374. Afinal, em tempos de sofrimento, por onde andará o nosso Criador?
Jober Rocha*
Em uma época em que as virtudes sucumbem perante os vícios, em que os valores tradicionais estabelecidos pela religião cederam lugar ao comportamento politicamente correto, formulado pela ideologia política marxista, que busca estender suas raízes pelo mundo afora, objetivando o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial da qual o Criador, certamente, não irá participar como convidado pelos comunistas, a grande pergunta que atormenta os corações e as mentes de inúmeros seres humanos, ao contemplarem as injustiças praticadas pelas autoridades, as enfermidades que acometem os cidadãos do mundo todo, o desemprego, as necessidades de alimentos e as carências de toda ordem não satisfeitas, é a seguinte: - Afinal, onde andará o nosso Criador que não nos ajuda, não nos auxilia?
Aonde encontraremos o nosso Criador, aquele de que todos falam, mas que ninguém jamais viu em vida? - é a pergunta que está sempre na boca de todos.
Onde Ele estará? Por onde andará? Qual o Seu objetivo? Por que não intervém para acabar com as injustiças, com as enfermidades, com o sofrimento humano? - é o que todos os seres humanos, que Nele acreditam, sempre desejam saber.
Neste ensaio buscaremos aclarar alguns pontos obscuros, para determinados leitores, desta instigante questão.
Neste ensaio buscaremos aclarar alguns pontos obscuros, para determinados leitores, desta instigante questão.
O filósofo Baruch de Spinoza (1632-1677) escreveu um texto sobre o Criador, cujo título passou a ser conhecido por muitos como 'O Deus de Spinoza'. O texto dizia: “Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos e nas praias. Aí é onde expresso meu amor por ti. Para de me culpar por tua vida miserável: Eu nunca disse que havia algo de mau em ti, que eras um pecador ou que tua sexualidade fosse alguma coisa maligna. O sexo é um presente que te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer até agora (...) Se não podes me sentir num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos do teu filho, não me encontrarás em nenhum livro, mesmo que seja considerado sagrado (...) Não me procures fora, pois não me acharás. Procura-me dentro de ti. Aí é onde me encontrarás!”
A ideia filosófica básica sobre Deus, no Oriente, sempre foi a de que este era imanente a nós e a todos os demais seres; enquanto a cultura ocidental sempre o considerou como um ser transcendental e distante de nós. A ideia de Deus imanente em todos os seres fortaleceu-se de tal modo, no Oriente, que acabou por surgir á ideia de que tudo é Deus, o que se denominou de Panteísmo.
Conforme o Panteísmo todos os seres e toda a existência de Deus são concebidos como um todo. Deus é a cabeça da totalidade e o mundo é o seu corpo. As mais importantes religiões orientais (hinduísmo e budismo) são panteístas. O Panteísmo oriental acentua o caráter intrinsecamente religioso da Natureza; isto é, toda ela está animada pelo alento divino e, por isso, é como se ela fosse o corpo da divindade que, como tal, deve ser respeitada e venerada.
No ocidente, os críticos do Panteísmo o acusam de ser uma espécie de ateísmo que nega a personalidade de Deus como externo ao próprio universo. O Catolicismo afirma que o Panteísmo questiona não somente a fé católica, mas, segundo ele, o bom senso e a sã razão. Com efeito, para o Catolicismo, Deus não poderia (nem parcialmente) identificar-se com o mundo, pois, por definição, é absoluto, necessário e ilimitado; ao passo que o mundo é relativo, contingente e limitado. Além disto, afirma o Catolicismo que não pode haver evolução ou progresso em Deus, pois toda evolução pressupõe ou aquisição ou perda de perfeição; o que, em qualquer caso, implica em imperfeição, o que é um contra-senso e um absurdo em Deus.
Assim, para o Catolicismo, Deus é essencialmente distinto do homem, do mundo e da realidade visível, já que é absoluto e eterno; ao passo que as criaturas sensíveis são relativas, transitórias e temporárias. As principais religiões e doutrinas religiosas ocidentais são monoteístas (Catolicismo, Protestantismo e Espiritismo).
Por sua vez, a crença politeísta das populações indígenas da América do Norte, Central e do Sul manteve preservada a Natureza no Novo Continente até a chegada do colonizador europeu. Considerando que a Natureza era povoada de deuses (Deus das águas, dos animais, da terra, das colheitas, do sol, do ar, etc.), para eles destruí-la era destruir os deuses ou destruir aquilo que a eles pertencia.
Aqui cabe uma digressão: o Sistema Capitalista, que se iniciou no ocidente com a revolução industrial, trouxe ao mundo a ideia de que a redenção da humanidade estaria no crescimento econômico e no progresso, atendendo aos anseios do Ego humano. Mais qualidade e quantidade de bens duráveis, bens de consumo de todo tipo, bens de produção, etc., era o seu objetivo para o consumo e bem estar dos seres humanos.
Na ânsia pela produção destes bens, muitas vezes supérfluos, que, supostamente, visavam atender as necessidades dos seres humanos, a Natureza sempre foi vista como uma fonte de recursos inesgotáveis e, muitas vezes, gratuita. Com isto, a pilhagem, a destruição e o desperdício, em escala mundial, têm se intensificado em nome do progresso.
Muito desta destruição atual se deve à maneira como os seres humanos encaram a Natureza. Ao considerá-la, em razão de crenças religiosas, como tendo sido criada por Deus apenas para a satisfação dos nossos desejos, como acontece geralmente no Ocidente, passamos a consumi-la sem culpa, sem remorsos e sem cuidados.
Caso vigorasse aqui visões panteístas ou politeístas da divindade, certamente, o consumo do meio ambiente deveria ser menor; já que, filosoficamente, iríamos pensar de forma diferente com relação à natureza da divindade.
Mas, voltando a nossa exposição, com base no que dizem as religiões, podemos estabelecer as seguintes hipóteses: 1. A existência humana é Determinística e Deus (ou os Deuses) está (estão) em toda a Natureza (Budismo, Hinduísmo, Sufismo, Confucionismo, Taoismo e Xintoísmo); 2. A existência humana é Determinística e Deus (ou os Deuses) está (estão) fora da Natureza (Islamismo, Espiritismo); 3. A existência humana possui total Livre-Arbítrio e Deus (ou os Deuses) está (estão) em toda a Natureza (nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possui total Livre-Arbítrio e Deus (ou os Deuses) está (estão) fora da Natureza (Catolicismo, Protestantismo).
Cada uma destas hipóteses implica em uma maneira diferente, para seus seguidores, de encarar a vida e os demais fenômenos metafísicos.
A primeira hipótese seria a que mais nos aproximaria do Criador (que estaria na própria Natureza) e foi aquela preconizada, anteriormente, por Spinoza. Portanto, a que implicaria em uma menor necessidade da intermediação por parte de organizações religiosas entre Deus e os homens; além de induzir a uma maior pratica das chamadas Virtudes, por parte dos cidadãos, em razão da visão Determinística da existência humana.
A última delas seria a que mais nos distanciaria do Criador, criando, assim, uma necessidade maior da presença de instituições religiosas para servir de ponte entre o Criador e as criaturas e induziria a uma maior pratica dos chamados Vícios (pecados), por parte dos cidadãos, em razão da visão religiosa de Livre Arbítrio e do constante apelo ao consumismo para a satisfação dos desejos do Ego.
Uma característica comum a todas as religiões, entretanto, quer no Ocidente quer no Oriente, consiste na construção do altar, que vem do grego ‘altum’, local sagrado onde se concentram e formalizam as energias espirituais, sejam anjos, santos, orixás, elementais, deuses, etc.
Dentre os vários componentes de um altar, encontram-se as imagens das divindades, que se pretende estejam presentes durante a cerimônia religiosa. Os altares podem se localizar a céu aberto como faziam determinados povos ou dentro de templos como faziam outros.
Já o templo consiste, por sua vez, em um lugar sagrado, vindo do latim ‘templum’ e equivalendo ao termo hebraico ‘beth elohim’ que significa a ‘Morada de Deus’ ou a ‘Casa do Senhor’. Nos templos antigos, haviam recintos em que somente os sacerdotes podiam entrar e onde, dizia-se, a divindade manifestava sua presença.
Nota-se aí uma tendência à ‘privatização’ dos Deuses pelas religiões. Deuses que antes eram venerados e invocados publicamente, na própria Natureza onde habitavam, agora o são em templos ou ambientes fechados. Da mesma forma com o surgimento de estatuas esculpidas dos Deuses, estes puderam ser transportados para onde quer se desejasse.
O povo de Israel historicamente se destacou pela construção de templos dedicados ao seu Deus, serviço este que lhe era exigido pelo próprio Jeová, segundo afirma a sua religião, a quem o povo servia. Nestes templos, o Tabernáculo era o local considerado como o santuário de Jeová.
Davi, o segundo rei de Israel, conforme relata o Antigo Testamento, queria construir uma casa para o Senhor Deus, já que não era admissível que ele, o rei, morasse em um palácio e Deus em uma tenda (santuário). O próprio Deus, porém, recusou a oferta (segundo afirma a religião), acontecimento este dito pela boca do profeta Natan. A religião Católica, da mesma forma, também utiliza o Tabernáculo como o local do santuário de Jesus, no altar.
Do exposto, constata-se que, ao longo da história humana, quer sejam nos templos, nos altares, nos tabernáculos, nos 'gohonzons' ou nos corpos dos médiuns, pretendem às diversas religiões manter prisioneiros os deuses, santos, orixás, anjos e espíritos, para o uso privado dos seus sacerdotes e seguidores
A simples evocação do nome dos deuses seria suficiente para que, imediatamente, eles estivessem presentes nestes locais, a ouvir os lamentos, desejos e necessidades dos seus fiéis.
As religiões fazem isto como se o Criador de todas as coisas pudesse ser aprisionado em uma construção feita pelo homem ou se os santos, deuses, anjos ou orixás (na hipótese de que realmente existam) pudessem ser aprisionados em imagens, altares e tabernáculos ou, mesmo, trazidos a qualquer hora do dia ou da noite à presença dos seus seguidores, mediante uma simples evocação, para atender pedidos, desejos e solicitações, como aqueles que são feitos no interior dos templos, igrejas, santuários, mosteiros, etc., a todos os momentos.
Caso as coisas, verdadeiramente, se passassem desta forma, alguns poderiam questionar, com toda razão: - “Afinal, não seremos nós os verdadeiros Deuses e os Deuses, na realidade, apenas nossos fiéis seguidores, bastando chamar-lhes para que estejam presentes ao nosso lado, como fazemos com os nossos animais domésticos”
A ideia filosófica básica sobre Deus, no Oriente, sempre foi a de que este era imanente a nós e a todos os demais seres; enquanto a cultura ocidental sempre o considerou como um ser transcendental e distante de nós. A ideia de Deus imanente em todos os seres fortaleceu-se de tal modo, no Oriente, que acabou por surgir á ideia de que tudo é Deus, o que se denominou de Panteísmo.
Conforme o Panteísmo todos os seres e toda a existência de Deus são concebidos como um todo. Deus é a cabeça da totalidade e o mundo é o seu corpo. As mais importantes religiões orientais (hinduísmo e budismo) são panteístas. O Panteísmo oriental acentua o caráter intrinsecamente religioso da Natureza; isto é, toda ela está animada pelo alento divino e, por isso, é como se ela fosse o corpo da divindade que, como tal, deve ser respeitada e venerada.
No ocidente, os críticos do Panteísmo o acusam de ser uma espécie de ateísmo que nega a personalidade de Deus como externo ao próprio universo. O Catolicismo afirma que o Panteísmo questiona não somente a fé católica, mas, segundo ele, o bom senso e a sã razão. Com efeito, para o Catolicismo, Deus não poderia (nem parcialmente) identificar-se com o mundo, pois, por definição, é absoluto, necessário e ilimitado; ao passo que o mundo é relativo, contingente e limitado. Além disto, afirma o Catolicismo que não pode haver evolução ou progresso em Deus, pois toda evolução pressupõe ou aquisição ou perda de perfeição; o que, em qualquer caso, implica em imperfeição, o que é um contra-senso e um absurdo em Deus.
Assim, para o Catolicismo, Deus é essencialmente distinto do homem, do mundo e da realidade visível, já que é absoluto e eterno; ao passo que as criaturas sensíveis são relativas, transitórias e temporárias. As principais religiões e doutrinas religiosas ocidentais são monoteístas (Catolicismo, Protestantismo e Espiritismo).
Por sua vez, a crença politeísta das populações indígenas da América do Norte, Central e do Sul manteve preservada a Natureza no Novo Continente até a chegada do colonizador europeu. Considerando que a Natureza era povoada de deuses (Deus das águas, dos animais, da terra, das colheitas, do sol, do ar, etc.), para eles destruí-la era destruir os deuses ou destruir aquilo que a eles pertencia.
Aqui cabe uma digressão: o Sistema Capitalista, que se iniciou no ocidente com a revolução industrial, trouxe ao mundo a ideia de que a redenção da humanidade estaria no crescimento econômico e no progresso, atendendo aos anseios do Ego humano. Mais qualidade e quantidade de bens duráveis, bens de consumo de todo tipo, bens de produção, etc., era o seu objetivo para o consumo e bem estar dos seres humanos.
Na ânsia pela produção destes bens, muitas vezes supérfluos, que, supostamente, visavam atender as necessidades dos seres humanos, a Natureza sempre foi vista como uma fonte de recursos inesgotáveis e, muitas vezes, gratuita. Com isto, a pilhagem, a destruição e o desperdício, em escala mundial, têm se intensificado em nome do progresso.
Muito desta destruição atual se deve à maneira como os seres humanos encaram a Natureza. Ao considerá-la, em razão de crenças religiosas, como tendo sido criada por Deus apenas para a satisfação dos nossos desejos, como acontece geralmente no Ocidente, passamos a consumi-la sem culpa, sem remorsos e sem cuidados.
Caso vigorasse aqui visões panteístas ou politeístas da divindade, certamente, o consumo do meio ambiente deveria ser menor; já que, filosoficamente, iríamos pensar de forma diferente com relação à natureza da divindade.
Mas, voltando a nossa exposição, com base no que dizem as religiões, podemos estabelecer as seguintes hipóteses: 1. A existência humana é Determinística e Deus (ou os Deuses) está (estão) em toda a Natureza (Budismo, Hinduísmo, Sufismo, Confucionismo, Taoismo e Xintoísmo); 2. A existência humana é Determinística e Deus (ou os Deuses) está (estão) fora da Natureza (Islamismo, Espiritismo); 3. A existência humana possui total Livre-Arbítrio e Deus (ou os Deuses) está (estão) em toda a Natureza (nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possui total Livre-Arbítrio e Deus (ou os Deuses) está (estão) fora da Natureza (Catolicismo, Protestantismo).
Cada uma destas hipóteses implica em uma maneira diferente, para seus seguidores, de encarar a vida e os demais fenômenos metafísicos.
A primeira hipótese seria a que mais nos aproximaria do Criador (que estaria na própria Natureza) e foi aquela preconizada, anteriormente, por Spinoza. Portanto, a que implicaria em uma menor necessidade da intermediação por parte de organizações religiosas entre Deus e os homens; além de induzir a uma maior pratica das chamadas Virtudes, por parte dos cidadãos, em razão da visão Determinística da existência humana.
A última delas seria a que mais nos distanciaria do Criador, criando, assim, uma necessidade maior da presença de instituições religiosas para servir de ponte entre o Criador e as criaturas e induziria a uma maior pratica dos chamados Vícios (pecados), por parte dos cidadãos, em razão da visão religiosa de Livre Arbítrio e do constante apelo ao consumismo para a satisfação dos desejos do Ego.
Uma característica comum a todas as religiões, entretanto, quer no Ocidente quer no Oriente, consiste na construção do altar, que vem do grego ‘altum’, local sagrado onde se concentram e formalizam as energias espirituais, sejam anjos, santos, orixás, elementais, deuses, etc.
Dentre os vários componentes de um altar, encontram-se as imagens das divindades, que se pretende estejam presentes durante a cerimônia religiosa. Os altares podem se localizar a céu aberto como faziam determinados povos ou dentro de templos como faziam outros.
Já o templo consiste, por sua vez, em um lugar sagrado, vindo do latim ‘templum’ e equivalendo ao termo hebraico ‘beth elohim’ que significa a ‘Morada de Deus’ ou a ‘Casa do Senhor’. Nos templos antigos, haviam recintos em que somente os sacerdotes podiam entrar e onde, dizia-se, a divindade manifestava sua presença.
Nota-se aí uma tendência à ‘privatização’ dos Deuses pelas religiões. Deuses que antes eram venerados e invocados publicamente, na própria Natureza onde habitavam, agora o são em templos ou ambientes fechados. Da mesma forma com o surgimento de estatuas esculpidas dos Deuses, estes puderam ser transportados para onde quer se desejasse.
O povo de Israel historicamente se destacou pela construção de templos dedicados ao seu Deus, serviço este que lhe era exigido pelo próprio Jeová, segundo afirma a sua religião, a quem o povo servia. Nestes templos, o Tabernáculo era o local considerado como o santuário de Jeová.
Davi, o segundo rei de Israel, conforme relata o Antigo Testamento, queria construir uma casa para o Senhor Deus, já que não era admissível que ele, o rei, morasse em um palácio e Deus em uma tenda (santuário). O próprio Deus, porém, recusou a oferta (segundo afirma a religião), acontecimento este dito pela boca do profeta Natan. A religião Católica, da mesma forma, também utiliza o Tabernáculo como o local do santuário de Jesus, no altar.
Do exposto, constata-se que, ao longo da história humana, quer sejam nos templos, nos altares, nos tabernáculos, nos 'gohonzons' ou nos corpos dos médiuns, pretendem às diversas religiões manter prisioneiros os deuses, santos, orixás, anjos e espíritos, para o uso privado dos seus sacerdotes e seguidores
A simples evocação do nome dos deuses seria suficiente para que, imediatamente, eles estivessem presentes nestes locais, a ouvir os lamentos, desejos e necessidades dos seus fiéis.
As religiões fazem isto como se o Criador de todas as coisas pudesse ser aprisionado em uma construção feita pelo homem ou se os santos, deuses, anjos ou orixás (na hipótese de que realmente existam) pudessem ser aprisionados em imagens, altares e tabernáculos ou, mesmo, trazidos a qualquer hora do dia ou da noite à presença dos seus seguidores, mediante uma simples evocação, para atender pedidos, desejos e solicitações, como aqueles que são feitos no interior dos templos, igrejas, santuários, mosteiros, etc., a todos os momentos.
Caso as coisas, verdadeiramente, se passassem desta forma, alguns poderiam questionar, com toda razão: - “Afinal, não seremos nós os verdadeiros Deuses e os Deuses, na realidade, apenas nossos fiéis seguidores, bastando chamar-lhes para que estejam presentes ao nosso lado, como fazemos com os nossos animais domésticos”
Segundo penso, meus caros leitores, e seguindo, pois, a linha de raciocínio traçada por Spinoza, as respostas àquelas perguntas que dão nome ao presente texto são tão óbvias que só os tolos não as percebem.
O Criador, com toda a certeza, está em tudo que nos cerca e em todos os seres vivos, conforme podemos constatar maravilhados, em qualquer um dos momentos da nossa existência, com a extensão e a complexidade do Universo e de tudo aquilo que ele contém:
Está nas mãos e nas mentes dos compositores e músicos, que criam e executam melodias feitas com inspiração divina, certamente para permitir elevar os seres humanos à Sua dimensão.
Está nas mãos dos médicos e na habilidade dos cirurgiões, profissionais que se sacrificam diuturnamente e se expõem corajosamente ao contágio de vírus e bactérias mortais; que cortam a carne doente para corrigir enfermidades que Ele próprio destinou aos enfermos, como forma de propiciar a evolução espiritual destes através do sofrimento e da dor.
Está nas mãos e na imaginação dos artistas plásticos, quando pintam, talham ou desenham, transformando o nada em algo visível e admirado pelos demais seres humanos, por falar-lhes ao coração.
Está nas mãos e na disposição cotidiana dos trabalhadores manuais, que constroem ou reconstroem, diariamente, a realidade na qual vivemos, sorrimos, sofremos, amamos e somos felizes ou infelizes.
Está nas palavras dos mestres, que dissipam a névoa da ignorância em que todos nós estaremos sempre submergidos durante as nossas breves vidas.
Está na mente dos filósofos, dos cientistas e dos pensadores, alimentando-as com vislumbres de Sua Onisciência e propiciando o surgimento de teorias sobre o passado, o presente e o futuro dos seres vivos, desmistificando crendices e permitindo que conheçamos gradativamente o universo por Ele criado.
Está nos atos de coragem, de justiça, de compaixão, de amor, de desprendimento e nos demais comportamentos virtuosos, praticados a todos os momentos pelos seres humanos em sua vida social.
Está nos gritos e lamentos dos oprimidos e dos que sofrem injustiças.
Está nas ações corajosas daqueles que combatem o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros, sacrificando-se, muitas vezes, durante a execução de suas ações.
Está no coração dos que promovem o bem-estar da pátria e da humanidade e nos atos dos governantes que são, reconhecidamente, verdadeiros e honestos representantes do povo e que a este dedicam toda a sua capacidade de trabalho e vontade política; muitas vezes incompreendidos por este mesmo povo que defendem e combatidos sempre pelos espíritos malignos que anseiam unicamente o poder e a riqueza.
Está nos sonhos daqueles que desejam mudar o mundo, reduzindo as injustiças, promovendo o progresso, extinguindo os preconceitos.
Está, enfim, em toda a Natureza, pois Ele é parte dela e ela é parte Dele. O Criador não é um mero expectador de Sua criação, localizado em um plano distinto do dela, de onde contempla as vicissitudes ou as facilidades inerentes à existência humana. Como gerador de toda vida, estará sempre presente onde quer que esta se manifeste.
Ele, no entanto, certamente não será encontrado nos atos deliberadamente vis, injustos, maldosos e, muito menos ainda, nos vícios praticados pelas mais torpes das suas criaturas. Tampouco estará nas palavras vãs daqueles que, simplesmente por dinheiro e poder, afirmam, falsamente, para uma platéia ignorante e crédula, serem os Seus representantes na Terra.
Não estará, certamente, nos pensamentos maldosos dos que conspiram contra as virtudes e trabalham para ver prevalecer os vícios e as iniquidades, embora, com sua infinita bondade, estenda a todos eles o seu perdão.
Não creio que Ele intervenha para modificar o que quer que seja, pois nada no mundo ocorre sem uma razão ou motivo, nem de forma supérflua. Ademais, Como já dizia Voltaire, "não existe efeito sem causa", e acrescento que nem causa sem finalidade.
Quanto ao Seu objetivo, creio que se trata, inegavelmente, de promover a nossa evolução espiritual, que só é obtida quando nos colocamos à prova, seja da necessidade, da dor, do sofrimento, da carência e da vicissitude. A forma como vivenciamos e suportamos estes padecimentos é que possibilitará a nossa evolução, coisa que cada um terá que conseguir por si mesmo, nesta e em tantas outras existências quanto forem necessárias.
Não creio que Ele intervenha para modificar o que quer que seja, pois nada no mundo ocorre sem uma razão ou motivo, nem de forma supérflua. Ademais, Como já dizia Voltaire, "não existe efeito sem causa", e acrescento que nem causa sem finalidade.
Quanto ao Seu objetivo, creio que se trata, inegavelmente, de promover a nossa evolução espiritual, que só é obtida quando nos colocamos à prova, seja da necessidade, da dor, do sofrimento, da carência e da vicissitude. A forma como vivenciamos e suportamos estes padecimentos é que possibilitará a nossa evolução, coisa que cada um terá que conseguir por si mesmo, nesta e em tantas outras existências quanto forem necessárias.
_*/ Economista e doutor pela Universidade de Madrid, Espanha.
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