sábado, 18 de janeiro de 2020

351. Atualizando fábulas antigas: O Pomo da Discórdia

Jober Rocha*


                                     Todos haviam recebido convite para a posse do Secretário de Cultura do Monte Olimpo, morada oficial dos Deuses, menos a ativista política de esquerda Éris (Discórdia, em grego antigo), que, todavia, estava presente à cerimônia em andamento por possuir crachá de jornalista.
                                            -  Que posse poderá dar certo com essa intrigante por perto? – Pensou, ao vê-la na ocasião, o assessor encarregado da expedição dos convites, lembrando-se que ela, especificamente, não havia sido convidada por ele.
                                               Éris, realmente, havia ficado furiosa por não receber o convite para a posse e resolvera honrar o seu nome, criando uma intriga de tal ordem que jamais seria esquecida.
                                                Ao saber, previamente, que não seria uma das convidadas, redigiu um discurso de posse (Pomo, em grego antigo) enaltecendo a ideologia dos Titãs (que haviam caído em desgraça depois de uma sangrenta guerra) e citando frases de antigos discursos destes.
                                                  Substituiu, nos bastidores da secretaria, o discurso original do secretário (elaborado por um Herói encarregado dos discursos oficiais dos Deuses) pelo novo texto dela. 
                                           O secretário desconhecia o teor do texto que iria ler, pois, como de praxe, limitar-se-ia a falar, apenas, aquilo previamente escrito pelo  Herói (filho de Deuses com seres humanos) encarregado oficialmente desta missão.
                                                  O conflito não demorou muito a estourar, tão logo o secretário terminou de ler o discurso redigido por Éris.
                                                Esta já havia preparado, anteriormente, diversas pastas contendo cópias das frases dos Titãs por ela citadas e que, incontinente, passou a distribuir para os jornalistas e convidados presentes. 
                                          A matéria logo depois estava em todas as mídias do Universo, acusando o secretário de apologia aos Titãs (jovens Nacional Socialistas, em grego antigo), filhos de Gaia (Direita, em grego antigo) e de Urano (Esquerda, em grego antigo), que este, todavia, embora comprovadamente pai dos jovens, jamais assumira como seus filhos.
                                              O atual Deus supremo Cronos, que havia derrotado Urano em combate nas eleições passadas, observando calmamente o desenrolar dos acontecimentos, resolveu exonerar o secretário por ele recém nomeado, principalmente, em virtude deste ter caído em um golpe tão manjado quanto aquele conhecido como Boa Noite Cinderela.
                                           As fábulas gregas, passadas quando os Deuses conviviam com os humanos, ainda continuavam sendo escritas pelos velhos narradores gregos em uma época em que os demais povos da Terra ainda não haviam surgido. Vejamos qual será a próxima fábula a ser por nós atualizada.


_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário