segunda-feira, 8 de janeiro de 2018


161. Sobre a transvaloração de valores na atualidade**




Jober Rocha*




                            Um dos conceitos importantes surgidos desde o século XIX, sob os pontos de vista filosófico, sociológico e psicológico, segundo a minha modesta maneira de ver a questão, trata-se do que diz respeito a transvaloração de valores, enunciada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900).
                                  Dentre os poucos filósofos que se ocuparam da genealogia da moral; isto é, da forma como a moral se origina, Friedrich Nietzsche foi o que apresentou as idéias mais revolucionárias sobre o tema, algumas delas já apresentadas em texto anterior, neste blog. 
                                         Em sua obra ‘Genealogia da Moral’, o filósofo faz uma crítica à moral vigente em sua época, buscando responder a perguntas tais, como: - Sob quais condições o homem inventou os juízos de valor contidos nas palavras bem e mal? Que valores possuem tais juízos? Eles estimularam ou impediram o desenvolvimento da Humanidade até os dias atuais? São eles sinais de indigência, de empobrecimento ou de degeneração da vida humana?
                                         Nesta sua obra, o autor distinguia duas classes de seres humanos: a dos senhores e a dos escravos (a aristocracia e a plebe ou o povo). Pertencentes à classe dos senhores, segundo ele, duas categorias distintas competiriam entre si pelo poder: a dos guerreiros ou a dos militares (esta praticava as virtudes do corpo e conduzia às coisas da guerra) e a dos sacerdotes (esta praticava as virtudes do espírito e conduzia às coisas divinas). 
                                      Desta competição e rivalidade entre as duas categorias, surgiriam duas morais distintas: a dos senhores, oriunda dos guerreiros, e a dos escravos, oriunda dos sacerdotes; já que estes, na luta pelo poder, acabaram por aliar-se aos escravos (povo) para, sobrepujando os guerreiros, vir a ocupar o lugar antes pertencente aos senhores. 
                                        Os sacerdotes, no decorrer da História, através de um trabalho de transvaloração de valores (conceito este formulado, pela primeira vez, por Nietzsche), conseguiram fazer prevalecer, sobre a moral dos senhores, a moral dos escravos (do povo), que passou a ser aquela mesma cultivada, aperfeiçoada e difundida pela religião cristã.
                                  Em outro livro seu, ‘O Anticristo’, Nietzsche condenava a religião cristã pelos meios de que se utilizava; dentre eles, o aviltamento e a autoviolação do homem por meio do conceito de pecado. 
                                   Segundo ele, “para dominar a massa era necessário fazê-la infeliz, criando os conceitos de pecado, de culpa e de castigo”. Assim, o homem deveria sofrer de modo a que sempre tivesse necessidade do sacerdote. Desta forma, segundo o filósofo, por meio da invenção do pecado era que o sacerdote dominaria senhores e escravos.
                                     Nietzsche afirmava que: “O pecado tem sua origem no sentimento de culpa, instigado nas massas pelos sacerdotes”. Segundo ele, “os sacerdotes, ao serem questionados pelos pobres de espírito (os seres mais fracos perante a Natureza) sobre as razões de seus sofrimentos, indicariam, como resposta, que eles deveriam buscá-la em si mesmo, em uma culpa anterior, e que deveriam entender o seu sofrimento como uma punição”
                                         Assim, o doente foi transformado em pecador e, para expiar seus pecados, teria que viver atrelado ao sacerdote; pois só ele poderia levá-lo ao reino dos céus, onde se livraria de todos os sofrimentos.
                                     Os argumentos utilizados por Nietzsche para defender os seus pontos de vista, contrários à moral implantada pela religião cristã, eram os de que a análise do que é bem ou é mal, estabelecida pela religião, iria contra os valores naturais e nobres daqueles que, por seus atributos naturais e seu comportamento guerreiro, desde tempos imemoriais, detinham o poder e a posse dos bens terrenos. 
                                        Ao estabelecer, a partir de sua impotência e do seu ressentimento, a valoração dos conceitos de bem e de mal, que beneficiariam os chamados escravos ou o povo em geral (utilizando-se de critérios considerados divinos), em detrimento dos senhores, a religião praticou uma transvaloração destes valores, convertendo em mal aquilo que antes era bem e em bem o que antes era mal. 
                                      Para o filósofo, vontade e poder não se separam. Os fracos, segundo ele, a partir do estabelecimento destes valores morais com base na religião, ocultariam a impotência com a máscara do mérito e da bondade. A baixeza transformar-se-ia em humildade, a covardia em paciência. Os fracos, ainda segundo Nietzsche, seriam, conforme esta transvaloração, os justos que odiariam a injustiça oriunda dos fortes. 
                                           Assim, a moral estabelecida com base em critérios religiosos e não mais em critérios de ordem natural, como nos primórdios, seria, para o filósofo, algo contra a Natureza do ser humano, negando a realidade da vida e justificando-se em critérios supostamente divinos. 
                                           A classe dominante, a partir de então, pela aceitação e pela adoção desta nova moral estabelecida pela religião (posto que, a religião cristã penetrou de tal forma na vida ocidental, que o Papa passou a coroar os reis e imperadores, mantendo ascendência sobre eles e sobre a nobreza das cortes), veio a sofrer de má consciência e criou a ilusão de que deter o poder, acumular riqueza e possuir o mando era algo considerado errado perante a religião cristã (religião basicamente dos pobres e sofredores, que nela viam a redenção de suas condições miseráveis em uma nova vida no ‘Reino dos Céus’). 
                                               Para Nietzsche a vida humana consistia, apenas, em vontade de poder, de dominação e, em última instância, em vontade de potência. A nova moral induzida pela religião veio, tempos depois, contribuir, junto com outras causas, para a queda do feudalismo, das monarquias e de impérios.
                                             As verdadeiras virtudes, para o filósofo, eram: o orgulho, a alegria, a saúde, o amor sexual, a amizade, a veneração, os bons hábitos, a vontade inabalável, a disciplina intelectual e a vontade de poder. Ele era contrário a qualquer tipo de igualitarismo e, até mesmo, à ideia do Imperativo Categórico de Immanuel Kant. Como ateu, ele era contra o estabelecimento da moral por critérios religiosos.
                                   Segundo Nietzsche não existiria uma moralidade na própria natureza do homem, conforme afirmava Kant, mas, apenas, no seu sentido social e cultural. Assim, a moral não teria a sua fundamentação em paradigmas metafísicos; mas, seria construída pelos seres humanos através do próprio movimento da História.
                                             Os argumentos de Nietzsche foram utilizados pelos nazistas, na época da Segunda Guerra Mundial, para defender as teses de supremacia racial alemã, o que fez com que alguns leitores, com pouca leitura, considerassem erroneamente Nietzsche como um precursor do nazismo.

                                                Voltando, agora, a nossa atualidade, vemos que o termo ‘Comportamento Politicamente Correto’, muito usado pelas esquerdas mundiais hoje em dia, objetiva o estabelecimento de uma nova moral, não mais determinada por critérios de ordem religiosa, como aquela até então vigente,  mas, sim, por critérios de ordem política e ideológica; até porque, o grande poder de que dispunham as religiões ocidentais cristãs tem sido substancialmente reduzido, no presente, principalmente naqueles países, como o Brasil, onde a esquerda fabiana assumiu o comando já há algum tempo e o Estado passou a se dizer laico; como também em razão dos inúmeros escândalos envolvendo sacerdotes católicos e protestantes e a aplicação dos recursos financeiros tanto do Vaticano quanto de igrejas protestantes, para operações suspeitas de serem ilegais (segundo notícias da imprensa). 
                                                 A mesma transvaloração apontada por Nietzsche com respeito à implantação da moral religiosa, sem dúvida, esta ocorrendo hoje com respeito ao estabelecimento daquilo que é considerado ‘o comportamento politicamente correto’, em tempos de uma nova moral sendo implantada pelo socialismo fabiano, a serviço da Nova ordem Mundial.  
                                            O chamado Socialismo Fabiano tem este nome em homenagem a Quintus Fabius Maximus, político, ditador e general da República Romana (275 - 203 a.C.), que conseguiu derrotar Aníbal na Segunda Guerra Púnica, adotando a estratégia de não fazer confrontos diretos e em larga escala (nos quais os romanos já haviam sido derrotados em anteriores combates travados contra Aníbal), mas, sim, de incorrer apenas em pequenas e graduais ações, as quais ele sabia que podia vencer, não importando o tanto que ele tivesse de esperar.  Fundada exatamente no ano da morte de Karl Marx, com o intuito de promover as idéias deste filósofo alemão por meio do gradualismo, a chamada ‘Sociedade Fabiana’ almejava condicionar a sociedade por meio de medidas socialistas disfarçadas.                                                  Ao atenuar e minimizar seus objetivos, a Sociedade Fabiana tinha o intuito de não incitar a reação dos inimigos do socialismo, tornando-os menos combativos. É o que ocorre em alguns países, na atualidade, com a implantação, pela esquerda, do chamado ‘decálogo de Antonio Gramsci’ (1891-1937). O gramscismo contagiou países da Europa e hoje está sendo aplicado na América do Sul.
                                             A finalidade da sua implantação é a de tentar transformar países democráticos ou não em repúblicas socialistas sob a inspiração da cartilha de Gramsci, que segue a orientação do socialismo Fabiano quanto a maneira de ser implementada.
                                                 Seus objetivos são: obter a hegemonia na sociedade civil, na sociedade política (Estado), estabelecer o domínio do intelectual coletivo (partido, classe) e silenciar os intelectuais independentes.
                                            O método utilizado para sua implementação (encontrado em “A Cartilha de Antonio Gramsci”, de Manoel Soriano Neto) os leitores brasileiros logo reconhecerão como sendo aquele, atualmente, aplicado em nosso país, mediante uma transvaloração de valores, como já explicado anteriormente no presente texto:
                                                “Realizar a transformação intelectual e moral da sociedade pelo abandono de suas tradições, usos e costumes, mudando valores culturais de forma progressiva e continuar introduzindo novos conceitos que, absorvidos pelas pessoas, criam o ‘senso comum modificado’, gerando uma consciência homogênea construída com sutileza e sem aparente conteúdo ideológico, buscando a identificação com os anseios e necessidades não atendidas pelo poder público.”
                                           Na Europa atual invadida por levas de refugiados islâmicos, com certeza, após a implantação da Sharia (código de leis do islamismo; já que em várias sociedades islâmicas atuais, ao contrário da maioria dos países ocidentais, não há uma separação clara entre a religião e o Estado ou entre a religião e a justiça) nas comunidades aonde os refugiados se instalarem, os costumes daquele país e a moral vigente serão, inexoravelmente, modificados com o passar do tempo, pela aplicação do gramscismo e do islamismo, através da esquerda socialista árabe e européia. 
                                                     Em muitos aspectos, certamente, estes novos conceitos de moral que surgirão nos países europeus, ocupados pelos refugiados, atenderão aos preceitos religiosos do islã e à doutrina marxista da esquerda fabiana européia. Estejam todos certos de que, muito em breve, a poligamia, os casamentos de adultos com crianças, as uniões entre pessoas do mesmo sexo, os conflitos de origem religiosa, a censura e as proibições de toda ordem e o aumento da violência serão acontecimentos comuns na vida diária dos europeus.
                                                   Acredito mesmo que essa imigração em massa, de muçulmanos para a Europa, tenha sido incentivada e aceita pelas elites mundiais, em decorrência de dois aspectos de interesse da Nova Ordem Mundial: o primeiro diz respeito à unificação das religiões (uma das propostas da NOM já aceita pelo papa católico). 
                                                 Os muçulmanos vivem, realmente, a religião em todos os aspectos das suas vidas, sendo capazes de morrer por ela, ao passo que os cristãos atuais não vivem a sua religião da mesma forma. Estes (que na atualidade são em muito menor número do que os muçulmanos) têm sido submetidos a muita literatura e filmes que destacam o papel do Império Romano na criação de uma religião estabelecida sobre bases fraudulentas, desde o início. 
                                                  Por outro lado, o Vaticano tornou-se uma empresa envolvida em inúmeros escândalos, desde o financiamento de atividades criminosas da Máfia e de outras organizações criminosas, através do Banco do Vaticano, até diversos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes, casos estes que consumiram vultosos recursos da igreja em indenizações, pagas nos USA para encerrar os inquéritos em andamento. A islamização da Europa, no contexto da implantação de uma única religião mundial, seria mais simples de ser implantada, com o tempo, do que a cristianização dos países árabes.
                                                  O segundo aspecto diz respeito à reativação do mercado consumidor europeu, estagnado desde muito. Em breve os refugiados estarão trabalhando e consumindo, reativando as economias europeias deprimidas,
                                                       Voltando a transvaloração de valores, como exemplo de que a moral, até então vigente, está sofrendo uma transvaloração de seus valores, vemos que a Mídia mundial, sustentada por verbas públicas e comprometida com os detentores do poder interessados no estabelecimento desta Nova Ordem Mundial, não cansa de destacar e incentivar determinados comportamentos considerados imorais (contrários aos bons costumes tradicionais) e amorais (afastados de quaisquer preocupações de ordem moral), com base na moral tradicional estabelecida pela religião cristã. 
                                                 No caso do Brasil, muitos vícios já são considerados virtudes e muitas virtudes consideradas vícios. Leis são feitas pelo parlamento brasileiro para proteger ou acobertar comportamentos viciosos ou, até mesmo, criminosos. 
                                                    Muitos comportamentos imorais, antiéticos, delituosos ou criminosos já são tolerados ou aceitos pelas pessoas, pouco faltando para que sejam considerados comportamentos normais. Ao se referir aos delitos perpetrados pelos governantes, e objetos de processos judiciais, fala-se em ‘malfeitos’ e em ‘erros’, e não mais em crimes. 
                                                Muitos intelectuais, empresários e militares, membros todos eles de uma elite patriótica e voltada para o nosso desenvolvimento sócio-econômico em bases democráticas e capitalistas, já começam a ter receio de se expressar ou de proceder de maneira considerada politicamente incorreta, temerosos de alguma represália ou, até mesmo, por acreditarem, já influenciados pela Mídia, que esta maneira de se expressar ou de proceder é realmente errada (da mesma forma como chegaram a acreditar os senhores de antanho, quando da implantação da moral religiosa, segundo Nietzsche). 
                                                Por vezes, ao vermos artistas, intelectuais, políticos, autoridades públicas, etc. fazendo determinadas afirmações, totalmente imorais e antiéticas, como se fossem as coisas mais normais e naturais, nós percebemos que, realmente, a moral em nosso país está mudando. 

                                          Como bem destacou o filósofo Nietzsche, através do seu conceito da transvaloração dos valores, o bem pode passar a ser considerado mal e o mal passar a ser considerado bem por aqueles que, ambicionando o poder, conseguem ver os seus conceitos de moral vitoriosos, implantados e aceitos pelas populações.


_*/ Economista e Doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.

_**/ Ensaio
              

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