350. O sequestro e o desaparecimento de nossos jovens
Jober Rocha*
No Brasil as estatísticas psicossociais são falhas e desatualizadas. Todavia, no ano de 1999, isto é, há vinte anos, portanto, o Ministério da Justiça e o Movimento Nacional de Direitos Humanos, ao se unirem para fazer um levantamento sobre pessoas desaparecidas, constataram o sumiço anual de cerca de duzentas mil pessoas. Destas, quarenta mil eram jovens; isto é, crianças e adolescentes, indicando que de cada dez pessoas desaparecidas nas ruas do país duas eram crianças. Dados de 2016, no entanto, já indicavam que para cada 10 pessoas desaparecidas no país, quatro eram crianças, mostrando um crescimento no número de crianças desaparecidas com relação ao total.
As crianças e adolescentes desaparecidos
em nosso país, segundo os especialistas, podem ter sido vítimas de adoção
ilegal; de exploração sexual infantil e de trabalho escravo doméstico, em
campos, minas e plantações; bem como, terem sido sequestradas para a venda de
órgãos destinados à transplantes, realizados no país e no exterior; de terem se
filiado espontaneamente a grupos e fações que comercializam drogas ou por
gostarem de viver pelas ruas simplesmente vadiando.
Para estes tipos de desaparecimentos, os organismos policiais, embora contando com muita precariedade de meios e de profissionais especializados, alguma ação ainda realizam no sentido de tentar localizar e recuperar os jovens desaparecidos e de punir os responsáveis pelos seus sequestros.
No entanto, existe um outro tipo de sumiço de crianças e adolescentes que mortificam e martirizam o dia a dia dos pais e responsáveis: é aquele em que os jovens desaparecem dentro das suas próprias casas, no interior de seus quartos. Estes desaparecimentos, ao contrário daqueles já mencionados onde os jovens têm seus corpos sequestrados, possuem outra peculiaridade: desta vez trata-se das suas mentes que foram sequestradas. Este número, certamente, é muito maior do que o anteriormente citado da ordem de quarenta mil anual.
As mentes juvenis têm sido sequestradas, nas duas últimas décadas, principalmente, pela ideologia marxista propagada nas escolas e nas universidades, por intermédio de intelectuais orgânicos formadores de opinião; isto é, professores, militantes políticos dos partidos de esquerda e ativistas ideológicos, infiltrados nestas instituições com a missão específica de se assenhorarem das mentes dos jovens estudantes. Para tanto contribuem, ainda, jornalistas e autores literários que divulgam matérias em que ressaltam qualidades e vantagens que o marxismo teórico não possui e que o comunismo prático jamais possuiu.
As mentes juvenis são, também, sequestradas por seitas religiosas permitidas (e até incentivadas pelas autoridades) e por seitas satânicas, algumas delas protagonistas de sacrifícios humanos eventualmente noticiados na Mídia. Ademais, o tráfico de drogas alucinógenas e estupefacientes também é responsável pelo sequestro das mentes de significativa parcela de jovens em nosso país.
Contra o sequestro das mentes juvenis o combate torna-se muito mais difícil, pois, mesmo o consumo de drogas (que não é mais tipificado como crime), foge da alçada das autoridades policiais e judiciais.
Os pais e responsáveis sofrem muito quando perdem os seus filhos, tanto de uma forma quanto de outra e as armas de que dispõem para trazê-los novamente de volta ao lar e ao convívio social familiar, em ambos os casos, são muito escassas ou inexistentes.
Muitos pais perguntam a si mesmo, com os olhos marejados de lágrimas: - Onde está aquele filho alegre, amigo de todas as horas e companheiro de brincadeiras que, até então, vivia nesta casa?
A resposta triste e crua é de que aquele jovem já não mais existe, desapareceu ceifado pelas drogas, pela ideologia marxista ou por seitas radicais. O Estado, embora pouco atuante no primeiro caso, o do sequestro físico, mostra-se totalmente ausente no segundo, o do sequestro mental.
Os jovens cujas mentes foram sequestradas começam por apresentar um comportamento estranho no meio familiar. Passam a ser taciturnos, a não conversarem mais com os familiares, a vê-los como seus inimigos ou como pessoas retrógradas. Trancam-se em seus quartos e não desejam contato com nenhum familiar.
Nos poucos encontros que mantêm com membros da família só fazem por criticá-los, ofendê-los e, até mesmo, agredi-los. Alguns saem de casa espontaneamente, rompendo definitivamente os laços afetivos com a família e indo viver em ‘cracolândias’ (locais onde se consome drogas e se negocia a sua compra e a sua venda); se alojam em estabelecimentos onde são praticadas seitas religiosas ou, então, partem para uma vida clandestina na qual são mantidos por organizações ligadas a aplicação da doutrina marxista para a tomada do poder, através da prática de atos terroristas, de guerrilha urbana ou rural, cometidos contra pessoas e instituições.
E o pior de tudo isto, para aqueles que se preocupam com o assunto, é que, à exceção dos traficantes de drogas, que podem ser punidos pelo Estado por fornecerem substâncias proibidas que sequestram as mentes dos jovens, viciando-os; os demais responsáveis pelo sequestro de mentes juvenis, como os ideólogos intelectualóides do marxismo e os sacerdotes estelionatários de seitas radicais e/ou demoníacas, escapam às malhas da lei pelo fato de suas atividades de proselitismo ideológico ou religioso, em si mesmo, não constituírem crimes na nossa atualidade.
Lembro aos leitores que tanto na Alemanha Nazista quanto na Rússia comunista e na China de Mao Tse Tung quando da chamada Revolução Cultural, os filhos eram conclamados a denunciarem seus país e familiares à polícia política, quando estes não fossem fiéis seguidores da ideologia adotada e proclamada pelo Estado.
O mesmo ocorreu com a Igreja de Roma na época da Inquisição, quando aqueles que não rezassem pela cartilha da igreja eram denunciados como hereges, torturados e mortos pela espada ou queimados nas fogueiras. Desta forma foi eliminado totalmente o povo Cátaro, que vivia na região de Montségur, no Languedoc, sul da França. O Islã, por sua vez, em sua expansão pelo mundo continua também fazendo vítimas entre os chamados hereges; isto é, aqueles que não professam a sua crença.
As mentes e os corações dos jovens, nos dias atuais, são constantemente assediados pela mídia, que divulga tanto notícias verdadeiras quanto falsas, tentando cooptá-los para que adotem determinadas ideologias, façam parte de determinados partidos políticos, pertençam a determinadas religiões, consumam determinados produtos, valorizem determinados comportamentos sociais e costumes morais.
Com isto, face a ação da propaganda, do marketing e da massificação, criam-se gerações de jovens que pensam de forma unânime sobre determinados temas, notadamente morais, provocando aquilo que Friedrich Nietzsche chamou de transvaloração de valores; isto é, quando as virtudes passam a ser consideradas vícios e os vícios considerados virtudes, em uma nova genealogia da moral.
Em muitas comunidades e regiões, hoje em dia o consumo de drogas é generalizado e todos acham o fato comum e normal. Da mesma forma ocorre com o movimento gay, com a traição entre casais, com a corrupção, com o desarmamento, com o aborto, com a eutanásia, com a aceitação dos movimentos guerrilheiros e das facções criminosas, com a inculpação social pelos crimes individuais (quando parte da população e, inclusive, autoridades do Poder Judiciário e do Ministério Público, passam a acreditar que os criminosos são vítimas indefesas de uma sociedade injusta que os explora e persegue), etc.
Muitos não percebem que estas mudanças de comportamento em nossa sociedade não surgiram por acaso, de uma hora para outra, mas foram fruto de ações programadas por ideólogos, por exemplo, como Antônio Gramsci. Para Gramsci a implantação do comunismo deveria ser feita pela via pacífica, através do entorpecimento da consciência e da massificação dos indivíduos de forma lenta, gradual e subliminar.
Este objetivo seria alcançado mediante a hegemonia e a ocupação de espaços. A hegemonia consistiria na criação de uma mentalidade uniforme sobre certas questões, de modo que o povo acreditasse correto determinado critério, determinada medida, determinada análise. Assim, quando o golpe para a implantação do comunismo fosse desfechado, ninguém se oporia a ele, pois estaria inteiramente convencido de que a mudança seria para melhor. O chamado comportamento Politicamente Correto teria, pois, esta finalidade de preparar as mentes e os corações para o dia do desfecho final.
O atual governo tem trabalhado no sentido de combater o narcotráfico e suas facções criminosas; bem como, tem buscado limitar ou impedir a ação dos intelectuais orgânicos, disseminadores da ideologia marxista junto às escolas e universidades. Da mesma forma tem trabalhado junto a mídia, fechando as torneiras das verbas públicas que durante os governos de esquerda inundavam as contas de muitos jornalistas e artistas com o objetivo de que estes fizessem a divulgação e a apologia da ideologia marxista, o panegírico dos governos e de suas autoridades e omitissem os fatos desabonadores destes mesmos governos e de seus dirigentes, envolvendo o desvio de recursos públicos, a corrupção generalizada e as inúmeras concorrências fraudadas e superfaturadas objetos de inquéritos no âmbito da Operação Lava a Jato.
Resta, a meu ver, uma ação mais eficaz e contundente do governo com respeito àqueles falsos profetas, simples cidadãos comuns que têm enriquecido de forma desmesurada às custas da credulidade, da inocência e do misticismo da nossa gente, dentre estas destacando-se os mais jovens.
Vamos salvar as nossas crianças, como já disse tanta gente de bem neste país; inclusive o próprio presidente por diversas vezes e em distintas circunstâncias e lugares.
_*/ Economista e doutor pela universidade de Madrid, Espanha. Membro titular da Academia Brasileira de Defesa – ABD e do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES.
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