232. O novo Filósofo Ignorante
Jober Rocha*
O filósofo francês François Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido por Voltaire, foi o autor de uma obra denominada ‘O Filósofo Ignorante’. Nesta obra Voltaire questiona diversas questões Metafísicas; bem como, muitas afirmações de outros filósofos, dentre estes Samuel Clarke, Baruch Spinoza, Descartes e Locke, como se o filósofo em apreço pouco conhecimento tivesse e, em consequência, muitas dúvidas possuísse. Aproveita, também, para questionar dogmas e ensinamentos da igreja.
Uma diferença que de início se percebe, entre alguns dos filósofos mais antigos e alguns dos mais modernos, é que enquanto os antigos tinham dúvidas e colocavam questões que levassem os leitores a pensar em respostas, os modernos possuem incontestáveis certezas e indicam aos seus leitores, com toda a convicção, como as coisas são ou como elas se passaram.
Entretanto, o fato é, como bem destacou Voltaire, que “desde os tempos de Tales de Mileto até os professores de nossas universidades, desde os mais quiméricos intelectuais até seus plagiadores, nenhum filósofo influiu sequer nos costumes da rua em que vivia. Isto, por que os homens se conduzem pelo hábito e não pela Metafísica. Um único homem, eloquente, hábil e acreditado, poderá muito sobre os homens; cem filósofos nada poderão, se forem apenas filósofos”.
Creio ser esta a razão pela qual uma boa parte da população atual, deixando de lado a razão, passa a ouvir e se guiar pelo que dizem determinados políticos, sacerdotes e também (por que não?) filósofos e cientistas, que os enganam descaradamente ou de forma sutil em seus discursos, conferências, preleções e textos, como qualquer pessoa isenta e de bom senso pode constatar em muitas ocasiões. No caso dos políticos e sacerdotes é mais simples, mas no dos filósofos e cientistas esta constatação é mais difícil, pois se torna necessário algum conhecimento prévio, dos ouvintes e leitores, acerca das teorias filosóficas e científicas.
Imagino, pois, que um filósofo ignorante, hoje em dia, como aquele dos tempos de Voltaire, teria muitas perguntas a formular aos seus leitores e dúvidas a esclarecer.
Inicialmente, ele constataria que as populações atuais, estão como que contaminadas por diversas bactérias, como as da superstição, do radicalismo, do fanatismo e da ideologia, que chegam a bloquear qualquer tentativa da própria razão de se fazer presente e de agir como um antibiótico salvador, inibindo o cromossomo destas bactérias, modificando a permeabilidade das suas membranas plasmáticas ou impossibilitando a sua síntese proteica.
Em muitas ocasiões, o filósofo ignorante, ao vê-los aplaudirem o político ou escutarem o pregador, em um silêncio sepulcral, perguntar-se-ia como aquilo era possível, pois os ouvintes estavam sendo totalmente enganados e levados, por vezes, a fazer coisas que, em sã consciência, ninguém jamais faria.
Em alguns cultos ao vivo, transmitidos pela televisão, por exemplo, pessoas eram instadas a doarem seus automóveis, seus saldos bancários, seus imóveis ou a adquirirem, por elevadas somas, itens de valor desprezível no comércio, sob o argumento de que tais itens haviam sido benzidos ou ungidos pela divindade em que acreditavam. Perfumes com o cheiro de Deus são vendidos por preços exorbitantes, frascos com água de rios sagrados, óleos milagrosos, etc. Eles todos afirmam que o dinheiro arrecadado se destinaria ao Criador, mas eles acabam mesmo é nas contas correntes das igrejas e dos próprios sacerdotes.
Muitas daquelas pessoas ali presentes doavam para o sacerdote tudo o que tinham, esperando, com isto, obter o que não tinham e aquilo que desejavam, como uma troca de deveres e obrigações entre o fiel e a divindade, ou melhor, como um pacto como os sacerdotes diziam. Falsos sacerdotes tornavam-se, assim, especialistas em utilizar conhecimentos psicológicos e técnicas de neurolinguística para convencer e arrecadar dinheiro de seus seguidores.
No caso de políticos já condenados e com farta quantidade de provas materiais e testemunhais sobre seus crimes, por exemplo, ao estes afirmarem inocência e alegarem falta de provas, eram eles totalmente acreditados naquilo que diziam, pelos seus eleitores e militantes do partido a que pertenciam, seguidores estes que, por inúmeras vezes, ameaçavam até com ações violentas a sociedade e as autoridades do país, objetivando conseguir, com suas ações radicais, a liberdade para aqueles criminosos.
Em ambos os casos mencionados, qualquer filósofo ignorante constataria que a razão daquelas pessoas havia sido totalmente superada pelos seus fanatismos, religioso e/ou ideológico.
As ideias do que é justo e do que é injusto, da verdade e da falsidade, da conveniência e da inconveniência são universais, como a filosofia prega. Em qualquer lugar do universo, onde existam seres inteligentes e racionais, eles possuirão os conceitos de justiça, de verdade e de conveniência, bem como o de seus opostos. Tais conceitos podem não coincidir entre eles, mas estarão presentes em todos os seres
Por que, então, determinados seres humanos, em uma transvaloração de valores da qual muitas vezes não se dão conta, consideram, na atualidade, o injusto como sendo justo, a falsidade como sendo a verdade e a inconveniência como conveniência? Os limites entre um e outro destes opostos, reconheço, são, muitas vezes, difíceis de estabelecer; mas, são todos eles um desenvolvimento da razão.
Assim, todos os seres humanos, pensando com justeza e de forma racional sobre determinados temas e certas ideias, deveriam ser conduzidos às mesmas conclusões, tanto em moral quanto em Matemática, por exemplo. Entretanto, não é isso que ocorre.
Por que as coisas, na prática, não ocorrem desta forma quando se trata de moral?
Por que as coisas, na prática, não ocorrem desta forma quando se trata de moral?
Segundo outro filósofo, Friedrich Nietzsche (1844-1900), em sua obra Genealogia da Moral, é possível ocorrer uma transvaloração de valores morais, que pode ser promovida pela religião, pela política, pela ideologia ou por qualquer entidade formadora de opinião, desde que possua credibilidade junto ao seu público alvo.
Exemplo desta transvaloração, na atualidade, pode ser encontrada na divulgação e na insistência como aquele comportamento considerado politicamente correto é incutido nas populações, através de um patrulhamento ideológico fomentado pela Mídia e por outras entidades formadoras de opinião.
O termo Comportamento Politicamente Correto, muito usado em nosso país no presente, está relacionado a uma nova abordagem política que busca estabelecer linguagem e comportamento próprios (aparentemente neutros), supostamente de modo a evitar que possam ser, ou que venham a ser, ofensivos ou preconceituosos com relação a pessoas de determinados grupos sociais, principalmente em razão de raça, sexo ou religião. Linguagem e comportamento, como todos sabem, fazem parte dos hábitos, costumes, usos e regras, que se materializam na assimilação social dos valores morais.
A expressão ‘Politicamente Incorreto’, por sua vez, é a que trata de nomear formas de expressão e de comportamento que procuram externar supostos preconceitos sociais, sem receios de nenhuma espécie. Este conceito é entendido, por alguns acadêmicos ditos de esquerda, como uma forma de se expressar e de ter um determinado comportamento, considerados incorretos e utilizados por grupos conservadores de direita. O Comportamento Politicamente Correto, neste contexto, seria aquele que deveria ser seguido por todos os cidadãos e do qual já se utilizariam os liberais e os progressistas de esquerda.
Os conceitos sobre aquilo que é ou não politicamente correto, entretanto, são estabelecidos, em todo o mundo e também em nosso país, pelos senhores no poder e pela ideologia de esquerda dominante,
Desta forma, como exemplo de que a moral, até então vigente, está sofrendo uma transvaloração de seus valores, nós vemos que a Mídia mundial, sustentada por verbas de governos, de instituições e de organizações públicas e privadas e comprometida com os detentores do poder interessados no estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, não cansa de destacar e incentivar determinados comportamentos considerados imorais (contrários aos bons costumes tradicionais) e amorais (afastados de quaisquer preocupações de ordem moral), com base na moral tradicional estabelecida, até então, pela religião cristã.
No caso do Brasil, muitos vícios já são considerados virtudes e muitas virtudes consideradas vícios. Leis são feitas pelo parlamento brasileiro para proteger ou acobertar comportamentos viciosos ou, até mesmo, criminosos.
Muitos comportamentos imorais, antiéticos, delituosos ou criminosos já são tolerados ou aceitos pelas pessoas, pouco faltando para que sejam considerados comportamentos normais.
Ao se referir aos delitos perpetrados pelos governantes, e objetos de processos judiciais, fala-se em ‘malfeitos’ e em ‘erros’, e não mais em crimes. Por vezes, ao vermos artistas, intelectuais, políticos, autoridades públicas, etc. fazendo a defesa de determinadas ações, totalmente imorais e antiéticas (como a prática de incesto, a pedofilia, a união legal de três ou mais pessoas do mesmo sexo ou de sexos distintos, a prática do aborto, a legalização das drogas) como se fossem as coisas mais normais e naturais, nós percebemos que, realmente, a moral em nosso país está mudando.
Os que criticam o ‘Comportamento Politicamente Incorreto’ o acusam de fascista, enquanto os críticos do ‘Comportamento Politicamente Correto’ o acusam de patrulhamento ideológico de tendência marxista.
Como alguém já disse em algum lugar, ambos os lados buscam denegrir um ao outro, na busca por um espaço nos corações e nas mentes dos nossos pacatos, crédulos e inocentes cidadãos.
Muitas são as questões atuais que mesmo um bom filósofo ainda ignora e que um filósofo ignorante, como eu, jamais saberá; todavia, fazendo minhas as palavras de Voltaire, “pensei que a natureza havia dado a cada ser a porção que lhe convinha; acreditei que as coisas que não podemos alcançar não são da nossa partilha. No entanto, malgrado esse desespero, não abandono o desejo de ser instruído e minha curiosidade enganada é sempre insaciável...”
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
Exemplo desta transvaloração, na atualidade, pode ser encontrada na divulgação e na insistência como aquele comportamento considerado politicamente correto é incutido nas populações, através de um patrulhamento ideológico fomentado pela Mídia e por outras entidades formadoras de opinião.
O termo Comportamento Politicamente Correto, muito usado em nosso país no presente, está relacionado a uma nova abordagem política que busca estabelecer linguagem e comportamento próprios (aparentemente neutros), supostamente de modo a evitar que possam ser, ou que venham a ser, ofensivos ou preconceituosos com relação a pessoas de determinados grupos sociais, principalmente em razão de raça, sexo ou religião. Linguagem e comportamento, como todos sabem, fazem parte dos hábitos, costumes, usos e regras, que se materializam na assimilação social dos valores morais.
A expressão ‘Politicamente Incorreto’, por sua vez, é a que trata de nomear formas de expressão e de comportamento que procuram externar supostos preconceitos sociais, sem receios de nenhuma espécie. Este conceito é entendido, por alguns acadêmicos ditos de esquerda, como uma forma de se expressar e de ter um determinado comportamento, considerados incorretos e utilizados por grupos conservadores de direita. O Comportamento Politicamente Correto, neste contexto, seria aquele que deveria ser seguido por todos os cidadãos e do qual já se utilizariam os liberais e os progressistas de esquerda.
Os conceitos sobre aquilo que é ou não politicamente correto, entretanto, são estabelecidos, em todo o mundo e também em nosso país, pelos senhores no poder e pela ideologia de esquerda dominante,
Desta forma, como exemplo de que a moral, até então vigente, está sofrendo uma transvaloração de seus valores, nós vemos que a Mídia mundial, sustentada por verbas de governos, de instituições e de organizações públicas e privadas e comprometida com os detentores do poder interessados no estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, não cansa de destacar e incentivar determinados comportamentos considerados imorais (contrários aos bons costumes tradicionais) e amorais (afastados de quaisquer preocupações de ordem moral), com base na moral tradicional estabelecida, até então, pela religião cristã.
No caso do Brasil, muitos vícios já são considerados virtudes e muitas virtudes consideradas vícios. Leis são feitas pelo parlamento brasileiro para proteger ou acobertar comportamentos viciosos ou, até mesmo, criminosos.
Muitos comportamentos imorais, antiéticos, delituosos ou criminosos já são tolerados ou aceitos pelas pessoas, pouco faltando para que sejam considerados comportamentos normais.
Ao se referir aos delitos perpetrados pelos governantes, e objetos de processos judiciais, fala-se em ‘malfeitos’ e em ‘erros’, e não mais em crimes. Por vezes, ao vermos artistas, intelectuais, políticos, autoridades públicas, etc. fazendo a defesa de determinadas ações, totalmente imorais e antiéticas (como a prática de incesto, a pedofilia, a união legal de três ou mais pessoas do mesmo sexo ou de sexos distintos, a prática do aborto, a legalização das drogas) como se fossem as coisas mais normais e naturais, nós percebemos que, realmente, a moral em nosso país está mudando.
Os que criticam o ‘Comportamento Politicamente Incorreto’ o acusam de fascista, enquanto os críticos do ‘Comportamento Politicamente Correto’ o acusam de patrulhamento ideológico de tendência marxista.
Como alguém já disse em algum lugar, ambos os lados buscam denegrir um ao outro, na busca por um espaço nos corações e nas mentes dos nossos pacatos, crédulos e inocentes cidadãos.
Muitas são as questões atuais que mesmo um bom filósofo ainda ignora e que um filósofo ignorante, como eu, jamais saberá; todavia, fazendo minhas as palavras de Voltaire, “pensei que a natureza havia dado a cada ser a porção que lhe convinha; acreditei que as coisas que não podemos alcançar não são da nossa partilha. No entanto, malgrado esse desespero, não abandono o desejo de ser instruído e minha curiosidade enganada é sempre insaciável...”
_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.