam no futuro do país e do povo, viviam com seus salários. Não
direi que não existiam desvios de recursos por servidores públicos, mas eram
casos pontuais isolados, sem a generalização atual.
O que teria contribuído para uma mudança
tão radical em tão pouco tempo, fazendo com que nós, os brasileiros, ficássemos
conhecidos mundialmente como o povo que possui das autoridades mais corruptas
de todo o mundo? Esta degradação geral que percebemos quotidianamente, eu posso
dizer, sem medo de cometer algum engano, data apenas dos últimos trinta anos.
Fui procurar na história mundial razões
que poderiam ter sido semelhantes às nossas e que me informassem algo sobre
aquilo de terrível que se abateu sobre o Brasil nestas últimas três décadas,
sem contar, evidentemente, com a ação nefasta do comunismo internacional que,
tendo se esfacelado junto com a URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), ficando restrito à Rússia, tentou se reorganizar no Continente Sul
Americano, através da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América
Latina), fazendo do Brasil o centro das reuniões do chamado Foro de São Paulo
(entidade que congregava partidos e movimentos comunistas das Américas; bem
como, organizações ligadas ao narcotráfico) e o grande financiador de recursos
para o fortalecimento dos países comunistas, eufemisticamente chamados de
socialistas bolivarianos.
Encontrei uma situação semelhante na
Roma Antiga, situação esta que acabou transformando a tradicional República
Romana no Império Romano. Primeiro mencionarei o que ocorreu com a República
Romana para, depois, fazer as devidas ilações daquilo que teria ocorrido com o
caso brasileiro.
Até o fim da Segunda Guerra Púnica, os
romanos tinham sido um povo considerado pobre. Repentinamente, com suas
vitórias na guerra, enriqueceram pelo saque do mundo mediterrâneo, cobrando
indenizações dos povos vencidos. Conheceram, também, na ocasião, a riqueza dos
povos do Oriente e das cidades gregas.
Foi isso, certamente, o que os transformou.
Não mais admitiam viver da forma medíocre em que viviam. Passaram a gostar das
vestes caras, dos tecidos suntuosos, das joias, braceletes e colares de pedras preciosas
caras. Passaram a consumir perfumes, ao invés do azeite, em seus banhos. Passaram
a promover festins, a elaborarem suas refeições com pratos refinados, a
possuírem escravos (prisioneiros de guerra).
Transformaram suas casas em mansões, com
interiores ricamente mobiliados, móveis caros, esculturas, pinturas, afrescos e
mosaicos; bem como, construíram casas de fim de semana no campo, com todo o
conforto.
Tal vida de luxo passou a exigir muito
dinheiro, surgindo, assim, uma imperiosa necessidade de enriquecimento. Para
tanto, todos os meios disponíveis foram considerados bons, inclusive aqueles
fraudulentos.
Deu-se início, então, a corrupção dos
costumes, ao desvio de recursos públicos e a perda das virtudes cívicas, que
eram a grande força da República Romana. A corrupção generalizou-se entre as
altas autoridades, ao mesmo tempo em que enfraquecia a vida familiar com a
diminuição do respeito dos filhos pelos pais. Os divórcios tornaram-se
frequentes, a taxa de natalidade caiu.
A própria religião se modificou. Os
deuses romanos foram assimilados pelos gregos. A falta de religião fez grandes
progressos. Muitos romanos passaram a adotar religiões orientais, cujos cultos
eram muito mais sedutores, contrastando com a frieza dos cultos romanos.
Alguns homens, no entanto, patriotas e
com visão de futuro, lutaram contra essas modificações e inovações, como Catão
(234-149), por exemplo.
No fim do segundo século, a Civilização
Romana já era Greco-Romana e o Estado Romano já estava moralmente enfraquecido.
Enquanto os ricos dividiam entre si as
magistraturas e os negócios, a classe média dos pequenos proprietários tendia a
desaparecer, em razão dos produtos agrícolas consumidos pela população chegarem
à Roma, vindo dos territórios conquistados, mais baratos do que aqueles
produzidos internamente no país.
O amor à pátria, a obediência às leis, a
honestidade, o rigor pelo trabalho; em suma, as virtudes que fizeram a força da
República Romana tendiam a desaparecer. O povo romano formava uma multidão de
gente de diversas nacionalidades. Uma boa parte dessa plebe recusava-se a
trabalhar e preferia recorrer às distribuições gratuitas de trigo que o governo,
populista, fazia às classes mais pobres. Em Roma, um dia em cada dois era
feriado. Existiam 175 dias de feriados por ano de 365 dias.
Generais ambiciosos, apoiados em seus
exércitos e nas plebes romanas desejosas de pilhagens dão início, então, às
guerras civis que culminam com a ditadura de César, pouco depois assassinado
(44 a.C). Marco Antônio (general de César) e Otávio Augusto (filho adotivo de
César) foram os que se insinuaram no lugar do chefe vago. Marco Antônio assumiu
as colônias e as províncias do Oriente e Otávio as do Ocidente, que incluía a
Itália. Vitorioso sobre Marco Antônio, que se suicidou com a esposa Cleópatra
(31.a.C), o senado romano concedeu vitaliciedade à Antônio, passando este a
usar o título de imperador e o senado concedeu-lhe o título de Augusto (29 a.C -
14 d.C). Teve, então, início o Império Romano que terminou em 476 d.C.
Aqui me detenho e passo a analisar o
caso brasileiro. Sem dúvida, os leitores mais perspicazes já notaram inúmeras
semelhanças entre a República Romana, de então, e a República Federativa do
Brasil atual.
No Brasil, tradicionalmente governado
por oligarquias, no último ano do movimento militar de 1964 (inserido este no
contexto da chamada Guerra Fria), baseado nas ideias do General Golberi do
Couto e Silva, o general presidente, João Figueiredo e seus assessores
militares, resolveram criar uma esquerda ‘dita confiável’, após o término dos
movimentos guerrilheiros, urbano e rural, iniciados oficialmente em 1968 e
totalmente vencidos pelas Forças Armadas em 1975.
Assim, no governo do General João
Figueiredo, os militares, pensando na abertura política que pretendiam fazer,
criaram, na ocasião, diversos partidos políticos aos quais os guerrilheiros, já
anistiados, se filiaram. Muitos deles concorreram logo na primeira eleição, em
1985, a cargos políticos e foram eleitos. O presidente eleito, na ocasião foi Tancredo
Neves, mas faleceu e assumiu José Sarney, do partido ARENA (Aliança Renovadora
Nacional), de direita. A seguir assumiu Fernando Collor, de direita, no período
1990/92, sendo destituído pelo Congresso. Assumiu, a seguir, Itamar franco, de
92/95, também de direita.
O primeiro presidente de esquerda eleito
foi FHC, para o período de 1º de janeiro de 1995 a 1º de janeiro de 2003,
quando assumiu Luiz Inácio Lula da Silva de 2003 a 2011. A seguir, assumiu
Dilma Rousseff, de 2011 a 2016, quando recebeu impeachment. Todos os três
concorreram à presidência por partidos políticos de esquerda.
FHC, sociólogo, era considerado um
intelectual comunista, que já então pensava em comunizar todo o continente
latino americano. Era amigo e frequentador da mansão de George Soros,
financista por detrás da Nova Ordem Mundial. Passou seu governo para um
proletário, metalúrgico oriundo das classes mais baixas, porém com um imenso
carisma popular e uma tremenda ambição por poder e riqueza. Lula passou seu
governo para a ex guerrilheira Dilma Roussef, filha de um imigrante búlgaro
falido, que veio para o Brasil no final da década de 1930 tentar a sorte.
Estou certo de que o país começou a
mudar a partir de 1995. Como na República Romana, o contato de pessoas simples
e de vida austera e pobre com o fausto e o luxo; isto é, de gente do povo
tornados governantes de uma hora para a outra, vivendo, a partir de então, em
palácios e consumindo coisas que jamais haviam consumido antes. Em suma, tratava-se de gente humilde e de sua
corte de sindicalistas colocada frente a frente com uma vida para a qual jamais
haviam sido preparados, como costuma ocorrer nas famílias destinadas à realeza.
Como podemos perceber, o fato provoca mudanças enormes na psique dos
indivíduos.
Pessoas oriundas de classes de renda
baixa, sem uma formação moral rígida, passaram, de uma hora para outra, a
conviver e a manter relações promiscuas com empresários e empreiteiros
milionários, que ocupavam os seus tempos disponíveis apenas com consumir o que
a vida oferece de melhor, além de ganhar dinheiro maquinando negociatas
espúrias visando, unicamente, desviar dinheiro dos cofres públicos para
enriquecer cada vez mais. A vida dos novos governantes eleitos pelos partidos
de esquerda e de suas cortes, neste novo meio, acabou por coloca-los a perder.
Começou, então, uma época em que o país
foi assolado, por um lado, pelos ideólogos de esquerda que viam naqueles
governantes do momento a oportunidade que tanto esperavam de usar as táticas de
Antônio Gramsci para a tomada do poder e para a implantação de um governo comunista
em nosso país. O Foro de São Paulo, com suas orientações, buscava no Brasil os
recursos financeiros gratuitos para fortalecer os partidos comunistas da
América Latina, fomentar as ações de desestabilização de diversos países ainda
não cooptados para a via do comunismo e engordar algumas contas particulares de
vários de seus dirigentes.
O que se passou com o nosso país nas
últimas três décadas pode, resguardadas as diferenças históricas, ser comparado
com a época que culminou com o fim da República Romana. Aqui em nosso país, se
não fosse uma intervenção popular mantida através das redes sociais a
influenciar a eleição do deputado federal Jair Bolsonaro, em 2018, ter-se-ia
culminado com o fim do Sistema Capitalista para dar início ao Comunismo, sob o
nome mais simpático de Socialismo Bolivariano, conduzido por um presidente de
esquerda do Partido dos Trabalhadores.
Mas, voltando ao assunto em que
estávamos, enquanto uma classe dos participantes do governo de esquerda eleito,
ideologicamente contaminada pelo marxismo, fazia tudo aquilo necessário para
transformar nossas instituições republicanas em instituições comunistas, agindo
nos três poderes da república e tomando o controle do estamento do Estado;
outra classe, a dos cleptocratas, mais acima da anterior, maquinava maneiras e
formas de se apropriar do dinheiro público em benefício próprio.
Para tanto, ademais de cooptar a mídia,
em geral, cooptaram também os artistas, as igrejas e os militares, em
particular. Com isto estas duas classes buscavam, destes agentes citados, o
silêncio que permitiria que comandassem os destinos do país agindo sem
resistência e sem chamar a atenção da grande massa trabalhadora para a
armadilha que lhes estava sendo preparada.
Eram, pois, duas as ações sendo levadas
a cabo em um mesmo momento: uma delas pela cúpula envolvida com empreiteiros e
empresários vendendo leis e decretos, proporcionando renúncias fiscais,
promovendo concorrências fraudadas e praticando superfaturamento nas obras e nas
vendas de bens e serviços à administração direta do governo e às empresas
estatais.
A outra pela cúpula que estava
encarregada de difundir o marxismo nas escolas e universidades, nas forças
armadas, nas estatais e nas repartições governamentais, em fazer contato com
governos de países comunistas, em criar novas leis que facilitassem a ação
esquerdista e dificultasse uma eventual reação da direita, em modificar a
família, em substituir a moral estabelecida, através de conceitos religiosos de
virtudes, pelo comportamento politicamente correto onde vale tudo, inclusive os
vícios.
A própria Força Nacional de Segurança, nos
moldes das SA nazistas, se tratava de uma guarda pretoriana, armada, sob o
comando do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, criada durante o
seu governo em 2004 e a revelia da Constituição Federal, objetivando,
veladamente, romper focos de resistência que, certamente, surgiriam com a tentativa
de comunização do país, que os ideólogos de esquerda pretendiam promover em
breve.
"A História sempre se repete, a
primeira vez como tragédia e a segunda como farsa", consiste em uma velha
frase atribuída ao próprio filósofo Karl Marx.
O Brasil ao qual me refiro, das três
últimas décadas e cujo desfecho final ainda não terminou, repete como farsa a
tragédia que vitimou a República Romana.
A farsa, no nosso caso atual, pode, ainda, ser percebida quando grande
parte da elite nacional, intelectual e empresarial, se volta contra o novo
presidente eleito pelos cidadãos de bem do país, que deseja governar por novas
regras políticas, diferentes daquelas até então vigentes e chamadas de “Toma
lá, dá cá” ou de “Velha Política” em que nada é de graça e todo apoio político
tem seu preço no ‘mercado da patifaria’, por onde se esvaem as verbas públicas
arrancadas via impostos arrecadados de maneira escorchante do trabalho diário
dos cidadãos de bem, trabalhadores estes considerados simplesmente como ‘contribuintes’.
Espero que seja possível a esta nossa atual
geração de brasileiros dar uma lição ao filósofo Karl Marx, mostrando que,
realmente, a história sempre se repete; mas, não, apenas, duas vezes, conforme apregoado
por ele. Estou certo de que a história pode se repetir, ainda, uma terceira (ou
quarta vez) e desta outra como um simples drama histórico, no qual o bem
termina, finalmente, triunfando sobre o mal e triunfando também sobre muitas
das falsas teses enunciadas por Marx como verdadeiras em 1867, teses estas que
o Foro de São Paulo tentou, de forma infrutífera e criminosa, ver aplicadas em
nosso país nas últimas décadas em que prevaleceram os famigerados e lesivos governos
de esquerda no Brasil.
Reconheço que nos faltaram e ainda
faltam, a mesma coragem e o mesmo destemor comuns aos nossos pais, avós e
bisavós, desbravadores e construtores deste país, que conseguiram dar um basta
à violência, a criminalidade e aos desmandos dos títeres existentes na época em
que viveram; coisa que nós, seus filhos, netos e bisnetos ainda não logramos
fazer acontecer.
_*/
Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário